Essa é
uma série cujo propósito é estudar, com profundidade, a vida de José como um
Tipo do Senhor Jesus Cristo. No final de cada estudo você irá encontrar links
para outros estudos. A Série tem o título Geral de: José como Tipo de Cristo.
45. José Se Manifesta Como um
Maravilhoso Conselheiro.
Depois
de ter revelado o significado dos sonhos do Faraó do Egito, José assumiu a
responsabilidade de orientar o monarca acerca do melhor curso a ser seguido,
com o objetivo de enfrentar a calamidade que estava se aproximando e fazer
provisões adequadas para o futuro.
De
acordo com os sonhos, primeiro viriam sete anos de abundância os quais seriam,
imediatamente, seguidos por sete anos de fome. Por esse motivo, José orientou o
faraó a estocar a abundante produção dos próximos sete anos, como a única forma
deles conseguirem sobreviver durante a terrível fome que se estenderia por
outros sete anos. Por meio da graça de Deus em sua vida, José foi capaz de
demonstrar uma sabedoria incomum e manifestar uma superioridade imensurável
sobre os sábios do Egito.
Novamente,
temos uma analogia perfeita entre José e Jesus. Quando Jesus teve sua vinda
profetizada pelo profeta Isaías, o mesmo disse que o Messias seria chamado de:
Isaías 9:6
Porque um menino nos nasceu, um filho
se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.
Jesus
foi o Maravilhoso Conselheiro enviado pelo próprio Deus para a humanidade com a
mensagem de como a mesma deveria se preparar para o futuro, e garantir o melhor
de seus interesses futuros. Conforme podemos ler em colossenses 2:3 é em Jesus
Cristo que nós podemos encontrar todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento:
Colossenses 2:3
Cristo, em quem todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento estão ocultos.
Jesus
é aquela pessoa única, exclusiva, que todos precisamos conhecer, porque é nele,
na sua pessoa, que todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão
“estocados”. A expressão sabedoria é σοφία — sofía — e
conhecimento é γνω̂σις
— gnôsis. Unidas como
se encontram em Colossenses 2:3 pelo artigo τη̂ς — tês —, são
consideradas, virtualmente como uma entidade única, como era comumente
entendida na literatura judaica não bíblica.
É
muito importante notarmos, todavia, que esses dois termos estão vinculados
também em
Romanos 11:33
Ó profundidade da riqueza, tanto da
sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e
quão inescrutáveis, os seus caminhos!
Note
que nesse verso os dois termos estão, diretamente, associados com a noção da
verdadeira riqueza πλου̂τος — ploûtos — conforme
também podemos ler em Colossenses 1:27 e 2:2; onde Paulo louva a Deus pela
maneira como seu magnificente propósito para a raça humana tem sido colocado em
prática, mediante o derramamento de sua graça — favor imerecido — sobre judeus
e gentios. Assim, podemos repetir as palavras de Paulo e dizer: Como são grandes as riquezas de Deus! Como
são profundos o seu conhecimento e a sua sabedoria!
A
expressão υησαυρός
— uesaurós — tesouro foi
usada no Antigo Testamento para se referir não apenas a riquezas materiais —
ver Josué 6:19, 24; Provérbios 10:2 — mas também para bens espirituais como
podemos ler em:
Isaías 33:6
Haverá, ó Sião, estabilidade nos teus
tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; o temor do SENHOR
será o teu tesouro.
Note
como sabedoria, conhecimento e temor do SENHOR são chamados de tesouro!
Paulo
afirma em Colossenses 2:3, de forma relativamente pouco comum, que todos esses
tesouros da sabedoria e do conhecimento — a expressão grega πάντες — pántes — todos,
exclui qualquer exceção: são todos mesmo! — que existem estão ὰπόκρυφοι — apócrifoi — ocultos em
Cristo. Isso indica a maneira como essas coisas existem. Aqui devemos deixar
claro que não existe nenhuma contradição entre Colossenses 2:3 e 1:26 onde
Paulo afirma que o mistério, previamente, άποκεκρυμμένον — apokekrimménon — escondido, νυ̂ν σέ — nûn sé — foi agora, numa dramática mudança de
eventos, revelado por Deus aos seus santos. Entretanto, os tesouros estão ὰπόκρυφοι — apócrifoi — ocultos,
não no sentido de que os mesmos estão “escondidos”, que é o sentido do
particípio perfeito passivo de άποκεκρυμμένον — apokekrimménon — e sim, que
os mesmos εὶσιν — eìsin — estão, como
acontecia com os mantimentos no Egito, “depositados” ou “armazenados” em Cristo
— ver Tiago 1:5; 3:13—18. Buscar sabedoria e conhecimento verdadeiro fora da
pessoa de Cristo é pura perda de tempo. É o mesmo que procurar alimento em
qualquer outro lugar que não fosse o Egito administrado por José.
