sábado, 28 de janeiro de 2012

Eleição Divina X Determinismo Cego PARTE 3



Atenção esse material é parte de uma série e recomenda-se ao leitor ler todas as partes do mesmo para obter o melhor entendimento desse complexo tema. No final do estudo o leitor encontrará informações acerca de como acessar as outras partes desse estudo.

D. A eleição eterna tanto de Judeus como de Gentios não é um mistério que precisa ser mantido escondido. Nem pode ser tratado como um mero corolário - proposição que imediatamente se deduz de outra demonstrada - das boas novas. Foi Deus mesmo quem estabeleceu o tempo certo para tornar este mistério conhecido, através de uma revelação divina e certas pessoas receberam a missão – apóstolos – de propagar estas verdades. Por esses motivos essas verdades não podem ser suprimidas sob a alegação de serem misteriosas, nem por motivos pedagógicos. O εὐαγγέλιον - euvangélion – evangelho é o anúncio ou publicação do mistério representado pela eleição.

E. A eleição divina não pode ser identificada somente com um evento acontecido em um passado remoto, nem com a vontade eterna de Deus apenas. Pelo contrário, quando lemos Efésios 1:3—14, nós notamos que a eleição que precede o tempo e o espaço do universo criado é apresentada completamente entrelaçada e em conjunto com uma série de atos efetuados por Deus e simultaneamente experimentados pelos seres humanos no tempo e na história. Deus não somente escolhe – elege – antes da fundação do mundo. Ele continua sendo o Deus que escolhe quando Sua graça é derramada nos dias de hoje, quando os pecados são perdoados no tempo presente, quando a revelação abre os olhos das pessoas para enxergarem a verdade divina aqui e agora, e quando somos selados com o Espírito Santo que nos dá vida e nos ajunta como povo de Deus no dia que chamamos hoje. Note como a seqüência é uma só:

• Deus nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual – verso 3.

• Deus nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo – verso 4.

• Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante d’Ele – verso 4.

• Deus, em amor, nos predestinou para sermos adotados em Sua família segundo o beneplácito da Sua vontade – verso 5.

• Deus nos escolheu e nos predestinou para o louvor da glória da Sua graça que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado, i.e., em Jesus Cristo – verso 6.

• Em Cristo, isto é, pelo sangue de Cristo, nós temos a redenção – libertação da condenação e do poder do pecado de sobre nossas vidas - por meio da remissão ou perdão dos pecados – verso 7.

• Deus derramou a riqueza da Sua graça sobre nós de forma abundante em toda a sabedoria e prudência, i.e., de uma forma extravagante e exuberante – versos 7— 8.

• Deus nos desvendou o mistério da sua vontade que era o de fazer convergir na pessoa do Senhor Jesus Cristo, na plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra – versos 9—10.

• Em Cristo Deus nos fez parte daqueles que pertencem a Ele mesmo. Somos Sua herança – verso 11.

• O propósito de Deus, que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, ao nos tornar Sua herança é o de sermos para louvor da Sua glória – verso 12.

• Uma vez que ouvimos o evangelho da salvação e nele cremos fomos selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor – ou garantia - da nossa herança até ao resgate da sua propriedade – versos 13 - 14.

A seqüência acima deixa claro que não podemos separar a eleição divina de todas as outras coisas que Deus fez e faz a favor dos seus eleitos. Somos escolhidos para vivermos como filhos amados de Deus, vivendo para glorificar a Deus publicamente através da nossa própria existência. A eleição, portanto, não é um fato isolado, ela só se concretiza quando todas aquelas coisas determinadas por Deus acontecem àqueles que Deus mesmo quis adotar em Sua família. Assim a eleição é um evento que continua se cumprindo. Quando lemos Efésios 1:3—14 temos que nos lembrar, de modo permanente, que o que está descrito nestes versículos continua a acontecer em nossos dias e assim será até a volta gloriosa do Senhor Jesus!

