sexta-feira, 30 de novembro de 2012

INTRODUÇÃO AO PENTATEUCO - PARTE 5


Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo 

Capítulo 4 – Introdução ao Pentateuco – Parte 5

O Nascimento do Povo de Deus

שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד
                    Ehad   Adonai  Eloheinu   Adonai   Israel     Shemá                       
              
                   Um é  O SENHOR Nosso Deus O SENHOR Israel Ouve               



Deuteronômio 6:4

1. Pré-história do Desenvolvimento da Hipótese Documentária de Graf e Wellhausen.

a. Jean Astruc.

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Jean Astruc

A teoria conhecida como Hipótese Documentária é, como o próprio nome diz, uma hipótese de que o Pentateuco em vez de ser uma unidade era, na realidade, uma colcha de retalhos. De acordo com os defensores desta teoria o Pentateuco seria o resultado de várias tradições distintas, compostas em lugares diferentes em um período, de pelo menos, 500 anos depois de Moisés.

O primeiro proponente de que o Pentateuco seria fruto de uma compilação de diversas tradições foi o médico francês e dublê de teólogo Jean Astruc, que começou a estudar o livro de Gênesis como obra literária e publicou suas opiniões de forma anônima em 1753. Astruc ficou muito intrigado pelo fato de Gênesis 1 usar a expressão אֱלֹהִים Elohim — Deus para se referir ao Criador ao passo que Gênesis 2 usa, por 11 vezes, a expressão יְהוָה o tetragrama que é o nome inefável de Deus — o Eterno, em combinação com אֱלֹהִים Elohim — Deus para se referir ao criador. A combinação destes dois nomes em Gênesis 2 é traduzida pela expressão “SENHOR Deus” na versão de Almeida Revista e Atualizada — ARA. Esta situação do texto no hebraico levou Jean Astruc a especular que Moisés havia usado duas narrativas distintas da criação. Para Astruc, ao compor os dois primeiros capítulos do livro do Gênesis, Moisés teria “copiado” — lembre-se estamos nos dias do Iluminismo e a Revelação Bíblica não pode sequer ser considerada como pressuposição — de um autor que conhecia apenas o Deus chamado אֱלֹהִים Elohim, presumivelmente o primeiro, ao passo que um segundo autor conhecia apenas o Deus chamado de יְהוָה o Eterno. Mas será que o fato de você ter uma mesma história — a criação, especialmente do homem e da mulher — contada de maneiras diferentes em Gênesis 1 e Gênesis 2 indica, necessariamente, a existência de duas tradições distintas? O erro fundamental de Jean Astruc, como veremos, foi sua estimativa subjetiva da natureza e da extensão do material utilizado por Moisés, bem como sua ignorância dos princípios que eram utilizados na compilação de livros no Antigo Oriente Próximo.

Mesmo que a teoria de Jean Astruc não tivesse contado com grande aceitação no início, a mesma serviu para estabelecer o critério de divisão por fontes — no sentido de origem. A idéia defendida pelo Dr. Astruc, de que nomes diferentes de Deus, significavam tradições diferentes, foi utilizada como pressuposição indiscutível pelos criadores da Hipótese Documentária. Jean Astruc lançou as raízes do que viria a ser definido como “documento J” e “documento E” acerca dos quais falaremos em seguida.

b. Johan Gottfried Eichhorn.

 
Johan Gottfried Eichhorn

Johan Gottfried Eichhorn publicou o resultado de suas pesquisas e esforços entre 1780—1783 em três massivos volumes como é tão típico dos estudiosos alemães. Eichhorn dedicou-se com afinco à atividade de catalogar todo o livro do Gênesis e os dois primeiros Capítulos do livro do Êxodo, até o ponto que descreve o encontro de Moisés com o SENHOR no Sinai, entre o que ele mesmo chamou de tradições “Javista — documento J” e “Eloísta — documento E”. Seu esforço visava conseguir separar as duas aparentes e distintas tradições que ele acreditava haviam sido utilizadas por Moisés a princípio. Para Eichhorn Moisés teria funcionado meramente como um redator de um vasto material produzido antes dele nascer. Em edições posteriores de seu trabalho, Eichhorn abandonou completamente a crença de que Moisés teria funcionado como um redator e começou a favorecer a opinião, que prevalecia naqueles dias, de que o Pentateuco havia sido escrito séculos depois de Moisés. A prática iniciada por Eichhorn foi depois estendida à totalidade do Pentateuco com os cinco livros de Moisés sendo loteados e picotados entre as tradições Eloísta e Javista que doravante chamaremos de “E” e “J”.

c. Wilhelm M. L. De Wette e Alexander Geddes.

Wilhelm De Wette

Wilhelm De Wette marcou a época em que publicou seus escritos entre 1805—1806, porque procurou defender, de maneira apaixonada, que nenhum dos cinco livros do Pentateuco havia sido escritos antes do período do rei Davi que viveu por volta do ano 1000 a.C. i.e. cerca de 400 anos depois de Moisés. De acordo com as idéias de De Wette o livro do Deuteronômio foi exatamente o livro “achado” pelo sumo sacerdote Hilquias no templo de Jerusalém conforme o que está registrado em 2 Reis 22. De Wette acreditava que o livro de Deuteronômio era parte de uma conspiração entre o rei Josias e o sumo sacerdote Hilquias que visava abolir por completo a adoração do Deus Eterno – representado pelo tetragrama יְהוָה — de qualquer e todo lugar que não fosse o templo em Jerusalém. O propósito de tal conspiração era centralizar a adoração visando fortificar a unificação política das tribos de Israel bem como coletar, de forma central, as ofertas das pessoas piedosas. Para De Wette, Josias e Hilquias se juntaram para criar uma farsa e gerar uma situação psicológica entre o povo de Israel que lhes fosse a mais favorável possível. Desta maneira a data da composição do livro de Deuteronômio seria por volta do ano 621 a.C. durante o reinado de Josias. A teoria de De Wette produziu o surgimento de uma terceira fonte ou documento que foi chamado de “documento “D” advindo de Deuteronômio”. Assim passamos a ter três documentos ou tradições distintas dentro do Pentateuco: a primeira era a tradição Eloísta ou “E”, a segunda era a tradição Javista representada por “J” e a terceira é a tradição representada pelo Deuteronômio ou “D”. De Wette havia sucumbido a uma invencionice chamada de Hipótese Fragmentária que era uma nova teoria acerca de como o Pentateuco havia sido formado e que fora proposta primeiramente por um sacerdote Católico Romano escocês chamado Alexander Geddes em 1792. De acordo com essa hipótese o Pentateuco seria realmente o resultado do trabalho de um redator anônimo que teria juntado numerosos fragmentos surgidos em diferentes círculos Eloístas e Javistas. Este redator teria vivido e produzido o Pentateuco provavelmente durante o reinado de Salomão — c. 950 a.C.

