domingo, 2 de agosto de 2015

UM ESTUDO SOBRE O PECADO — PARTE 014 — PECADO PARA A MORTE — PARTE B — INTERPRETAÇÕES CENTRADAS NOS DIFERENTES TIPOS DE PENAS E CASTIGOS PARA O PECADO IMPERDOÁVEL


Essa é uma série cujo propósito é estudar, com profundidade, os ensinamentos da Bíblia acerca do pecado, com uma ênfase especial na questão do chamado “pecado para a morte”. Os demais estudos dessa série poderão ser acessados por meio dos links alistados no final desse estudo.  

14B. Pecado Para a Morte — PARTE B

1 – Interpretações Centradas em Diferentes Tipos de Penas ou Castigos.

Este grupo concentra todas as interpretações que enfatizam a presença ou ausência da pena de morte ou da morte em si como uma consequência inevitável do pecado cometido. O “pecado para a morte” pode levar à morte natural do indivíduo seja ela imposta pela comunidade ou por visitação divina. Em

Números 18:22

E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. 

Deus proíbe que os Israelitas se aproximem da tenda da congregação para que não cometam um pecado “para a morte” ou pecado que conduziria à morte do transgressor.

Deuteronômio 22:25—26

25 Porém, se algum homem no campo achar moça desposada, e a forçar, e se deitar com ela, então, morrerá só o homem que se deitou com ela;

26 à moça não farás nada; ela não tem culpa de morte, porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, assim também é este caso.

faz uma distinção entre o estuprador e sua vítima. Ele deveria ser morto, mas ela “não tem culpa de morte”. 

Dentre as pessoas que defendem as interpretações centradas em diferentes tipos de pecados, existe um grupo de estudiosos que entendem a idéia do pecado para morte referida por João, como sendo o pecado descrito em

Levítico 20:11

O homem que se deitar com a mulher de seu pai terá descoberto a nudez de seu pai; ambos serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles.

Nesse versículo Deus condena o homem que se deitar com a mulher de seu pai à morte. Tanto o homem como a mulher deveriam pagar com a própria vida por essa transgressão. Se a mulher descrita neste versículo é a mãe do homem em questão, ou outra mulher, isto é, sua madrasta; ou se esse fato aconteceu estando seu pai ainda vivo ou depois que o pai já havia morrido; ou se após a morte do pai, estando a mulher noiva ou novamente casada, pouco importa. De acordo com a tradição judaica esse ato, fosse qual fosse a condição da mulher, constituía-se em uma evidente violação da lei de Deus conforme o que estava estabelecido em —

Levítico 18:18

Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai; é nudez de teu pai.

Todavia devemos sempre enfatizar que tradições judaicas não são norma para nada que diga respeito aos cristãos. 

Essa interpretação como vista acima está amparada por duas situações que podemos caracterizar como interessantes, porém não normativas. A primeira é uma citação que encontramos no assim chamado “Livro dos Jubileus”. Esse livro foi escrito por um fariseu durante o pontificado de João Hircano como sumo sacerdote, entre os anos de 135 a.C. e 105 a.C. O livro pertence a uma coleção de escritos conhecidos como “pseudoeipigráficos” — escrito que contém título falso, ou nome falso de autor. O livro pertence a essa coleção porque o autor atribui a autoria a Deus mesmo como parte da revelação que Deus deu a Moisés no Sinai. Nesse livro existe uma passagem que elabora de forma significativa sobre aquilo que lemos em Levítico 20:11. O texto diz:

E novamente está escrito: Maldito seja aquele que se deitar com a mulher de seu pai porque ele terá descoberto a nudez de seu pai; e todos os santos do Senhor disseram ‘que assim seja, que assim seja’. E você Moisés, ordene aos filhos de Israel que obedeçam a estas palavras, pois as mesmas permitem a pena capital; este ato é impuro e não existe substituto — morte no lugar de — para substituir aquele que cometeu tal pecado, mas o mesmo deve ser morto por apedrejamento e desarraigado do meio do povo do nosso Deus.

É óbvio que nosso autor fariseu tirou de seu legalismo exagerado, conclusões precipitadas quando afirma que não existe substituto para esse pecado. Sabemos que esse pecado não é o pecado imperdoável mencionado por Jesus, mas ele ainda pode ser nosso pecado para a morte. O Novo Testamento tem um exemplo de uma situação exatamente como a mencionada em Levítico 18:8. Vamos ver como o apóstolo Paulo e a igreja em Corinto resolveram esta questão. Paulo escreve:

1 Coríntios 5:1 – 13

Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai. E, contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou? Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus. Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade. Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.


A igreja em Corinto, incentivada e admoestada pelo apóstolo Paulo tomou certas providências, não sabemos exatamente quais, que levaram esse homem a se arrepender de seu pecado e, na sua segunda epístola aos Coríntios, Paulo os exorta a que recebam de volta o homem arrependido. Paulo escreve:

2 Coríntios 2:5—11

Ora, se alguém causou tristeza, não o fez apenas a mim, mas, para que eu não seja demasiadamente áspero, digo que em parte a todos vós; basta-lhe a punição pela maioria. De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E foi por isso também que vos escrevi, para ter prova de que, em tudo, sois obedientes. A quem perdoais alguma coisa, também eu perdôo; porque, de fato, o que tenho perdoado (se alguma coisa tenho perdoado), por causa de vós o fiz na presença de Cristo; para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios. 