F. A consciência do fato de que somos eleitos nos é dada juntamente com a consciência de que somos pecadores e de que nossos pecados são perdoados! Eleição também significa ressurreição dentre os mortos. A eleição não é derivada da experiência de que uma parte da humanidade possui uma vida santa, feliz e bem sucedida enquanto outra parte parece estar condenada à uma vida de frustração e miséria. Os eleitos sabem que eles também estão engolfados na mesma morte que, por causa do pecado, atingiu a todos os seres humanos – ver Romanos 5:12; 11:32 e comparar com Efésios 4:17—24; 5:14!

A vida dos eleitos neste mundo não é uma vida fácil acerca da qual podemos concluir como sendo uma vida de completa liberdade de qualquer tipo de ameaça. Na realidade os eleitos vivem uma vida baseada na esperança – ver Efésios 1:14, 18; o próprio apóstolo Paulo ao escrever esta epístola estava encarcerado – ver Efésios 3:1, 13; 4:1; 6:20. Os eleitos experimentam no dia-a-dia as conseqüências do mal, porque muitos entre nós mesmo nos deixamos dominar por praticas impuras e porque também sofremos ataques desferidos por poderosos inimigos espirituais – ver Efésios 5:3—21; 6:10—17.

As coisas que devemos evitar e as que devemos praticar porque somos eleitos – Efésios 5:3—21

Coisas que devemos evitar

•A prática e até mesmo a menção em conversas de coisas impudicas - sensuais – impuras ou relativas a qualquer tipo de cobiças – verso 3.

•Conversações torpes – obscenas e indecentes – nem palavras vãs – conversas à toa – nem chocarrices – zombarias – verso 4.

•Não nos deixar enganar acerca destas coisas - verso 6.

•Não devemos participar na prática destas coisas com aqueles que não conhecem a
Deus – verso 7.

•A prática de tudo que está relacionado com as trevas de onde saímos – verso 8.

•Não devemos participar nas obras infrutíferas das trevas – verso 11. Ver 2 Coríntios 6:14—18.

•Não devemos sequer fazer referência às coisas que os filhos das trevas praticam! – verso12.

•Não devemos nos embriagar com vinho – verso 18.

Coisas que devemos praticar

• Ações de Graças – verso 5 - e palavras boas para a edificação dos ouvintes –
ver Efésios 4:29.

• Devemos viver como filhos da luz praticando a bondade, a justiça e a verdade – verso 9.

• Devemos provar as coisas que sabemos agradam ao Senhor – verso 10.

• Devemos andar como pessoas prudentes e sábias e não como pessoas néscias – insensatas –
verso 15.

• Devemos remir o tempo – usar o tempo que temos para fazer avançar o reino – verso 16.

• Devemos procurar – empenho – compreender qual é a vontade de Deus – verso 17.

• Devemos nos encher com o Espírito Santo – verso 18.

•Devemos falar entre nós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor
com hinos e cânticos espirituais – verso 19.

•Devemos dar sempre graças a Deus por tudo em nome do Senhor Jesus – verso 20.

•Devemos nos sujeitar uns aos outros – verso 21.

Assim, o fato de existirem eleitos não pode ser usado nem como uma colina para se observar a humanidade, como se não fizéssemos parte dela, nem como um travesseiro onde podemos dormir em segurança. Por outro lado, o fato da eleição deve ser uma fortaleza em tempos de provações e tentações. De acordo com J. Horoutunian esta era a verdadeira intenção de Calvino ao ensinar esta doutrina. Calvino queria que a doutrina da eleição funcionasse como um elemento confortador para a pequena, perseguida e sofrida comunidade protestante.

Até aqui mencionamos seis motivos porque a doutrina bíblica da eleição não pode ser confundida com um determinismo cego. Mas ainda não mencionamos, nem destacamos a característica mais importante que existe no texto de Efésios 1:3—14. Qual seria esta característica?

