terça-feira, 21 de novembro de 2017

Gênesis — Estudo 055 — A APROPRIAÇÃO DE GÊNESIS 11 PELO NOVO TESTAMENTO


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Este estudo é parte de uma Análise do Livro do Gênesis. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da História Primeva da Humanidade. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo. 

O Livro do Gênesis

O Princípio de Todas as Coisas

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ        
             Eretz   ha ve-et    Hashamaim  et       Elohim        Bará         Bereshit
            Terra  a      e          céus      os             Deus         criou       princípio No
                                                                                                                            Gênesis 1:1
CONTINUAÇÃO

XIII — A Apropriação de Gênesis 11 pelo Novo Testamento.

A. Gênesis 11:1—9 e Lucas 14:28—30.

Existem no Novo Testamento muitos textos que tratam de edificações e dos processos envolvidos nos mais diversos tipos de construções. Mas existe somente um texto em todo o Novo Testamento que trata da construção de uma πύργον púrgon — torre. Esse texto é Lucas 14:28. Creio que todos nós podemos aceitar, de forma pacífica, que um dos propósitos porque Jesus ensinou esta parábola foi indicar a necessidade que aqueles que desejavam ser Seus discípulos, tinham de avaliar o custo exato de tal decisão. Mas existem muitas outras passagens em todo Novo Testamento que desafiam tal interpretação. Essas são as passagens que nos falam acerca de decisões de fé como foi o caso do chamamento dos irmãos Simão e André e Tiago e João — ver Marcos 1:16—20. Note como esses irmãos não pararam para calcular o custo e sim creram nas palavras de Jesus e o seguiram imediatamente.

A história narrada por Jesus em Lucas 14:29—30 dá ênfase no fato de que a torre inacabada chama a atenção de toda uma multidão de curiosos que, ao passar e ver a torre naquele estado, aproveitam para zombar da mesma e de seus construtores. Em Gênesis 11 a construção da torre tem início com a clara intenção de zombar de Deus, pois seus construtores querem fazer notável o próprio nome. Mas os papeis são completamente revertidos naquela história. É Deus, quem em última instância, dá a última risada porque é Ele quem zomba dos patéticos seres humanos ao confundir as línguas e causar a paralisação da construção da torre e da cidade chamadas de Babel.

Mas em Gênesis 11 Deus não apenas confunde as línguas, Ele também dispersa os seres humanos que estavam planejando zombar da ordem de Deus que havia dito aos homens que se espalharem sobre a face da Terra. É possível que Maria no seu cântico registrado em Lucas 1:46—55 estivesse se referindo a este mesmo evento — da torre e da cidade de Babel — ao dizer: “Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos — verso 51”. Como dissemos é possível, mas muito pouco provável. Mas que a frase se encaixa perfeitamente, disso não temos a menor dúvida.
   
2. Gênesis 11:26—32 e Atos 7:4.
                    
A cronologia de Gênesis 11 é como segue:

1. Tera tinha 70 anos quando começou a gerar filhos e ele gerou a Abrão, a Naor e a Harã. Seria Abrão, necessariamente, o mais velho? Ou ele é mencionado em primeiro lugar porque era o mais importante — ver Gênesis 6:10 e comparar com 9:20—24.

2. Tera morre em Harã com a idade de 205 anos — ver Gênesis 11:32.

3. Se Abrão nasceu quando Tera tinha 70 anos então ele tinha 135 quando seu pai veio a falecer.

4. Gênesis 12:4 nos diz que Abrão partiu de Harã quando tinha 75 anos.

Se não levarmos em conta nenhum outro texto, a cronologia acima não apresentaria nenhum tipo de dificuldade. Do que alistamos acima poderíamos concluir que Abrão teria saído de Harã 65 anos antes da morte de seu pai. Todavia, o texto de Atos 7:4 diz de forma explícita o seguinte:

Então, saiu da terra dos caldeus e foi habitar em Harã. E dali, com a morte de seu pai, Deus o trouxe para esta terra em que vós agora habitais.

