Diante
da violência do trágico acidente aéreo que vitimou 71 pessoas nas imediações de
Medellín, na Colômbia, não é algo incomum pessoas questionarem a existência de
Deus por um lado, ou Seu amor pelos seres humanos, por outro.
Até
mesmo muitos cristãos sentem-se incomodados com essa realidade e, muitas vezes,
não sabem o que responder a esses questionamentos. Ao mesmo tempo em que estendemos
nossas condolências a todos os parentes e amigos de todas as vítimas, é nosso
desejo compartilhar a meditação a seguir, da perspectiva bíblica, utilizando
como base a destruição e o massacre sofrido pelo povo de Jerusalém quando foi
conquistado pelos babilônios. Não queremos de nenhuma maneira ferir nenhum tipo
de suscetibilidade nessa hora de imensa dor.
O que desejamos fazer é apresentar alguns fatos importantes e oferecer
palavras de verdadeira consolação para todos.
O
Salmista nos diz que Deus é justo juiz, e um Deus que sente indignação todos os
dias pelas coisas que os seres humanos fazem:
Salmos 7:11
Deus é justo juiz, Deus
que sente indignação todos os dias.
Infelizmente
existem até mesmo muitos indivíduos que insistem em se classificar como cristão
não aceitam essa verdade. De forma piegas nos dizem: “Deus é amor”. De fato
Deus é também amor, mas isso não altera em nada a afirmação do salmista, que
devemos notar, está até bastante amenizada já que a expressão hebraica זֹעֵם — zo`em —
pode representar, além de “indignado”, alguém que está “furiosamente
indignado”. E o motivo de toda essa indignação são os nossos pecados. É tolice
pensarmos que os seres humanos são “bonzinhos” e que não merecem esse tipo de
tratamento. NÃO SOMOS BONZINHOS, SOMOS TODOS GRANDES PECADORES.
Mas
o Antigo Testamento nos ensina algo mais. Ele diz que Deus —
Salmos 103:10
Não nos trata segundo
os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades.
E
sabe por que Deus faz isso? Por que ele não nos trata da forma como realmente
merecemos ser tratados pela indignação que nosso pecados causam em Sua santa
pessoa. É porque:
Salmos 103:8—9
O SENHOR é
misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende
perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira.
Outra
passagem, ainda do Antigo Testamento, que confirma o que estamos dizendo é
Êxodo 34:5—7:
Tendo o SENHOR descido
na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR. E, passando o
SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e
longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em
mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não
inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos
filhos, até à terceira e quarta geração!
Esse
é o Deus do Antigo Testamento que é também severo juiz e que, de vez em quando,
quando a medida da iniquidade de alguém ou de um povo atinge o nível
predeterminado por Deus, o Todo Poderoso exerce seu pleno direito de fazer
justiça trazendo sobre a própria cabeça do pecador toda a indignação que lhe
foi feita (a Deus) —
Gênesis 15:13—16
13 Então, lhe foi dito:
Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será
reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos.
14 Mas também eu
julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes
riquezas.
15 E tu irás para os
teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice.
16 Na quarta geração,
tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos
amorreus.
Note,
especialmente, a frase que diz: porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus.
Sim, Deus é paciente e longânimo, mas ele não é nem tolo nem cruel como alguns
desejam. A medida da iniquidade dos amorreus só seria considerada cheia 400
anos depois que essas palavras foram proferidas para Abraão. Ou seja, os
amorreus tinham ainda quatro séculos para se arrependerem e evitarem a execução
do juízo divino anunciado. As advertências do Antigo Testamento são repetidas
no Novo Testamento. O homem é responsável por seus atos e nossos pecados no
tempo presente continuam a encher Deus de indignação —
Gálatas 6:7
Não vos enganeis: de
Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.