Vários
autores cristãos têm indicado que nos escritos da literatura apocalíptica
judaica encontramos, ocasionalmente, a imagem de “tesouros escondidos” como uma
forma de desafio para homens e mulheres se empenharem mais na busca do
verdadeiro conhecimento — Livro dos Segredos
de Enoque 46:3: Ou se um homem se faz de bom a outro pelo ardil de sua língua,
porém, com a maldade no coração, será que o outro não perceberá a maldade que
vem do coração, desde que sua mentira ficou visível? Mas no nosso caso,
Paulo está encorajando seus leitores a olharem para Cristo como o único “lugar”
onde os tesouros da sabedoria e do conhecimento podem ser encontrados.
Em
Colossenses 1:15—20 nós estamos diante de um hino onde Cristo é identificado
com a Sabedoria de Deus, e onde lhe são atribuídas atividades que são
predicados da Sabedoria personificada do Antigo Testamento e do Judaísmo — ver
Provérbios 8:1—9. Em Colossenses, Paulo ao afirmar que todo o “estoque” do
conhecimento e da sabedoria de Deus estão “depositados” na pessoa de Cristo, está
indicando, mais uma vez, de uma forma realmente avassaladora, que “Cristo Jesus, se nos tornou, da parte de Deus,
sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito:
Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor — 1 Coríntios 1:30—31”. Porque
Cristo ocupa essa posição exaltada, existem boas razões para incentivar esses
crentes que habitavam o vale do Rio Lico a se voltarem para o Senhor Jesus, em
quem podem encontrar toda a percepção, entendimento, sabedoria e conhecimento.
A
questão importante para nós é determinarmos se o uso que Paulo faz dessa
expressão do verso 3 — todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento
—
tem origem nos inimigos gnósticos que estavam perturbando a igreja ou se a
mesma se origina do Antigo Testamento.
Muitos
têm argumentado que o vocabulário é dos opositores gnósticos que existiam em
Colossos. Dessa forma, o verso 3 é, algumas vezes, entendido como algo que dá
apoio ao caráter gnóstico dos opositores. De acordo com o professor Lightfoot o
termo ἀπόκρυφοι
— apócrifoi — era um termo
favorito dos mestres gnósticos e Paulo teria usado o mesmo como uma forma de
refutar uma doutrina favorita desses falsos mestres. Outros acreditam que Paulo
emprestou esse termo dos ensinamentos do judaísmo tardio.[1]
Todavia,
em tempos mais recentes, Friedrick Hauck, analisando a literatura gnóstica
disponível, notou que a mesma se refere a “tesouros de luz” em vez de falar de
tesouros da sabedoria e do conhecimento. Com isso sobrou pouca evidência direta
para apoiar a ideia do caráter gnóstico da expressão como usada por Paulo.
Como
mencionamos acima, existem outros estudiosos ainda que se voltaram tanto para o
Antigo Testamento como para o meio social judaico, como a fonte mais provável
das ideias de Paulo. Desse modo, Ralph Martin, considera que todo grupo de
termos e motivos “sugerem uma dívida consciente à figura da sabedoria como
encontrada em Provérbios 2:1—6. Paulo está fazendo um apelo as fonte judaicas,
parcialmente, por causa dos falsos ensinamentos que existiam em Colossos,
especialmente entre os judeus — era uma mistura de elementos judaicos com
outros vindos do paganismo —, que insistia que Jesus Cristo era apenas um
mediador e apenas uma das fontes da revelação entre muitas outras existentes” —
ver 1 Timóteo 2:5.
O
teólogo francês J. Dupont em sua obra “La
connaissance religieuse dans les épîtres de saint Paul“[2] já tinha
chamado a atenção de todos quanto ao aparecimento do uso, aqui em Colossenses,
de termos usados pelo judaísmo com relação à Lei de Moisés — ver Isaías 33:5—6.
Os judeus tinham plena confiança que, na Lei que possuíam, todos os tesouros da
σοφία — sofía — sabedoria, e associado com ela,
também estava a ideia de γνω̂σις — gnôsis — que teria
sido adicionada à Lei por elementos judaizantes. De acordo com Dupont, Paulo
une as duas expressões, substitui a Lei de Moisés por Cristo e, com isso, ele
tem a intenção de mostrar que o único ἐπίγνωσις — epígnosis — conhecimento
que um crente deve buscar é aquele que só pode ser encontrado no mistério de
Cristo. É óbvio que para essa reconstrução feita por J. Dupont, o elemento
judaico dos falsos ensinamentos existentes em Colossos são os responsáveis pela
ação tão combativa de Paulo nesse contexto.
O
professor Andrew Bandstra do Calvin Seminary em Grand Rapids ampliou as ideias
de Dupont, à medida que novas porções de literatura pseudoepigráfica foram sendo
descobertas e tornaram-se disponíveis para análise. Para ele também, as
palavras de Paulo em Colossenses demonstram o caráter da oposição aos
ensinamentos gnósticos desposados pelos judeus em Colossos. O professor
Bandstra se baseou, principalmente, nos escritos pseudoepigráficos conhecidos
como 2 Apocalipse de Baruque. Nesse livro, em uma passagem definitivamente
escatológica, que faz referência ao “novo mundo”, “o mundo porvir”, e “ao tempo
prometido”, o falso Baruque sugere que a
posse de tesouros de sabedoria e do conhecimento, destinados para aqueles que
haverão de herdar o “tempo prometido”, poderão ser garantidos se os anciãos de
Israel seguirem as recomendações do falso Baruque e instruírem os israelitas a
permanecerem fiéis à Lei de Deus. Mas Paulo, não deixa nenhuma dúvida, que o
lugar onde os tesouros da sabedoria e do conhecimento podem ser encontrados é
apenas em Cristo e em nenhum outro. Isso é afirmado, previamente, por Paulo em
Colossenses 2:18—19.
