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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Gênesis — Estudo 053 — A TORRE DE BABEL — PARTE 005 — A INTERVENÇÃO DE DEUS


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Este estudo é parte de uma Análise do Livro do Gênesis. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da História Primeva da Humanidade. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo. 
O Livro do Gênesis
O Princípio de Todas as Coisas

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ        
             Eretz   ha   ve-et  Hashamaim  et      Elohim        Bará        Bereshit
            Terra  a      e        céus       os        Deus         criou   princípio No
                                                                                     Gênesis 1:1

CONTINUAÇÃO

XII — Gênesis 11 — “Deram com uma Planície na Terra de Sinear”.

G. A Intervenção de Deus - Gênesis 11:5 - 9.

Gênesis 11:5

Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam.

A linguagem de Gênesis 11:5 apresenta certa dificuldade que tem sido muito explorada pelos críticos da fé cristã. Ela tem a ver com a linguagem que diz que o “SENHOR desceu para ver a cidade e torre”. Os críticos nos dizem que esse tipo de expressão “prova” quão ridículas são as crenças religiosas de todos os tipos. Mas nós não precisamos nos alarmar. A intenção dos críticos, como bem sabemos, é a de se aproveitar de todas as oportunidades para minimizar e ridicularizar a revelação divina, de tal forma que possam seguir fazendo com suas vidas aquilo que melhor entenderem. Tais atitudes são esperadas porque já foram previstas pela revelação bíblica —

Romanos 1:18—23

18 A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça;

19 porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.

20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;

21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.

22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos

23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.

Agora para todos aqueles que estão abertos a uma explicação que seja racional e não fantasiosa, basta dizer que durante o desenvolvimento da revelação divina, por muitas vezes, os autores bíblicos usaram expressões chamadas de antropomórficas[1]. Isto é algo aceito de forma tão pacífica pela maioria dos comentaristas bíblicos que eles não se dão sequer ao trabalho de responder aos críticos. Nossos comentaristas bíblicos agem desta maneira porque entendem que tal atitude crítica não passa realmente de má vontade por parte dessas pessoas que querem usar essas passagens, como desculpas para evitar discussões mais pertinentes a seus estilos de vida.

O verso 5 serve de ponte natural entre os versos 1—4 e 6—9 de Gênesis 11. Ele representa o ponto de rotação, onde a ênfase da história muda de foco saindo de cima dos “filhos dos homens” para centrar-se no SENHOR Deus. Ao caracterizar os construtores como בְּנֵי הָאָדָם benei haAdam — filhos de Adão ou filhos dos homens o autor bíblico não deixa nenhuma dúvida que a cidade e a torre pretendidas não passavam de invenções humanas e estavam destinadas a passar, assim como seus próprios construtores iriam também passar.

Existem algumas lições espirituais nesses versículo acerca das quais é nosso desejo chamar a atenção do leitor.

1. O SENHOR Deus é descrito como aquele cujo trono está nas alturas, mas que ao mesmo tempo acompanha tudo que se passa no céu e sobre a Terra — ver Salmos 113:5—6.

2. Sendo assim, é intenção do autor do Gênesis nos esclarecer que Deus não é precipitado em Seus juízos porque ele é um Deus justo — ver Salmos 7:11 — e não executa juízo sem pesar todos os aspectos envolvidos nas ações dos pecadores.

3. Como Deus teve que “descer” para ver a cidade e a torre, nós temos nessa afirmação uma indicação clara de que todas as nossas obras humanas, por mais gigantescas que sejam, são sempre ridículas comparadas com a grandeza verdadeira de Deus. Será mesmo que os homens poder chegar a serem mais sábios e mais fortes do que Deus? Veja a resposta em 1 Coríntios 1:25.

4. Como “filhos de Adam” aqueles construtores eram caracterizados como “filhos rebeldes” e como “filhos da ira” — ver Isaías 30:1 e Efésios 2:3.

5. Quando a Bíblia nos diz que “Deus desceu para ver”, não está dizendo que Ele veio para ser um espectador como alguém que vai ao estádio assistir a um evento qualquer. Ele desceu como SENHOR e Juiz. Como alguém que é poderoso para infligir pesada e definitiva derrota e humilhação a Seus adversários — ver Jó 40: 11—13.

6. O tempo que Deus permitiu que eles investissem construindo a cidade e a torre serviu ao mesmo propósito que o tempo em que Noé estava construindo a arca. Era o tempo que Deus estava concedendo para que aquele bando se arrependesse.

Gênesis 11:6

E o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer.

Existem nesse versículo dois verbos בָּצֵר batzer — restringir e זְמוּ zemu — intentar. Estes dois verbos só aparecem juntos em apenas um único outro versículo em todo o Antigo Testamento. Mas os contextos são bem distintos. Nesse verso nós temos uma ponderação divina acerca das consequências da pecaminosidade humana e existe uma inferência de que Deus planeja “frustrar” o que o povo estava planejando. No outro, que está localizado em Jó 42:2, por sua vez, nós temos uma ponderação feita por Jó que reconhece que nada daquilo que Deus intenta pode ser restringido ou frustrado. Por esse motivo devemos nos lembrar sempre de

Isaías 8:13.

Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto.

Na compreensão de Deus, que conhece o fim de todas as coisas desde o início das mesmas, aquela circunstância envolvendo a construção da cidade e de uma torre era vista como sendo da maior gravidade. Para Deus algo precisava ser feito imediatamente por causa das consequências que viriam a seguir. A situação descrita em Gênesis 11 era tão grave que, caso aquele empreendimento seguisse livremente seu curso, o mesmo marcaria apenas o começo de uma nova situação onde, a partir daí, não haveria mais nenhuma restrição para tudo que os homens intentassem fazer. Este é o motivo que leva Deus a agir como o faz.

A ponderação feita pelo Senhor é marcada por dois fatos, a saber:

1. A unidade que existia entre o povo. Esta união representava, na prática, que muito da superfície do planeta ficaria sem habitantes porque aquele povo estava planejando ficar por ali mesmo e não se espalhar como era o desejo de Deus. A cidade e a torre representavam, ademais, uma concentração massiva de poder nas mãos de uns poucos e isto era um grave perigo para aqueles que pertenciam ao povo de Deus. Se o povo ficasse concentrado, como planejava, havia a real possibilidade de os eleitos de Deus serem absorvidos e destruídos por aquela estrutura. A expectativa era que a maldade, a pecaminosidade e a perversão deveriam atingir a níveis exorbitantes, como podemos ver acontecendo nos grandes centros urbanos do século XXI. Por este motivo Deus decide frustrar aquele plano.

2. A construção da cidade e da torre deve nos fazer parar e analisar a seguinte realidade: aqueles construtores apesar de pertencerem a famílias diferentes, de possuírem disposições distintas uns dos outros e de terem interesses diversos, todavia, eram unânimes em sua oposição a Deus. Era esse sentimento de oposição que os unia. Que pena! Os filhos de Deus dos nossos dias, por sua vez, apesar de terem todos uma cabeça comum — o Senhor Jesus Cristo — e de serem habitados por um mesmo espírito — o Espírito Santo — estão tão fragmentados que só podemos dizer: que vergonha! E entre pena e vergonha é difícil dizer quem está em situação pior.