Mas
existe uma passagem no Antigo Testamento, para a qual desejo chamar a atenção
do leitor, porque é nela que vamos encontrar o verdadeiro motivo porque Deus
não varre a todos nós de uma vez da face do planeta Terra. Não quero que
ninguém pense, nem por um instante sequer, que somos melhores dos que todos os
que perecem em acidentes como esse da chapecoense — ver Lucas 13:1—5. Sempre
existirão pessoas que ficam imaginando o que, possivelmente, aquelas pessoas a
bordo do avião da LaMia fizeram para merecer tal destino. São arrogantes que se
consideram melhores do que esses que pereceram. Mas a realidade é bem outra. Somos todos merecedores de igual fim. Mas é
importante entendermos que Deus é quem mantém pleno controle sobre nossas vidas
e sobre tudo isso que chamamos de “acidentes”. Por favor, considere cautelosamente as
palavras a seguir, que nos falam acerca das misericórdias de Deus e como elas
nos preservam vivos, antes de cometer uma blasfêmia contra Deus e proferir
palavras que soem como verdadeiras abominações aos ouvidos do Deus ETERNO e
Todo Poderoso.
O
profeta Jeremias nos deixou um excelente poema falando acerca da misericórdia
de Deus em Lamentações de Jeremias capítulo 3.
No início do capítulo 3 de Lamentações de Jeremias, o profeta está
refletindo sobre a destruição de Jerusalém e o desterro do povo judeu para a
Babilônia do rei Nabucodonosor:
Lamentações 3:19—20
19 Lembra-te da minha
aflição e do meu pranto, do absinto e do veneno.
20 Minha alma,
continuamente, os recorda e se abate dentro de mim.
Jeremias
nos indica que a dor e a angústia retornavam todas as vezes que ele se lembrava
de suas tribulações e suas reflexões eram tão deprimentes quanto suas
perspectivas. Talvez como Jó, o profeta estivesse pensando em “esquecer” suas
aflições:
Jó 9:27—28
Se eu disser: eu me
esquecerei da minha queixa, deixarei o meu ar triste e ficarei contente ainda
assim todas as minhas dores me apavoram, porque bem sei que me não terás por
inocente.
Mas
não adiantava. Ele se lembra em todas as ocasiões — “minha alma
continuamente os recorda” — verso 20 — da sua “aflição, do pranto, do absinto e do veneno” —
ver verso19 acima. É com essas palavras que ele se refere, de forma enfática,
acerca da sua aflição. Era esta a maneira como ele percebia suas dores e como
se sentia ao pensar nelas. Seus pensamentos se transformavam na própria
miséria. Jeremias bem sabia que tudo pelo qual ele e o povo de Israel estavam
passando era fruto do pecado e é exatamente o pecado que torna o cálice da
aflição em um cálice de amargor profundo. É uma pena que até mesmo os crentes
do século XXI estejam perdendo essa consciência, com alguns querendo,
inclusive, colocar a culpa em Deus. Quanta vergonha! Que horror!
O
profeta Jeremias se lembrava que os cativos na Babilônia deviam ter bem vívidas
em suas mentes as cenas do cerco, do incêndio e da destruição de Jerusalém. E
certamente, como o próprio profeta, eles deviam estar se lembrando de Sião,
pois era impossível esquecer Jerusalém:
Salmos 137:1, 5—6
Às margens dos rios da
Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Se eu de
ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me
a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à
minha maior alegria.
A alma do profeta não estava somente abatida
por causa da aflição em que ele se encontrava em profundo amargor — “absinto e veneno” —
mas também por causa do pecado. Da mesma maneira, nós devemos humilhar nossos
corações quando Deus, em Sua providência, permite que sejamos afligidos, como a
situação presente envolvendo o acidente do avião da chapecoense. Quando temos
esta atitude nós podemos nos aperfeiçoar pelas correções do passado e do
presente e evitarmos as futuras.
A
partir do verso 21, entretanto, as nuvens escuras começam a se dissipar e podemos
enxergar o céu azul novamente. A queixa do profeta desde o começo do capítulo 3
e até o verso 20 era realmente muito deprimida e deprimente. A tristeza e a
melancolia podem fazer o coração arrebentar. O profeta sabe disso e em vez de
se entregar completamente à melancolia, ele prefere resgatar seu coração,
livrando-o da tristeza imensa, trazendo à memória o que me “pode dar esperança”.
