O artigo abaixo foi originalmente
publicado na Folha de São Paulo e é de autoria de Mathias Alencastro. Ele nos
ajuda a compreender que a violência, de qualquer tipo, gera apenas mais
violência. E a consequente falta de justiça, gera mais violência ainda.
Acirramento recente faz da França
alvo de terroristas
Para entender a razão pela qual a
França é hoje o principal alvo de terroristas, é preciso recapitular as últimas
décadas. Ao contrário do que a história recente sugere, a integração muçulmana
na França foi em geral pacífica.
Após a morte de Malik Oussekine,
em 1986, franco-argelino jogado no Sena por militantes de extrema-direita, 200
mil pessoas em 36 cidades francesas manifestaram seu repúdio ao assassinato.
Desse episódio nasceu o movimento
SOS Racisme, braço ativista do governo de François Mitterrand e plataforma de
lançamento para políticos de origem magrebina.
Porém, depois da primeira onda de
atentados terroristas islâmicos cometidos em julho e outubro de 1995 pelo Grupo
Islâmico Armado, da Argélia, as tensões intercomunitárias se agravaram.
Um fator tido como fundamental
nessa evolução foi o desaparecimento do chamado "cinturão vermelho"
da periferia parisiense. As políticas públicas de inclusão diminuíram com o
declínio dos partidos de esquerda e o avanço eleitoral da extrema-direita. O
filme "O Ódio" (1995), dirigido por Mathieu Kassovitz, retrata a
banalização da violência no subúrbio de Paris.
Nos anos 2000, as tensões
comunitárias assumiram dimensão nacional, com a passagem ao segundo turno do
candidato de extrema-direita Jean-Marie Le Pen nas eleições presidenciais de
2002 e os motins nas periferias das grandes cidades francesas em 2005. Nicolas
Sarkozy foi eleito presidente em 2007 prometendo "lavar com Kärcher (uma
marca de lava-jato)" as periferias francesas.
A intensificação da agenda
securitária durante o governo Sarkozy levou a uma explosão do número de
muçulmanos encarcerados. Segundo relatório publicado em 2014, mais de 60% dos
detentos na França são muçulmanos.
Uma desproporção patente, dado
que a população muçulmana do país não supera 12%. Em 2000, a proporção de
muçulmanos presos não chegava à metade.
Nesse contexto, a França virou
terreno fértil para o recrutamento de terroristas pelo Estado Islâmico.
Ainda não se conhece as
motivações do autor do massacre de Nice, mas todos os outros terroristas
envolvidos em atentados nos últimos dois anos compartilham a mesma trajetória.
Oriundos da periferia das grandes
cidades francesas, tornaram-se delinquentes de crime comum depois de anos de
fracasso escolar e trabalhos precários, antes de se radicalizarem sob a
influência de presos islamitas atuando dentro do sistema carcerário.
Com o ataque em Nice, capital do
departamento com o maior número de eleitores de extrema-direita, mesmo sem
comprovação de vínculo direto, o Estado Islâmico caminha para seu objetivo
maior: assombrar os franceses com o fantasma de uma guerra civil.
Um dos livros mais vendidos do
ano passado, "Submissão", de Michel Houellebecq, imagina uma França
governada por um muçulmano.
A questão muçulmana na França
será abordada explicitamente em 2017. No contexto de tensão após a maior série
de atentados da história, a situação pode piorar.
Mathias Alencastro é doutor em Ciência
Política pela Universidade de Oxford e mestre em História pela Universidade
Sorbonne-Paris IV.
O artigo original poderá ser
visto por meio do seguinte link:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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