Representação de Jesus no Getsêmani
Essa é uma série cujo propósito é estudar, com
profundidade, os ensinamentos da Bíblia acerca do pecado, com uma ênfase
especial na questão do chamado “pecado para a morte”. Os demais estudos dessa
série poderão ser acessados por meio dos links alistados no final desse
estudo.
13B. Pecado e Castigo — PARTE B
CONTINUAÇÃO...
Começando com a oração de Jesus no Getsêmani, vamos nos deixar imergir no imaginário — o conjunto de símbolos e atributos de um povo, ou de determinado grupo social — do que foi aquela noite em que o Senhor foi preso e o dia seguinte quando Ele foi crucificado e morto. A Oração de Cristo no Jardim do Getsêmani — Marcos 14:32—42 e passagens paralelas — ver Mateus 26:36—46 e Lucas 22:39—46 — é a maior demonstração de quanto Jesus dependia da oração, além de ser o testemunho mais explícito do fato de que Jesus dependia de Deus como uma criança depende do Pai — Abba em aramaico.
Verso 32 - Então, foram a um lugar chamado
Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui,
enquanto eu vou orar.
Onde ficava o Jardim do Getsêmani?
Certamente ficava para os lados do riacho de Cedron — ver João 18:1 — e em
algum lugar no Monte das Oliveiras — ver Lucas 22:39. Mas onde exatamente?
Getsêmani quer dizer “lugar onde se espreme — extrai — óleo”. Hoje em dia
existem três grupos religiosos que reivindicam o direito de controlar o que
teria sido, no passado, o Jardim do Getsêmani. O Jardim dos Franciscanos,
próximo à base do monte de oliveiras, é o primeiro acerca do qual se alega ser
o lugar. Um pouco mais acima vamos encontrar o jardim dos Ortodoxos Russos que
também alegam ser o lugar. Por último temos o Jardim controlado pelos Armênios,
que fica no topo do Monte das Oliveiras. Independente de onde o Jardim do
Getsêmani se encontrava nos dias de Jesus, certamente era um lugar ideal para
se retirar, descansar, dormir e ensinar. Neste local Cristo acomoda oito dos
discípulos...
Verso 33 — E, levando consigo a Pedro,
Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia.
Através de outras passagens como Marcos
5:37 — a ressurreição da filha de Jairo — e Marcos 9:2 — a transfiguração — nós
sabemos que Jesus tinha um grupo seleto de discípulos, que podemos chamar de
grupo íntimo, que era composto por Pedro e pelos irmãos Tiago e João. Por que
esse grupo existia e por que era composto desses três, pode apenas ser
especulado. Certamente a idéia de que é pela boca de duas ou três testemunhas
que se estabelece a verdade — ver Deuteronômio 19:15 e 1 Timóteo 5:19 — deve
ser parte do todo. Pedro talvez fizesse parte dele devido à revelação que havia
recebido de ser Jesus o Messias “o filho do Deus vivo” ver — Mateus 16:16; 19.
João, como sabemos, era o “discípulo amado” — ver João 13:23; 19:26; 20:2; 21:7
e 10. E Tiago talvez fizesse parte deste grupo porque seria o primeiro entre os
apóstolos a perder a vida por acreditar em Jesus — ver Atos 12:2. Mas como
dissemos, estamos apenas especulando. Mas por que teria Jesus levado esses três
junto com ele para um lugar ainda mais afastado para orar? Jesus era humano —
ver Hebreus 4:15 — e como tal tinha necessidade de comer, beber, vestir-se,
abrigar-se, dormir, bem como de comunhão fraterna. Jesus era 100% Divino e 100%
humano, e podia escolher livremente, momento a momento, com qual das naturezas
responderia aos desafios que tinha que enfrentar. Para o nosso conforto, nessa
hora de extrema angústia, Jesus decide agir exclusivamente como homem. É por
este motivo que lemos que Jesus é tomado então, por ἐκθαμβεῖσθαι — ekthambeîsthai — sentir terror e ἀδημονεῖν — ademoneîn — estar duramente perturbado, estar
fragmentado — literalmente horrorizado. Além disso, Jesus se refere ao Seu estado
emocional como sendo de Περίλυπός — perílupós — estar cercado de tristeza ou
dominado com pesar a ponto de a tristeza poder causar sua própria morte — ver
verso 34.