3. Em terceiro lugar o Senhor entende as consequências da obstinação humana. Aquilo que os construtores estavam fazendo era apenas o início. E esse é outro motivo porque Deus decide atravessar no caminho daquele povo e desbaratar-lhe o desígnio. Através de palavras de admoestação e de exortação Deus havia tentado dirigir o povo na direção que Ele desejava, certamente porque esta era a melhor direção a ser seguida.

4. Esses motivos que levam Deus a agir, são permanentes na relação que existe entre Deus e os seres humanos. Herdamos a desobediência e a empáfia de nosso primeiro pai — Adão. Estamos em permanente rebelião contra Deus. Por sua vez a ira de Deus se manifesta hoje como se manifestou naqueles dias — ver Romanos 1:18; Efésios 5:3—5; Colossenses 3:5—6; e, de forma especial, João 3:36.

5. Todas as manifestações pecaminosas são pálidas e pequenas no começo. Mas com o passar do tempo assumem proporções formidáveis e gigantescas. Uma vez tendo iniciado aquela obra marcada por uma concentração massiva de pessoas, por uma ambição exagerada e pela sede de marcar o nome nos anais da história, não haveria limites para o que aqueles homens pudessem intentar ou mesmo imaginar no futuro.

É, portanto, apenas apropriado que o Senhor decida agir e Sua intenção nos é fornecida no versículo seguinte:

Gênesis 11:7

Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro.

Essas palavras refletem tanto a sabedoria de Deus quanto Sua misericórdia. É Seu propósito intervir naquela situação, mas Ele irá fazê-lo, como sempre, de forma a manifestar sua grandeza tanto em juízo quanto em graça. Esse verso, pode não parecer, mas ele nos ensina o princípio fundamental de que: todas as vezes que os seres humanos se agitarem no pecado serão confrontados por uma ação voluntária da parte de Deus —

Isaías 59:17—18

17 Vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação na cabeça; pôs sobre si a vestidura da vingança e se cobriu de zelo, como de um manto.

18 Segundo as obras deles, assim retribuirá; furor aos seus adversários e o devido aos seus inimigos; às terras do mar, dar-lhes-á a paga.

A misericórdia de Deus se manifesta na proposta disciplinar que não é, nem de longe, proporcional às ofensas que estavam sendo feitas. Esse é um fato bíblico: Deus não nos trata de acordo com o que nossos pecados merecem – Salmos 103:8—10. Note como Deus, apesar de dispor dos recursos para tal, não propõe destruir nem varrer da face da terra aquele bando de alucinados. Não é sua intenção acelerar a decida para o abismo daqueles que pretendiam alcançar os céus. O plano é realmente muito simples: “desçamos e confundamos ali a sua linguagem”. Deus poderia destruí-los por completo, mas o castigo fixado é bem mais simples. Isto prova a fragilidade humana. Toda a arrogância humana se dissipa de imediato quando Deus executa seus juízos. A capacidade dos seres humanos de provocar a Deus é enorme, mas a paciência de Deus é maior, felizmente. Punições para valer são deixadas para o estado eterno. A Bíblia reserva duras palavras para descrever o castigo eterno daqueles que desprezam as ofertas de Sua graça misericordiosa — ver Sofonias 2:1—3 e Hebreus 10:31.

A sabedoria de Deus, por sua vez, se manifesta nessa engenhosa confusão de línguas. A ciência humana, que não acredita na narrativa bíblica, admite que não possui nenhuma explicação para a multiplicidade de línguas faladas sobre a terra. Nosso aparelho fonador é uma verdadeira “obra de arte” que esbanja sons de qualidade e sofisticação. A língua única falada por aqueles homens servia como fonte de conforto e ânimo. Deus sabia o exato valor da língua única. Quando o Senhor decide agir daquela maneira, confundindo a língua, Ele o faz porque sabe, de forma precisa, quais serão as consequências: os seres humanos seriam tomados por verdadeiro pavor e ato contínuo iriam desanimar de continuar construindo a malfadada torre e cidade. Deus possui recursos variados e infindáveis para lidar com os seres humanos. Suas ações sempre alcançam Seus propósitos, porque nenhum de Seus planos pode ser frustrado. Quando a Bíblia diz בְלָה belah — confundir, o que está implícito é a introdução de várias formas de expressar um mesmo vocábulo no lugar da forma única existente até então. Dessa maneira o que era uma língua única foi transformada em muitas variedades mediante uma diversificação estrutural, sem existir a necessidade de interferir no material do qual a língua era propriamente formada. Este tipo de manipulação constitui um enorme mistério para os filólogos, para os quais a origem comum das línguas humanas não possui nenhuma explicação plausível. Mas nós sabemos, porque a “Bíblia assim nos diz”...

Gênesis 11:8

Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade.

A ação de Deus anunciada em Gênesis 11:7 não demora em ser executada e, como temos visto inúmeras vezes, os planos humanos não passam de quimeras quando o Deus Todo-Poderoso se levanta para julgar.

O pecado central dos construtores é orgulho e humanismo pretensioso. Esse é o mesmo pecado básico cometido pelos nossos primeiros pais no Jardim do Éden. Existe um abandono frontal da vontade revelada de Deus bem como de suas palavras proferidas anteriormente. O desejo humano assume o centro do palco e, fazer a própria vontade, torna-se mais importante do que fazer a vontade do Criador. Adão, Eva e os construtores da cidade e da torre pensam de uma mesma maneira. Mas aquilo que aqueles homens mais temiam, aquilo contra o que haviam estabelecido seus exaltados propósitos, os alcança de modo inexorável porque é o SENHOR quem executa o juízo que causa a dispersão. Não sendo capazes de compreender uns aos outros como antes, o projeto de construção em andamento sofre súbita paralisação. Aos poucos eles vão descobrindo outros com quem conseguem se entender e, em pequenos grupos, abandonam o local se dispersando e povoando a superfície da terra conforme era a vontade de Deus desde o princípio da criação.

Autores pagãos atribuem a dispersão dos seres humanos sobre a face da terra tanto a uma intervenção divina quanto à confusão das línguas. Mas enquanto a Bíblia diz que a construção da torre foi paralisada os autores pagão falam que a mesma foi destruída, ora por tempestades, ora por ventos impetuosos. Como sempre a narrativa bíblica é mais serena e discreta e por este motivo mais verossímil.

A Bíblia não nos diz exatamente quando estes fatos aconteceram. É certo que quando a Terra foi “repartida, durante os dias de Pelegue” — ver Gênesis 10:25 — os seres humanos já estavam dispersos, pois somente desta maneira poderíamos explicar o aparecimento dos mesmos em todos os rincões desse nosso planeta. Pelegue viveu um total de 239 anos — ver Gênesis 11:18—19. Como esse é um tempo bastante extenso existe uma grande discussão entre os eruditos se os eventos concernentes à cidade e à torre tiveram lugar no início, em algum ponto do meio da vida ou no fim dos dias de Pelegue.