As coisas que podem dar esperança ao profeta não são, neste contexto, as coisas
antigas e passadas e sim as que ele espera que virão. Muitas vezes nossos
corações estão cheios de tristeza e de aflição e nos sentimos perdidos e
esquecidos. Mas Deus, em Sua graça infinita, nos desperta pela leitura da Sua
palavra, por uma palavra amiga ou por uma lembrança e nos renova em esperança
impedindo-nos de mergulharmos de cabeça no fundo do poço. Vamos juntos ver a
que coisas o profeta poderia estar se referindo quando disse:
Lamentações de Jeremias
3:21
Quero trazer à memória
o que me pode dar esperança.
I. Em
primeiro lugar o profeta reconhece que mesmo que as coisas estejam ruins, é
somente pela graça de Deus que elas não estão piores. E nós sabemos que as
situações podem ser sempre piores. Nós somos afligidos pela vara do Senhor, mas
é por causa das misericórdias do Senhor que não somos consumidos:
Lamentações de Jeremias
3:22
As misericórdias do
SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não
têm fim.
Quando
estamos enfrentando problemas e dificuldades nós devemos, para o encorajamento
da nossa fé e esperança, observar quais são os benefícios que tal situação nos
traz, além do mal evidente, que é mais fácil de perceber. A situação está ruim,
mas poderia ser bem pior e com esta possibilidade temos o outro lado, de que a
situação pode ser melhor. Note as coisas que o profeta nos ensina:
1. Ele reconhece o fluxo constante das misericórdias do Senhor. É por
causa deste fluxo constante, que nós não somos consumidos. Somos como a sarça
ardente, pegando fogo, mas não consumidos. Como igreja, independentemente das
aflições pelas quais temos que passar, temos a certeza que estaremos aqui até o
final dos tempos, mas não devemos nunca nos esquecer que estamos aqui apenas de
passagem. O apóstolo Paulo resumiu bem esta verdade ao dizer:
2
Coríntios 4:7—10
Temos,
porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de
Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos,
porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não
destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua
vida se manifeste em nosso corpo.
As
misericórdias fluem de uma única fonte: Deus. Note a forma plural “misericórdias”, que
denota tanto abundância como variedade. Deus é uma fonte inesgotável de
misericórdias. É por este motivo que ele é chamado de:
2 Coríntios 1:3
Bendito seja o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o PAI DE MISERICÓRDIA E DEUS DE TODA
CONSOLAÇÃO.
Todos
nós somos devedores, diariamente, à misericórdia de Deus pelo fato de não
sermos consumidos.
II. Em
segundo lugar, o profeta, na sua profunda dor e aflição, ainda pode
experimentar a ternura da compaixão divina e a verdade da promessa de Deus. É certo
que ele em outros momentos se queixou do fato de Deus não ter demonstrado
piedade, como quando disse:
Lamentações de Jeremias
2:17—18
Afastou a paz de minha
alma; esqueci-me do bem. Então, disse eu: já pereceu a minha glória, como também
a minha esperança no SENHOR.
Mas
agora, ele se corrige e reconhece:
1. Que as misericórdias do Senhor não falham por causa da fidelidade de
Deus. Mesmo em tempos difíceis quando parece que Deus bloqueou Suas
misericórdias elas continuam, de fato, fluindo. Os rios das misericórdias de
Deus correm cheios e transbordantes e nunca estão secos. Caso o suprimento do
dia anterior alcance um nível baixo, o profeta tem certeza de que as
misericórdias do Senhor serão completamente renovadas pela manhã. A cada manhã
um novo, completo e suficiente suprimento estará disponível. No meio das suas
aflições Jó disse que Deus visita os filhos dos homens a cada manhã:
Jó 7:17—18
Que é o
homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado, e cada manhã o
visites, e cada momento o ponhas à prova?