Alexander Geddes

d. Johann Vatter.


Johann Vater

A teoria de Alexander Geddes foi adotada, por sua vez, por Johann Vater que analisando o livro de Gênesis foi capaz de “descobrir” cerca de trinta e nove fragmentos distintos que teriam sido usados pelos “redatores” para compor o mesmo. Agora não temos somente uma tradição “E” e sim varias tradições que são chamadas de “E1, E2, E3” e assim sucessivamente! De acordo com Vater, apesar de alguns fragmentos do Pentateuco serem da época de Moisés, a forma definitiva do Pentateuco só foi alcançada durante os anos do Cativeiro Babilônico entre os anos de 587 a 538 a.C.

Como podemos notar existia uma tendência característica em todos esses críticos —analistas, de estipular a data da composição como sendo cada vez menos antiga e cada vez mais distante de Moisés.

e. Heinrich Ewald.

Heinrich Ewald

Heinrich Ewald foi professor nas universidades de Götttingen e Tübingen na Alemanha. Pessoa extremamente criativa inovou tanto as teorias acerca da origem do Pentateuco que praticamente não deixou espaço para outros demonstrarem suas habilidades! Para Ewald, que publicou suas teorias em 1823 e 1840, a base essencial do Gênesis era bastante antiga e talvez fosse da época de Moisés. De acordo com Ewald o Pentateuco devia sua origem primariamente a um extenso documento da tradição Eloísta que se estendia, de forma rudimentar, da história da criação até a conquista da terra prometida sob o comando de Josué. Está história da tradição Eloísta teria sido posteriormente ampliada pela adição da tradição Javista, cujo redator ou redatores, teriam sido os últimos a compor o Pentateuco.

A repetição das histórias do Gênesis como as da criação ou do dilúvio que foram usadas por Eichhorn para justificar a existência das tradições “E” e “J” foram descartadas por Ewald. O argumento genuinamente histórico utilizado por Ewald é que histórias repetidas em uma mesma obra são parte dos traços característicos da forma semítica de escrever. Tal prática pode ser observada em obras antigas escritas em arábico acerca das quais não existem dúvidas quanto à sua autoria.

Para Ewald, Moisés teria composto pessoalmente o conteúdo de Êxodo 20 e provavelmente o de Gênesis 14 e Números 33. A este lote de material mais antigo teria sido agregado um “Livro da Aliança” por um judeu anônimo do período dos Juízes. Nos dias de Salomão teria surgido então um livro descrevendo as origens das coisas criadas que seria da autoria de um levita, também anônimo, que teria se utilizado, em grande parte, da tradição do documento “E”. Um terceiro suplemento teria sido adicionado ao material já existente durante os dias de Elias — c. século IX a.C. — contendo uma biografia de Moisés. Mais tarde ainda um indivíduo chamado de “narrador profético” da tribo de Judá teria durante o reinado de Uzias — c. século VIII a.C — introduzido o nome inefável representado pelo tetragrama יְהוָה o Eterno, em vários pontos do material então existente. Este mesmo indivíduo seria o editor definitivo do Pentateuco. A teoria de Ewald foi chamada de Teoria da Cristalização, pois para ele cada novo editor manipulava e reescrevia a totalidade do texto existente além de acrescentar seu próprio material. Assim, mediante sucessivas “gotas” de material um produto final “cristalizado” foi conseguido. Outros defensores desta teoria foram Augusto Knobel que publicou seu material em 1861 e Eberhard Schrader que publicou o seu em 1869.

f. Friedrich Bleek.

Friedrich Bleek

Em 1822 o estudioso Friedrich Bleek publicou uma extensa análise — crítica — literária do livro de Josué. Através desse trabalho foi cunhado o termo “Hexateuco” que significa “seis rolos ou volumes”. Dessa maneira chegamos a um estágio onde a tradição Mosaica, conforme se apresenta nos dias de hoje, seria encontrada nos seis primeiros livros do Antigo Testamento, daí o termo Hexateuco, em vez dos cinco primeiros chamados de Pentateuco. Em 1822 Friedrich Bleek publicou suas observações acerca do livro do Gênesis onde concedia que algumas passagens eram genuinamente da autoria de Moisés. A primeira complementação adicionada ao material produzido por Moisés, de acordo com Bleek, teria acontecido por volta dos dias da Monarquia Unida i.e. por volta do ano 1000 a. C. quando um compilador anônimo produziu um material que reproduzia as tradições mais antigas contidas no livro do Gênesis. Uma segunda e também importante compilação teria acontecido por volta dos dias do rei Josias i.e. entre 630 e 620 a.C. Este novo redator teria compilado o livro do Deuteronômio bem como o livro de Josué criando assim o Hexateuco.

g. Franz Delitzsch.