Pelegue nasceu no centésimo primeiro ano depois do dilúvio — ver Gênesis 11:10, 12, 14 e 16. E muitos eruditos, tanto judeus como cristãos, acreditam que o desenlace descrito em Gênesis 11:8 teria acontecido exatamente no ano do nascimento de Pelegue. A frase que temos em Gênesis 10:25 mencionada acima diz que “a terra foi repartida” nos dias de Pelegue e isso não é uma referência à dispersão das pessoas e sim ao repartimento da porção seca da Terra nos continentes, como temos hoje. Dessa maneira, a dispersão poderia ter acontecido no ano do nascimento de Pelegue e a repartição da Terra em continentes teria acontecido mais adiante, ainda durante os “dias de Pelegue”. Outros acreditam que a intervenção de Deus teria acontecido no quadragésimo ano da vida de Pelegue i.e., 140 anos depois do dilúvio. Mas não existem elementos que justifiquem esta hipótese. Os cronologistas judeus dizem que a dispersão teria acontecido próxima do fim da vida de Pelegue. Como Pelegue viveu 239 anos então os eventos descritos em Gênesis 11:1—9 teriam acontecido 340 anos depois do dilúvio, quando Noé ainda estava vivo — ver Gênesis 9:28 — e Abraão já estava com 38 anos de idade — ver Gênesis 11:18,20, 22, 24 e 26 . Mas essa explicação é insatisfatória para justificar a presença de seres humanos nos quatro cantos do mundo.

Independentemente do exato momento quando esta dispersão aconteceu, o que podemos observar aqui é o fato de que o desejo expresso de orgulho — tornemos célebre o nosso nome — e a vontade férrea de desobedecer ao mandamento expresso de Deus — para que não sejamos espalhados por toda a terra — chamaram a atenção do Todo Poderoso. Da mesma maneira como aconteceu com Caim, essa história registra apenas o esforço inútil dos seres humanos de tentar alcançar segurança mediante a construção de uma cidade. Segurança verdadeira existe somente em Deus. Existem muitas passagens da Bíblia que enfatizam o que estamos dizendo. Entre essas nós podemos citar:

Salmos 4:8

Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR, só tu me fazes repousar seguro.

Salmos 23:4

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.

Salmos 118:6

O SENHOR está comigo; não temerei. Que me poderá fazer o homem?

Isaías 12:2

Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o SENHOR Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação.

Hebreus 13:6

Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?

A construção da torre não parece ser o foco de interesse do autor bíblico. No começo da história ele menciona de forma explícita uma cidade e uma torre — ver Gênesis 11:4—5. No fim da história sua ênfase recai sobre a cidade somente — ver Gênesis 11:8. Alguns acham que a falta da menção da torre no verso oito é um sinal de que a mesma já estava terminada. Mas esta não é a opinião desse autor. O fato que a Bíblia menciona somente a cidade aqui é um indício claro de que aquilo que realmente desagradava a Deus não era a tanto a torre e sim a cidade. É a cidade que ofende a Deus por causa da falsa impressão de segurança que ela transmite e porque a estrutura e os confortos que a cidade oferece fazem com que os homens se afastem de Deus. Vejam a quantidade de distrações que uma cidade pode oferecer e será fácil perceber por que as pessoas têm tão pouco interesse em Deus e nas coisas de Deus.

A história da dispersão dos construtores da cidade e da torre de Babel serve como um verdadeiro apêndice da Tábua das Nações — Gênesis 10 — e completa a história dos povos até o presente momento. Conforme iremos perceber, a sequencia da história irá sofrer um grande estreitamento para se concentrar na vida de um único indivíduo. Esse personagem será declarado o pai da “semente da fé”. E será através dos seus descendentes espirituais que o conhecimento do Deus verdadeiro e de Sua verdade serão preservados no meio da total e completa degeneração que será experimentada por todas as nações espalhadas ao redor do mundo. Essas nações irão espiralar na ignorância e no erro como consequências naturais do pecado.

Aqui devemos fazer um destaque: as ciências modernas, que negam o relato bíblico e repudiam a possibilidade da existência de Deus são confrontadas por um dado básico que diz respeito a certos traços da história que aparecem em todas as tradições do todos os povos ao redor do mundo. Esses traços dizem respeito, com maior ou menor intensidade, a estórias referentes ao Deus Único e Verdadeiro, à Criação, à queda bem como ao dilúvio. Se os seres humanos tivessem evoluído de várias espécies distintas de animais inferiores — primatas em geral — como seria possível a existência de tradições unificadoras e, muito exclusivas, diga-se de passagem, entre as mais diversas nações? Tradições como as que acabamos se citar acima só podem ser explicadas pela existência de um ancestral comum, exatamente como a Bíblia nos ensina.
  
Os construtores da cidade e da torre declararam de forma explícita o seguinte: “tornemos célebre o nosso nome” — ver Gênesis 11:4. Não temos dúvidas de que alcançaram esse objetivo. Só que a celebridade tornou-se algo vergonhoso. Famosos sim, mas humilhados pelo Deus Todo Poderoso a quem desafiaram. Da mesma maneira que Gênesis 11:5 nos diz que em vez dos homens alcançarem o céu, foi o próprio Deus quem “desceu”, Gênesis 11:9 reflete uma fina ironia por parte do cronista bíblico quando diz:

Gênesis 11:9

Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela.
  
A cidade e sua torre, originalmente destinadas à grandeza e fama, foram abandonadas por seus orgulhosos construtores. O autor bíblico mistura uma fina pitada de ironia no final da história quando conecta, de forma sutil, o ato de confundir as línguas usando o verbo בָּלַל balal — confundir — com o nome da localidade que era Babel, que quer dizer “portal de Deus”. O texto não nos revela se o nome Babel foi atribuído àquele complexo pelo próprio Senhor ou pelo escriba. Esse é o motivo porque o sujeito é indefinido na expressão “chamou-se-lhe”.

As línguas que falamos nos dias de hoje constituem-se em um verdadeiro desafio para os linguistas do ponto de vista da necessidade de se explicar a origem das mesmas. As duas principais teorias são:

1. Monogenesis — todas as línguas que falamos hoje descendem de uma única língua original chamada tecnicamente em alemão de “Ursprache”.

2. Poligenesis — é a teoria de que as línguas faladas pelos seres humanos surgiram, de forma independente, entre os diversos grupos primitivos de humanos. 

Como é impossível saber como os primeiros humanos falavam, o melhor elemento que possuímos para desenvolver nossas teorias é a comparação das formas escritas das línguas da Antiguidade, porque as mesmas estão fixadas de forma permanente. Os primeiros registros existentes de escrita aconteceram entre os sumérios, na Mesopotâmia, entre 3500 e 3200 a.C. É a partir deste momento que os pesquisadores podem começar a fazer seus estudos comparativos. Essas pesquisas, em linhas gerais, nos mostram que, como resultado direto de mudanças linguísticas ocorridas sobre longos períodos de tempo, surgem vários grupos distintos de línguas, mas que estão historicamente relacionados. Ou seja, esses grupos, mesmo diversos, são interdependentes e através de pequenas variações nos dialetos fazem surgir as línguas distintas que temos hoje. Muitos linguistas costumam falar de um seleto grupo de línguas que costumam chamar de proto-línguas. Entre essas nós podemos citar o Proto-Germânico e o Indo-Europeu. Dessas proto-línguas surgem sub-famílias de línguas. Mas os estudiosos concordam que nenhuma das proto-línguas é a língua mais antiga da humanidade. E por este motivo existe muita discussão com defensores apaixonados dos dois lados da teoria da origem das línguas – monogenesis e poligenesis.