Apesar de já termos visto muitas e preciosas verdades acerca dos muitos aspectos envolvendo a gloriosa verdade da nossa eleição por Deus, o fato mais importante pertinente a esta questão não foi ainda mencionado. Este fato é a verdade de que a nossa eleição foi feita “em Cristo”. Nossa eleição “em Cristo” precisa ser compreendida de maneira apropriada se queremos aprender que a eleição divina não tem nada a ver com determinismo cego.

• O Senhor Jesus Cristo – como Filho encarnado - tem um papel passivo na nossa eleição eterna. Mas é em Jesus que nós temos a epítome ou a síntese do que significa ser amado por Deus. De fato Jesus é chamado de “o Amado” em Efésios 1:6.

• Sendo este Amado tão especial de Deus, Jesus é a revelação ou como disse Calvino, “Jesus é o espelho da revelação”. O mistério da vontade de Deus nos foi desvendado – revelado – através do favor ou beneplácito que Deus propôs em Cristo – ver Efésios 1:8—10. A revelação de que Deus nos deu vida – fomos ressuscitados dentre os mortos – é descrita em Efésios 2:5—6 com os mesmos termos que são usados para descrever a ressurreição do próprio Senhor Jesus – ver Efésios 1:20.

1. Ressuscitando-o – Jesus - dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais – Efésios 1:20.

2. Nós os Cristãos – E juntamente com ele – com Jesus - nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus – Efésios 2:6.

Sermos ressuscitados dentre os mortos juntamente com Jesus é o núcleo central da nossa eleição. Sem a revelação que existe na ressurreição de Jesus não existe nenhum contexto onde nossa eleição possa ser inserida.

• Além do que acabamos de mencionar, o Senhor Jesus é também o instrumento da nossa eleição. É por meio de Jesus Cristo que a adoção de muitos e muitos filhos é alcançada – ver Efésios 1:5. É através do sangue de Jesus que temos a redenção – somos libertados – e temos todos os nossos pecados perdoados ou remidos – ver Efésios 1:7. Note a seguir como é em Jesus ou através de Jesus que podemos e somos completamente e perfeitamente perdoados:

1. Através da Sua vida, Jesus cumpriu de maneira perfeita a todos os mandamentos da Lei de Deus, a nosso favor, de tal maneira que a mesma foi completamente abolida – ver Efésios 2:14—16; Romanos 10:4!

2. Através de Sua morte, Jesus recebeu, a nosso favor, o justo castigo que nossos pecados mereciam – A MORTE – e com isto nos livrou, para sempre, de qualquer tipo de condenação por causa do pecado – ver Romanos 5:20—21; Hebreus 9:12.

3. Através da Sua ressurreição, Jesus quebrou, a nosso favor, o poder que o pecado tem sobre nós de tal maneira que agora não somos mais escravos do pecado – ver Romanos 6:10—14. Por esse motivo devemos andar em novidade de vida – ver Romanos 6:4.

Deus confere e concretiza nossa eleição única e exclusivamente através do Senhor Jesus.

• A comissão ou missão conferida pelo Pai ao Senhor Jesus faz com que Ele seja muito mais do que uma ferramenta impessoal, uma esfera intangível ou um mero agente que cumpre seu papel mecanicamente. Quando analisamos as funções que Jesus executa em relação à nossa eleição, nós podemos perceber claramente que Ele age como um agente que é livre, responsável e ativo. Estes fatos podem ser vistos no Evangelho de João, em versos como:

1. João 5:17 - Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.

2. João 6:70 - Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo.

3. João 13:18 - Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar.

4. Ver ainda João 15:16, 19.

• Tudo isto combina de forma perfeita com Efésios 1:10. Quando a morte de Cristo, que é certamente o ponto mais baixo de sua função passiva relativa à nossa eleição é mencionada, Paulo usa termos ativos como podemos ver a seguir: Efésios 2:14—17:

1. Jesus é a nossa paz, o qual de ambos fez um, tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade – verso 14.

2. Jesus aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz – verso 15.

3. Jesus reconciliou ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade – verso 16.

4. Jesus evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto – verso 17.

Assim temos que a expressão “em Cristo” denota a concentração, o resumo, a revelação e a execução da decisão do próprio Deus, de fazer todas as coisas através do seu מְשִׁיח – Meshiah - Ungido.

A mediação das decisões graciosas de Deus através de uma pessoa, neste caso em Efésios 1, através do מְשִׁיח – Meshiah – Ungido, que os judeus esperavam – ver Efésios 1:12 - é análoga àquelas que encontramos no Antigo Testamento e que descrevem o relacionamento entre Deus, Abraão, o povo de Israel e as outras nações:

• Gênesis 12:1—3. É através de Abraão i.e. de um dos seus descendentes que todas as famílias da terra serão abençoadas.

• Gênesis 18:22—33. Note como Deus aceitou a intercessão de Abraão com relação a Sodoma e Gomorra.

• Deuteronômio 32:18. O povo de Israel se esqueceu do Deus que os fez existir como uma nação independente livrando-os da escravidão a que estavam sujeitos no Egito.

• Isaías 41:8. O povo de Israel alcançou a posição de povo de Deus por causa da amizade que existiu entre Deus e Abraão.

• Isaías 51:1—2. Não resta dúvida de que Deus formou o povo de Israel de Abraão e Sara!

A função exercida por Moisés também nos oferece outra analogia. Deus falava diretamente com Moisés – ver Êxodo 33:11; Deuteronômio 34:10. Além disso, a Moisés foi concedido seu desejo de ver o Senhor – ver Êxodo 33:18—23. É através de Moisés que o povo é libertado da escravidão no Egito e recebe a Lei do SENHOR – ver Êxodo 3:10. Mas sua mais importante função foi certamente, interceder a favor do povo de Israel – Êxodo 32:30—35; Números 14:13—19. Por causa da desobediência do Povo de Israel o SENHOR se indignou também contra o próprio Moisés – ver Deuteronômio 1:37; 3:26; 34:5.

Temos ainda outra analogia no rei Davi. Nos livros de Samuel bem como no livro dos Salmos encontramos narrativas acerca da vida de Davi. Sua vida sintetiza, de forma perfeita, a humilhação e a derrota acachapante que um ser humano pode sofrer, mas também demonstra a salvação e a exaltação que são frutos exclusivos da graça de Deus na vida de uma pessoa. Davi é o adorador por excelência de Deus, especialmente quando louva o SENHOR por preservar-lhe a vida. Não é à toa que Mateus descreve o Senhor Jesus como sendo “filho de Davi, filho de Abraão – ver Mateus 1:1”. Na cultura judaica dizer que alguém era filho de outrem significava muito mais do que apenas indicar ascendência ou descendência. Esta atribuição falava muito mais do caráter das pessoas e era usado mais para descrever o tipo de pessoa que alguém realmente era. Nós podemos ver isto claramente demonstrado na discussão entre Jesus e os Judeus como encontrada em João 8:31—59. Note como é o caráter que caracteriza a identidade e não tanto a ascendência ou descendência! Era o caráter dos judeus que os fazia se tornarem “filhos do Diabo” conforme Jesus apontou em João 8:44.

As pessoas do Antigo Testamento que Deus escolheu, abençoou, conduziu e salvou são chamadas no Novo Testamento de “figuras e sombras” – ver Hebreus 8:5; 10:1. O apóstolo Paulo nos diz que o próprio Adão prefigurava aquele que haveria de vir – ver Romanos 5:14. De fato, para Paulo tudo o que havia sucedido aos judeus durante os dias do Antigo Testamento aconteceram como exemplo para nós e foram escritos para a nossa advertência – ver 1 Coríntios 10:11.

Em Efésios capítulo 1 o apóstolo Paulo não cita textualmente nenhum versículo do Antigo Testamento, seja para justificar seja para ilustrar suas afirmativas acerca da nossa eleição eterna da parte de Deus e do tempo quando estas coisas deveriam se concretizar. Mas o capítulo está cheio de alusões e outros elementos retirados diretamente do Antigo Testamento. As figuras bíblicas que mencionamos anteriormente – Abraão, Moisés e Davi – e a função que elas tiveram no relacionamento de Deus com o povo de Israel e com as outras nações, nos oferecem uma compreensão alternativa à expressão “em Cristo”. Mas esta interpretação alternativa é bem diferente daquela representada pelos conceitos místicos ou das múltiplas esferas como vemos apresentada na “visão de Hermes1”.

