O artigo abaixo foi escrito pelo
jornalista Johnny Bernardo e publicado no site do Gnotícias
Um
show de horrores na Câmara Federal
Por Johnny Bernardo
Não há outra definição com
relação ao que aconteceu em 17 de Abril de 2016, na Câmara Federal, que um
“show de horrores”. Como cidadão não posso ficar calado diante de tamanho
agravo à democracia brasileira, tamanho desrespeito ao voto popular. Faço uso
deste espaço opinativo para manifestar meu repúdio ao golpe constitucional que
está em curso nos bastidores de Brasília. Depor a presidenta Dilma Rousseff e
colocar em seu lugar um grupo de líderes corruptos do PMDB é um grande erro e
contradição. Sair às ruas de verde e amarelo para pedir “mudanças” e ter como
resultado a ascensão de Michel Temer como presidente é um erro e uma clara
contradição.
Nada irá mudar, com exceção de
que os golpistas irão lutar para o esfacelamento das investigações em curso
contra seus pares, como a exemplo do Eduardo Cunha. Nenhum outro país democrático
permitiria que um líder corrupto, com contas secretas na Suíça, e denúncia
recente de que recebeu mais de R$ 52 milhões em propina, comandaria um processo
de impeachment de uma presidenta cujo caráter é ilibado – inclusive o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez questão de reconhecer em inúmeras
declarações que a “presidente Dilma é uma pessoa honrada”. Ainda cabe dizer que
os parlamentares que julgam a presidenta pelas supostas pedaladas fiscais cerca
de 290 respondem por processos que envolvem compra de votos em suas bases
eleitores e participação no desvio de milhões dos cofres públicos. A prisão
(hoje, 18) do prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz pela Polícia Federal, foi
sintomática. Muniz é casado com a deputada federal Raquel Muniz, que votou sim
pelo processo de impeachment. Em seu voto Raquel Muniz disse que o “Brasil tem
jeito”.
É fato conhecido
internacionalmente, e um dos jornais de maior prestígio, o The New York Times,
em manchete de capa publicada no último dia 15, destacou que o “impeachment
contra a presidente Dilma está sendo liderado por políticos acusados de
corrupção”. Não é, portanto, qualquer jornal de esquerda que faz referência ao
processo, mas um dos mais conceituados do mundo. A imagem do Brasil está sendo
aos poucos dilapidada por políticos sem escrúpulos, que fazem o jogo da luta
“do poder pelo poder”. Não há uma real preocupação com os pobres, com os
trabalhadores, com as famílias, e sim com a manutenção da corrupção e
destruição dos benefícios sociais adquiridos desde a Constituição de 1988.
Houve corrupção nos governos do PT tal como observamos ao longo dos últimos 500
anos, e quem errou tem que pagar por seus erros. Agora fazer uso de princípios
constitucionais para depor uma presidenta que não tem qualquer participação nos
delitos praticados é sim um golpe. O impeachment é um instituto presente na
Constituição Federal de 1988, mas desde que possua fundamento jurídico. No
atual processo contra Dilma não há fundamento.
Não é o processo em si o
principal motivo de repúdio, mas os parlamentares que estão por trás. Na sessão
de ontem os parlamentares fizeram reiteradas referências à família, a Deus e as
suas denominações religiosas. São os mesmos parlamentares cujos nomes aparecem
relacionados em escândalos de corrupção. Dentre as denominações evangélicas
mencionadas, a Igreja do Evangelho Quadrangular e a Igreja Mundial do Poder de
Deus tiveram destaque, assim como o Movimento Carismático. Nada diferente dos
deputados que são reconhecidamente representantes do Agronegócio, que defendem
a flexibilização das leis trabalhistas. Não são meros tiriricas, mas filhos e
netos de parlamentares que ocupam o cenário político há gerações. O mais
grotesco das manifestações partiu do deputado pelo Rio de Janeiro Jair
Bolsonaro que, em seu voto pelo prosseguimento do processo, fez uma defesa da
memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O mencionado cometeu
diversos assassinatos e participou de sessões de tortura.
Esta é a pior composição
congressista da história da República, um retrocesso após inúmeros ganhos
sociais e progressistas que não ocorriam desde Getúlio Vargas. O processo de
impeachment autorizado ontem foi um verdadeiro comício patrocinado pela mídia
brasileira. Na fala dos senhores congressistas eram frequentes as menções aos
currais eleitorais. É nítida a intenção de veicular os votos às próximas
eleições gerais em que parentes concorrem à reeleição. Foi, de fato, um
verdadeiro show de horrores. Fundamentar o progresso político em suas bases por
meio de um processo sem fundamento jurídico ou moral é um exemplo da podridão
que se instalou no Congresso Nacional. Não há parlamentares comprometidos com a
manutenção de projetos importantes, como o Minha Casa, Minha Vida, o Prouni, o
Pronatec, a Farmácia Popular, a Ciência Sem Fronteiras, o Caminho da Escola, a
expansão das universidades federais, a valorização do salário mínimo, e sim com
a manutenção de seus privilégios econômicos e políticos. Hipocrisia.
Querem moralizar a política?
Então que todos renunciem aos seus cargos e sejam chamadas eleições gerais,
para o Executivo e o Legislativo, e que se faça uma reforma política de
verdade, que não proteja seus interesses nos Estados e o coronelismo. É o único
caminho ao clamor popular, que não é apenas da esquerda, como também da
direita. É preciso um pacto nacional pela manutenção dos benefícios sociais e
econômicos. Caso contrário, de nada adiantara multidões de pessoas irem às ruas
vestidas de verde e amarelo se o que teremos na Presidência será uma composição
política pior da que está sendo expulsa pela via golpista e inconstitucional.
Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Aécio Neves e Jair Bolsonaro não
são quadros políticos adequados para recriar a República, mas destruí-la
definitivamente. Os evangélicos progressistas não compactuam com semelhante
golpismo que tem como objetivo destruir as bases sociais, tornar precário o
trabalho e aprofundar a desigualdade social. Temos que encontrar um novo
caminho.
"As opiniões ditas pelos
colunistas são de inteira e única responsabilidade dos mesmos, as mesmas não
representam a opinião do Gospel+ e demais colaboradores."
Por Johnny Bernardo
Johnny Bernardo é jornalista,
pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e
sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino
Cristão (NAPEC) Outros detalhes sobre o pesquisador no blog -
http://jtbernardo.blogspot.com.br/ Contato: pesquisasreligiosas@gmail.com
Google Plus
O artigo original poderá ser lido
por meio do link abaixo —
Que Deus tenha misericórdia do
Brasil.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário