terça-feira, 29 de julho de 2014

ISRAEL ESTÁ COLHENDO O QUE PLANTOU EM GAZA


Palestinos em fuga por suas vidas.

O artigo abaixo foi escrito pela jornalista israelense Amira Haas e publicado no jornal israelense Haaretz. Hoje os mortos na faixa de Gaza passam de MIL e os feridos de 6000! Mas Israel insiste em dizer que é a vítima e que tem o direito de se defender.

COLHENDO O QUE NÓS PLANTAMOS EM GAZA

Aqueles que transformaram Gaza num campo de concentração para 1.8 milhão de pessoas, não deveriam se surpreender que seus habitantes estejam cavando túneis por baixo da terra.

Por Amira Hass

July 22, 2014 - "Haaretz"

Eu já levantei a bandeira branca. Já me cansei de procurar no dicionário pela palavra que descreve um menino ao qual falta metade da cabeça, enquanto seu pai grita: “Acorda, acorda, eu comprei um brinquedo novo para você” Como foi mesmo que Angela Merkel, a primeira ministra da grande Alemanha, disse? “Israel tem o direito de se defender”.

Eu continuo lutando com a necessidade de compartilhar detalhes do sem número de conversas que tive com amigos em Gaza, com o objetivo de documentar como é aguardar sua vez de ir para o matadouro. Por exemplo, a conversa que tive sábado pela manhã com J., do campo de refugiados de al-Bureij, enquanto seguia para Dir-alBalah, com sua esposa. Os dois têm cerca de 60 anos. Naquela manhã, sua velha mãe recebeu uma chamada telefônica e ouviu a gravação instruindo os residentes do campo de refugiados a irem para Dir-al-Balah.

Um livro escrito acerca da psicologia do exército israelense deveria ter um capítulo inteiro dedicado a esse sadismo, que está disfarçado sob a ideia de misericórdia: uma mensagem gravada exigindo que centenas de milhares de pessoas deixem seus lares que já são alvos, para outro local, igualmente perigoso cerca de 10 quilômetros de distância. Por que, eu perguntei a J., vocês estão indo embora. “O quê, por que”? Ele disse: “Nós temos uma pequena casa próxima da praia, com um pedaço de terra e alguns gatos. Nós vamos lá para alimentar os gatos. Depois que dermos comida para os gatos retornaremos. Nós vamos juntos. Se nosso carro for explodido, morreremos juntos”.

Se eu estivesse usando o chapéu de um analista, eu escreveria: Em contraste com o israelense “diplomático”, o Hamas não está forçando nenhum habitante de Gaza a permanecer em suas casas, nem a deixá-las. A decisão é deixada nas mãos dos próprios cidadãos. Para onde eles podem ir? “Já que temos mesmo que morrer, é algo mais digno morrer dentro de nossas próprias casas, em vez de morrermos enquanto estamos tentando fugir” me diz de modo direto o secular J.

Eu continuo convencida que uma frase como essa vale mais do que mil análises. Mas quando se trata de palestinos a maioria das pessoas prefere os resumos.

Eu estou farta de mentir para mim mesma — como se eu fosse capaz de, remotamente, reunir as informações necessárias para narrar aquilo que os jornalistas que estão lá dentro da Faixa de Gaza estão narrando. De qualquer forma, essas informações são importantes para um pequeno grupo da população que fala hebraico em Israel. Na maioria dos casos essas pessoas estão buscando notícias nos canais estrangeiros ou na internet. Eles não dependem, daquilo que é escrito em Israel para serem informados, por exemplo, acerca das curtas vidas de Jihad (11 anos), Wassim (8 anos) Shuhaibar ou seu primo Afnan (de 8 anos) que habitavam em Sabra, na Faixa de Gaza. Como eu eles também podem ler as notícias escritas pelo jornalista Jesse Rosenfeld no The Daily Beast.   