Por fim, nosso texto é bastante lacônico em nos explicar exatamente qual foi o efeito que a ação de Deus de confundir as línguas teve sobre a psique ou mente daqueles construtores. Pelo fato deles terem abandonado a construção da cidade nós podemos deduzir, pelo menos, que os mesmos, de alguma maneira, reconheciam que estavam sofrendo oposição de alguém que era bem maior do que eles. E esse sentimento normalmente nos abate e nos desanima. Que aqueles acontecimentos nos sirvam de lição. Deus é sempre capaz de detonar todos e quaisquer planos humanos que não lhe agradem — ver Provérbios 21:30 e Isaías 8:9—13. 

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001 — Introdução e Esboço
002 — Introdução ao Gênesis — Parte 2 — Teorias Acerca da Criação
003 — Introdução ao Gênesis — Parte 3 — A História Primeva e Sua Natureza
004 — Introdução ao Gênesis — Parte 4 — A Preparação para a Vida Na Terra
005 — Introdução ao Gênesis — Parte 5 — A Criação da Vida
006 — Introdução ao Gênesis — Parte 6 — O DEUS CRIADOR
007 — Introdução ao Gênesis — Parte 7 — OS NOMES DO DEUS CRIADOR, OS CÉUS E A TERRA
008 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 1 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 1
009 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 8A – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 2
010 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus - Parte 9 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Segundo e o Terceiro Dia
011 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 10 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quarto Dia
012 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 11 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quinto Dia
013 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 1
013A — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12A — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 2
014 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 13 — Teorias Evolutivas
015 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 14 — GÊNESIS 2A
016 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 15 — GÊNESIS 2B
017 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 16 — GÊNESIS 3A
018 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 17 — GÊNESIS 3B
019 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 18 — GÊNESIS 3C
020 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Livre Arbítrio — Parte 19
021 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Dois Adãos — Parte 20
022 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Era Pré-Patriarcal e a Mulher de Caim — Parte 21
023 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, O Primeiro Construtor de Uma Cidade — Parte 22
024 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Assassino e Fugitivo da Presença de Deus — Parte 23
025 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Primeiro Construtor de uma Cidade e Pseudo-Salvador da Humanidade — Parte 24
026 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Conclusão Acerca de Caim — Parte 25
027 — Estudo de Gênesis — Gênesis 5 — Sete e outros Patriarcas Antediluvianos — Parte 26
028 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Perversidade Humana, Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens— Parte 27A
029 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — OS Nefilim e os Guiborim — Os Gigantes e os Valentes — Parte 27B
030 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Maldade do Coração Humano— Parte 27C.
031 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Corrupção Humana Sobre a Face da Terra e Deus Pode se Arrepender? — Parte 27D.
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033 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28B.
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035 — Estudo de Gênesis — Gênesis 8 — A promessa que Deus Fez a Noé e seus descendentes — Parte 30 — Nunca Mais Destruirei a Terra Pela Água
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037 — Estudo de Gênesis — O Valor Perene do Dilúvio para todas as Gerações — PARTE 002
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040 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 003
041 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 004 — A NATUREZA DA ALIANÇA ENTRE DEUS E NOÉ
042 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 005 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 001

043 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 006 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 002 — OS NEGROS SÃO AMALDIÇOADOS?
044 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 007 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 003 — A CONTRIBUIÇÃO DOS FILHOS DE NOÉ PARA A HUMANIDADE
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046 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 002 — OS DESCENDENTES DE CAM: NEGROS, AMARELOS E VERMELHOS
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049 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 001
050 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 002
051 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 003
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053 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 005
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/08/genesis-estudo-053-torre-de-babel-parte.html
054 — Estudo de Gênesis — A GENEALOGIA DOS SEMITAS
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/11/genesis-estudo-054-genealogia-dos.html

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

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[1] Tendência para atribuir, ou a forma de pensamento que atribui formas ou características humanas a Deus, deuses, ou quaisquer outros entes naturais ou sobrenaturais. 

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Gênesis — Estudo 052 — A TORRE DE BABEL — PARTE 004 — ASPECTOS ESPIRITUAIS DA CONSTRUÇÃO DA TORRE DE BABEL


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Este estudo é parte de uma Análise do Livro do Gênesis. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da História Primeva da Humanidade. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo. 
O Livro do Gênesis
O Princípio de Todas as Coisas

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ        
              Eretz   ha  ve-et  Hashamaim  et        Elohim        Bará       Bereshit
            Terra  a      e        céus       os        Deus         criou   princípio No
                                                                                     Gênesis 1:1

CONTINUAÇÃO

XII — Gênesis 11 — “Deram com uma Planície na Terra de Sinear”.

F. A Decisão de Construir a Torre — Os Aspectos Espirituais - Gênesis 11:4.

O plano propostos pelos humanos possui, no que diz respeito à construção, dois objetivos centrais:

1. A edificação de uma cidade que, como iremos ver, tornou-se o modelo representativo de tudo aquilo que se levanta contra Deus.

2. E a edificação de uma torre. A intenção com respeito à torre, que é chamada מִגְדָּל migddal – em hebraico, não deixa dúvidas de que a mesma deveria se parecer com um edifício moderno, sendo uma construção baseada em “andares”, uns em cima dos outros.

1. A Construção de Cidades — Caim o Primeiro Construtor de uma Cidade.
A história de Caim já foi analisada nesse trabalho sobre certos aspectos — ver parte VIII — inclusive sua ação como construtor da primeira cidade. Mas a construção da cidade e da Torre de Babel no obriga a retomarmos esse tema por causa da profunda dimensão que o mesmo tem em termos da narrativa bíblica. A cidade da Babilônia, iniciada aqui com a construção da cidade e da Torre de Babel, irá ocupar a imaginação dos autores bíblicos de todos os tempos, culminando com o Apocalipse de João — último livro da revelação bíblica. A cidade e a torre mencionadas em Gênesis 11 são representativas de todo e qualquer poder sociopolítico que se incorpore numa entidade ou organização contrária à adoração exclusiva de Deus. Ao agir dessa maneira os seres humanos desejam tornar-se um fim em si mesmos e reconstruir a realidade a partir de suas próprias convicções e independentes da vontade de Deus. É por esses motivos que precisamos retornar a Caim e ao grande significado de tudo o que ele começou a fazer ao gerar um filho e construir uma cidade — ver Gênesis 4:17.

Após Caim ter assassinado seu irmão Abel, ele foi confrontado pelo Senhor. Pelo fato de ter derramado o sangue do seu irmão, Caim foi então pronunciado אָרוּר arur — maldito, por parte de Deus — ver Gênesis 4:11. A maldição tem a ver com a forma como a terra irá reagir às tentativas de cultivo feitas por Caim, bem como o fato de que ele iria se tornar um fugitivo e alguém errante pela Terra. De acordo com a palavra do Senhor:

Gênesis 4:12

Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra.

Caim, por sua vez, se queixa ao Senhor alegando que seu castigo é muito grande e que certamente alguém irá encontrá-lo e matá-lo — ver Gênesis 4:13—14. O Senhor responde de forma graciosa, como lhe é tão comum — ver Êxodo 34:5—7 — assegurando a Caim que:

Gênesis 4:15

O SENHOR, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o SENHOR um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse.

