sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Gênesis — Estudo 049 — A TORRE DE BABEL — PARTE 001


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Este estudo é parte de uma Análise do Livro do Gênesis. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da História Primeva da Humanidade. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo. 

O Livro do Gênesis

O Princípio de Todas as Coisas

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ        
            Eretz   ha  ve-et  Hashamaim  et      Elohim        Bará     Bereshit
            Terra  a      e        céus       os        Deus         criou   princípio No
                                                                                     Gênesis 1:1

XII — Gênesis 11 — “Deram com uma Planície na Terra de Sinear”.

A. Introdução Geral à Narrativa Acerca da Torre de Babel — Gênesis 11:1.

Do ponto de vista da cronologia bíblica e do tempo passado entre o desembarque da arca e o nascimento de Pelegue — nos dias de quem a Terra foi “repartida” — ver Gênesis 10:25 — se passaram somente 101 anos! Senão vejamos:

1. Sem, filho de Noé e que desembarcou da arca, gerou a Arfaxade dois anos depois do dilúvio — ver Gênesis 11:10. Adiciona 2 anos.

2. Arfaxade gerou Salá quando tinha 35 anos — ver Gênesis 11:12. Adiciona 35 anos. Temos 35 + 2 = 37 anos após o dilúvio.

3. Salá gerou a Héber quando tinha 30 anos — ver Gênesis 11:14. Adiciona 30 anos. Agora temos 37 + 30 = 67 anos depois do dilúvio.

4. Héber, por sua vez, gerou a Pelegue quando tinha 34 anos — ver Gênesis 11:16. Adiciona 34 anos. Temos então 67 + 34 = 101 anos após o dilúvio. 

Quando Pelegue nasceu, a “torre” já estava em construção na planície de Sinar — ver Gênesis 11:2.

O capítulo 11 de Gênesis deixa bem claro que havia somente uma raça humana. Esta unidade ou universalidade é reconhecida pelo fato de que os seres humanos tinham somente “uma linguagem e uma só maneira de falar” – ver Gênesis 11:1. E “eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem” – ver Gênesis 11:6. Esses versos indicam que os seres humanos tinham uma mesma origem comum e que:

1. Usavam os mesmos sons vocálicos e consonantais. Todas as palavras eram articuladas de uma mesma maneira. Não havia sons distintos como encontramos, por exemplo, entre o português falado por brasileiros e o português falado por portugueses.

2. Usavam o mesmo grupo de vocábulos para se comunicar.

Que idioma os seres humanos falavam naqueles dias? Não existe a menor possibilidade de sabermos. É melhor esperarmos chegar à eternidade para obtermos essa resposta. Muitos têm especulado que, devido o fato de os nomes contidos em Gênesis 10 serem, em sua maioria, de origem hebraica e aramaica, então um destes dois seria o idioma dos descendentes dos filhos de Noé. É óbvio que a preferência acaba por recair sobre o idioma hebraico. Isto se deve a três motivos principais:

1. Muitos acreditam que Deus falava em hebraico com Adão e que este seria o idioma de todos os seres humanos até a confrontação em Babel.

2. Outros acham que o fato de Deus ter escolhido o hebraico para revelar sua vontade e grafar o Antigo Testamento é prova mais que suficiente de que este era, uma vez, o idioma que todos os seres humanos falavam.

3. Um terceiro grupo, talvez o mais extremado de todos, acredita que o hebraico teria sido a própria língua usada por Deus quando ele proferiu as palavras que trouxeram à existência as coisas que aí estão — ver Hebreus 11:3. Ou seja, Deus verbalizou Sua vontade em Hebraico!

Mas esses argumentos nos parecem um tanto quanto fantasiosos demais para serem aceitos. As pessoas que acreditam nesses tipos de tolices se parecem com os mulçumanos quando insistem em dizer que o alcorão, como visto por Maomé nos céus, estava escrito em arábico!

