quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Dilúvio – Gênesis 7:1 a 9:19.

Já publicamos um outro artigo sobre o fato de o dilúvio narrado na Bíblia ter sido global. Naquele artigo falamos mais do dilúvio do ponto da ciência e o mesmo pode ser acessado através desse link aqui:

http://ograndedialogo.blogspot.com/2012/01/evidencias-de-um-diluvio-global.html

Hoje queremos falar do dilúvio mais da perspectiva bíblica e teológica, bem como antropológica comparando a narrativa bíblica com uma narrativa babilônica: "O Épico de Gilgamés".

Existem na história antiga da humanidade, vários registros acerca de um dilúvio. Entre estes, o mais importante, é uma história procedente da antiga Mesopotâmia conhecida com Épico de Gilgamés. Este texto é parte da coleção que chamamos de ANET e está disponível em diversas línguas, inclusive o português. Neste livro nós podemos ler a história de Gilgamés, provavelmente um personagem histórico e que foi rei da cidade de Uruk, por volta de 2600 a.C. Segundo o relato, Gilgamés se rebelou contra a morte após perder um amigo. Seguindo a narrativa, Gilgamés se encontra com Utnapishtim, que é chamado de o Noé babilônico pelos estudiosos. Este Utnapishtim relata então, a Gilgamés, como foi que ele fez para alcançar a imortalidade quando ouviu acerca de um plano das divindades que pretendiam inundar o mundo. Segundo Utnapishtim, ele conseguiu sobreviver ao dilúvio construindo um grande barco de junco. Seu barco media 54 metros de cumprimento por 54 metros de largura por 54 metros de altura. Era um cubo e independente se poderia flutuar ou não, certamente não devia ser muito estável no meio de uma tormenta. De acordo com Utnapishtim, em suas próprias palavras:

Um Trecho do Épico de Gilgamés

No sétimo dia o navio estava completo. Foi muito difícil colocá-lo na água. Então eles tiveram que mover as tábuas da parte de cima e de baixo, até que dois terços da estrutura estivessem dentro da água. Coloquei dentro do barco tudo o que eu tinha. Coloquei tudo o que tinha de prata; coloquei tudo o que tinha de ouro; tudo o que tinha de seres vivos coloquei dentro dele. Toda a minha família e parentes fiz entrar no navio. As feras do campo, as criaturas selvagens, todos os artesões eu fiz entrar no barco

-Utnapishtim fala a Gilgamés
Épico de Gilgamés Tablete XI – 76 – 85 – ANET 94(1)


Mas Utnapishtim acaba advertindo Gilgamés que este acontecimento, o dilúvio, não pode ser repetido e com isto Gilgamés terá que procurar em alguma outra coisa a possibilidade de encontrar a imortalidade. De fato, o Épico de Gilgamés, relata três testes aos quais ele foi submetido para alcançar a imortalidade, mas Gilgamés fracassou em todas as três tentativas. Apesar de derrotado em sua busca pela imortalidade, Gilgamés se resigna diante da inexorabilidade da morte e acaba por encontrar conforto nas outras coisas que havia alcançado durante sua vida.

Como podemos ver, existem similaridades entre o Épico de Gilgamés com o texto bíblico, mas não existe nenhum tipo de dependência literária entre as histórias. Além disso, as diferenças são muito mais profundas e significativas do que as similaridades, que são apenas superficiais. O contraste mais agudo entre os relatos bíblico e babilônico, pode ser visto no “motivo” para o dilúvio. Enquanto no Épico de Gilgamés o motivo porque as divindades querem destruir os seres humanos, através de um dilúvio, é porque os seres humanos eram muito barulhentos e não deixavam os deuses dormirem, e na realidade, a história é desenvolvida para tentar explicar como se é possível – ou impossível - alcançar a imortalidade. Já no texto bíblico nós encontramos um Deus santo e justo, que “sofre” com a pecaminosidade humana e envia o dilúvio como forma, tanto de julgamento, como de salvação.

Antropologistas têm catalogado entre 250 e 300(2) histórias que falam acerca de:

• Um grande dilúvio ou inundação acontecido em épocas passadas.

• A salvação de umas poucas pessoas através de uma arca ou barco.

• A ordem dada aos que se salvaram para repovoar a terra.

A história acerca de um “dilúvio” é, portanto, bastante familiar. O relato bíblico acerca do dilúvio, porém, é quase que totalmente desconhecido e sofre conseqüências diretas da familiaridade generalizada que existe acerca deste assunto. Inúmeros pré conceitos são introduzidos sobre a narrativa bíblica do dilúvio, turvando, literalmente, as águas do entendimento. A leitura bíblica acerca do dilúvio deveria curar, de uma vez por todas, a estultícia ou estupidez humana e, nos colocar em permanente estado de prontidão acerca, tanto do poder de Deus, como das terríveis conseqüências do pecado e da desobediência a Deus. Se existem duas verdades absolutas que a história bíblica do dilúvio deseja nos ensinar são exatamente estas duas que acabamos de mencionar.