A partir desse momento a Bíblia nos diz que “retirou-se Caim da presença do SENHOR” e foi habitar na terra de Node onde conheceu sua mulher, teve um filho e construiu um cidade — ver Gênesis 4:16—17. A frase que deve chamar nossa atenção, nesses últimos dois versículos, é exatamente essa que diz que Caim “retirou-se da presença do SENHOR”. E é aí, caro leitor, que reside a raiz de todos os problemas e de todas as malfadadas ações que, como seres humanos, intentamos contra Deus.

Até o momento em que Caim matou Abel, existia certa segurança tácita em meio à raça humana mediante a proteção que certamente o Deus criador garantia às suas criaturas contra agressões causadas pela natureza. Mas Caim destruiu essa segurança introduzindo o gosto por derramar sangue e por vingança. E como o sangue de Abel foi derramado sobre a terra, a mesma se torna inimiga do homem. Por outro lado, nós os ocidentais, não fazemos a menor idéia da força representada pelo desejo de vingança pelo sangue derramado que existe no meio dos povos que habitam o chamado Oriente Médio.

No diálogo travado entre Deus e Caim, como vimos a pouco, nos temos a nítida impressão que estamos mesmo diante de um homem que se revoltou contra seu Criador — ver Gênesis 4:3—8 — que matou seu próprio irmão e que, em muito pouco tempo, perderá toda capacidade de continuar acreditando em Deus. Mas independentemente da sua atitude, Caim está sobre a proteção graciosa de Deus e será esta proteção que irá garantir sua sobrevivência, mesmo que ele não a reconheça. Caim demonstra que não confia nem no Senhor nem na marca que este colocou sobre ele. Esse é o motivo central porque Caim decide retirar-se da presença de Deus. Mas do que “mudar de endereço” indo habitar na terra de Node, Caim se retira espiritualmente da presença de Deus. Ele não entende que bondade e severidade andam de mãos dadas quando se trata da maneira como Deus lida com nossos pecados que, por causa do fato de Deus ser eterno, o ofendem eternamente — ver Romanos 11:22. Pecados não são e não podem ser tratados como coisas insignificantes porque ofendem eternamente o Deus eterno. Como bem expressou o apóstolo Paulo “Graças a Deus pelo seu dom inefável! — 2 Coríntios 9:15. Não fosse pelo sacrifício de Cristo e nunca nossa relação com Deus poderia ser restabelecida. Mas retornemos a Caim e sua falta de confiança em Deus. Caim não confia que esta “tal marca”, que ele é incapaz de enxergar, será suficiente para garantir sua sobrevivência em meio à gravidade da sua rebelião e desobediência que o haviam alienado de Deus e de sua família. Caim percebe que de agora em diante ele precisará:

1. Lutar contra inúmeras forças hostis — Deus, outros seres humanos e a própria natureza.

2. Desenvolver meios para subjugar seres humanos e as forças contrárias da natureza.

3. Tomar todas as garantias que estejam ao seu alcance para garantir sua sobrevivência.

Mas tudo isso não passa de mera ilusão. Para Caim todas essas atitudes lhe parecem necessárias e objetivas, mas na realidade elas são incapazes de protegê-lo.

Pelo fato de Caim não aceitar a segurança que Deus lhe oferece é que ele irá procurar estabelecer sua própria segurança. O que ele não compreende é que não existe verdadeira segurança fora da presença de Deus — veja como Davi reconhece, quando era perseguido por Saul e seus homens e por Absalão e seus homens, que a verdadeira segurança está somente em Deus nos Salmos 7, 11, 12, 13, 17, 25, 26, 31, 34, 35, 52, 54, 56, 57, 59, 64, 109, 140, 141. Para Caim, todavia, a segurança oferecida por Deus não vale absolutamente nada. Ele só irá se sentir seguro se seguir os desejos mais profundos do seu coração insatisfeito.

Longe de Deus as duas maiores necessidades de Caim são sua sede de eternidade e de descanso. Ele olha para o Éden e o deseja. Sem saber, ele realmente deseja a presença de Deus no Éden e não o jardim em si mesmo. Mas seus sentidos estão turvados pelo pecado e ele não consegue perceber a verdade. Como Caim acha que tudo o que ele precisa é um novo Jardim do Éden, ele se propõe a criar um para si mesmo. Seu sonho de eternidade também poderá ser satisfeito, assim ele imagina, através da procriação. São essas considerações que estão por trás de seus atos de “edificar uma cidade e de gerar um filho”.

Caim, como o primeiro construtor de uma cidade imagina seu ato como a resposta mais apropriada a seus desejos mais profundos: segurança e eternidade. A relação entre esses dois anseios mais profundos de sua alma pode ser visto pelo nome que ele atribuiu à cidade e a seu filho primogênito:
1.E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch.
2. Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch, o nome de seu filho.

Por que teria Caim atribuído a seu filho primogênito, bem como à cidade que edificou o mesmo nome? Comecemos pela cidade que Caim construiu. Aquele era um lugar onde ele podia, acima de tudo, ser ele mesmo. O lugar onde ele podia se sentir seguro, onde poderia encontrar descanso e deixar de ser vagabundo no sentido próprio do termo — alguém que leva uma vida errante; que vagueia. Além disso, a cidade representava para Caim um sinal visível da sua segurança. De acordo com a decisão que ele havia tomado de “retirar-se da presença do SENHOR”, sua segurança dependia agora dele mesmo apenas. A construção da cidade, portanto, é consequência direta do ato criminoso de Caim e de sua recusa terminante de aceitar a segurança oferecida por Deus.

O Éden de Deus é substituído pela cidade de Caim, da mesma maneira que o propósito que o Deus Criador tinha para Caim foi substituído pelos planos que o próprio Caim fizera para si mesmo. Sua cidade e seu filho são chamados de Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch e isso não é mera coincidência. Este nome é derivado do verbo que significa: dedicar, inaugurar ou iniciar. Para Caim seus atos possuem um profundo significado. Eles representam um novo princípio, não como o “princípio” originado por Deus e mencionado em Gênesis 1:1, e sim algo completamente diferente. Algo iniciado pelo homem e dependente do ser humano. “No princípio Deus” nos diz o livro do Gênesis. Para Caim porém, Deus não era mais nem apropriado nem pertinente. Um novo início era necessário. Um início centrado no homem, em sua mente distorcida e seu coração enfermos pelo pecado.

A cidade de Caim se opõe ao Éden de Deus. A proposta de Caim é grandiosa. Ele deseja reconstruir o mundo conforme a sua imagem e semelhança. Para alcançar seu objetivo Caim arrasta a criação para dentro do mesmo abismo em que ele se encontrava. Abismo de escravidão, de pecado e de uma amargurada revolta que tenta a todo custo se libertar desta situação. Com isso Caim aumenta ainda mais a distância que existia entre ele e o Deus Criador. É dessa revolta que nasce a primeira cidade. Sua maior dificuldade, todavia, é que a solução para os problemas que ele enfrentava estava concentrada nas mãos de Deus, e isto era algo que ele não podia tolerar. Caim deseja encontrar, por si mesmo, a solução para todos os dilemas que seus atos haviam criado. Mas seus projetos apenas agregam ofensa à injúria. Cada novo ato de sua parte representa uma ofensa ainda maior a Deus e o afunda em um abismo cada vez mais profundo.