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Franz Delitzsch

O alemão Franz Delitzsch que juntamente com Karl Friedrich Keil produziu um dos mais excelentes, robustos e permanentes comentários de todo o Antigo Testamento, teve a tendência de ser mais conservativo em suas estimativas e afirmações do que Heinrich Ewald e Friedrich Bleek haviam sido. No seu comentário ao livro do Gênesis antecipou sua crença de que todo o material contido no Pentateuco e diretamente declarado como sendo da autoria de Moisés teria mesmo sido produzido pelo próprio Moisés. Todas as outras leis representavam também a tradição Mosaica, mas não foram compiladas até depois da conquista de Canaã por um grupo de sacerdotes. As partes não Mosaicas do documento “E” foram compiladas, provavelmente, pelo sacerdote Eleazar — terceiro dos filhos de Aarão — o qual teria incorporado o assim chamado “Livro da Aliança” a este material — ver Êxodo 20:23 — 23:33. Mais tarde um terceiro par de mãos teria adicionado o livro do Deuteronômio. É muito importante não confundir Franz Delitzsch com seu filho Friedrich Delitzsch que veio a se destacar no campo dos estudos acerca da Assíria antiga que é chamada de Assiriologia.

h. Hermann Hupfeld.

 
Hermann Hupfeld

Em 1853 o alemão Hermann Hupfeld publicou uma obra intitulada Die Quellen der Genesis — As Fontes do Gênesis. Este livro marcou profundamente sua época porque deu forma definitiva às teorias modernas acerca da origem do Pentateuco. Nesta obra Hupfeld procurou consolidar as idéias apresentadas pelas várias “teorias suplementárias”, que já estudamos até aqui e que insistiam na idéia que o Pentateuco era na realidade um amálgama de vários outros documentos. Hupfeld procurou remediar as dificuldades existentes introduzindo a idéia de que existiam mais e mais documentos. Para ele as passagens do documento “J” eram contínuas e totalmente independentes do documento “E”. O documento “E”, por sua vez, era na realidade um documento composto formado por “E1”, mais antigo, e por “E2” de origem mais recente. De acordo com Hupfeld estes três documentos, “J, E1 e E2”, foram organizados em sua forma atual por um redator cujo estilo individualista acabou por ocasionar a grande maioria das “dificuldades” que encontramos no Pentateuco.

O Documento identificado por Hupfeld como sendo “E1” e que ele chamou de Grundschrift — Documento Básico — veio mais tarde a ser chamado de Código Sacerdotal ou Documento P — o nome P surge da expressão inglesa “Priestly” = Sacerdotal. Este documento recebeu este nome porque sua autoria foi atribuída a um grupo anônimo de sacerdotes. Assim chegamos à nomenclatura que foi adotada por todos os teóricos e por todos os que querem acreditar nestas hipóteses.

Na opinião de Hupfeld a ordem dos documentos produzidos foi a seguinte:

·       Documento P – Sacerdotal – O mais antigo de todos os documentos distinto do Documento J em vários pontos única e exclusivamente pelo uso do nome אֱלֹהִים elohim – Deus. 

·       Documento E – Tradição Eloísta. 

·       Documento J – Tradição Javista – Introduz o nome יְהוָה – o tetragrama que é o nome inefável de Deus – o Eterno. 

·       Documento D – Tradição Deuteronomista – A mais recente ou menos antiga de todas as tradições. 

2. A Hipótese Documentária de Graf e Wellhausen.

a. Karl Heinrich Graf.


Karl Heinrich Graf

Um novo e conclusivo passo foi dado no sentido de consolidar definitivamente a Hipótese Documentária com o material publicado por Karl Heinrich Graf que era aluno de Eduard Reuss. Estes dois divergiam frontalmente de Hupfeld quanto à antiguidade do Documento P. Para eles o Documento Sacerdotal ou P continha legislação que era, na realidade, mais antiga até do que aquela contida na tradição Deuteronomista! Esta afirmativa se baseava no fato de parecer que o Documento D não refletia aspectos legais contidos no Documento P ao passo que refletia esses aspectos contidos nos Documentos E e J. Partindo desse pressuposto esses autores acabaram por datar o Documento P ou Código Sacerdotal como tendo sido produzido, provavelmente, durante o Exílio Babilônico entre 600—520 a.C.

O Documento P ou Sacerdotal que era na opinião de Hupfeld o mais antigo de todos e aquele a quem chamou de Grundschrift — Documento Básico — passou a ser o menos antigo de todos na opinião de Karl Heinrich Graf. Para esse último o Documento P foi realmente editado em sua forma presente pelo próprio Esdras depois de ter retornado para Jerusalém c. 475 a.C., a ponto de poder ser lido na história descrita em Neemias 8. Assim a nova ordem dos documentos passou a ser “J, E, D e P”. Para Graf o Documento J era o mais básico ou antigo porque se referia a Deus em termos antropomórficos o que representava, na opinião dele, o estágio mais elementar na religião de Israel. Mais adiante o Documento E foi incorporado ao Documento J durante a monarquia. O Documento D teria sido incorporado mais tarde ainda, durante o reinado de Josias, perto da dissolução da monarquia em Israel. Durante os dias do profeta Ezequiel um documento chamado de Código de Santidade — Código H derivado do inglês Holiness = Santidade — e que consistia basicamente dos capítulos 17—26 do livro de Levítico foi elaborado como a parte fundamental do Documento P. O restante do Documento P foi formulado no final do V século a.C. ou até mesmo na primeira metade do século IV a.C. Dessa maneira, o Documento P foi colocado por Graf distante cerca de 1000 anos depois da morte de Moisés!



Abraham Kuenen

Outro estudioso que chegou, de forma independente, às mesma conclusões de Graf concernentes ao Documento P foi o teólogo holandês Abraham Kuenen em sua obra De Godsdienst van Israel — A Religião de Israel publicada em 1869.

b. Julius Wellhausen.


