Uma das questões mais comuns com
a qual estamos acostumados a lidar é a mais absoluta falta de entendimento do
que as Escrituras Sagradas ensinam acerca de Deus, especialmente o Antigo
Testamento.
ALGUNS ANTECEDENTES
A vasta maioria das informações
que vemos hoje sendo publicadas não tiveram início em tempos recentes e nem
mesmo no século passado. Esses ataques, frutos da ignorância das pessoas,
tiveram início nos séculos XVIII e XIX e, de lá prá cá, o que temos visto são
apenas repetições e variações sobre os escritos produzidos naqueles séculos. É
provável que o agressor de plantão mais vocal em nossos dias, seja o biólogo
nigeriano Richard Dawkins que escreveu o patético livro Deus, Um Delírio. Seu material apenas reproduz as idéias dos
seguintes escritores do passado:
1. Paul-Henri Dietrich, barão
d’Holbach enciclopedista — contribui com nada menos do que 376 artigos para a
grande enciclopédia publicada por Diderot — e filósofo alemão naturalizado
francês. Holbach nasceu em Dezembro de 1723 em Edesheim, próximo a Landau e faleceu
em Paris em 21 de Julho de 1789. Suas duas obras mais importantes com relação à
crítica da Cristandade[1]
são: 1)”O Sistema da Natureza” publicada em 1770 sob o pseudônimo de J. B.
Mirabaud e; 2) “Le Christianisme Dévoilé” de 1761 publicado sob o nome de um
amigo já falecido, N. A. Boulanger. Nas duas obras d’Holbach ataca a
Cristandade como sendo contrária tanto à natureza quanto à razão. Em tempos
mais recentes um inglês chamado M. D. Magee tem publicado um site na Internet
com o título “Christianity Revealed”, o que é uma inegável cópia da obra do
barão d’Holbach.
2. Andréas Lwdwig Feuerbach,
filósofo e humanista alemão que exerceu enorme influência sobre Karl Marx com
suas idéias teológicas centradas no homem e não em Deus. Feuerbach abandonou os
estudos teológicos e tornou-se discípulo de G. W. F. Hegel durante dois anos em
Berlim. Publicou seu primeiro livro acerca da morte e da imortalidade —
Gedanken über Tod und Unsterblichkeit em 1832 — de forma anônima. Em 1839
publica “Über Philosophie und Christentum” onde defende a idéia de que a
Cristandade já havia desaparecido não somente da razão, mas da própria
existência humana e que não passava de uma idéia fixa somente. Sua obra mais
importante, todavia, “Das Wesen des Christentums” foi publicada em 1841.
Feuerbach, mesmo negando ser ateísta, defendia a idéia de que o “deus” da Cristandade
não passava de uma ilusão — Alô? Dr. Dawkins? — risos. Ele exerceu profunda
influência sobre o editor anticristão David Friedrich Strauss, que escreveu um
dos livros mais controvertidos dos quais se tem notícia “Das Leben Jesu
Kritisch Bearbeitet” entre 1835-36, bem como sobre Bruno Bauer, outro severo
crítico da Cristandade.
2. EM NOSSOS DIAS
Uma leitura atenta dos parágrafos
acima nos mostra com clareza que as tolices escritas por Richard Dawkins ou pelo
falecido Christopher Hitchens — Deus não
é Grande — Como a Religião Envenena Tudo — estão amplamente amparadas nos
escritos do Barão de Holbach, de Lwdwing Feuerbach, Strauss, Renan, Nietzsche e
outros autores todos mortos há mais de dois séculos ou algo próximo disso.
Tudo isso para dizer que ficamos
deveras surpresos com um artigo publicado pelo site da revista Carta Capital e
assinado pelo Sr. Wálter Maierovitch, no qual o mesmo, infelizmente, faz
afirmações estapafúrdias e sem fundamento sólido por desconhecer, de forma
absoluta, o verdadeiro conteúdo da revelação divina contida na Bíblia. Mesmo
não crendo que a Bíblia seja a Palavra verdadeira do Deus Vivo, qualquer pessoa
que deseja expressar suas opiniões acerca da mesma tem a obrigação de conhecer
bem o texto sagrado e de ser, no mínimo, honesto, intelectualmente falando.
Bem, vamos ao texto da Carta
Capital e faremos alguns outros comentários no final do mesmo com o objetivo de
esclarecer os equívocos do Sr. Wálter Maierovitch.
Internacional — França
Além
do Charlie Hebdo
Não é o Alcorão, mas a Bíblia, o
livro sagrado que recomenda a pena de morte aos blasfemos. Está no Levítico
(24:16).
Por Wálter Maierovitch - Juiz de Direito Aponsentado
Mark Wilson / AFP — Bíblia - "Quem blasfema o nome do
Senhor deve ser morto"
A tragédia no semanário Charlie
Hebdo acirrou na Europa o conflito político-ideológico entre a direita radical
difusora da islamofobia e a esquerda, com a sua bandeira de integração centrada
na formação de uma igualitária sociedade multiétnica.