Por este motivo, os tradutores sempre
lutaram com esta passagem e a traduzem de diversas formas:
Almeida Revista e Atualizada: pavor e
angustia
Bíblia na Linguagem de Hoje: tristeza e
aflição*
Almeida Edição Contemporânea: pavor e
angustia
Nova Versão Internacional: aflito e
angustiado*
Almeida Corrigida e Revisada: pavor e
angústia
A Bíblia de Jerusalém: pavor e
angústia**
Nova Versão Fácil de Ler: angustiado e
aflito*
Tradução Ecumênica: pavor e angústia**
Versão do Padre Antônio Pereira de
Figueiredo: pavor e angustiar-se em extremo
A Bíblia Viva: profunda aflição e
angústia*
Bíblia Alfalit: temor e angústia*
Tradução do Novo Mundo: atônito e muito
aflito*
Versão de Cipriano de Valera em
espanhol: “atemorizarse e angustiarse”
Versão de David Martin em francês:
“effrayé et fort agite”
As traduções marcadas com asterisco são
mais recentes. Note a tentativa de atenuar o sentido de pavor e horror
substituindo-o por termos mais amenos! Mas nem todas as versões modernas
atenuam o original. Estas estão marcadas com **.
Certamente essas palavras ecoam o —
Salmo 42:6—7
6 Sinto abatida dentro de mim a
minha alma; lembro-me, portanto, de ti, nas terras do Jordão, e no monte
Hermom, e no outeiro de Mizar.
7 Um abismo chama outro abismo,
ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim.
Seis dias antes Ele já havia sentido
uma angústia semelhante como descrito em —
João 12:27
Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta
hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora.
Mas àquela angústia Ele adiciona,
agora, o pavor. O profeta Isaías nos diz que Jesus era —
Isaías 53:3
Desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe
o que é padecer.
Então temos que perguntar: Por que todo
este pavor e angústia? Seria porque Jesus sabia que naquele mesmo instante
Judas o estava traindo e que em breve chegaria trazendo os soldados para
prendê-lo? Ou seria por que Cristo sabia que Pedro iria negá-lo e traí-lo, que
o Sinédrio iria condená-lo, que Pilatos iria sentenciá-lo, que seus inimigos
iriam ridicularizá-lo e que, por fim, os soldados iriam torturá-lo e
crucificá-lo? Certamente todas estas coisas devem ser consideradas como parte
do cenário total. Mas como veremos, à medida que formos continuando, o fato que
apavorava e angustiava Jesus era que, sendo ele o mais sensível dos homens, se
via sendo direcionado para um isolamento cada vez maior. Muitos já haviam
desistido de segui-lo — João 6:66. Em breve, seus próprios discípulos iriam
abandoná-lo — Marcos 14:50. Mas pior de tudo mesmo, era a compreensão que,
começando naquele momento, Ele estava caminhando de modo inexorável — que não
se move a rogos; não exorável; implacável, inabalável — para ser abandonado
pelo próprio Pai — Αββα — Abba. Na Cruz, na sua hora de maior angústia, Jesus nos
revela o motivo do Seu pavor e da sua angústia ao clamar אֵלִי אֵלִי
לָמָה עֲזַבְתָּנִי — Eloíy, Eloíy, lamáh `azabettâniy — Deus meu, Deus meu! Porque me
desamparaste? — ou abandonaste? — Marcos 15:34. Novamente temos ecos do —
Salmo 42:9
Digo a Deus, minha rocha: por que te olvidaste de mim? Por que hei de
andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos?