A
oposição em Colossos, basicamente um perigo vindo de fora, podia ter sua origem
numa associação de místicos ascetas judeus que afirmavam que o conhecimento dos
mistérios de Deus podia ser alcançado pelas pessoas, sem a necessidade de um
mediador divino. Para eles, Cristo não era realmente necessário, para podermos
conhecer os mistérios escatológicos e cósmicos de Deus.
OUTROS ESTUDOS ACERCA DE JOSÉ COMO TIPO DE CRISTO
Estudo 001 — José como Tipo De Cristo — Introdução
Estudo 002 — José como Tipo De Cristo — A Infância de José
Estudo 003 — José como Tipo De Cristo — Os Irmãos e Os Nomes de José
Estudo 004 — José como Tipo De Cristo — José Como Pastor dos Seus Irmãos
Estudo 005 — José com Tipo De Cristo — José Como o Filho Amado de Seu
Pai
Estudo 006 — José com Tipo De Cristo — Jesus, o Filho e Deus Pai
Estudo 007 — José com Tipo De Cristo — José e a Túnica Talar de
Distinção
Estudo 008 — José com Tipo De Cristo — O Ódio que os Irmãos de José
Tinham Dele
Estudo 009 — José com Tipo De Cristo — José era Odiado por Causa de Suas
Palavras
Estudo 010 — José com Tipo De Cristo — José Estava Destinado a Um Futuro
Extraordinário
Estudo 011 — José com Tipo De Cristo — José Antecipa Sua Glória Futura
Estudos 012 e 013 — José como Tipo de Cristo — José
Sofre nas Mãos de Seus Irmãos e Vai a Busca Deles a Pedido de Jacó
Estudos 014 e 015 — José como Tipo de Cristo — José Busca Fazer o Bem a Seus Irmãos,
e É Enviado De Hebrom Para a Região de Siquém
Estudo 016 — José como Tipo de Cristo — José Vai Até a Região de Siquém
Estudos 017 e 018 — José como Tipo de Cristo — José
se Torna um Viajante Errante Nos Campos e Campinas da Palestina
Estudos 019 — José como Tipo de Cristo — A
Conspiração contra José
Estudos 020 — José como Tipo de Cristo — As
palavras de José são Desacreditadas
Estudos 021 e 022 — José como Tipo de Cristo — José
é Insultado e Humilhado e José é Lançado num Poço
Estudos 023 e 024 — José como Tipo de Cristo — José
é Retirado Vivo do Poço e Os Irmãos de José Misturam Ódio com Hipocrisia
Estudos 025 e 026A — José como Tipo de Cristo — José
é Vendido por Seus Irmãos e o Sangue de José é Derramado
Estudos 026B — José como Tipo de Cristo — O Futuro
de Israel Profetizado em Gênesis 38
Estudos 027 e 028 — José se Torna um Servo — Jose
se Torna Próspero
Estudos 029 — O Senhor de José Estava Muito Feliz
com Ele
Estudos 030 — José Como Servo Foi Uma Bênção Para
os Outros
Estudos 031 — José Era Uma Pessoa Consagrada aos Outros
Estudos 032 — José Foi Duramente Tentado, Mas
Resistiu à Tentação
Estudos 033 — José Foi Acusado Falsamente
Estudos 034 — José Não Tentou Se Defender das
Falsas Acusações
Estudos 035 — José Sofreu nas Mãos dos Gentios
Estudo 036 e 37 — José Ganha o Reconhecimento do
Carcereiro e José Foi Numerado com outros Transgressores.
Estudo 038 — José Como Instrumento de Bênção e de
Condenação.
Estudo 039 — José Dá Evidências De Seu Conhecimento
Quanto Ao Futuro.
Estudo 040 — As Predições de Jose se Tornam
Realidades.
Estudo 041A — José Gostaria de Ser Lembrado
Estudo 041B — José Gostaria de Ser Lembrado
Estudo 042 — José Foi Libertado na Hora Certa
Estudo 043 — José Como Revelador dos Mistérios de
Deus
Estudo 044 — José Faz Advertências Contra o Perigo
Futuro
Estudo 045 — José Se Revela
como Maravilhoso Conselheiro
Estudo 046 — O Conselho de José para o Faraó
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem
que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
[1] Kittel, Gerhard, Editor. Theological
Dictionary of the New Testament, traduzido por Geoffrey W. Bromiley. WM.
B.Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Reimpressão de 1995.
[2] Dupont, J. Gnosis. O
Conhecimento Religioso nas Epístolas do Apóstolo Paulo. Gabalda, Paris, 1949.
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