De maneira semelhante o profeta Sofonias reconhece que Deus traz à luz
Seu juízo manhã após manhã, mas o ímpio não sabe reconhecer seus erros:
Sofonias
3:5
SENHOR é
justo, no meio dela; ele não comete iniqüidade; manhã após manhã, traz ele o
seu juízo à luz; não falha; mas o iníquo não conhece a vergonha.
Quando as coisas nas quais confiamos nos são tiradas o Senhor permanece
constante, manhã após manhã.
2. Que
a fidelidade do Senhor é grande. Mesmo quando parece que o Senhor quebrou Sua
aliança conosco, ela está em plena força. Mesmo que Jerusalém esteja em ruínas,
a verdade do Senhor dura para sempre. Não importa que tipo de dores e problemas
nós tenhamos que enfrentar, nós não podemos nestes momentos entreter, nem por
um segundo, pensamentos errados acerca de Deus e sim manter firme nossa posição
de que Ele é compassivo e fiel:
Lamentações
de Jeremias 3:22—23
As
misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.
Salmos
90:3.
Tu reduzes
o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens.
III.
Em terceiro lugar o profeta se lembra que Deus — o Deus do Antigo Testamento me permitam
dizer — é e sempre será a alegria toda-suficiente
do Seu povo. Isto ocorre porque o povo de Deus O tem escolhido e depende —
espera — que Deus seja exatamente isto:
Lamentações de Jeremias
3:24
A minha porção é o
SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.
Assim
temos que: quando nossa alma diz: “A minha porção é o SENHOR”, nós estamos afirmando:
1. Que
quando eu tiver perdido todas as coisas que tenho neste mundo, inclusive minha
liberdade, meu sustento e quase a própria vida ainda assim eu não perdi meu
interesse em Deus. Porções na terra são todas perecíveis, mas o Senhor é porção
por toda a eternidade. Não podemos desprezar o fato de que até mesmo igrejas e
pastores são, muitas vezes, responsáveis por grandes perdas em nossas vidas.
Ensinamentos falsos são muito comuns e poderosos nesses dias de comunicação
instantânea. O próprio profeta Jeremias já reconhecia essa situação nos seus
dias, portanto, não deve nos surpreender que pastores sejam responsáveis por
grandes danos causados ao povo de Deus:
Jeremias 12:10
Muitos pastores
destruíram a minha vinha e pisaram o meu quinhão; a porção que era o meu
prazer, tornaram-na em deserto.
Mas a nossa porção, mesmo nestas horas, deve continuar a ser o Senhor, pelo
simples fato de que nós mesmos somos a porção do Senhor. Desse modo, os fatos a
seguir são inegáveis:
2. Que enquanto eu tenho interesse em Deus eu tenho tudo o que eu preciso.
Quando Deus é minha porção eu tenho aquilo que é suficiente para contrabalançar
todas as minhas aflições e compensação por todas as minhas perdas. Deus, como
nossa porção, não pode jamais ser tirado de nós.
3. Que isto é em que eu dependo e descanso satisfeito. Portanto “esperarei nele”.
Vou me lançar sobre Ele completamente, e vou me encorajar em Deus quando todos
os outros apoios que me sustentavam desabarem. Note bem: é nossa obrigação
fazer do Senhor a porção das nossas almas e recebê-lo como Consolador no meio
das nossas lamentações.
IV. Em
quarto lugar, o profeta nos lembra que todos aqueles que se relacionam com Deus
descobrirão que a confiança depositada nEle não é em vão. Isto se evidencia pelos
seguintes fatos:
1. Deus é bom para os que confiam n’Ele:
Lamentações
de Jeremias 3:25
Bom é o
SENHOR para os que esperam por ele, para a alma que o busca.
