Os descendentes de Sem
Este estudo é parte de uma Análise do Livro do Gênesis. Nosso interesse é
ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da
História Primeva da Humanidade. No final de cada estudo o leitor encontrará
direções para outras partes desse estudo.
O Livro do Gênesis
O Princípio de Todas as Coisas
בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ
Eretz ha ve-et Hashamaim et Elohim Bará
Bereshit
Terra a
e céus os Deus criou princípio No
Gênesis
1:1
XI –
Gênesis 10 e a Tábua das Nações — PARTE 003
H. Os Filhos de Sem – Gênesis 10:21—31.
Os Semitas são os
últimos a serem mencionados, muito provavelmente, porque é deles que Abrão irá
descender. Dessa maneira a posição de Sem dentro da “Tábua das Nações” serve
para criar um efeito climático. Mesmo citando Sem por último, o autor não nos
deixa esquecer que ele era realmente o filho mais velho de Noé – ver Gênesis
10:21. A ordem de nascimento dos filhos de Noé é: Sem – mencionado aqui como
irmão mais velho de Jafé — Jafé e Cam — mencionado como o filho mais novo de
Noé — ver Gênesis 9:24. Apesar dessa ser a ordem correta, quando os três são
mencionados juntos, Cam aparece sempre no meio — Sem, Cam e Jafé — o que da
margem a certas confusões — ver Gênesis 5:32; 6:10; 7:13; 9:18; 10:1. Mesmo a
lista mencionada em 1 Crônicas 1:1—4, e que foi produzida bem mais tarde,
preserva a fórmula — Sem, Cam é Jafé. Devemos ainda notar que apesar de Héber
estar distante três gerações de Sem, ele é mencionado na abertura da árvore
genealógica dos semitas indicando que esses são da maior importância geral,
enquanto que os descendentes de Héber são de importância especial. Os
descendentes de Pelegue, filho de Héber, não são mencionados na “Tábua das
Nações”, mas serão mencionados com especial destaque em Gênesis 11:18—19.
A lista de nomes que
segue é, como no caso das anteriores, meramente representativa e não exaustiva.
1. עֵילָם — `Eylam —
Elão, que significa “eternidade”. Ao que parece este patriarca foi o ascendente
dos Elamitas que se estabeleceram na região ao leste do rio Tigre na fronteira
norte da Assíria e fazendo fronteira com a Média ao sul. Esse é o país mais distante,
seguindo em direção leste, mencionado neste capítulo. Como o idioma falado
pelos Elamitas não pertence ao ramo das línguas semíticas, existem muitas
especulações acerca do porque Elão é mencionado entre os descendentes de Sem.
Por causa das palavras contidas em Jeremias 49:36—39 alguns estudiosos
identificam os Elamitas da Antiguidade com os modernos ciganos, mas está
identificação parece um tanto quanto forçada.
2. אַשּׁוּר — `Ashshur —
Assur, que significa “um passo”. Patriarca que cedeu seu nome para a cidade que
veio a se tornar, por muitos anos, a capital da Assíria. Seus descendentes se
estabeleceram na região norte da Mesopotâmia às margens do rio Tigre. Os assírios
terão um papel fundamental nos eventos posteriores da Antiguidade.
3. אַרְפַּכְשַׁד — `Arpakshad —
Arfaxade. Este nome possui uma etimologia muito complexa e, dependendo da
maneira como é entendido, pode tanto significar “eu falharei com o peito”, como
“ele amaldiçoou a mamadeira”. Este patriarca nasceu um ano após o dilúvio e
viveu por longos quatrocentos e trinta e oito anos — ver Gênesis 11:13. Por
causa da sua difícil etimologia, o nome Arfaxade tem sido identificado tanto
como o ancestral dos caldeus bem como dos medos. Esses dois povos também irão
representar papeis significativo no desenrolar dos fatos posteriores da
História da Humanidade.
4. לוּד — Lwud —
Lude, que significa “conflito”. Com relação a esse patriarca não existe nenhum
consenso quanto onde ele teria se estabelecido. Alguns o colocam no norte da
África, outros acham que ele foi parar na região da Anatólia — Turquia moderna —
enquanto outros ainda acham que ele se estabeleceu em algum lugar da
mesopotâmia.