Quando lemos Efésios 1:1—2 nós podemos notar que a expressão “fiéis em Cristo Jesus” descreve o relacionamento de Deus com toda a congregação dos santos e não com indivíduos. Eleição “em Cristo” precisa ser entendida como eleição como povo de Deus. Somente como membros da comunidade que perfaz a totalidade do povo de Deus é que nós, como indivíduos, podemos compartilhar dos benefícios da escolha graciosa de Deus. Ou seja, no processo de eleição o indivíduo é irrelevante, ao passo que a comunidade é tudo!

Podemos então concluir esta parte que trata da Eleição Divina X Determinismo Cego com o que segue.

Existe uma última e decisiva distinção entre a Eleição Divina que está sendo louvada em Efésios 1 e a crença fatalística em um determinismo Cego baseado em um decreto absoluto. Se a pessoa do Senhor Jesus Cristo é o objeto e o assunto, por excelência, do processo da Eleição Divina; se Ele é o segredo revelado e o instrumento pelo qual a Eleição Divina é executada; e, se o Senhor Jesus Cristo representa todos os eleitos então, todas as noções de uma vontade pré-fixada da parte de Deus, são completamente inadequados e contrárias ao sentido de Efésios 1. A Eleição Divina não consiste da criação de um esquema que divide a humanidade criada em dois campos opostos. Pelo contrário, a Eleição Divina é um relacionamento de amor de pessoa-a-pessoa, que existe entre o Pai e o Senhor Jesus Cristo e que é revelada somente através dos eventos que manifestam este mesmo relacionamento – ver João 1:18; 3:35; 4:23; 5:18—23, 26, 37; 6:27, 32, 46, 57; 8:18, 28, 49, 54; 10:15, 17—18, 25, 29—30, 36—38; 12:49; 13:3; 14:6—13, 16, 21, 23—24, 26; 15:1, 9—10, 23, 26; 16:15, 27—28, 32 e todo o capítulo 17.

A Eleição Divina não pode ser, como de fato não é, nem uma prescrição nem uma tabela a ser rigorosamente seguida. A Eleição Divina não é um decreto absoluto porque está diretamente relacionada ou é relativa ao Filho de Deus, Sua missão, Sua morte, Sua ressurreição. O amor que Deus, o Pai, nutre pelo Seu מְשִׁיח – Meshiah – Ungido não pode, em hipótese nenhuma, ser legislado nem ser fixado em um livro ou manual! É uma questão que pertence ao coração de Deus! Quando falamos de esquemas e planos estamos nos referindo a situações que precisam ser cumpridas de acordo com o que está estabelecido. Mas quando consideramos a vida do Senhor Jesus é bem evidente que ele não estava seguindo um plano previamente traçado que era completamente independente das situações que o cercavam! A única paixão que verdadeiramente consumia o Senhor Jesus era servir ou fazer, livremente e voluntariamente, a vontade do Pai – ver João 4:34.

Alguém já disse que um deus que já determinou previamente todas as coisas em seus mínimos detalhes é um deus que pode se aposentar ou morrer! A presença de um deus desta categoria não é mais necessária. Mas o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é o Deus que revela Seu amor e que governa através do Seu Filho, acompanha atentamente os passos do Filho, ouve Suas orações, vê Sua agonia no Jardim do Getsêmani e na Cruz do Calvário, ressuscita-O dentre os mortos e derrama do Seu Espírito Santo sobre muitos. O Pai não permite que o sangue do Seu filho seja derramado em vão – note como o Pai protegeu o Filho da tentativa de Herodes quando Jesus era ainda apenas uma criança! – ver Mateus 2:16—18.