Julius Wellhausen

A formulação definitiva da Hipótese Documentária veio através das obras de Julius Wellhausen intituladas Die Komposition des Hexateuchs — A Composição do Hexateuco que foi publicada em 1876 e Prolegomena zur Geschichte Israelis — Introdução à História de Israel — publicado em 1878. Apesar do fato de Wellhausen não ter feito nenhuma contribuição inovadora à discussão já existente seu mérito reside na maneira como ele formulou a teoria documentária, argumentando de maneira persuasiva, sustentando a ordem de aparecimento dos documentos que compõe o Pentateuco como sendo “J, E, D e P” de uma maneira coerente com o Iluminismo prevalecente e a Teoria da Evolução de Charles Darwin. A obra de Charles Darwin — A Origem das Espécies — estava causando verdadeiro furor nos meios acadêmicos e científicos daqueles dias. Desta maneira a formulação da história religiosa do povo de Israel evoluindo do animismo para um sofisticado monoteísmo, como apresentada por Wellhausen e seus seguidores, se encaixava perfeitamente dentro da Dialética Hegeliana e do Evolucionismo Darwiniano.

c. A Hipótese Documentária

Em suas obras Julius Wellhausen sustentava que as porções mais antigas do Pentateuco vieram de dois documentos que eram originalmente independentes e que compunham as tradições Javista e Eloísta. A primeira e mais antiga tradição — Javista — representada pelo Documento J havia surgido por volta do ano 850 a.C entre círculos religiosos do Reino de Judá. A outra tradição — Eloísta — representada pelo documento E teria emanado no Reino de Israel por volta do ano 750 a.C. Essas duas tradições teriam então sido combinadas em uma única tradição por um redator — representado pela letra R. Esta compilação foi tecnicamente chamada de RJE e foi produzida por volta do ano 650 a.C. Para Wellhausen o livro de Deuteronômio havia sido produzido nos dias do rei Josias, i. e., por volta de 621 a.C. Este material chamado de tradição D teria alcançado sua forma final através do trabalho de um outro redator por volta de 550 a.C e foi tecnicamente chamada de RD. Essas três tradições formaram o material do Pentateuco conhecido como “JED”. O Código Sacerdotal – representado por “P” — teria então sido compilado entre 500—450 a.C., por um grupo anônimo de sacerdotes e teria sido acrescentado ao material já existente por um outro redator também anônimo por volta de 400 a.C., e foi chamado tecnicamente de RP. O Pentateuco, como o conhecemos atualmente, teria então emergido definitivamente através das hábeis mãos de vários redatores por volta do ano 200 a.C., contendo todo o material das quatro tradições representadas pelos Documentos “J, E, D e P”.

A grande maioria das introduções ao Antigo Testamento existentes, normalmente suprem uma enorme quantidade de informações acerca deste supostos documentos. Como não é nossa intenção discutir estes documentos em seus mínimos detalhes o autor deste trabalho apresenta, de forma resumida, os principais elementos de cada alegado documento no Apêndice A junto com o último artigo dessa série.

001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM

004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano

005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo

006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX

007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia

B. A Geografia do Antigo Testamento

001 – INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA

002 – O EGITO

003 – A SÍRIA—PALESTINA

C. A História do Antigo Testamento

001 — OS PATRIARCAS DA NAÇÃO DE ISRAEL

002 — NASCE A NAÇÃO DE ISRAEL

003 — A NAÇÃO DE ISRAEL: O REINO UNIDO

004 — O REINO DIVIDIDO E O CATIVEIRO BABILÔNICO

D. A Introdução ao Pentateuco

001 — O PENTATEUCO — PARTE 1 — O QUE É E DO QUE TRATA O PENTATEUCO

002 — O PENTATEUCO — PARTE 2 — OS TEMAS PRINCIPAIS DO PENTATEUCO — PARTE 1

003 — O PENTATEUCO — PARTE 2 — OS TEMAS PRINCIPAIS DO PENTATEUCO — PARTE 2

004 — O PENTATEUCO — PARTE 2 — QUEM ESCREVEU O PENTATEUCO — PARTE 1

005 — O PENTATEUCO — PARTE 3 — QUEM ESCREVEU O PENTATEUCO — PARTE 2


Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

O material contido neste estudo foi, em parte, adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:

Bibliografia


Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.

Archer, Gleason L. Jr. A Survey of the Old Testament. The Zondervan Corporation, Grand Rapids, 1980.

Bohmbach, Karla G., Gravett, Sandra L., Greifenhagen, F. V., Polaski, Donald C. Na Introduction to the Hebrew Bible – A Thematic Approach. Westminster John Knox Press, Louisville, 2008.

Champlin, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia, e Filosofia. Editora Hagnos, São Paulo, 6ª Edição, 2002.

De Vaux, Roland. Ancient Israel Social and Religious Institutuions in Two Volumes. McGraw Hill Paperbacks, New York, 1965.

Francisco, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª Edição, 2003.

Gottwald, Norman K. Introdução Sicioliterária à Bíblia Hebraica. Edições Paulus, São Paulo, 1988.

Harrison, Roland Kenneth. Introduction to the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, 1979.

The Fundamentals. Edição Eletrônica disponível na Internet, 2006.

Walton, John H. Chronological Charts of The Old Testament. The Zondervan Corporation, Grand Rapids, 1978.

Wolff, Hans Walter. Anthropology of the Old Testament. Fortress Press, Philadelphia, 1973.

Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Reprinted, 1992.

Enciclopédias e Softwares

__________Biblioteca Digital da Bíblia. Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, 2006.

__________The Lion Handbook to the Bible. Lion Publishing, Herts, 1978.

__________The New Encyclopaedia Brtannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

MARCO FELICIANO E A ARTE DE ILUDIR

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Isaías 56:11

Tais cães são gulosos, nunca se fartam; são pastores que nada compreendem, e todos se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, todos sem exceção.