5. אֲרָם — `Aram —
Arã, que significa “exaltado”. Esse patriarca foi o pai dos chamados “arameus”
que habitaram as estepes do vale que existe entre os rios Eufrates e Tigre, no
norte da mesopotâmia. Este povo existe até os dias de hoje na região ocupada
pela Síria moderna. Sua contribuição para a história bíblica é marcante, pois é
deles que procede a língua aramaica — também chamado de siríaco antigo — que
foi usada em partes do Antigo Testamento e que se tornou a língua franca da
Palestina nos dias de Jesus. O Novo Testamento possui inúmeras expressões em
aramaico o que é um reflexo direto do fato de que tanto o Senhor Jesus, bem
como os seus discípulos eram fluentes neste idioma. Foi também dos arameus que
Deus chamou Abraão.
I. Os Filhos de Arã — Gênesis 10:23.
1.עוּץ — `Uwtz — Uz,
que significa “arborizado”. Esse patriarca é também responsável por muitas
especulações concernentes ao exato local onde ele teria se estabelecido. Alguns
estudiosos acreditam que ele foi o fundador da cidade de Damasco. Outros acham
que é dele que procede o nome da terra onde Jó habitava — ver Jó 1:1. Mas nada
disso pode ser estabelecido com precisão.
2. חוּל — Hul —
Hul, que significa “círculo”. Esse patriarca se estabeleceu na região que fica
entre o Líbano moderno a Armênia moderna.
3. גֶתֶר — Gether —
Geter, que significa “temor”. Nenhum povo ou nação conhecidos pode ser traçado
de volta para ser identificado com esse patriarca. Todas as possibilidades
levantadas não vão além de meras conjecturas.
4. מַשׁ — Mash —
Más, que significa “retirado”. Esse patriarca é chamado de Meseque em 1
Crônicas 1:17. A Septuaginta usa a forma “Mosoque” nas duas passagens.
Similaridades morfológicas têm levado muitos a aceitar a possibilidade de que
esse patriarca teria se estabelecido na região de Massius na Mesopotâmia. Ele
teria também emprestado seu nome para nominarem o rio Meseca, cujos mananciais
se encontram naquela mesma região.
J. Os Filhos de Arfaxade – Gênesis 10:24.
1. שָׁלַח — Shalach —
Salá, que significa “broto”. Esse patriarca chega a ser mencionado na
genealogia de Jesus como anotada por Lucas – ver Lucas 3:35. Mas nosso
conhecimento acerca dele não vai além dessa relevante citação.
2. עֵבֶר — `Eber —
Héber, que significa “a região dalém de”. Esse é o ascendente por excelência
dos Hebreus. Alguns estudiosos acreditam até que as palavras Héber e hebreus
são cognatas, mas não existe consenso quanto a isso. A descoberta do nome
“Ebrum” – que foi rei de Ebla em 2300 a.C. — nas escavações da cidade de Ebla
confirma a precisão da narrativa bíblica.
K. Os Filhos de Héber — Gênesis 10:25.
1. פֶּלֶג — Peleg — Pelegue. Esse indivíduo é o único que,
juntamente com Ninrode — ver versos 8 a 12 — possui uma explicação concernente
ao seu nome. O texto bíblico diz que ele foi chamado “Pelegue” porque “em seus
dias se repartiu a terra”. Esta expressão acerca da repartição da terra pode
ter três interpretações possíveis:
1. O nome pode indicar
que os descendentes de Sem foram divididos em dois ramos: os descendentes de
Pelegue e os descendentes de Joctã.
2. Outra possibilidade
está atrelada ao significado do nome “Palgu” em Acadiano. Nesta língua o nome
significa “canal” ou “distrito” e, nesse caso, o uso desse nome estaria
apontando para um herói cultural a quem foram atribuídas construções de canais.
Existe uma antiga tradição originária da cidade de Falga na Mesopotâmia que
fala da criação de canais na junção do rio Caraboas com o rio Eufrates.
3. A terceira
possibilidade é aquela que aponta para os eventos narrados em Gênesis 11
concernentes à torre de Babel, quando os homens foram divididos e dispersos por
toda a terra porque não conseguiam entender uns aos outros.
2. יָמָיו — Yotayn —
Joctã. O significado deste nome é: “filho mais novo”. Seus descendentes,
alistados em seguida, são 13 e, pelos nomes registrados na Bíblia — versos 26 a
29 — os estudiosos concordam que os mesmos apontam para um grupo de tribos
localizadas no sul da Arábia. Entre os árabes existe uma tradição de que certo
homem chamado “Catã” seria um dos patriarcas deles. A evidência fica mais forte
ainda quando traços dos nomes dos seus filhos podem ser encontrados espalhados
por toda a Arábia. Segundo tradições muito antigas, as tribos árabes viviam sem
se misturar com outros grupos. Essa prática durou até que Ismael, filho de
Abrão e Hagar, junto com seus filhos também se estabeleceu naquela região.
Naquele tempo houve uma miscigenação, e os povos resultantes dessa mistura são
conhecidos como “mos-árabes”, ou “mostae-árabes” termos que significam “árabes
mistos”. De todas as formas, a origem dos árabes como descendentes de Sem está
muito bem estabelecida.
L. Os Filhos de Joctã — Gênesis 10:26—29.
1. אַלְמוֹדָד — `Alemodad —
Almodá cujo significado é “não medido”. A Septuaginta — LXX — traduziu este
nome por ελμωδαμ — Elmodam —
cujo significado é: “Deus é um Amigo”.
Esse patriarca é um ancestral dos povos que habitam o sul da península
arábica e que constituem, possivelmente, a tribo de Al-Murad — tendo acontecido
uma substituição da letra “D” original pelo “R”contemporâneo. O povo de Israel
certamente possui laços de sangue com esses árabes que antecedem, inclusive, ao
próprio advento de Abraão.
2. שָׁלֶף — Shalef
— Selefe. O significado
desse nome é: “retirado ou uma retirada”. Esse nome é bem conhecido entre os
árabes onde assume as formas de: “Salaf, Sulaf ou Salif”. Esses nomes eram
comuns entre os Sabeus[1]
e ocorrem em inscrições encontradas em alguns distritos do Iêmen. Os registros
mais antigos apontam para datas próximas de 2.200 a. C.
3. חֲצַרְמָוֶת — Hatzaremaveth — Hazar-Mavé. Literalmente esse nome significa
“Vila da Morte”. Esse foi o patriarca do povo que se estabeleceu na localidade
de Wadi Hadramaut no sul da Arábia, cuja capital era a cidade de Shabwa.
Durante sete séculos — do século V a. C até o século II a. D. — essa localidade
abrigou uma grande civilização e viveu dias de muita glória. Essa região é um
vale que se espalha por cerca de 320 quilômetros pela costa marítima da Arábia.
Esse povo foi identificado por Estrabão — historiador e geógrafo grego que
viveu por volta do ano zero da Era Cristã como uma das principais tribos do sul
da Arábia. Eles tornaram-se célebres pela qualidade do incenso que produziam.
4. יָרַח — `Yarach —
Jerá, que significa “lua nova” e indica o ciclo mensal contado a partir das
fases da lua. Por esse motivo também significava “mês” no idioma hebraico. Esse
patriarca se estabeleceu na mesma região que o anterior: Wadi Hadramaut.
5. הֲדוֹרָם — Hadoram — Hadorão, que significa “honra nobre”. No
hebraico veio a significar “Hadar é exaltado”. Os descendentes desse patriarca
se estabeleceram na região do Iêmen[2].
Os registros que os mencionam datam de antes do ano 2.000 a. C.
6. אוּזָל — `Auzal —
Uzal, cujo significado é bastante incerto. Literalmente significa “eu serei
inundado”. Não existe consenso entre os estudiosos concernente ao exato local
onde esse patriarca teria se estabelecido. As duas possibilidades são as
seguintes:
1. Uzal ou Auzal era o
nome original da cidade de Saana que é a capital do Iêmen do Sul moderno. Essa
cidade foi também chamada de Tafidh.
2. Outros identificam
Uzal com a cidade de Azala. Essa cidade está localizada nos arredores da cidade
de Medina e foi capturada pelo imperador assírio Assurbanipal. Registros
históricos encontrados em Azala mencionam os nomes de Iarqui e Hurarína que
alguns estudiosos pensam que fazem referência aos filhos de Joctã chamados Jerá
e Hadoram.
Independentemente da sua
localização, o texto de Ezequiel 27:19 nos informa que a cidade de Tiro
mantinha relações comerciais com a cidade de Uzal de onde adquiria produtos
feitos de ferro.
7. דִּקְלָה — Diqelah — Dicla,
que significa “bosque de palmeiras”. Por causa desse nome é muito provável que
esse patriarca se estabeleceu em algum dos muitos oásis de tamareiras que
existem na região da Arábia. A região sul da Arábia, próxima da foz dos rios da
Mesopotâmia — Eufrates e Tigre — tem sido sugerida por muitos estudiosos. O que
sabemos com certeza acerca dessa tribo é que eles são semitas descentes de
Joctã por meio do patriarca Héber. Dicla é considerado, de forma geral, como o
patriarca de todos os Árabes que habitam o sul da península, onde hoje se
encontra o Iêmen do Norte, o Iêmen do Sul e Oman.
8. עוֹבָל — `Yobal —
Obal, que significa “deixado nu”. Não existem informações precisas acerca de
onde esse patriarca teria se estabelecido.
9. אֲבִימָאֵל — `Abiyma`el — Abimael, cujo significado é “Deus é meu pai”. O
nome é tipicamente árabe, mas como o anterior nada sabemos acerca de onde esse
patriarca se estabeleceu. A forma hebraica deste nome era Abiel — ver 1 Samuel
9:1.
10. שְׁבָא — Shebá` — Sabá, que tanto pode significar “sete” como “um
juramento”. Esse patriarca foi o pai dos Sabeus. Esses figuram como negociantes
de especiarias — especialmente incenso — pedras preciosas e ouro. Eles também
negociavam escravos. Seu país é referido como sendo “distante” de Israel — ver
1 Reis 10:1—2; Isaías 60:6 ; Jeremias 6:20; Ezequiel 27:22; Joel 3:8 e Mateus
12:42. De acordo com o livro de Jó esse povo costumava andar em caravanas e era
comum atacarem outros grupos — ver Jó 1:15 e 6:19. De acordo com árvores
genealógicas árabes esse patriarca foi o pai de Himyar e Kahlan. Ele teria
recebido esse nome por ter sido o primeiro entre seus irmãos a fazer
prisioneiros — shabhah — de guerra. Esse patriarca e seus descendentes seriam
os responsáveis diretos pela fundação da capital do reino de Sabá, bem como da
cidade de Mariaba que ficou famosa por sua imponente barragem.
Era comum as mulheres
ocuparem postos nos altos escalões do reino de Sabá, como podemos notar na
história da rainha de Sabá e Salomão — ver 1 Reis 10. De acordo com registros
históricos da Antiguidade. naquele reino as mulheres podiam ocupar, inclusive,
elevadas posições dentro dos exércitos.
11. אוֹפִר — `Ophir — Ofir
que significa “reduzido a cinzas”. No hebraico essa palavra significava “rico”
ou “gordo”. Ofir é mencionado na Bíblia como uma terra famosa como produtora de
fino ouro — ver 1 Crônicas 29:4; 2 Crônicas 8:18; Jó 22:24 e 28:16; Salmos 45:9. A terra de Ofir era
famosa, mas sua localização precisa tem iludido os estudiosos por muito tempo.
Locais variam grandemente indo da África, passando pela Arábia e terminando na
Índia. Não existem argumentos persuasivos para determinar nenhuma destas
possibilidades como definitiva.
12. חֲוִילָה — Haviylah — Havilá,
que significa “círculo”. Os descendentes desse de patriarca se estabeleceram no
oeste da península arábica, margeando o Mar Vermelho, ao norte do Iêmen
moderno. Esse Havilá não deve ser confundido com o que é mencionado em Gênesis
2 e que descreve a localização do Jardim do Éden. De acordo com aquele texto um
rio chamado Pisom — talvez seja o rio Araxes moderno, circundava a terra de
Havilá. Aquela região tratava-se, provavelmente, da Cólquida Grega, no extremo
nordeste da Ásia Menor, próximo ao Mar Cáspio — ver Gênesis 2:10—14.
13. יוֹבָב — Yobab — Jobabe, cujo significado é “um deserto”. Em
hebraico esse nome significava: 1) uivar; 2) clamar; 3) tocar a trombeta. Esse
patriarca se estabeleceu, de maneira mais provável, na cidade chamada Juhaibab
que fica nas proximidades de Meca, no oeste da península arábica.
Todos estes foram os
filhos de Joctã, que fez uma contribuição significativa para a formação dos
povos árabes. Joctã por sua vez era tataraneto de Sem, o qual era filho de Noé.
No final da Tábua das Nações o autor do texto bíblico faz questão de nos
lembrar que todos os seres humanos que viveram, que estão vivos e que ainda
irão viver são todos descendentes de um dos três filhos de Noé: Sem, Jafé e
Cam. É uma lembrança de que a raça humana é uma só!
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http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/11/genesis-estudo-054-genealogia-dos.html
Que
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Alexandros
Meimaridis
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Desde já agradecemos a todos.
Os comentários não
representam a opinião do Blog O Grande Diálogo; a responsabilidade é do autor
da mensagem, sujeito à legislação brasileira.
[1] Sabeus, povo da Antigüidade
mencionado na Bíblia. Eram astrólatras e habitavam o país de Sabá no sul da
Arábia.
[2] O Iêmen moderno e atual
representa a fusão, em 1990, do Iêmen do Norte — nação de forte tradição
islâmica — com o Iêmen do Sul — mais ocidentalizado e pró socialista.
Localizado na entrada do Mar Vermelho o país possui as terras mais férteis de
toda a península arábica. Possui também inúmeras fontes de água o que permite o
cultivo de cereais, algodão, café e frutas.
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