quarta-feira, 6 de julho de 2016

TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 011 — A HISTÓRIA — A BUSCA PELO JESUS HISTÓRICO — PARTE 001



Esse é um estudo especial que irá abordar temas de grande interesse, tais como: 1. Deus 2. Os seres humanos e o mundo criado 3. Jesus e Sua missão como o CRISTO. 4. O Espírito Santo. 5. A vida cristã. 6. A Igreja. 7. O futuro e etc. Esperamos que a mesma possa ajudar todos os nossos leitores a conhecerem melhor o que o Novo Testamento ensina acerca de tudo o que nos é importante.

INTRODUÇÃO GERAL

TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO E A HISTÓRIA

A BUSCA PELO JESUS HISTÓRICO — PARTE 001

Os problemas que existem entre a História e a Teologia são da maior importância no contexto dos estudos relativos à Teologia do Novo Testamento. Uma das maiores acusações que são feitas contra a nossa fé cristã tem a ver com a alegação que a mesma não está fundamentada em fatos históricos. Como iremos demonstrar, tal acusação não passa duma grande bobagem, pois os argumentos usados para defender tal ponto de vista são muito mais frágeis do que os argumentos usados para defender a verdade e a historicidade da Bíblia.

Como acontece na grande maioria dos casos, os maiores ataque feitos contra a fé cristã não se originam do lado de fora da Igreja, mas do lado de dentro. Eles partem de pessoas, geralmente incrédulas — o joio — que se encontram dentro da própria Igreja. Não é diferente quando o assunto é a historicidade dos Evangelhos e, principalmente, a historicidade da pessoa e da obra do Senhor Jesus Cristo. O debate é antigo e iremos ver, de modo geral, como através dos séculos a Igreja combateu os erros ensinados por inúmeros hereges. Todavia, foi apenas a partir do século XVIII com Hermann Samuel Reimarus que a discussão moderna teve início. Essa discussão se estende até os nossos dias. Velhos argumentos dos séculos XVIII e XIX são, periodicamente, reciclados e apresentados como novos fazendo a alegria de autores, editores e leitores que entendem pouco, ou até mesmo, quase nada acerca da verdade como revelada nas Escrituras Sagradas.

A. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA BUSCA MODERNA PELO JESUS HISTÓRICO

Com o surgimento do Racionalismo, a capacidade de raciocínio humano foi entronizada como o elemento mais importante para a descoberta e o entendimento do mundo ao nosso redor. Um dos desdobramentos naturais do Racionalismo foi o Iluminismo cuja pretensão era explicar, nos mínimos detalhes, a “verdade” sobre todas as áreas do conhecimento humano. É óbvio que, sendo a religião cristã uma área importante desse conhecimento, a mesma tenha sido analisada por essa ótica defeituosa do raciocínio humano. A premissa básica do Iluminismo era secularizar — remover tudo o que era sobrenatural — de todas as áreas do pensamento e da vida humana. Tudo precisava ser explicado de forma natural sem nenhuma interferência sobrenatural. As consequências de tal abordagem sobre a revelação bíblica e a fé cristã devem ser claras.

Os pressupostos filosóficos adotados pelo Iluminismo podem ser facilmente encontrados no Racionalismo de descartes, Espinosa e Leibniz e também no Empirismo de Locke, Berkeley, Hume e outros. Essa duas escolas filosófica que eram opostas entre si foram como que, miraculosamente, unidas pelo filósofo Alemão Immanuel Kant, o maior expoente do Iluminismo. Foi Kant — viveu entre 1724 e 1804 — quem criou a distinção entre o que ele chamou de universo não fenomenal e universo fenomenal. Em outros termos podemos dizer que essa distinção era entre o que é metafísico daquilo que é físico. Ele também estabeleceu uma distinção entre a razão prática — a fé — e a razão pura. Essas distinções formuladas por Kant são a base de todo o pensamento moderno e são fundamentais para a nossa compreensão da fé e da história em nossos dias. Apesar de rejeitar as distinções de Kant, não deixamos de reconhecer sua importância para o entendimento da Teologia em nossos dias e, especialmente, para o entendimento das questões relacionadas à busca do Jesus histórico.