O falso mestre e deputado federal Marco Feliciano já foi objeto de um artigo nosso, quando afirmou que a raça negra e o continente africano estavam amaldiçoados por Deus. Para acessar esse artigo basta seguir esse link aqui:


Por esses dias tive minha atenção chamada para uma série de vídeo publicados no YOUTUBE, cujo título geral é: ESTELIONATO ESPIRITUAL.

Esses vídeos que podem ser acessados através dos endereços que fornecemos abaixo são uma prova contundente de como um manipulador profissional associado à histeria coletiva — incentivada por diversas artimanhas — pode produzir a espoliação de pessoas pobres e humildes. Note, especialmente, a forma como o pregador atrela a bênção de Deus à doação da maldita oferta. Maldita sim, porque ofertadas com a intenção de alcançar algum tipo de benção como o manipulador deixa claro dezenas de vezes.

As cenas foram gravadas durante uma conferência dos chamados Gideões Missionários e para acreditar no absurdo que estamos denunciando aqui, somente assistindo os vídeos abaixo.

001 –

002 -

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006 –

007 –

Contra tais práticas Jesus nos advertiu com duras palavras quando disse:

Mateus 7:15 

Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.

De modo semelhante Paulo nos adverte dizendo:

Efésios 4:14 

Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.

E o mesmo fazem Pedro e Judas:

2 Pedro 2:1—3

1  Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.

2  E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade;

3  também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.

Judas 11—13

11 Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá.

12 Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas;

13 ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre.

Judas 1:16—19

16 Os tais são murmuradores, são descontentes, andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos interesseiros.

17 Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo,

18 os quais vos diziam: No último tempo, haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões.

19 São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito.

Que Deus abençoe a todos nos livrando dos homens maus.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

INTRODUÇÃO AO PENTATEUCO - PARTE 4



Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo 

Capítulo 4 – Introdução ao Pentateuco – Parte 4

O Nascimento do Povo de Deus

שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד
                    Ehad   Adonai  Eloheinu   Adonai   Israel     Shemá                       
              
                   Um é  O SENHOR Nosso Deus O SENHOR Israel Ouve               


Deuteronômio 6:4
IV. Quem escreveu o Pentateuco?

A. Autoria e consenso tradicional.

Os Dez Mandamentos e Moisés

O Pentateuco contém várias citações sobre a composição de algumas de suas partes. Há duas referências claras a Moisés como sendo o autor de Êxodo 20—23, que é conhecido como “Livro da Aliança – ver Êxodo 24:4 e 7. O texto também afirma que Moisés escreveu os Dez Mandamentos sob a orientação do Senhor – ver Êxodo 34:27—28. Existem também, pelo menos dois outros incidentes, que de acordo com o texto foram diretamente preservados pela escrita de Moisés – ver Êxodo 17:14 e Números 33:2 e versos seguintes. Há também referências claras de que Moisés é o autor de partes do livro de Deuteronômio – ver Deuteronômio 31: 9,19,22,24.

Além da atividade literária de Moisés, as palavras de Deus são frequentemente introduzidas por meio de frases como: “Disse mais o Senhor a Moisés” – ver Levítico 4:1. Aliás, a maior parte do conteúdo de Êxodo a Deuteronômio está relacionada, de alguma forma, à vida e ao ministério de Moisés. Ele foi a figura histórica central durante o período descrito entre os livros do Êxodo e Deuteronômio. Esse fato, associado a todas as evidências internas, leva à tradição quase incontestada da autoria mosaica do Pentateuco.


 
  Flávio Josefo

Moisés. O Novo testamento refere-se ao Pentateuco usando expressões do tipo: “Moisés” ou “Lei de Moisés” – ver Lucas 24:27, 44.Tanto o historiador judeu Flavio Josefo[1] quanto o Mishná[2] aceitavam a autoria mosaica do Pentateuco. O Talmude[3] refere-se aos cinco primeiros livros da Bíblia como “os Livros de Moisés”.

B. Abordagens críticas modernas.

A teoria da Evolução de Charles Darwin afetou, inclusive, os estudos teológicos.

Apesar da tradição mais antiga sobre a autoria mosaica de o Pentateuco ser bastante difundida, desde o início ela teve seus críticos. Mas foi só no começo do século XIX, sob a forte influência do Iluminismo[4] Filosófico, que o consenso tradicional foi violentamente agredido, quando um grupo de estudiosos do Antigo Testamento, especialmente alemães, desafiou frontal e abertamente a idéia da autoria mosaica do Pentateuco. A combinação do pensamento iluminista dos séculos XVII e XVIII com a teoria da evolução do século XIX resultou em uma onda, quase inacreditável, de especulação sobre as origens do Pentateuco.

1. A Ciência Bíblica chamada de “Crítica da Bíblia.”

Immanuel Kant

Um dos ramos mais importantes da Teologia é chamado de a ciência do Criticismo Bíblico. A expressão “criticismo” soa mal aos nossos ouvidos e por este motivo devemos envidar todos os esforços possíveis para impedir que nossos preconceitos acerca da mesma não nos atrapalhem na hora de analisarmos as questões levantadas pelo Criticismo Bíblico. Para nos ajudar vamos usar a definição que o Dicionário Aurélio Século XXI oferece para o verbete “Criticismo”: Do alemão “Kritizismus” diz respeito à posição metodológica própria do kantismo, filosofia criada pelo filósofo alemão Immanuel Kant, caracterizada por considerar que a análise crítica da possibilidade, da origem, do valor, das leis e dos limites do conhecimento racional, deve ser o ponto de partida da reflexão filosófica[5]. Assim sendo a ciência do Criticismo Bíblico tem como seu objeto o estudo da história e do conteúdo, das origens e do propósito dos vários livros — 66 ao todo — contidos na Bíblia. A ciência do Criticismo Bíblico foi dividida, em seus estágios iniciais, em dois ramos: Baixa Crítica e Alta Crítica — estes termos são rigorosamente acadêmicos.