À frente dessa direita populista
na França está Marine Le Pen, da Frente Nacional, na Itália Matteo Salvini, da
Liga Norte. Ambos com posições xenófobas e favoráveis à revogação do Tratado de
Schegen, a cidade luxemburguesa onde foi celebrado, em 1985 (seria aperfeiçoado
em 1995), ao estabelecer a livre circulação de cidadãos pela União Europeia.
Essa dupla não distingue a
presença majoritária de islamitas pacíficos e minorias reunidas em associações
terroristas salafistas financiadas, muitas vezes, como foi o caso de Osama bin
Laden, por uma elite endinheirada, encastelada nas petromonarquias da Arábia
Saudita, dos Emirados Árabes e do Catar.
Melhor: trata-se de associações
terroristas com atuação em rede planetária e adesão a um integralismo de matriz
político-religiosa. Essas organizações não aceitam o pluralismo de ideias e de
programas, a laicidade do Estado, a liberdade de opinião e de imprensa, a
democracia. Abraçam o totalitarismo religioso. Seus integrantes estão sempre
prontos a matar aos gritos de Allahu akbar (Alá é grande) ou de invocar, para
justificar os bárbaros crimes, o nome do profeta Maomé, em equivocada
interpretação do Alcorão. A propósito das charges do semanário, não é o
Alcorão, mas a Bíblia, no Levítico (24:16), o único livro sagrado a sancionar a
blasfêmia com pena de morte: “Quem blasfema o nome do Senhor deve ser morto”.
Para Marine Le Pen, as mortes no
Charlie Hebdo revelaram “não ser a Europa capaz de defender seus cidadãos
contra o terrorismo”. Le Pen não atentou a dois fatos significativos que
envolvem, no caso da integração étnica, islamitas praticantes. O policial de
origem árabe e religião islâmica Ahmed Merabet enfrentou até a morte, na
calçada defronte à sede do semanário, os dois irmãos Kouachi. Seus familiares,
em entrevista coletiva que Le Pen prefere ignorar, ressaltaram: “Ahmed era de
fé islâmica e os seus assassinos uns falsos islamitas, pois o Islã é uma religião
de paz”.
Na tragédia do dia seguinte, o
malinês Lassana Bathily, funcionário do armazém de produtos kosher onde quatro
reféns foram assassinados, salvou mais de uma dezena de hebreus. Bathily
escondeu em uma câmara frigorífica, depois de desligar o sistema refrigerador,
diversos judeus em compras no mercado. Salvou-os da ira e das balas do fanático
Amedy Coulibaly. Na véspera, Coulibaly havia matado uma policial estagiária
desarmada em um parque da comuna de Montrouge.
Na seara policial e de
inteligência, muitos pontos precisam ser esclarecidos. A Al-Qaeda da Península
Arábica, sediada no Iêmen, reivindicou, após autorização de Ayman al-Zawahiri,
sucessor de Bin Laden e chefe da Al-Qaeda central, a autoria do atentado no
Charlie Hebdo, conforme um vídeo de 11 minutos.
Pelos sinais, tudo pode ter
nascido de iniciativa escoteira de uma célula doméstica e autônoma fundada em
2005 pelos irmãos Kouachi, com adesão de Coulibaly e predicações de Djamel
Beghal. Essa célula chegou, no parque francês de Buttes Charmont, a atuar na
arregimentação de jihadistas para o Iraque e, posteriormente, à Síria.
Chérif Kouachi e Coulibaly foram
condenados, com penas de 3 e 5 anos, por tentativa de tirar da penitenciária o
terrorista Ali Belkacem, autor de um atentado no metrô em 1995. Chérif ficou
sete meses preso e recebeu livramento condicional, enquanto Coulibaly deixou a
cadeia em julho de 2014. Até então, a célula atuava com autonomia, por sua
conta e risco. A Al-Qaeda central, desde Bin Laden, pregava, via ciberterror, a
ordem do “faça você mesmo a sua parte sem precisar consultar, salvo em questões
religiosas”.
Interessa à Al-Qaeda colocar no
currículo um segundo 11 de Setembro, desta vez na França. Ainda mais por estar
em conflito com o Estado Islâmico, que logrou ocupar um território, enquanto
seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, proclamou-se califa Ibrahim, o que deve ter
levado Bin Laden a se remexer de inveja no fundo do mar. O sonho não realizado
de Bin Laden era ter um califado. Registre-se: os irmãos Kouachi avisaram
pertencer à Al-Qaeda. Não esclareceram, no entanto, se estavam sob ordens
alqaedistas.
Pergunta: a versão oficial a ser
apresentada vai ou não coincidir com a verdade real?