A expressão “em Cristo” em Efésios 1 bem como a ênfase que é colocada sobre a pessoa do Senhor Jesus Cristo com relação a Deus, o Pai, e aos outros seres humanos revelam o caráter exclusivo da Eleição Divina. Ela só é possível porque é “em Cristo”!

Efésios 1 é um testemunho de que existe um Deus vivo que é Pai, Filho e Espírito Santo – note como os três são mencionados de maneira enfática nos versos 3 a 14 de Efésios 1. Não existe neste capítulo nenhum traço de um esquema fatalístico, seja ele de dupla predestinação, seja de qualquer outra forma de determinismo2.

A parte 1 desse estudo poderá ser encontrada aqui:

http://ograndedialogo.blogspot.com/2012/01/eleicao-divina-x-determinismo-cego.html

A parte 2 desse estudo poderá ser encontrada aqui:

http://ograndedialogo.blogspot.com/2012/01/eleicao-divina-x-determinismo-cego_28.html

Que Deus abençoe a todos.

Irmão Alex.

NOTAS:

1. Ver no final desse trabalho o apêndice A onde a Visão de Hermes é descrita.

2. O autor gostaria de agradecer ao professor Markus Barth a contribuição generosa na discussão referente à nossa eleição da parte de Deus contraposta a um determinismo cego ou mesmo de dupla predestinação como preconizado por muitos teólogos evangélicos, inclusive João Calvino e Teodoro Beza.

Apêndice A

A história aponta de maneira muito objetiva para uma lenda egípcia conhecida como “A Visão de Hermes”. De acordo com o historiador francês e pesquisador das religiões da Antiguidade, Édoaurd Schuré, esta visão “não estava escrita em papiro algum, apenas existia marcada em sinais simbólicos nas estrelas pintadas na cripta secreta e só era conhecida do profeta”. A sua explicação era transmitida de pontífice para pontífice.

Apesar de não sermos iniciados nos mistérios de Osíris aqui vão porções da “Visão de Hermes” que nos ajudam a compreender o entendimento que o mundo antigo tinha a respeito do céu ou dos céus.

“Em um certo dia, Hermes adormeceu, após ter meditado sobre a origem das coisas. Um pesado torpor tomou o seu corpo; mas, à medida que o corpo entorpecia o seu espírito alava-se nos espaços.

Então, afigurou-se-lhe que um ser imenso, sem forma determinada, o chamava pelo seu nome.

Hermes: Quem és tu? Pergunta-lhe aterrorizado.

Osíris: Eu sou Osíris, a Inteligência suprema, que tudo posso desvendar. O que desejas?

Hermes: Descobrir a origem dos seres, ó divino Osíris, e conhecer Deus.

Osíris: Serás satisfeito.
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Hermes: ...faz-me ver a vida dos mundos, o caminho das almas, de onde vem o homem e para onde vai.

Osíris: Que tudo se faça segundo o teu desejo.

Hermes torna-se mais pesado que uma pedra e rola através dos espaços... Finalmente vê-se no cimo de uma montanha... os seus membros pareciam pesar-lhe como se fossem de ferro.

Osíris: Ergue os braços e olha!

Então o iniciado viu um espetáculo maravilhoso passado no espaço infinito, no céu estrelado que o envolvia em sete esferas luminosas. De um só olhar, Hermes abrangeu os sete céus, dispostos sobre a sua cabeça como sete globos transparentes e concêntricos de que ele ocupava o centro sideral. O último era cingido pela Via Láctea. Rolava, em cada uma dessas esferas um planeta acompanhado de um gênio de forma, sinais e luz dessemelhantes. Enquanto Hermes deslumbrado contemplava a sua floração esparsa e os seus movimentos majestosos, a Voz dizia-lhe:

Osíris: Olha, escuta, e compreende. Tu vês as sete esferas de toda a vida. Realiza-se através delas a queda das almas e a sua ascensão. Os sete Gênios são os sete raios do Verbo-Luz. Cada um deles mantém uma esfera do Espírito, uma fase da vida das almas. O mais próximo de ti é o Gênio da Lua, de sorriso inquietante e coroado por uma foice de prata. Preside aos nascimentos e às mortes. Ele desagrega as almas dos corpos e atrai-as com os seus raios. Acima dele o pálido Mercúrio indica o caminha às almas descendentes e ascendentes com o seu caduceu1, que encerra a Ciência. Mais acima, é a brilhante Vênus, que guarda o espelho do Amor, em que as almas por sua vez se esquecem e reconhecem. Mais alto, o gênio do Sol ostenta o facho triunfal da eterna Beleza. Mais alto ainda, Marte brande o gládio da Justiça. Entronizado sobre a esfera azulada, Júpiter empunha o cetro do poder supremo, que é a inteligência divina. Nos confins do mundo, sob os signos do Zodíaco, Saturno sustém o globo da sabedoria universal.

Hermes: Eu vejo, as sete regiões que compõem o mundo visível e invisível: vejo os sete raios do Verbo-Luz, do Deus único, que as atravessa e por eles a governa. Mas, ó meu mestre, como se realiza a viagem dos homens através de todos os mundos?

Osíris: Vês uma semente luminosa cair das regiões da Via Láctea na sétima esfera? São germens de almas. Elas vivem como vapores ligeiros na região de Saturno, felizes, sem cuidados e não tendo consciência da sua felicidade. Mas, caindo de esfera em esfera, revestem invólucros cada vez mais pesados. Em cada encarnação adquirem um novo sentido corporal, conforme o meio em que habitam. A sua energia vital aumenta; porém, à medida que entram em corpos mais espessos, vão perdendo a recordação da sua origem celeste. Assim se realiza a queda das almas, que vêm do divino Éter. Cada vez mais cativas da matéria, cada vez mais embriagadas pela vida, elas precipitam-se como uma chuva de fogo, com estremecimentos de volúpia, através das regiões da Dor, do Amor e da Morte até à sua prisão terrestre, onde tu próprio gemes retido pelo centro ígneo da terra e onde a vida divina te parece um sonho em vão”.

Esta era a visão que o mundo antigo tinha dos céus. Tudo muito bem “explicadinho” para que Hermes não se perdesse em sua viagem astral. Essas interpretações, apesar de visivelmente fantasiosas, continuam presentes nos nossos dias em todas as formas de espiritismo2 que continuam ensinando as mesmas antigas “ficções” de que os seres humanos evoluem para baixo e para cima através de sucessivas reencarnações através do espaço sideral.

OUTROS ESTUDOS DESSA SÉRIE PODERÃO SER ENCONTRADOS NOS LINKS ABAIXO:

Parte 1

Parte 2

Parte 3 

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no facebook através do seguinte link:


Desde já agradecemos a todos.

NOTAS

1. Bastão com duas serpentes enroscadas e com duas asas na extremidade superior - Insígnia do deus Mercúrio. Esta insígnia, a partir do século XVI, foi adotada como símbolo da Medicina.

2. O espiritismo está presente não somente nos ensinos chamados herméticos ou da religião do deus Mitra, mas pode ser também encontrado entre os gregos nas obras do matemático Pitágoras de Samos, do filósofo Platão de Atenas, em todas as religiões originadas da Índia e na sua versão moderna inventada por Hippolyte-León-Denizard Rivail que se autodenominava como a reencarnação de um poeta celta chamado Allan Kardec. Outras religiões como a Teosofia de Helena Petrovna Blavatsky também capitalizam em cima do espiritismo egípcio, indiano e Kardecista. Mesmo religiões que alegam ser cristãs, como o Adventismo do Sétimo Dia e o a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que é conhecida como igreja Mórmon possuem também seus toques de espiritismo.

2 comentários:

  1. Muito claro!Alex.A eleição e salvação EM Jesus Cristo.Coisas que devemos evitar...nunca é demais lembrar.Também agradeço a você,Professor.Abraços,XP

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    1. Obrigado você,

      Por tomar do teu tempo para ler e ainda comentar de forma tão generosa.

      Grande abraço,

      irmão Alex

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