Como podemos ver que, em um primeiro instante parecia não haver saída para o homem transgressor a não ser ter seu corpo físico destruído — morto — de tal maneira que sua alma pudesse ainda ser salva. É evidente que da perspectiva de Paulo esse era um pecado que conduziria o transgressor à morte. Por outro lado nós vemos que existe perdão para esse pecado, quando o pecador é confrontado e se arrepende. Nesse caso o mesmo deve ser acolhido, amparado e fortalecido pela igreja. 

Agora vamos assumir, por um momento, que o pecado para a morte fosse o ato de um homem deitar com a mulher de seu pai em quaisquer condições, estaria João pensando nas palavras de Paulo quando disse “mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro” ao recomendar que não se fizessem orações a favor de tal pessoa, pois ela havia cometido um pecado que, certamente, conduziria à morte do corpo físico. É possível, mas muito pouco provável! 

Ainda na sua primeira epístola à igreja em Corinto, Paulo menciona o fato de que a participação na assim chamada ceia do Senhor — ver 1 Coríntios 11:20 — de modo indigno, é a responsável pelo fato de muitos cristãos estarem já dormindo, que é um eufemismo para a morte —

1 Coríntios 11:27—30

27 Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.

28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice;

29 pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.

30 Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. 

Assim temos que participar de modo indigno da ceia do Senhor era também um pecado que conduzia à morte física. Estaria esse ato no pensamento de João quando ele usou a expressão “há pecado para morte”? 

Temos ainda no Novo Testamento o caso de Ananias e Safira que perderam a vida por mentirem ao Espírito Santo ou em outras palavras, por haverem pretendido fazer o que não estavam fazendo de fato —

Atos 5:1—11

1 Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade,

2 mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos.

3 Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?

4 Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus.

5 Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os ouvintes.

6 Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e, levando-o, o sepultaram.

7 Quase três horas depois, entrou a mulher de Ananias, não sabendo o que ocorrera.

8 Então, Pedro, dirigindo-se a ela, perguntou-lhe: Dize-me, vendestes por tanto aquela terra? Ela respondeu: Sim, por tanto.

9 Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão. 

10 No mesmo instante, caiu ela aos pés de Pedro e expirou. Entrando os moços, acharam-na morta e, levando-a, sepultaram-na junto do
marido.

11 E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a notícia destes acontecimentos. 

Seria a pretensão ou o mentir ao Espírito Santo ao que João estava se referindo quando mencionou o “pecado para a morte”? 

Todas as passagens que vimos tratam de forma específica de morte física. Mas precisamos definir se João estaria se referindo à morte física ou morte espiritual? Deixemos que o apóstolo mesmo nos ajude. O próprio João usou a expressão “para morte” em João 11:4 para se referir de modo preciso à morte física:

Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado.

Se João estava se referindo à morte física na sua primeira epístola, então o que ele estaria querendo dizer seria uma palavra desencorajando a oração por qualquer pecado que conduza o pecador à morte física — seja ele o deitar com a mulher de seu pai, o participar indignamente da ceia do Senhor, ou mentir ao Espírito Santo ou pretender ser aquilo que não se é. Temos que nos lembrar que Jesus mesmo prometeu que:

João 8:51

Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte, eternamente.

João 11:26

Todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. 

E não podemos nos esquecer que João diz literalmente que:

Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para a morte.

Todos estamos sujeitos à morte física, mais cedo ou mais tarde. Isto é válido tanto para os santos — os crentes — bem como para os ímpios — os pecadores. Mas como vimos, os santos não morrerão eternamente, os ímpios sim, irão morrer eternamente.

Assim, temos que entender que a primeira parte de 1 João 5:16 está tratando de crentes genuínos que podem ser alcançados pela oração de outro crente, enquanto o mesmo não é verdade para aqueles que cometem o “pecado para a morte”.

CONTINUA

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O PECADO — ESTUDO —001 — TERMOS GREGOS E HEBRAICOS E PALAVRAS INTRODUTÓRIAS

O PECADO — ESTUDO —002 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 1

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O PECADO — ESTUDOS 014B — O PECADO PARA A MORTE — PARTE B —DIFERENTES TIPOS DE PENAS E CASTIGOS PARA O PECADO IMPERDOÁVEL

O PECADO — ESTUDOS 014C — O PECADO PARA A MORTE — PARTE C —DIFERENTES TIPOS DE PESSOAS QUE PODEM COMETER O  PECADO IMPERDOÁVEL
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2015/08/um-estudo-sobre-o-pecado-parte-014_13.html

Grande Abraço e que Deus possa abençoar a todos.

Alexandros Meimaridis

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