B. Como Surgiram as Línguas Faladas pelos Humanos?

Como surgiram os mais diversos idiomas que falamos atualmente? Este é ainda um enorme mistério para a chamada ciência. Como a maioria dos cientistas não aceita que os seres humanos foram criados por Deus, eles precisam então começar explicando como foi que os seres humanos desenvolveram a capacidade de falar de forma articulada, antes de tentar explicar como chegamos a desenvolver os inúmeros idiomas existentes. A situação se complica todas as vezes que os cientistas nos dizem, visando evitar qualquer possibilidade de termos sido criados por Deus, que os órgãos que compõe o aparelho fonador dos seres humanos se parecem por demais com os de alguns animais. Então, porque nós sabemos falar e os animais não sabem? Outro fator complicador é que hoje sabemos que muitas das línguas da Antiguidade eram muito mais complexas do que as línguas modernas, o que caracteriza um bem documentado processo de involução. Se os seres humanos, conforme pretende a “Teoria da Evolução”, começaram a falar quando os “homens das cavernas” passaram a dar “nomes” aos objetos, então a lógica nos diz que os primeiros idiomas deveriam ser bastante simples. Mas a filologia[1], enquanto ciência, nos diz que quanto mais antiga uma língua mais complexa ela é. A ciência tem muito a explicar e enquanto isto nós estamos aqui aguardado.

Outras teorias, diversas da Teoria da Evolução, têm tentado explicar a origem da linguagem entre os seres humanos dizendo que devemos nossa capacidade de falar a seres extraterrestres que habitaram nosso planeta Terra em eras imemoriais. Outros ainda a atribuem a seres angelicais que, visitando nosso planeta, aproveitaram para ensinar os seres humanos a falar. 

Para muitos que creem, a capacidade humana de articular fonemas é uma prova indireta de que Deus existe e é o criador dos seres humanos. O aparelho fonador humano[2] é capaz de reproduzir não apenas alguns tipos de sons, como podemos observar entre os animais, mas milhões de sons. A Bíblia assume, desde o princípio, o fato de que Deus falou com Adão — ver Gênesis 2:16 — e com Adão e Eva — Gênesis 1:28. Que nossos primeiros pais sabiam falar é evidente pelo fato de Adão ter dado nomes aos animais — ver Gênesis 2:19—20. Quanto à capacidade de falar de Eva é suficiente lembrarmos seu diálogo com a serpente como registrado em Gênesis 3:1—3. Por esses motivos, não aceitamos a teoria que circula entre certos grupos cristãos, que visa acomodar a revelação bíblica ao atual estágio do conhecimento científico, dizendo que a origem da linguagem é um grande mistério e que simplesmente não podemos saber como a mesma começou. Como alguém que diz acreditar na revelação bíblica pode aceitar esta última possibilidade é que se constitui, para este autor, em um verdadeiro mistério!

 Mas naqueles dias após o dilúvio, todo o potencial do aparelho fonador humano não estava sendo utilizado, pois os homens possuíam somente uma maneira de falar. Somente quando o “Senhor confundiu a linguagem de toda a terra” — ver Gênesis 11:9 – é que este sofisticado aparelho pode demonstrar toda a sua capacidade. 

Em seu próprio tempo, nós temos o registro de que na Antiguidade idiomas tais como o sumério, o babilônico, o aramaico e o grego serviram como línguas francas. O mesmo ocorre nos dias de hoje com o inglês que funciona como uma verdadeira língua auxiliar para todos os povos. Como iremos ver em seguida, a existência de uma “língua franca” permitiu aos seres humanos se aventurarem em atividades que iam contra a vontade revelada de Deus. Um exemplo disso é a desobediência implícita ao mandamento dado a Adão e Eva e que dizia: “multiplicai-vos, enchei a terra” — ver Gênesis 1:28. Aqueles homens decidiram, naquele momento, ignorar a ordem de Deus para que se “espalhassem” e enchessem a terra e optaram por ficar “concentrados” em uma área. Anos depois o autor do livro de Eclesiastes deixou registradas estas palavras que descrevem, da melhor maneira possível a condição humana, e que dizem: “Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas חִשְּׁבֹנוֹת hishebonotastúcias ou invencionices — Eclesiastes 7:29

A narrativa acerca da torre de Babel usa uma simetria muito evidente: ela começa e termina com uma referência ao florescimento de uma linguagem universal que foi destruída por intervenção direta de Deus — ver Gênesis 11:1 e 9.