A civilização humana, como a definimos em tempos modernos, começa com o estabelecimento de uma cidade e com tudo o que tal cidade representa. Para Caim Deus se torna apenas uma figura imaginária, uma hipótese. Por modo semelhante o Paraíso se torna apenas uma lenda e a própria criação não passa de um mito. Quando Caim decide chamar seu filho e sua cidade de Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch — início, ele estava coberto de razão. Por todos os cantos do planeta Terra nós encontramos exemplos de como aquele início se desenvolveu e se tornou ubíquo. Ao registrar a história de Caim como construtor da primeira cidade — Gênesis 4:17 —  a Bíblia nos revela muito mais do que o mero ato ali descrito. Ela nos revela:

1. Qual era a intenção do ser humano ao decidir construir a cidade — dar o pontapé inicial em um novo “princípio” independente de Deus

2. O que o ser humano esperava alcançar por meio daquela construção — uma segurança que fosse independente de Deus.

3. O que os pensamentos do ser humano desejavam estabelecer — um nome para si mesmo que se estendesse por toda a eternidade.
A palavra hebraica עִיר ‘iyr – traduzida por cidade possui, na realidade, outros significados. Esses são: agitação, angústia e terror. Uma contração provinda da mesma raiz עָר ‘ar — é traduzida pela palavra “inimigo” — ver 1 Samuel 28:16. Esses significados denotam que as cidades não são apenas ajuntamentos de moradias, ruas, palácios, muralhas e etc. As cidades são forças espirituais. A primeira cidade foi fruto da revolta do ser humano e certamente “outras forças” estavam também presentes auxiliando o homem em sua empreitada. Como tal as cidades possuem a capacidade de influenciar as pessoas. Elas podem direcionar e alterar o curso da vida espiritual dos seres humanos. As cidades não representam apenas o “urbano” em oposição ao rural ou campestre. Elas são poderosas na força de atração que exercem sobre as pessoas e compõe um mistério que é mesmo assustador. Se considerarmos, de forma desapaixonada, o significado da palavra עִיר ‘iyr — agitação, angústia e terror, bem como da sua contração עָר ‘ar — inimigo, nós podemos concluir que elas descrevem de modo preciso o que as cidades representam em pleno século XXI.

A cidade como concebida por Caim não passava de um ídolo. Estava, portanto, destinada a ser destruída.  Ao mesmo tempo ela representava um poder cujo propósito era o de se elevar acima do próprio Deus. A cidade de Caim deveria representar para ele mesmo, muito daquilo que só podemos encontrar, de forma verdadeira, na pessoa do próprio Deus. Ao construir sua cidade Caim colocou toda sua revolta em cada parte. Se pudéssemos ver tal construção a partir do seu espectro espiritual, nós ficaríamos muito chocados com a terrível aparência da mesma. Todas as vezes que podemos presenciar esse tipo de manifestação, nós estamos diante de uma força que só pode ser definida de uma maneira: demoníaca.

As atitudes de Caim são representativas daquelas que são comuns a todos os seres humanos. Caim foi pronunciado אָרוּר arur — maldito pelo Senhor — ver Gênesis 4:11. De modo semelhante todos os seres humanos, como descendentes de Adão, estão sobre a maldição da condenação do pecado. É somente em Cristo que nós podemos nos livrar desta maldição — ver Gálatas 3:13. E é por causa de Cristo que temos a promessa de que na eternidade “nunca mais haverá qualquer maldição” — ver Apocalipse 22:3. Mas em vez de aceitar a provisão de Deus, tanto Caim como outros seres humanos buscam solucionar seus problemas por si mesmos. A posição de arrogância é refletida na imaginação que diz: “eu posso resolver meus problemas sozinho e sem o auxílio ou a bênção de Deus”. Ou como fazemos em nossos dias, “eu acredito que posso comprar a solução para os meus problemas por meio de minhas ofertas”. É por causa da maldição de Deus que pesa sobre os seres humanos que eles fazem de tudo para tornarem-se poderosos — poder manifesto em forma de riquezas, desenvolvimento, domínio, etc. Eles acreditam, em suas mentes doentias, que ao se tornarem poderosos poderão manter em cheque e impedir os efeitos da maldição proferida sobre suas cabeças. Este é o verdadeiro motivo porque o homem desenvolve as artes e as ciências; porque ele organiza exércitos e constrói armamentos cada vez mais sofisticados, bem como cidades. A manifestação desse “espírito de poder” não passa de uma tentativa desesperada do ser humano de tentar paralisar ou até reverter as consequências de ser pronunciado אָרוּר arur — maldito pelo Senhor.

2. Nimrode: O Construto de Cidades.

Depois de Caim o próximo construtor mencionado na Bíblia é Nimrode. Mas ao contrário de Caim que, pelo registro bíblico construiu apenas uma cidade, Nimrode é citado como tendo sido o construtor de muitas cidades — ver Gênesis 10:10—12. De fato, a Bíblia nos diz que Nimrode foi o primeiro homem a se tornar גִּבֹּר gibor — poderoso sobre a terra. Temos que nos lembrar que Nimrode era neto de Cam e esse, por sua vez, havia sido pronunciado אָרוּר arur — maldito pelo seu próprio pai, Noé. Apesar do fato de que a maldição proferida por Noé tenha sido pronunciada contra o filho de Cam chamado Canaã, a intenção de Noé era bastante clara como podemos ver na narração que encontramos em Gênesis 9:24—27. A reação de Nimrode contra a maldição proferida sobre seu avô é semelhante à de Caim. Para ele pouco importava o que seu bisavô — Noé — tinha feito. Ele decide lutar com todas as suas forças para provar que era capaz de impedir ou até mesmo reverter as consequências da maldição proferida sobre seu antepassado. Essa é a causa porque ele decide tornar-se poderoso e seu poder se manifesta, de forma bastante explícita, na construção não de uma, mas de muitas cidades.      

Todas as manifestações de concentração de poder por parte dos seres humanos são o resultado direto do endurecimento do nosso coração contra a pessoa de Deus. O poder humano de qualquer natureza é uma declaração de que o ser humano é poderoso em verdadeira oposição ao Deus Todo-Poderoso. É mesmo muito surpreendente a tendência que existe em nós de admirar e até mesmo de adorar aqueles que são poderosos. E uma das maneiras prediletas dos seres humanos afirmarem que são poderosos é construindo e conquistando cidades. Mas esse tipo de poder é ilusório porque ele existe somente até Deus se levantar para julgar. Note como a poderosa “Babilônia” mencionada no livro do Apocalipse e que representa todas as cidades do mundo, desaparece rapidamente quando Deus decide agir contra ela — ver Apocalipse 18:8, 10, 17 e 19. Este é o motivo porque Jesus insiste que o caminho que precisamos trilhar não é do “poder” humano, independentemente da forma que o mesmo possa assumir, e sim do serviço mútuo — ver Mateus 20:25 – 28 e João 13:4 – 17. Esse também foi o motivo da tentação do diabo ao oferecer a Cristo o domínio sobre os reinos do mundo. É vergonhoso perceber, mesmo em instituições religiosas, uma hierarquia rígida de poder.