Para Kant o universo metafísico é o de Deus, da liberdade e da imortalidade. Apenas a razão prática ou a fé tem acesso a esse universo. O universo físico, por sua vez, está acessível aos sentidos humanos e pode ser controlado pelo exercício da razão pura. Todas as ciências humanas se ocupam, exclusivamente, do mundo físico, daquilo que pode ser percebido pelos sentidos. De fato, todas as ciências, a partir de Kant, adotaram essa forma de pensamento e aceitaram a distinção de Kant entre o universo não fenomenal do universo fenomenal. Foi exatamente essa forma de raciocínio que permitiu o surgimento de uma distinção fundamental no campo da Teologia. Estamos falando da distinção dicotômica ente Historie e Geschichte. Essa dicotomia por sua vez, nos remete para a filosofia dos gigantes gregos: Sócrates, Platão e Aristóteles.

A distinção ensinada por Kant dissociou Deus e Sua revelação de todos os aspectos do pensamento humano e, claro, não deixou de afetar a própria Teologia. As pressuposições da história foram mudadas para rejeitar e excluir qualquer elemento considerado sobrenatural. E esse fato está na raiz do que estamos chamando da busca moderna pelo Jesus histórico. A partir de Kant a ênfase dos estudos da história foi completamente colocada sobre a base que todos os fenômenos históricos precisavam ser avaliados, puramente, a partir de elementos naturais, numa relação direta de causa e efeito. Todos os elementos relacionados com a revelação e as ações divinas na história são excluídas como ponto de partida. De posse das ferramentas modernas supridas pelo Iluminismo o historiador precisa fazer duas perguntas: O que realmente aconteceu?  O que realmente aconteceu? Começando com essas perguntas esperava-se que o historiador pudesse respondê-las de modo objetivo deixando de lado todas as pressuposições. A ideia era simples: vamos retirar todos os dogmas antigos da Igreja cristã. Vamos excluir todas as afirmações previamente feitas pela Igreja e pela Teologia. Vamos examinar as escrituras como sendo apenas um livro humano. Colocando de lado toda e qualquer pressuposição o historiador tem a responsabilidade de descobrir quem, na realidade, foi esse tal de Jesus. Desse modo, alegava-se que o historiador objetivo poderia nos dizer, exatamente, como as coisas aconteceram. Mas logo alguém afirmou o seguinte: a ideia de que é possível entramos na história sem nenhum pressuposto é tão ingênua que se parece mais com a ideia que um historiador pode ser neutro em sua abordagem. Mas, à medida que avançarmos em nossa análise ficará claro que tais pressuposições mostraram-se completamente falsas.

Quando o Iluminismo começou a influenciar as áreas do conhecimento humano não demorou muito para que tal influência atingisse a Teologia e os teólogos em cheio. No século XIX teólogos como Friedrich Schleiermacher e Albrecht Ritschl abandonaram os estudos teológicos para mergulhar de cabeça na história com a intenção de tornar a teologia aceitável no meio científico à luz da filosofia kantiana. Todavia, ainda nos dias de Kant, o filósofo Gotthold Lessing — viveu entre 1729 e 1891 — levantou a seguinte questão: É possível que um fato acidental da história humana tenha significado eterno? Essa pergunta é extremamente importante, especialmente para nós os cristãos. Não podemos negligenciar a mesma nem aceitar os pífios argumentos desenvolvidos para ofuscá-la. E não existe nenhum modo de respondermos a essa pergunta, senão por meio de afirmações relacionadas com a fé. Por exemplo, a cruz de Cristo é um exemplo típico do que estamos falando. O mesmo foi um evento tremendamente importante. Nossa salvação eterna depende desse fato glorioso acerca de Cristo —

Romanos 4:25

O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.

De fato, todos os eventos relacionados à pessoa de Jesus foram tremendos — sua encarnação, sua crucificação e sua ressurreição. E tudo isso aconteceu na história da Palestina duma vez por todas e, como diz Karl Barth, o que Deus fez não pode ser modificado por ninguém. Está feito e ponto. Dessa forma, todos os que se propõem abordar a história a partir de pressuposições iluministas — isto é, pressuposições meramente humanas — precisam responder à seguinte pergunta: de que maneira um avento acontecido na história passada na longínqua Palestina pode ter importância eterna? Não é difícil perceber que ao fazermos tal pergunta, nós estamos dirigindo nossa atenção para o coração da fé cristã. A pergunta de Lessing é, de fato, a pergunta que os proponentes originais da busca histórica pelo verdadeiro Jesus se propuseram a responder.

CONTINUA...

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Alexandros Meimaridis

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