Um Manuscrito Antigo

·       A Baixa Crítica — Esta expressão foi usada para designar o estudo do texto das Escrituras Sagradas que inclui uma investigação e catalogação dos manuscritos antigos, com atenção especial sendo dada às assim chamadas leituras variantes. Leva também em conta o material contido nas várias versões e traduções antigas. O objetivo desta ciência é nos fornecer um texto bíblico que seja o mais próximo possível dos autógrafos originais como foram inspirados pelo próprio Deus. Isto é necessário porque os autógrafos originais não existem mais. Por se relacionar diretamente ao texto bíblico, a baixa Crítica é também chamada de Crítica Textual ou Crítica do Texto. É graças ao trabalho destes críticos que podemos ter em nossas mãos hoje, cópias impressas do Antigo Testamento em hebraico, da Septuaginta em grego, do Novo Testamento em grego e da Vulgata em latim, por exemplo.
              
              
Ø    Antigo Testamento em Hebraico

              

Ø    Novo Testamento em Grego

              

Ø    Septuaginta em Grego

              

Ø    Vulgata Latina


·    A Alta Crítica — Esta expressão foi usada para designar o estudo do conteúdo, da autoria, do local onde o material foi originalmente escrito, da data aproximada da composição, dos destinatários, do propósito, da aceitação no cânon da Escrituras Sagradas e etc., dos livros bíblicos. Estes aspectos são geralmente discutidos em compêndios chamados de “Introdução ao Antigo ou Novo Testamento”. A Alta Crítica como podemos ver assume várias formas e por este motivo está desmembrada em vários sub-ramos:


Ø           Crítica Linguística — Trata do uso da língua utilizada nas composições. No caso da Bíblia se ocupa primariamente, mas não exclusivamente, da análise do hebraico, do aramaico e do grego.


Ø    Crítica Literária — Busca analisar as composições bíblicas como obras literárias discutindo os vários “tipos de literatura” que existem na Bíblia onde encontramos: narrativas históricas, poesias, biografias, parábolas, relatos de acontecimentos, epístolas e etc.


Ø    Crítica da Forma — Procura recuperar as unidades da tradição que existiam em circulação antes que o material fosse fixado na forma escrita.


Ø    Crítica Histórica — Discute os aspectos históricos envolvidos como a data da composição, a citação de nomes de pessoas e locais, os usos e costumes da época e etc.


Ø   Crítica de Redação — Estuda o estilo utilizado pelo compositor para produzir o material final. Analisa também a possibilidade da existência de outros “redatores” na apresentação final do material.


Ø   Crítica da Fonte — Procura discutir ou descobrir o material original —fonte — que teria sido utilizado para a composição em discussão.

Como podemos ver a ciência da Crítica da Bíblia é da maior importância, pois serve como uma poderosa força auxiliar na interpretação da Palavra de Deus. Através das pesquisas produzidas pelos críticos uma verdadeira inundação de informações acerca da Bíblia é produzida de forma constante. Infelizmente nem tudo o que é produzido, especialmente pelo ramo chamado de Alta Crítica, é valioso. Existem, em muitos casos, conclusões ou definições que estão mais baseadas na interpretação subjetiva do crítico do que na evidência crua apresentada pelos fatos.   

Assim é que sob a pretensão de esclarecer absolutamente tudo com o uso da razão e de forma empírica, o que muitos destes críticos nos oferecem, na grande maioria dos casos, não passa de verdadeiros contos da carochinha! Como veremos, no caso específico do Pentateuco, a grande maioria das conclusões subjetivas foi baseada em um único elemento: o estilo de escrita usado nos cinco livros de Moisés. Hoje sabemos que quanto mais poderoso for um autor mais versátil será seu poder de expressão e isto faz com que conclusões alcançadas e que estejam baseadas quase que exclusivamente na análise do estilo de um autor sejam muito inseguras.

C. Críticas da origem - fonte - e da redação.

 
Baruque Espinosa

A primeira pedra do fantasioso castelo que iremos estudar em seguida foi colocada pelo filósofo judeu holandês Bento ou Baruque Spinosa[6]. Entre suas muitas posições pouco ortodoxas encontrava-se sua sugestão de que era bem possível que a maior parte do Pentateuco — תּוֹרָה toráhinstrução, lei ou ensino — teria sido composto séculos após Moisés. Sua idéia não foi levada a sério até que o Empirismo Filosófico, precursor do Iluminismo, produziu uma série de atitudes mais favoráveis com relação ao ceticismo histórico e à rejeição do sobrenatural. Em seu tratado intitulado “Tratado Teológico Político” publicado em 1670, Spinosa expressou a opinião — temos sempre que nos lembrar que opinião é como o nariz: todo mundo tem o direito de ter um! — de que o Pentateuco dificilmente poderia ter sido escrito por Moisés. Para justificar esta opinião ele forneceu dois argumentos:

·       O autor do Pentateuco se refere a Moisés na terceira pessoa do singular “ele” em vez de usar a primeira pessoa do singular “eu”.


·       Moisés não poderia ter escrito acerca da sua própria morte como está apresentado em Deuteronômio 34.


Quarto Livro de Esdras

Spinosa, completamente enfatuado pelas idéias acima, sugeria então que Esdras, que viveu mil anos depois de Moisés, era o verdadeiro autor do Pentateuco. Spinosa não declara a origem de suas idéias, mas sabemos que esse conceito, acerca de o Pentateuco ter sido escrito por Esdras, advém de um livro pseudoepigáfico[7] chamado de “4 Livro de Esdras”. Este livro que existe em várias versões, foi provavelmente, escrito originalmente em Hebraico. Todavia não existe nenhuma cópia conhecida deste livro em hebraico atualmente. As cópias existentes estão escritas em latim, siríaco — língua falada pelos antigos sírios antes da dominação árabe — etiópico, arábico — duas versões diferentes — e armênio.