Jesus percebia claramente a intensidade
da onda da “ira de Deus” que em breve se abateria sobre ele. E essa onda era
provocada pelos nossos pecados! A compreensão da satisfação requerida pelas
ofensas feitas à majestade eterna de Deus que implicaria, em última instância,
ser completamente abandonado pelo Pai, é o motivo principal para Jesus se
expressar de maneira tão veemente, usando termos duros como “pavor e angústia”;
ou tendo necessidade de ser diretamente auxiliado por um anjo —
Lucas 22:43
Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava.
ou suando gotas de sangue —
Lucas 22:44
E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu
suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.
ou orando fervorosamente ao Pai —
Marcos 14:35—36
35 E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se
possível, lhe fosse poupada aquela hora.
36 E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice;
contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.
Os Salmos estão cheios de passagens que
descrevem estes momentos. Vejamos algumas delas:
Salmos 18:4—5
Laços
de morte me cercaram, torrentes de impiedade me impuseram terror. Cadeias
infernais me cingiram, e tramas de morte me surpreenderam.
Salmos
42:7
Um
abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e
vagas passaram sobre mim.
Salmos
55:4—5
Estremece-me
no peito o coração, terrores de morte me salteiam; temor e tremor me sobrevêm,
e o horror se apodera de mim.
Salmos
69:1—3
Salva-me,
ó Deus, porque as águas me sobem até à alma. Estou atolado em profundo lamaçal,
que não dá pé; estou nas profundezas das águas, e a corrente me submerge. Estou
cansado de clamar, secou-se-me a garganta; os meus olhos desfalecem de tanto
esperar por meu Deus.
Salmos
88:3
Pois a
minha alma está farta de males, e a minha vida já se abeira da morte.
Salmos
116:3
Laços
de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em
tribulação e tristeza.
Certamente nosso Senhor foi muito bem descrito pelo
profeta Isaías quando disse:
“Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens;
homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens
escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso - Isaías 53:3”.
CONTINUA...
OUTROS ESTUDOS SOBRE O PECADO
O PECADO — ESTUDO —001 — TERMOS GREGOS E HEBRAICOS E PALAVRAS INTRODUTÓRIAS
O PECADO — ESTUDO —002 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 1
O PECADO — ESTUDO —003 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 2
O PECADO — ESTUDO —004 — A QUEDA PROPRIAMENTE DITA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 3 — FINAL
O PECADO — ESTUDO 005 — A VERDADEIRA LIBERDADE
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O PECADO — ESTUDO 009 — HISTÓRIA E QUEDA
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O PECADO — ESTUDOS 012 — PECADO E A GRAÇA DE DEUS
O PECADO — ESTUDOS 013ª — PECADO E O CASTIGO PARTE A
O PECADO — ESTUDOS 013B — PECADO E O CASTIGO PARTE B — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 001
O PECADO — ESTUDOS 013C — PECADO E O CASTIGO PARTE C — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 002
O PECADO — ESTUDOS 013D — PECADO E O CASTIGO PARTE D — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 003
O PECADO — ESTUDOS 013E — PECADO E O CASTIGO PARTE E — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 004
O PECADO — ESTUDOS 013F — PECADO E O CASTIGO PARTE F — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 005
O PECADO — ESTUDOS 014A — O PECADO PARA A MORTE — PARTE A — INTRODUÇÃO — QUESTÕES HERMENÊUTICAS
O PECADO — ESTUDOS 014B — O PECADO PARA A MORTE — PARTE B —DIFERENTES TIPOS DE PENAS E CASTIGOS PARA O PECADO IMPERDOÁVEL
O PECADO — ESTUDOS 014C — O PECADO PARA A MORTE — PARTE C —DIFERENTES TIPOS DE PESSOAS QUE PODEM COMETER O PECADO IMPERDOÁVEL
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2015/08/um-estudo-sobre-o-pecado-parte-014_13.html
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Alexandros Meimaridis
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