Deus é bom para todos. Suas tenras misericórdias são derramadas sobre
toda Sua criação; todas as Suas criaturas podem experimentar da Sua bondade. Mas
Deus é bondoso, de uma maneira toda especial, para aqueles que esperam n’Ele,
para a alma que o busca:
Salmos
118:8
Melhor é
buscar refúgio no SENHOR do que confiar no homem.
Jeremias
29:13
Buscar-me-eis
e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.
Todas as vezes que as dificuldades se prolongarem ou que o livramento
parecer demorado, nós devemos esperar pacientemente pelo Senhor e Suas
misericórdias:
Salmo 40:1
Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu
quando clamei por socorro.
Enquanto aguardamos pelo Senhor em fé, nós precisamos buscá-lo em
oração. Nossas almas precisam buscar o Senhor com intensidade. Esta busca, em oração, irá nos ajudar na
nossa espera. E Deus tem prometido ser todo gracioso para aqueles que O buscam
e O aguardam desta maneira. É a estes que Deus irá revelar sua maravilhosa
bondade.
2. Que todos aqueles que esperam no Senhor descobrirão que isto é algo
bom:
Lamentações de Jeremias 3:26
Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio.
Aguardar a salvação do Senhor é bom — de fato esta é nossa
responsabilidade e será nosso conforto e satisfação indescritíveis. Aguardar a
salvação do Senhor em silêncio quer dizer que devemos aguardar pelo Senhor,
mesmo quando pareça que ele está demorando e que as dificuldades parecem
insuperáveis. Enquanto esperamos em tais situações não devemos murmurar nem nos
sentir transtornados e sim nos submeter em silêncio aos desígnios divinos. Se
nos lembrarmos das palavras do Senhor Jesus quando disse: “seja feita a Tua
vontade”, nós podemos ter esperança de que tudo irá
terminar exatamente como Deus deseja e este final é sempre o melhor para nós.
V. Em
quinto lugar, Jeremias nos lembra que as aflições são realmente boas para nós e
que se as suportarmos da maneira correta elas irão produzir algo de bom para
nós – ver Romanos 8:28. Nós devemos saber que não somente é bom aguardar e
esperar pela salvação do Senhor, mas que também é bom estarmos atribulados
neste meio tempo:
Lamentações de Jeremias
3:27
Bom é para o homem
suportar o jugo na sua mocidade.
É
bom para o homem suportar jugo na sua mocidade. Muitos dos jovens a quem
Jeremias estava se referindo haviam sido levados como cativos para a Babilônia.
É para aliviá-los que ele escreve esse versículo. Note que Jeremias não culpa
os Babilônios. Ele diz que, em última instância, quem está trazendo este jugo
sobre aqueles jovens é Deus mesmo. Este jugo é como aquele que é representado
pelos mandamentos de Deus. É muito bom aprendermos desde cedo, que temos sérias
obrigações para com Deus e não podemos pretender que Deus aceita qualquer
coisa. Nunca é cedo demais para começarmos a nos moldar pelo molde de Deus. Sem
o jugo que Deus nos impõe, a grande maioria de nós seria como touros indomáveis
que não se ajustam ao uso da canga e se tornam improdutivos. Jeremias nos diz
que em tais situações nós devemos:
1. Que devemos acalmar-nos diante das nossas adversidades e aprender a
nos sentar sozinhos e guardar silêncio:
Lamentações de Jeremias 3:28
Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto esse jugo Deus pôs
sobre ele.
Em vez de correr de um lado para o outro reclamando da nossa condição e
agravando nossa situação e calamidade, questionando os propósitos da
providência no que nos diz respeito, devemos nos retirar no dia da adversidade
para um local tranquilo onde possamos sentar sozinhos e mantermos comunhão com
o Senhor, silenciando nossos pensamentos de descontentamento e colocarmos
nossas mãos sobre nossas bocas, como fez Aarão, que em meio à terrível
tribulação pela qual teve que passar, ainda assim guardou sua paz:
Levítico 10:1—3
Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e
puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a
face do SENHOR, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do SENHOR e
os consumiu; e morreram perante o SENHOR. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o
SENHOR disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei
glorificado diante de todo o povo. Porém Arão se calou.