 
Imperador Adriano

Estudiosos acreditam que estas traduções foram feitas de uma cópia escrita em grego e que também não existe mais. A cópia mais antiga existente atualmente está em latim e foi grafada por volta do ano 120 d.C., por um copista ou redator, durante o império de Adriano[8]. Neste livro de 4 Esdras encontramos no capítulo 14, que trata da sétima visão de Esdras, especialmente nos versos 18—48, uma descrição de como Deus apareceu a Esdras, já no fim da sua vida, e lhe ordenou que colocasse por escrito toda a revelação do A. T., inclusive aquela dada a Moisés. Segundo esse relato, Esdras acompanhado de cinco escribas — Seraia, Dabria, Selemia, Elkana e Osiel — embrenhou-se no campo onde permaneceu por quarenta dias recebendo e ditando revelações da parte de Deus. Durante este período, ainda de acordo com a narrativa do 4 Livro de Esdras, cerca de 94 livros foram ditados e grafados. Destes, vinte e quatro — estes são os livros que constituem o cânon hebraico do A. T. — deveriam ser revelados ao povo em geral enquanto que os outros setenta deveriam ser revelados somente para os sábios! Ai está, como diria Abelardo Barbosa, na teologia como na “televisão, nada se cria, tudo se copia”. Independente destes fatos, a idéia “sugerida” por Spinosa, serviria de base para a formulação daquilo que foi chamado de “Hipótese Documentária” feita pelos estudiosos alemães Graf Kuenen e Julius Wellhausen aproximadamente duzentos anos depois de Spinosa — chamada de teoria de Graf—Wellhaussen.

Antes de entrarmos na análise da história da Hipótese Documentária temos que dizer, com relação às colocações feitas por Spinoza acima, o seguinte:

Xenofontes

·       Quanto a Moisés ter escrito na terceira pessoa – ele – em vez de na primeira pessoa – eu – constitui-se argumento fraquíssimo pelo que segue: muitos autores da Antiguidade, alguns extremamente famosos, como o poeta grego Xenofontes[9] e o general romano Júlio César[10] se referiram a si mesmos, em suas narrativas históricas, exclusivamente na terceira pessoa – ele.

 
Júlio César

·       Quanto à nota mortuária encontrada em Deuteronômio 34 não existe nenhuma indicação no texto bíblico de que a mesma tenha sido escrita por Moisés, tendo provavelmente sido acrescentada por Josué ou outro contemporâneo. Mas este detalhe não põe em dúvida a autoria Mosaica de todo o resto do livro de Deuteronômio que está coberto de reivindicações de ser obra da lavra de Moisés.


Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento

A. O Texto do Antigo Testamento

001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM

004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano

005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo

006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX

007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia

B. A Geografia do Antigo Testamento

001 – INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA

002 – O EGITO

003 – A SÍRIA—PALESTINA

C. A História do Antigo Testamento

001 — OS PATRIARCAS DA NAÇÃO DE ISRAEL

002 — NASCE A NAÇÃO DE ISRAEL

003 — A NAÇÃO DE ISRAEL: O REINO UNIDO

004 — O REINO DIVIDIDO E O CATIVEIRO BABILÔNICO

D. A Introdução ao Pentateuco

001 — O PENTATEUCO — O QUE É E DO QUE TRATA O PENTATEUCO


002 — O PENTATEUCO — PARTE 2 — OS TEMAS PRINCIPAIS DO PENTATEUCO — PARTE 1

003 — O PENTATEUCO — PARTE 2 — OS TEMAS PRINCIPAIS DO PENTATEUCO — PARTE 2

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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O material contido neste estudo foi, em parte, adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:

Bibliografia


Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.

Archer, Gleason L. Jr. A Survey of the Old Testament. The Zondervan Corporation, Grand Rapids, 1980.

Champlin, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia, e Filosofia. Editora Hagnos, São Paulo, 6ª Edição, 2002.

Francisco, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª Edição, 2003.

Harrison, Roland Kenneth. Introduction to the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, 1979.

The Fundamentals. Edição Eletrônica disponível na Internet, 2006.

Walton, John H. Chronological Charts of The Old Testament. The Zondervan Corporation, Grand Rapids, 1978.

Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Reprinted, 1992.

Enciclopédias e Softwares

__________Biblioteca Digital da Bíblia. Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, 2006.

__________The Lion Handbook to the Bible. Lion Publishing, Herts, 1978.

__________The New Encyclopaedia Brtannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.

Moisés, Os Dez Mandamento, O Livro da Aliança, Deuteronômio, Autoria do Pentateuco, Alta Crítica, Baixa Crítica, Criticismo Bíblico, Hipótese Documentária, Baruque Espinosa, 4 Livro de Esdras,



[1] Flavius Josephus — Flávio Josefo — nasceu em Jerusalém entre 37—38 d.C tendo falecido em Roma entre os anos 100—110 d.C, e cujo nome original era José Ben Matthias era um sacerdote judeu partidário dos Zelotes — partido judeu dos tempos de Cristo, que se opunha à dominação romana, como incompatível com a soberania do Deus de Israel — e que sobreviveu a um dos muitos massacres realizados pelos romanos durante a insurreição que culminou com a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Talvez cansado de tantas guerras e matanças Josefo se entregou ao então general e posteriormente imperador romano Vespasiano. Por causa deste ato os judeus o consideram um traidor. Josefo era um estudioso das tradições e da história do povo judeu. Após ter se entregado a Vespasiano, Josefo serviu no exército romano sob as ordens de Tito, filho de Vespasiano. Após a destruição de Jerusalém e da dispersão dos judeus Josefo tornou-se o historiador oficial do povo judeu por determinação e patrocínio dos romanos. Após alguns anos como historiador, Roma concedeu a Josefo o título de cidadão romano. Suas obras foram: 1) A História das Guerras dos Judeus – escrito entre 75—79 d. C.; 2) Antiguidades dos Judeus – c. 95 d.C.; 3) Contra Ápion, que é uma defesa da religião judaica como existia nos dias de Josefo e contra o paganismo então existente; e 4) Vida de Josefo que é sua autobiografia. Josefo escreveu originalmente em arábico e suas obras foram posteriormente traduzidas para o grego.