A mesma simetria pode ser vista também entre os versos 2, onde a ênfase recai sobre a ideia de uma habitação permanente — habitaram ali — e o verso 8, onde podemos ler: “o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra”.

C. O Oriente e a Terra de Sinear – Gênesis 11:2.

Os onze primeiros capítulos do Gênesis colocam muita ênfase na localização geográfica que chamamos de Leste ou de Oriente. Esse é o lado em que o sol nasce. Note as seguintes passagens que indicam um movimento consistente em direção leste à medida que o tempo foi passando:

Gênesis 2:8

E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado.

Gênesis 3:24

E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida.

Gênesis 4:16

Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden.

Gênesis 10:30
E habitaram desde Messa, indo para Sefar, montanha do Oriente.

De acordo com o professor Jaques Ellul, a expressão קִדְמַה quidmah — leste ou Oriente, possui um significado muito preciso nas páginas das Escrituras. Ela é utilizada para representar tanto o caminho fútil traçado pelo homem em sua tentativa inútil de alcançar a eternidade por si mesmo, bem como o caminho que os seres humanos tomam quando decidem obedecer ao chamado do próprio Deus. O Oriente representa sempre um início. Pode ser o inicio de uma viagem frustrada para aqueles que não querem reconhecer a Deus ou pode ser o início de uma viagem muito bem sucedida para aqueles que desejam obedecer ao Senhor. Esses dois caminhos são paralelos e expressam de modo perfeito as diferentes atitudes da raça humana para com o Deus Criador. Note que tanto os construtores da cidade e da Torre de Babel, quanto Abrão iniciaram suas viagens vindos do leste.[3]

Agora, em Gênesis 11:2, nós somos informados que um grupo, não muito bem identificado, partiu do Oriente — provavelmente uma referência ao local onde a arca pousou após o dilúvio — e alcançou uma planície na terra de שִׁנְעָר Shine`ar — que literalmente significa “país de dois rios”. Este nome em hebraico é supostamente derivado da expressão utilizada pelos sumérios para designar o todo daquilo que viemos, mais tarde, chamar de Babilônia. Não existe consenso entre os estudiosos acerca do significado da expressão “Sinear” como encontrada neste versículo. Se a planície mencionada neste versículo é mesmo a vasta e fértil planície que existe no vale do rio Eufrates, então não é difícil perceber os motivos da decisão que estes homens tomaram de se fixarem, de modo permanente, naquele local.  

D. A Decisão de Construir a Torre — Os Aspectos Físicos — Gênesis 11:3.

Os versos de Gênesis 11:3—4 descrevem os atos praticados pelos homens ao passo que os versos de 6—9 descrevem os atos de Deus. Em ambos os casos as intenções de cada um desses protagonistas são declaradas antes de serem colocadas efetivamente em prática.

Ao decidir habitar na terra de Sinear aquele grupo experimentou uma dificuldade concreta — sem intenção de fazer nenhum tipo de trocadilho. A planície da Babilônia não possui pedreiras próximas e não existem espalhadas pedras em abundância que possam ser utilizadas em construções. Este é o primeiro e maior motivo porque o grupo que se estabeleceu naquela planície tomou uma decisão prática, visando resolver o problema causado pela escassez de pedras, de fazer tijolos. A fabricação de tijolos é uma invenção antiquíssima da raça humana e uma das poucas que não sofreu muita variação com a passagem dos milênios. No princípio os tijolos eram postos para secar ou endurecer ao sol, mas logo percebeu-se que o calor provocado pelo fogo agia de maneira mais poderosa no “endurecimento” do tijolos e fornos foram adaptados para esse propósito. Mais tarde, por volta do século XV antes de Cristo, os egípcios levaram esta tecnologia um passo mais adiante inventando a vitrificação dos tijolos pela fusão da argila. Mesmo nos dias de hoje as chamadas olarias ainda usam a mesma e velha fórmula de “assar” os tijolos visando aumentar a durabilidade dos mesmos. 
  