Todas as vezes que Deus trouxer um jugo sobre nossos pescoços nós
devemos nos submeter de forma paciente.
1. Que nós só nos humilhamos de forma verdadeira, quando nos prostramos,
literalmente, no chão diante de Deus e aguardamos pacientemente pelo Senhor:
Lamentações
de Jeremias 3:29
Ponha a
boca no pó; talvez ainda haja esperança.
Muitas
vezes será conveniente no humilharmos completamente, encostando nossos próprios
rostos no chão, como uma demonstração da nossa submissão à vontade de Deus no
meio da aflição, bem como uma demonstração da nossa tristeza, da nossa vergonha
e de quanto nós nos abominamos por sermos os pecadores que somos. Precisamos
agir com a mesma dignidade de Jó:
Jó 42:2—6
Bem sei que
tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como
disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não
entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me,
pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te
conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e
me arrependo no pó e na cinza.
Quando nos humilhamos desta maneira o profeta nos diz: “talvez ainda haja
esperança”.
1. Que quando somos mansos de verdade, e nos submetemos àqueles que são
os instrumentos das nossas aflições e mantemos um espírito perdoador:
Lamentações de Jeremias 3:30
Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta.
Então nos tornamos verdadeiros filhos de Deus como descritos em —
Mateus
5:39—41
Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te
ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar
contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a
andar uma milha, vai com ele duas.
Nosso Senhor Jesus nos deixou um exemplo vivo de como proceder. O
profeta Isaías descreveu algumas das coisas pelas quais o Senhor passou quando
disse:
Isaías 50:6
Ofereci as costas aos que me feriam e as faces, aos que me arrancavam os
cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam.
Aqueles que são capazes de resistir às ofensas e afrontas e que não
revidam ultraje com ultraje, nem fazem ameaças quando maltratados, imitam nosso
Senhor:
1 Pedro 2:20—23
Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o
suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois
igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto
para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar,
deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado,
nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava
com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que
julga retamente.
Todos os que agem dessa maneira descobrirão que é benéfico suportar este
jugo e que em última instância o mesmo se transformará em uma vantagem
espiritual. Como disse o apóstolo Paulo:
Romanos 5:3—5
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações,
sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e
a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus
é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.
VI. Em
sexto lugar o profeta Jeremias reflete acerca do glorioso fato de que Deus irá
retornar de forma graciosa ao Seu povo, com consolações proporcionais às
aflições causadas:
Lamentações de Jeremias
3:31—32
O Senhor não rejeitará
para sempre; pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a
grandeza das suas misericórdias.
É
por este motivo que o profeta decide ser penitente e paciente. De fato, a
compreensão de como Deus é gracioso e misericordioso é o maior incentivo ao
arrependimento como proposto nos evangelhos, bem como à paciência cristã.
Quando agimos assim nós podemos ter certeza de que:
1. Apesar de estarmos humilhados, nós não perdemos nossa herança,
continuamos filhos de Deus.
2. Apesar de estarmos humilhados, não ficaremos para sempre neste
estado, pois a controvérsia entre nós e Deus não é eterna.
3. Seja qual for a tristeza pela qual temos que passar ou estejamos
passando a mesma é exatamente o que Deus tem designado para nós e Sua mão pode
ser vista no controle de todas as coisas. É Deus quem causa a tristeza e por
este motivo nós podemos ter a certeza que a mesma é sábia e graciosamente
ordenada. Tal tristeza é sempre por um tempo e tem um propósito específico:
1 Pedro 1:6—9
Nisso
exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais
contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da
vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo,
redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não
havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com
alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da
vossa alma.