O texto bíblico, todavia, além de nos dizer que Nimrode tornou-se poderoso acrescenta que isso não aconteceu em um vazio, mas que tal evento ocorreu na presença do SENHOR — ver Gênesis 10:8—9. Esse é o Deus acerca do qual a Bíblia nos diz que é:

1. Terrível em feitos gloriosos — Êxodo 15:11.

2. Cujo nome é “glorioso e terrível” — Deuteronômio 28:58.

3. Tu, sim, tu és terrível; se te iras, quem pode subsistir à tua vista? — Salmos 76:7.

4. Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo — Isaías 40:17.

5. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo — Hebreus 10:31.

E foi exatamente a esse Deus que nós, os cristãos, nos aproximamos. Portanto vejamos bem como nos comportamos — ver Hebreus 12:22—29.

Nimrode, apesar da sua capacidade como construtor, e toda sua arrogância — ele certamente estava envolvido com a construção da cidade e da torre de Babel — não compreendia que todas suas manifestações de poder estavam mantidas, de forma permanente, em cheque pelo Deus Todo-Poderoso. E aqui nós devemos anotar um princípio permanente através das páginas da Bíblia. Todas as manifestações de concentração de poder — seja ele político, econômico, militar, religioso ou de outra natureza qualquer — estão completamente fora da vontade de Deus. Os descendentes de Nimrode e todos os descendentes de Cam foram, de modo geral, habitantes de cidades e é a eles que devemos o desenvolvimento de algumas das maiores civilizações de todos os tempos. O Egito, a Mesopotâmia, a Índia, a China, o México, a América Central e a América do Sul — especialmente a porção Andina — estão marcadas, de forma indelével, pela presença destes povos.

Todas as cidades construídas por Nimrode e seus descendentes são marcadas, de forma idêntica, por uma manifestação de poder político, militar, econômico e religioso. A terra de Sinear tornou-se o verdadeiro oposto do paraíso plantado pelo Senhor. Enquanto aquele era um lugar de paz, onde o próprio Deus costumava andar na “viração do dia” — ver Gênesis 3:8 — esta tem sido a terra da morte e da destruição por longos milênios. Sumérios, babilônios, assírios, medos, persas e gregos tiveram seus centros de poder estabelecidos ali. E, em tempos modernos, é também ali que estadunidenses, ingleses, alemães, italianos e mais duas dúzias de nacionalidades combatem contra afegãos e iraquianos e outras nacionalidades. Sinear é a terra que representa o poder de sedução de todas as cidades. Foi em Sinear que os Judeus, levados cativos para a Babilônia, sentiram-se atraídos para aquele modo de vida — representado por poder e violência. Sucumbiram à tentação e poucos demonstraram o desejo de retornar para a terra prometida. Abandonaram o Senhor e Seus caminhos a favor das coisas novas — especialmente as práticas do comércio — que haviam aprendido em Babilônia. Esse é um problema antigo. Era da Babilônia, a boa capa cobiçada por Acã em Jericó, o que levou a contaminar todo arraial dos israelitas a ponto deles serem derrotados por seus inimigos — ver Josué 7. A terra de Sinear é a terra da idolatria e do pecado. É a terra da pirataria e da roubalheira — ver Daniel 1:2. Talvez a passagem mais descritiva acerca da impiedade da terra de Sinear seja a que encontramos em Zacarias 5:5—11 onde nos é dito que a iniquidade de “toda a terra” tem sua moradia naquele lugar.  

Ests é a ímpia herança que nos foi legada por Nimrode: a construção de cidades e a prática da guerra. Estss são os dois polos que têm marcado, de forma bastante característica, aquilo que chamamos de civilização humana desde quando nossa história passou a ser registrada. Mas precisamos nos lembrar sempre de que o SENHOR vê e sabe todas estas coisas.

3. Os Construtores da Cidade e da Torre de Babel.

Gênesis 11:4

Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.

A história da cidade e da torre narrada em Gênesis 11 tem seu foco central na palavra hebraica שֵׁם shem – que é traduzida pela expressão “nome” em português. Para nos ajudar a entender melhor essa afirmação que acabamos de fazer, nós precisamos compreender o valor que o nome — qualquer nome — tinha no seio da cultura judaica. Para os judeus o nome de qualquer ser é um sinal de domínio e o mesmo sempre possui conotações ou qualidades espirituais. Foi o próprio Deus quem deu nome ao primeiro homem e esse, por sua vez, deu nome a todos os animais. Esses atos, aparentemente sem muito significado, são representativos do estabelecimento de um relacionamento onde aquele que recebe o nome é inferior àquele que confere o nome. O povo rebelde que alcançou a planície de Sinear — ver Gênesis 11:2 — estava cansado de ter que se submeter àquele de quem haviam recebido seu nome. Estavam fartos daquela condição de inferioridade. Este é o motivo central porque declaram: “tornemos célebre nosso nome”. Eles querem se nominar a si mesmos. Esta autodenominação não deve ser confundida com nosso conceito de reputação. A autodenominação, neste contexto, significa em primeiro lugar e acima de tudo, independência. E essa, por sua vez, será afirmada pela construção da cidade e da torre. O desejo daquele povo era ver-se livre, independente e separado do Deus Criador e Todo-Poderoso de uma vez por todas. Mas como iremos ver as coisas não são tão simples assim como arquitetadas pelos seres humanos.

Mesmo nutrindo ests imenso desejo de independência, aquele povo, continuava dependente de Deus, do Deus Criador, do Deus que era o Soberano Senhor sobre eles, porque fora dEle que eles tinham recebido o nome que tinham. Como foi com o primeiro homem — a quem Deus veio ao encontro no Jardim do Éden chamando-o pelo seu nome אָדָם Adam — assim também, Deus pretende confrontar esses rebeldes. Querendo ou não, gostando ou não dessa idéia, eles eram ainda criaturas. Ainda pertenciam, por direito absoluto, ao Deus Criador.

Mas o desejo daquele povo ia além da mera independência de Deus. Como Caim, que imaginou fazer um novo início — chamando tanto seu filho como sua cidade — a primeira cidade a ser construída — pelo nome de חֲנוֹךְ Hanoch — início, esse povo também desejava excluir Deus do mundo criado. Para alcançar esse alvo, todavia, era necessário certo tipo de solidariedade que só poderia ser alcançada através de um nome que pudesse unir os seres humanos de tal maneira, que nunca mais pudessem ser dispersos por sobre a face da terra. O sinal e símbolo maior dessa solidariedade era a construção duma cidade e de uma torre. Uma construção que seria fruto do trabalho coletivo e solidário. Aquele deveria ser um local construído pelo homem e para o homem e de onde Deus deveria ser completamente banido. Somente assim eles poderiam “criar”, para si mesmos, um nome que fosse célebre. Era ali, naquela cidade e torre que o homem enxergava a possibilidade de deixar de ser mera criatura para se tornar semelhante ao Senhor que os havia criado e de quem haviam recebido o nome que tinham. Agora note que, ao contrário do que aconteceu com Caim, não sabemos como eles pretendiam chamar esse empreendimento. O nome que temos בָּבֶל Babel — não era o nome original, mas foi como o local ficou conhecido após a ação de Deus — ver Gênesis 11:9.