O artigo original da Revista
Carta Capital poderá ser lido por meio desse link aqui:
NOSSO COMENTÁRIO ACERCA DA
AFIRMAÇÃO DO AUTOR ENVOLVENDO A CITAÇÃO DE LEVÍTICO 24:16
1. Um dos grandes equívocos
cometidos pelas pessoas em geral quando o assunto é aquilo que está escrito na
Bíblia é não entender que a mesma é uma revelação progressiva e que é
necessário entender cada tipo de literatura contido na Bíblia à luz de sua
própria história, geografia, sociologia, economia e etc.
2. Quanto ao versículo de
Levítico 24:16 devemos sempre nos lembrar que muitas coisas escritas,
especialmente no Antigo Testamento, estão culturalmente condicionadas a
diversos fatores. Por exemplo, o mandamento contido em Levítico 24:16 estava
culturalmente condicionado e só poderia ser aplicado dentro do contexto do povo
hebreu — os hebreus não podiam, por exemplo irem para outros países matarem
pessoas que blasfemassem contra o seu Deus. E mesmo isso, só poderia ser feito
enquanto durasse a Antiga Aliança que foi totalmente abolida com a vinda de
Jesus Cristo.
3. Além do mais a blasfêmia envolvida
em Levítico 24:16 diz respeito à blasfêmia contra o nome inefável de Deus — יהוה — YHWH —
traduzido com SENHOR nesse e em todos os outros contextos em que o mesmo
aparece no original hebraico. O contexto de Levítico 24 nos fala de um jovem,
filho de uma israelita com um egípcio, que teria então cometido essa blasfêmia
específica, mas o texto não nos diz exatamente o que ele disse. Diz apenas que
foi entendido dessa maneira. A sentença proferida pelo próprio Deus foi de que
o mesmo deveria ser apedrejado, o que aconteceu na sequência da narrativa.
Todavia, os judeus desde muito tempo passaram a evitar o uso do nome inefável יהוה — YHWH — traduzido com SENHOR preferindo os termos אדני — `Adony — Meu Senhor ou השׁם
— hashem — O Nome. Dessa
forma os judeus passaram a evitar tanto pronunciar o nome inefável de Deus em
vão — conforme a proibição de Êxodo 20:7 — como evitar blasfemar o nome de Deus,
conforme o verso que estamos discutindo aqui.
4. De acordo com a narrativa
Bíblica existem apenas dois outros momentos em que tal mandamento foi colocado
em prática — ou seja, o ofensor pagou com a própria vida pela blasfêmia
proferida —, mas nos dois casos é transparente a ma fé com que os casos foram
conduzidos motivados por outros interesses.
a. O primeiro caso está
registrado em 1 Reis 21:13 onde lemos:
1 Reis 21:13
Então, vieram dois
homens malignos, sentaram-se defronte dele e testemunharam contra ele, contra
Nabote, perante o povo, dizendo: Nabote blasfemou contra Deus e contra o rei. E
o levaram para fora da cidade e o apedrejaram, e morreu.
O contexto deixa claro que tudo
não passou de uma armação e não da aplicação justa do mandamento divino.
b. O segundo caso é mais gritante
ainda, porque envolve a própria pessoa do Senhor Jesus Cristo, vítima de um
julgamento imoral no meio da madrugada que culminou com sua condenação à morte
pelas autoridades judaicas com base no verso que estamos discutindo. A passagem
da condenação do Senhor Jesus é esta:
Mateus 26:65—66
65 Então, o sumo sacerdote
rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou! Que necessidade mais temos de
testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia!
66 Que vos parece?
Responderam eles: É réu de morte.
5. Portanto de acordo com a
narrativa Bíblica não temos a aplicação de tal lei, nem de forma comum, nem
desproporcional — aliás, como vimos temos apenas 3 casos em toda a Bíblia,
Antigo e Novo Testamento, sendo que em dois deles, a lei foi aplicada de forma
injusta e parcial para atender a outros interesses.
6. Agora, a forma como o autor do
artigo cita o verso de Levítico 24:16 dá a nítida impressão para o leitor mal
informado ou pouco instruído nas Escrituras Sagradas cristãs que tal mandamento
é válido até os dias de hoje e vai lá saber quantos não foram executados em
obediência ao mesmo, o que é uma evidente prova tanto do desconhecimento das Escrituras
Sagradas bíblicas, como uma falta
absoluta de honestidade intelectual por parte do autor do artigo.
Independentemente de tudo isso,
continuamos admirando o equilibrio demonstrado pela Revista Carta Capital e seu
editor, o Sr. Mino Carta, admiração essa que nos acompanha desde a nossa
adolescência quando o mesmo lançou a revista VEJA da Editora Abril,
curiosamente, no dia 11 de setembro de 1968.
Que Deus abençoe a todos
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
[1] O autor chamará de “Cristandade” esta religião
falsa, espalhada pelo mundo, que se auto-intitula de cristã. Mesmo não gostando
do termo “Cristianismo”, pelo reducionismo ideológico que ele causa, o mesmo
será usado para se referir à verdadeira igreja cristã espalhada pelo mundo.
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