1. Que Deus tem guardado muitas consolações para aqueles que Ele tenha,
por ventura, entristecido. É tolice pensar que quando Deus nos entristece o
mundo pode nos consolar. O mesmo que nos entristeceu precisa nos trazer o
consolo. Como nos ensina o profeta Oséias temos que nós voltar para Deus, pois
foi Ele quem nos feriu e é Ele quem irá nos sarar:
Oséias 6:1
Vinde, e
tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e
a ligará.
2. Quando Deus se volta para lidar graciosamente conosco, não O faz
baseado em nossos méritos, mas de acordo com Suas misericórdias. Sim, de acordo
com Sua multidão de misericórdias. Nós somos tão indignos que somente uma
multidão de misericórdias pode realmente resolver nossa pecaminosidade. Todos
aqueles que têm este tipo de expectativa não verão as aflições como algo
negativo e sim como uma oportunidade de Deus derramar uma multidão de
misericórdias!
VII. Em sétimo lugar
Jeremias nos lembra que todas as vezes que Deus causa dor e aflição, Ele tem um
propósito sábio e santo e, em nenhuma hipótese, Deus se alegra em nos ver
aflitos:
Lamentações de Jeremias 3:33
Porque não aflige, nem entristece de bom grado os
filhos dos homens.
Deus de fato aflige e traz
agravos sobre os filhos dos homens. Todas as aflições que vem sobre nós têm sua
origem em Deus. Mas Deus não tem nenhum prazer em nos afligir. Destas duas
últimas frases podemos concluir que:
1. Deus
só nos aflige quando nós damos motivos para Ele assim proceder. Deus não
dispensa Seus aborrecimentos da mesma maneira que ele dispensa seus favores. Deus
não tem prazer em afligir, mas tem prazer em dispensar Seu amor e compaixão,
porque eles são imensos – ver Lamentações de Jeremias 3:32 acima. Quando Deus
manifesta sua bondade Ele o faz porque isto lhe agrada, mas quando Sua receita
envolve coisas amargas para nós é porque nós merecemos e precisamos destas
coisas.
2. Deus
não tem prazer em nos afligir. Deus não tem prazer na morte dos pecadores ou
nas inquietações dos Seus santos, mas sempre nos aflige com certa relutância. É
como se Deus tivesse que se deslocar do seu lugar, o assento de misericórdia —
ver Hebreus 4:16 — para nos afligir. Deus não tem nenhum prazer em ver nenhuma
de Suas criaturas em estado miserável. E naquelas situações que envolvem Seu
próprio povo, Deus sofre juntamente com Seu povo. O Senhor se aflige com as
aflições do Seu povo. Deus é movido à compaixão![1]
3. Deus
preserva Sua bondade para com Seu povo mesmo quando o aflige. Como Deus não
aflige de bom grado os filhos dos homens, muito mais, então, Seus próprios
filhos. Independente de qualquer coisa, Deus é bom
Salmos 73:1
Com efeito, Deus é bom para
com Israel, para com os de coração limpo.
Os
filhos de Deus precisam aprender a ver o amor no coração de Deus mesmo quando
estão vendo o rosto irado de Deus e a vara da disciplina em Suas mãos.
VIII. Em oitavo lugar, o
profeta nos faz lembrar que apesar de Deus usar seres humanos como instrumentos
para corrigir Seu próprio povo, Deus está muito longe de se agradar dos
excessos que os homens cometem:
Lamentações de Jeremias 3:34
– 36
Pisar debaixo dos pés a
todos os presos da terra, perverter o direito do homem perante o Altíssimo, subverter
ao homem no seu pleito, não o veria o Senhor?
Mesmo que Deus use para Seus
próprios propósitos a violência de homens perversos e pouco razoáveis, ainda
assim não podemos concluir que Deus aprova os métodos violentos e opressivos
como somos muitas vezes tentados:
Habacuque 1:13
Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e
a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem
perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que
ele?