O projeto dos construtores do complexo que ficou conhecido como Babel incluía uma cidade e uma torre. Isto era necessário porque é na construção de uma cidade que a independência de Deus por parte do ser humano é estabelecida. E essa mesma cidade serve como um memorial permanente daquela mesma independência. A torre é apenas um passo além nesse desejo de independência e da construção de um memorial. A palavra que traduzimos por torre é מִגְדָּל — migddal — que significa torre ou plataforma elevada é muitas vezes utilizada no Antigo Testamento para se referir a uma torre ou acrópole fortificada, como podemos ler em Juízes 8:9 e 17; 9:46—52; Salmos 48:12 e Ezequiel 26:9. O próprio Deus é referido como uma torre de proteção contra os inimigos, como podemos ver no Salmo escrito por Davi — ver Salmos 61:2—3. No livro do profeta Isaías, a expressão מִגְדָּל — migddal é utilizada como um símbolo, por excelência, de força e orgulho — ver Isaías 2:12—17; 30:25 e 33:17—19  — e por esse motivo constitui-se em um elemento que aborrece a Deus de um modo particular — ver Isaías 25:1—3.

Quando lemos Gênesis 11:4 ficamos com a nítida impressão que estamos diante de um bando de megalomaníacos. Temos essa impressão porque a intenção daqueles construtores era fazer com que a torre que pretendiam construir “chegasse até os céus”. Mas essa expressão é apenas um indicativo de que tratava-se de um edifício de proporções monumentais. Quando os espiões retornaram de espiar a terra prometida, eles reportaram ao povo que as cidades que eles haviam visto na terra prometida eram “grandes e fortificadas até aos céus” — ver Deuteronômio 1:28. O próprio Moisés se referiu às cidades que os israelitas estavam para tomar posse como sendo “grandes e amuralhadas até aos céus” — ver Deuteronômio 9:1. E as palavras de Jeremias 51:53 são reminiscentes dessas que encontramos em Gênesis 11:4.

A pretensão de tornar célebre o nome não é esclarecida pelo texto. Não temos idéia de que consequências sobre seu nome eles esperavam ao construir a cidade e a torre. É certo que grandes cidades acabam celebrizando seus arquitetos como é o caso de Barcelona com suas muitas torres traçadas por Gaudi e de Brasília projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemayer. Esses três são realmente célebres, mas no sentido de terem alcançado uma enorme reputação e não era esse o propósito daqueles construtores como já vimos. Mais do que reputação eles desejavam autonomia.

Como Caim antes deles, nossos construtores imaginavam que a cidade e torre fortificada que estavam edificando lhes traria também segurança. Mas como a construção que eles pretendiam fazer estaria estabelecida em uma planície não é difícil entendermos suas naturais preocupações com a segurança. De todos os tipos de terrenos onde se pode construir uma cidade, certamente a planície é o mais vulnerável. A esperança deles é que uma vez estabelecidos e seguros, não precisariam mais ser espalhados sobre toda a face da Terra, e isto constituía em uma ofensa direta ao Deus que havia ordenado que se multiplicasse e se espalhasse ao ponto de ocupar toda a Terra — ver Gênesis 9:1.

Enquanto os homens tentavam construir um edifício que fosse monumental ao ponto de “alcançar os céus”, o versículo 5 de Gênesis 11 expressa a verdadeira ironia de toda essa situação. Não são os homens que alcançam os céus e sim o Deus dos Céus é que decide “descer” para ver tanto a cidade como a torre que os homens estavam edificando.

Outros artigos acerca dO LIVRO DE GÊNESIS
001 — Introdução e Esboço
002 — Introdução ao Gênesis — Parte 2 — Teorias Acerca da Criação
003 — Introdução ao Gênesis — Parte 3 — A História Primeva e Sua Natureza
004 — Introdução ao Gênesis — Parte 4 — A Preparação para a Vida Na Terra
005 — Introdução ao Gênesis — Parte 5 — A Criação da Vida
006 — Introdução ao Gênesis — Parte 6 — O DEUS CRIADOR
007 — Introdução ao Gênesis — Parte 7 — OS NOMES DO DEUS CRIADOR, OS CÉUS E A TERRA
008 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 1 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 1
009 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 8A – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 2
010 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus - Parte 9 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Segundo e o Terceiro Dia
011 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 10 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quarto Dia
012 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 11 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quinto Dia
013 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 1
013A — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12A — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 2
014 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 13 — Teorias Evolutivas
015 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 14 — GÊNESIS 2A
016 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 15 — GÊNESIS 2B
017 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 16 — GÊNESIS 3A
018 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 17 — GÊNESIS 3B
019 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 18 — GÊNESIS 3C
020 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Livre Arbítrio — Parte 19
021 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Dois Adãos — Parte 20
022 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Era Pré-Patriarcal e a Mulher de Caim — Parte 21
023 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, O Primeiro Construtor de Uma Cidade — Parte 22
024 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Assassino e Fugitivo da Presença de Deus — Parte 23
025 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Primeiro Construtor de uma Cidade e Pseudo-Salvador da Humanidade — Parte 24
026 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Conclusão Acerca de Caim — Parte 25
027 — Estudo de Gênesis — Gênesis 5 — Sete e outros Patriarcas Antediluvianos — Parte 26
028 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Perversidade Humana, Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens— Parte 27A
029 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — OS Nefilim e os Guiborim — Os Gigantes e os Valentes — Parte 27B
030 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Maldade do Coração Humano— Parte 27C.
031 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Corrupção Humana Sobre a Face da Terra e Deus Pode se Arrepender? — Parte 27D.
032 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28A.
033 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28B.
034 — Estudo de Gênesis — Gênesis 7 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 29 — O Dilúvio Foi Global Ou Local?
035 — Estudo de Gênesis — Gênesis 8 — A promessa que Deus Fez a Noé e seus descendentes — Parte 30 — Nunca Mais Destruirei a Terra Pela Água
036 — Estudo de Gênesis —  O Valor Perene do Dilúvio para todas as Gerações — PARTE 001
037 — Estudo de Gênesis — O Valor Perene do Dilúvio para todas as Gerações — PARTE 002
038 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 001
039 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 002
040 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 003
041 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 004 — A NATUREZA DA ALIANÇA ENTRE DEUS E NOÉ
042 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 005 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 001
043 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 006 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 002 — OS NEGROS SÃO AMALDIÇOADOS?
044 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 007 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 003 — A CONTRIBUIÇÃO DOS FILHOS DE NOÉ PARA A HUMANIDADE
045 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 001 — OS DESCENDENTES DE JAFÉ
046 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 002 — OS DESCENDENTES DE CAM: NEGROS, AMARELOS E VERMELHOS
047 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 003 — OS DESCENDENTES DE SEM E A ORIGEM DOS HEBREUS
048 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 004 — A TÁBUA DAS NAÇÕES É UM DOCUMENTO ÚNICO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
049 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 001
050 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 002
051 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 003
052 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 004
053 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 005
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/08/genesis-estudo-053-torre-de-babel-parte.html
054 — Estudo de Gênesis — A GENEALOGIA DOS SEMITAS
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/11/genesis-estudo-054-genealogia-dos.html

Que Deus abençoe a todos. 

Alexandros Meimaridis 

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