[2] Mishná que também pode ser escrito como Mishnah significa em hebraico “estudo repetido” e cujo plural é Mishnayot. O Mishná é a mais antiga e autoritativa coleção e codificação da legislação judaica pós Antigo Testamento. Esta coleção foi sistematizada por inúmeros estudiosos, chamados de “tannanim”, durante um período superior a duzentos anos. Essa codificação assumiu sua forma definitiva no início do século III d.C. pelas mãos do estudioso conhecido como Judah ha-Nasi. O objetivo da coleção encontrada no Mishná era suplementar as leis escritas que estão registradas no Pentateuco. No Mishná podemos encontrar, na forma escrita, a interpretação seletiva de inúmeras tradições que haviam sido preservadas na forma oral, com algumas destas tradições sendo bastante antigas e datando dos dias de Esdras c. 450 a.C.

[3] O Talmude consiste de vastas anotações e comentários feitos ao Mishná. Os estudiosos que produziram estes materiais são chamados de “amoraim”. Existem duas tradições: 1) A primeira produziu o que ficou conhecido como o Talmude Palestino – Talmude Yerushalami — por volta do ano 400 d.C.; 2) A segunda produziu o massivo Talmude Babilônico — Talmude Bavli — por volta do ano 500 d.C. As tradições são completamente independentes. Por ter demorado mais para ser escrito e por ser bem mais extenso, o Talmude Babilônico é mais estimado que o Talmude Palestino. 

[4] De acordo com Umberto Padovani e Luís Castagnola em História da Filosofia, Editora Melhoramentos, São Paulo, 13ª Edição, 1981, o Iluminismo foi um movimento cultural europeu surgido entre a revolução inglesa — c. 1668 — e a revolução francesa — c. 1789. O nome é derivado do seu intento de iluminar, com a razão, o obscurantismo da tradição; a história não constitui uma lenta subida humana para a civilização, mas o desvio de uma condição ideal originária, para a qual a razão deveria levar de novo a humanidade. As fontes principais do Iluminismo estão na filosofia do Racionalismo e do Empirismo. O Racionalismo fornece ao Iluminismo o método crítico, a atitude demolidora da tradição, para instaurar a luz, a evidência, a clareza e a distinção da razão. E o Empirismo contribui para tudo isso proporcionando um procedimento simples a fim de reconstruir toda a realidade por elementos primitivos mediante o mecanismo e o associacionismo.

[5] Dicionário Aurélio Século XXI, versão 3.0, produzido por Lexikon Informática Ltda. São Paulo, 1999. 

[6] Bento de ou Baruque Spinosa nasceu em Amsterdã, na Holanda, em 24 de Novembro de 1632. Era filho de pais judeus portugueses que haviam emigrado de Portugal para a Holanda por causa da maior tolerância religiosa que lá existia. Spinosa assumiu desde muito cedo uma coleção de opiniões muito pouco ortodoxas. Tornou-se panteísta e aos vinte e quatro anos de idade – 1656 – foi solenemente excomungado da comunidade judaica sob a alegação de “praticar e ensinar heresias abomináveis”. Spinosa faleceu aos 21 de Fevereiro de 1677 em Haia, também na Holanda.
 
[7] Livros Pseudoepigráficos são livros pertencentes a uma coleção literária produzida entre 400 a.C. a 100 d.C. que possuem como característica o título ou nome de autor falso.

[8] Adriano — também chamado de Hadriano, sobrinho e sucessor do imperador Trajano. Hadriano comandou o império romano de 117—138 d.C., e foi o responsável pela unificação e consolidação do império. Seu nome de nascença era Publius Aelius Hadrianus e seu nome oficial era Caesar Traianus Hadrianus Augustus. Nasceu em 24 de Janeiro de 76 d.C., na região chamada de Itálica Baetica — provavelmente onde fica a Espanha moderna — e faleceu em 10 de Julho de 138 d.C., em Baeia, perto de Nápoles na Itália.

[9] Xenofontes, poeta grego nascido por volta de 560 a.C. em Colophon na Jônia veio a falecer por volta de 478 a.C. Além de poeta foi também pensador religioso e é reputado por alguns, mas há controvérsias, como o fundador da escola Eleática de filosofia. Esta escola ensinava a unidade de todas as coisas contra outras que ensinavam a diversidade entre as coisas. Esta escola também ensinava que aquilo que vemos é aparente e não real. Aos 25 anos de idade Xenofontes imigrou para as colônias itálicas na Sicília e na Itália meridional.  Viveu viajando cantando como aedo suas próprias composições, das quais alguns fragmentos chegaram até nós.

[10] Júlio César cujo nome em Latim é Gaius Julius Caesar nasceu em 12 ou 13 de Julho do ano 100 a.C em Roma e foi assassinado, também em Roma, em 15 de Março de 44 a.C. Júlio César foi um herói romano bastante celebrado tanto como general quanto como estadista. Conquistou a região da Gália — França Moderna — em longa campanha que se estendeu de 58—50 a.C. Foi também o general vitorioso no conturbado período de guerra civil de 49—46 a.C., e governou, como ditador, no período que vai desde sua vitória na guerra civil até seu assassinato nos famigerados “idos de março” de 44 a.C. Antes de ser assassinado Júlio César estava implementando uma série de reformas políticas e sociais. Um grupo de homens da elite romana, não satisfeitos com as reformas, acabou por se mancomunar para tirar-lhe a vida de uma maneira traiçoeira. Durante seu assassinato teria pronunciado as notórias palavras dirigidas a seu “fiel” amigo Brutus, no momento em que este alvejava Júlio César com um punhal: “até tu, Brutus!”.