Resolvido o primeiro problema causado pela ausência de pedras, ainda assim restava um segundo que tinha a ver com o material que poderia ser usado para fazer os tijolos “grudarem” uns nos outros. A engenhosa solução brotou literalmente do chão na forma borbulhante do betume[4].

Escavações realizadas na região que outrora foi conhecida como Babilônia têm revelado a existência e a utilização de tijolos de argila de altíssima qualidade e dureza bem como o uso do betume ali existente e ainda muito abundante, como elemento utilizado para a confecção da massa usada como cimento. Um destes poços produz um betume sulfurado cujo odor fez com que invasores posteriores — árabes – viessem a chamá-lo de “boca do inferno”. O autor teve a oportunidade de permanecer por alguns minutos sobre um dos muitos dutos de respiração do vulcão Kilauea — o vulcão mais ativo no mundo — na grande ilha do Havaí. Ali ele pode experimentar ouvir os mecanismos de “respiração” do vulcão abrindo e fechando; pode sentir o intenso ar quente, originado das profundezas vulcânicas, sendo soprado para cima e atestar o nojento cheiro de enxofre que impregnava o ar. Foi uma experiência marcante e todos falavam que o vulcão exalava o cheiro do próprio inferno!

CONTINUA...

Outros artigos acerca dO LIVRO DE GÊNESIS
001 — Introdução e Esboço
002 — Introdução ao Gênesis — Parte 2 — Teorias Acerca da Criação
003 — Introdução ao Gênesis — Parte 3 — A História Primeva e Sua Natureza
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005 — Introdução ao Gênesis — Parte 5 — A Criação da Vida
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007 — Introdução ao Gênesis — Parte 7 — OS NOMES DO DEUS CRIADOR, OS CÉUS E A TERRA
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018 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 17 — GÊNESIS 3B
019 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 18 — GÊNESIS 3C
020 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Livre Arbítrio — Parte 19
021 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Dois Adãos — Parte 20
022 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Era Pré-Patriarcal e a Mulher de Caim — Parte 21
023 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, O Primeiro Construtor de Uma Cidade — Parte 22
024 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Assassino e Fugitivo da Presença de Deus — Parte 23
025 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Primeiro Construtor de uma Cidade e Pseudo-Salvador da Humanidade — Parte 24
026 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Conclusão Acerca de Caim — Parte 25
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050 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 002
051 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 003
052 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 004
053 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 005
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/08/genesis-estudo-053-torre-de-babel-parte.html
054 — Estudo de Gênesis — A GENEALOGIA DOS SEMITAS
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/11/genesis-estudo-054-genealogia-dos.html

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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[1]  Filologia = Estudo da língua em toda a sua amplitude, e dos documentos escritos que servem para documentá-la.

[2] Aparelho fonador: O conjunto dos órgãos da fala, constituído das seguintes partes: a) pulmões, brônquios e traqueia, órgãos respiratórios que fornecem a corrente de ar para a fonação; b) laringe, onde se localizam as cordas vocais, que produzem a energia sonora utilizada na fonação; c) cavidades supralaríngeas — faringe, boca e fossas nasais — que funcionam como caixas de ressonância. A cavidade bucal varia de forma e volume, em função dos movimentos de órgãos ativos, sobretudo a língua.

[3] Ellul, Jacques. The Meaning of the City. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, 1977.

[4] Betume asfáltico. Química. Betume, natural ou artificial, que contém hidrocarbonetos pouco voláteis e grande proporção de seus derivados oxigenados e/ou sulfurados, em geral viscoso e sempre solúvel em sulfeto de carbono. Os betumes oxigenados possuem, normalmente odor agradável, ao passo que os sulfurados possuem o que as pessoas costumam chamar de “cheiro do inferno”, deste os tempos mais antigos. 

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