O profeta Jeremias descreve
duas maneiras pelas quais o povo de Deus é injuriado e oprimido pelos inimigos
e nos assegura que Deus não aprova nenhuma delas:
1. Se
os homens causam danos ao povo de Deus pelo uso de força física, Deus não
aprova este tipo de agressão, pois Deus não pisa debaixo dos pés a todos os
presos da terra, pelo contrário, Deus ouve cada lamento e reclamo causado por
ações opressoras. Deus não somente não aprova tal opressão, mas a mesma O
desagrada profundamente. É uma verdadeira afronta a Deus “pisar em cima”
daqueles que já estão prostrados ou agredir aqueles que estão amarrados e não
podem se defender.
2. Por
outro lado, aqueles que causam o mal sob a bandeira da “justiça e lei” e neste
processo de forma pretensiosa “perverterem o direito do homem perante o
Altíssimo”, de tal maneira que sejam negados ao oprimido seus direitos e plena
e verdadeira justiça, e pensam que estão fora do alcance de Deus, e, se estes
mesmos homens subverterem a justa causa de qualquer pessoa e impuserem um
veredicto injusto ou promoverem um falso juramento que sejam, então, advertidos
que:
3. Deus está vendo tudo.
Todas as coisas estão patentes diante daquele a quem todos nós teremos que
prestar conta:
Lamentações de Jeremias 3:36
Subverter ao homem no seu pleito, não o veria o
Senhor?
Hebreus 4:13
E não há criatura que não seja manifesta na sua
presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos
daquele a quem temos de prestar contas.
Tudo está revelado diante de
Deus e estes atos, mencionados acima, são extremamente desagradáveis a Ele. E
todos os homens conhecem esta verdade. Portanto, quando agem de maneira tão
injusta o fazem com altivez e arrogância contra Deus, o Todo-Poderoso. Os
homens preferem ignorar a simples verdade de que Deus está acima de todos os
seres por mais poderosos que estes possam ser:
Eclesiastes 5:8
Se vires em alguma província opressão de pobres e o
roubo em lugar do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso;
porque o que está alto tem acima de si outro mais alto que o explora, e sobre
estes há ainda outros mais elevados que também exploram.
4. Deus não aprova tais
atitudes. Existem implicações bem maiores do que o texto nos informa
diretamente. A perversão da justiça ou a subversão do direito de qualquer
pessoa são uma grande afronta a Deus. E mesmo que Deus use tais elementos para
corrigir Seu próprio povo, mais cedo ou mais tarde irá confrontar tais pessoas
diretamente. Deus muitas vezes permite que os perversos progridam neste mundo,
mas isto não quer dizer, nem por um instante sequer, que Ele está aprovando o
que estas pessoas estão fazendo. Deus é bom e não tolera a iniquidade de
nenhuma espécie.
Que as palavras de Deus,
através de suas muitas testemunhas, citadas acima, nos sirvam de consolo e
fortalecimento seja na hora, da angústia, da tribulação, das dificuldades e até
mesmo diante de perseguições ou da morte.
2 Tessalonicenses 2:16—17
Ora, nosso Senhor Jesus
Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e
boa esperança, pela graça, consolem o vosso coração e vos confirmem em toda boa
obra e boa palavra
Que essas palavras sirvam de consolo a todos os verdadeiros filhos de
Deus. Que sirvam também de advertência a todos aqueles que, vendo os dramáticos
acontecimentos na Colômbia, não sentem o peso dos seus próprios pecados. Nossa
evidente fragilidade deve nos fazer considerar nossos caminhos. Quando Deus se
levanta para julgar não existe sabedoria humana nem tecnologia que seja capaz
de impedir os propósitos de Deus. Termino com o convite que nos faz o profeta
Isaías
55:1—3, 6—7
Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não
tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e
sem preço, vinho e leite. Por que
gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não
satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos
manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a
mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua,
que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe
o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR,
que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em
perdoar.
Que Deus abençoe a todos.
Irmão Alex.
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Nota:
O comentário do capítulo 3 de Lamentações de Jeremias foi, em parte, adaptado
da obra de Matthew Henry.
Compaixão = Pesar que em nós desperta a infelicidade, a dor, o mal de outrem.
[1]
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