As especulações modernas acerca do dilúvio narrado nas páginas da Bíblia são, apenas, isto mesmo: especulações. Teorias, modelos, teoremas, hipóteses etc., não passam de formulações humanas para tentar explicar algo que nossas mentes finitas são incapazes de compreender. O leitor pode confiar sua própria vida na narrativa bíblica do dilúvio. Por outro lado, o leitor estaria correndo graves riscos se resolvesse confiar sua vida nas especulações humanas acerca do que aconteceu nos dias de Noé.

Já tivemos a oportunidade de falar, mas nunca é demais repetir, acerca de como Deus resolveu dar cabo de toda a humanidade, por causa da corrupção e violência irrestritas que imperavam entre os seres humanos – ver Gênesis 6:9—12. Deus também revelou a Noé o método que iria utilizar para fazer cumprir Sua resolução – ver Gênesis 6:13—21.

Deus ordena Noé a entrar na arca – Gênesis 7:1. Mas antes que pudesse entrar na arca, Noé precisou exercitar fé nas palavras de Deus acerca daquilo que Deus planejava fazer e precisava construir a arca. A fé de Noé é mencionada em Hebreus 11 com estas palavras: “Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé - Hebreus 11:7”. Outras histórias acerca do dilúvio não mencionam nada acerca do exercício da fé, nem acerca da manifesta graça de Deus, como lemos em Gênesis 6:8, 13, 14, 18. Esta é uma verdade constante através das páginas da Bíblia: a salvação é de Deus e é oferecida exclusivamente de graça! – ver Efésios 2:8 – 10. Assim aconteceu com Noé. Ele era um homem justo e íntegro – Gênesis 6:9 - mas não foram estas qualidades que o salvaram e sim a graça de Deus. Noé, como todos os seus contemporâneos, era descendente de pessoas caídas. Mas isto não era uma desculpa aceitável para viver no pecado, pois o Espírito de Deus agia sobre os homens mostrando-lhes a verdade. Pela graça de Deus, Noé havia escolhido “andar com Deus”, em vez de imitar as pessoas ao redor.
A expressão primária da pecaminosidade humana é sua rebelião ou desejo de independência com relação a Deus. Assim, os incrédulos costumam pensar que, mesmo que Deus exista, Ele não se preocupa com os seres humanos, não se interessa nem pelo comportamento, nem pelas crenças que os homens desenvolvem. O autor inclui entre as crenças desenvolvidas pelos homens, o novo xodó dos cientistas, que é representado pela crença no Ateísmo. Hoje estamos percebendo, com uma ênfase cada vez mais urgente a idéia de que, mesmo que Deus exista, Ele não tem nenhuma prerrogativa sobre os assuntos humanos, pois estes mesmos assuntos não Lhe dizem respeito. A verdade, como revelada na Bíblia, é bem distinta da opinião, seja moderna seja da Antigüidade, que os homens têm de Deus. Através do profeta Ezequiel, Deus nos revela o seguinte:

Então, me respondeu: A iniqüidade da casa de Israel e de Judá é excessivamente grande, a terra se encheu de sangue, e a cidade, de injustiça; e eles ainda dizem: O SENHOR abandonou a terra, o SENHOR não nos vê – Ezequiel 9:9.

A mesma verdade, com implicações mais severas ainda, é mencionada por outro profeta que viveu antes de Ezequiel – ver Isaías 29:15 – 16. Deus sabe, Deus vê e Deus age! O motivo porque as intenções malignas que brotam dos corações humanos têm suas chamas elevadas, a ponto de produzir um verdadeiro inferno é, exatamente, a crença desenvolvida pelos seres humanos de que Deus, se Ele existir, não se incomoda com nossos pecados, nem intervém na historia da humanidade para lidar com estes mesmo pecados. E esta atitude, meus amigos, é fatal!

Lendo o texto de Gênesis 6, nós podemos ver que Deus não escondeu seu propósito de Noé. Deus revelou a Noé Sua intenção de dar cabo àquilo que, por si mesmo, já estava completamente liquidado. Juntamente com esta revelação, Deus mostrou a Noé que era também Sua intenção, preservar tanto a Noé como a semente daquele que um dia viria para tornar-se o Salvador dos homens. Deus revelou claramente a Noé, que a destruição viria através de um dilúvio e que a salvação viria, simultaneamente, através de uma arca.

Que Deus Abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

NOTAS:

1. ANET é um acrônimo de “Ancient Near East Texts” - Textos Antigos do Oriente Próximo ou Médio.

2. Genesis and Archaeology. Howard F. Vos, Moody Press, Chicago, 1963.

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