“Issam Shuhaibar, o pai de Jihad e Wassim, curvou-se próximo ao túmulo onde seus filhos foram sepultados, com seus olhos marejados, olhando perdidos para o nada. Seu braço tinha um curativo depois dele ter feito uma doação de sangue na tentativa de tentar salvar sua família. O sangue de seus filhos ainda manchava sua camisa”, escreve Rosenfeld. “Eles estavam alimentando galinhas quando o petardo os atingiu, ele disse. Eu ouvi um grande barulho no telhado e corri para encontrá-los. Eles eram apenas pedaços de carne, ele engasgou antes de desatar a chorar”, continua o artigo de Rosenfeld. Nós assassinamos essas crianças duas horas e meia depois que o cesar fogo terminou na última quinta feira. Dois outros irmãos, Oudeh (16 anos) e Bassel (8 anos) foram feridos. Bassel foi ferido gravemente.

O pai contou para Rosenfeld que houve um míssil de advertência. Antes do ataque eles ouviram o barulho do drone israelense marcando os locais a serem atingidos como se fosse uma “batida no telhado”. Então eu perguntei a Rosenfeld: “Se o míssil era uma míssil de misericórdia, como os que são enviados como tiros de advertência, porque a casa foi bombardeada logo em seguida”? Por pura sorte eu consegui encontrar a resposta para minha pergunta numa reportagem feita pela CNN. Uma câmera do canal estadunidense conseguiu capturar a imagem da explosão que veio logo depois do tiro de advertência: o mesmo derrubou parte da casa, causou um incêndio, muita fumaça e levantou muita poeira. Mas não foi a casa de Shuhaibar que foi atingida e sim outra casa. Isso deu ocasião para o exército israelense afirmar que a bomba que matou as crianças foi um foguete perdido do próprio Hamas. Mas eu chequei com Rosenfeld e outras pessoas e todas elas foram unânimes em afirmar que o míssil que matou as crianças foi o míssil de advertência do exército de Israel. Issam Shuhaibar é um policial palestino que recebe seu salário da Autoridade Palestina localizada em Ramalá.

Também desisti de tentar receber uma explicação das Forças de Ataque de Israel. Será que eles advertiram, por engano, a casa errada, e assim mataram aquelas crianças? (2 entre as 84 crianças mortas na manhã de domingo).

Eu estou cheia com os esforços fracassados de competir com a abundância de comentários orquestrados acerca dos objetivos e das ações do Hamas, vindos de pessoas que pretendem que estiveram sentadas com Mohammed Deif e Ismail Haniyeh, em vez de alguma fonte do Shin Bet — polícia israelense — ou das forças de ataque de Israel. Todos os que rejeitaram a proposta feita pelo Fatah de Yasser Arafat, para a criação de dois Estados, agora precisam lidar com Haniyeh, com o Hamas e com o BDS Movement — Freedom, Justice, Equality. Todos os que ajudaram a transformar Gaza em um campo de prisioneiros para 1.8 milhão de seres humanos não deveriam se surpreender com os túneis que estão sendo cavados. Todos aqueles que semearam o estrangulamento, o cerco e o isolamento, colhem agora os foguetes. Aqueles que têm, nos últimos 47 anos cruzado a linha verde, de forma sistemática, para expropriar as terras dos palestinos, ferindo e machucando a população civil palestina com ataques, tiroteios e o estabelecimento de colônias — possuem algum direito de virar os olhos e falar da prática de terror dos palestinos contra civis israelenses?

O Hamas tem, de forma cruel e assustadora, destruído o duplo padrão mental que Israel é “senhor”. Todas essas cabeças brilhantes da espionagem e do Shin Bet realmente não entendem que fomos nós mesmos – os israelenses – que criamos a receita perfeita para a nossa versão da Somália. Você querem evitar a escalada da violência? Agora é a hora: Libertem a Faixa de Gaza do cerco imposto, deixem as pessoas voltarem para o “mundo”, para a Cisjordânia, para suas famílias em Israel. Deixe-os respirar e eles descobrirão que viver é melhor do que morrer.

© 2014 Haaretz

O artigo original poderá ser visto por meio desse link aqui


Todos os comentários, especialmente os que são fruto de ódio, devem ser dirigidos diretamente para o site do jornal israelense Haaretz por meio do seguinte link:


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Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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