Existem várias hipóteses visando solucionar essa dificuldade. Não que ela represente alguma mudança fundamental na História da Salvação como contada pela Bíblia, mas como estudiosos da Palavra de Deus, queremos nos empenhar no máximo da nossa capacidade para entender aquilo que está escrito.

As três interpretações mais comuns acerca da compreensão que Estevão tinha da vida dos patriarcas são as seguintes:
1. A primeira explicação está baseada na leitura do Pentateuco Samaritano que diz que Tera faleceu com 145 anos contra os 205 registrados pelo Texto Massorético[1]. A LXX diz que Tera teria vivido 205 anos apenas em Harã, sem contar seus anos em Ur dos Caldeus. Argumentam os defensores desta hipótese que Estevão estava fazendo referência ao texto do Pentateuco Samaritano. Com isso a dificuldade desaparece de forma absoluta. Isto se deve ao seguinte cálculo: Tera gerou Abrão quando tinha 70 anos e veio a falecer quando tinha 145 anos. Na morte de Tera Abrão estaria, portanto, com 75 anos que é exatamente a idade que ele tinha quando partiu de Harã para a terra de Canaã. Desta maneira, nos dizem os defensores dessa possibilidade, Estevão tinha uma compreensão da cronologia dos patriarcas que estava baseada na leitura do Pentateuco Samaritano.

2. Uma segunda possibilidade é na realidade uma variação da anterior. De acordo com os proponentes dessa segunda alternativa existiam nos dias de Estevão inúmeras famílias ou tradições de manuscritos. Para esses o Pentateuco Samaritano é apenas um dos muitos documentos que se originaram daquilo que os estudiosos chamam de Texto Palestino e que, além de serem muito abundantes nos dias de Estevão divergiam de forma considerável do Texto Massorético e do texto da Septuaginta. O autor judeu Filo de Alexandria[2] também cita o fato de que Tera teria morrido aos 145 anos. Sendo judeu mesmo e não samaritano, é pouco provável, senão impossível que ele tivesse usado alguma vez uma cópia da Torá — os cinco livros de Moisés — que não estivesse baseada em uma tradição genuinamente judaica. Desta maneira é possível que existissem também cópias judaicas que mencionavam todos os anos de Tera como sendo 145 anos.

3. Uma terceira possibilidade procura harmonizar as informações de Gênesis 11 e Atos 7 sem apelar para o uso de nenhum outro texto que vá além do Texto Massorético. A pressuposição básica desta possibilidade está baseada no fato de que o texto de Gênesis 11:26 não afirma, de forma explícita, que Tera tinha exatos 70 anos quando gerou a Abrão. Pelo contrário, o texto de Gênesis 11 nos diz que Tera tinha 70 anos quando começou a gerar filhos. Teria sido Abrão seu primogênito? Ou será que Abrão é mencionado primeiro porque veio a ser o mais importante dos três irmãos? Como não podemos saber a ordem exata em que os irmãos nasceram, nem quando exatamente eles nasceram, podemos assumir, para efeito da nossa discussão, que Abrão tivesse nascido quando Tera estava com 130 anos. Desta maneira quando Terá morreu aos 205 anos, Abrão teria os 75 anos mencionados em Gênesis 12:4. 

Outros artigos acerca dO LIVRO DE GÊNESIS
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002 — Introdução ao Gênesis — Parte 2 — Teorias Acerca da Criação
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006 — Introdução ao Gênesis — Parte 6 — O DEUS CRIADOR
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008 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 1 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 1
009 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 8A – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 2
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012 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 11 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quinto Dia
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016 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 15 — GÊNESIS 2B
017 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 16 — GÊNESIS 3A
018 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 17 — GÊNESIS 3B
019 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 18 — GÊNESIS 3C
020 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Livre Arbítrio — Parte 19
021 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Dois Adãos — Parte 20
022 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Era Pré-Patriarcal e a Mulher de Caim — Parte 21
023 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, O Primeiro Construtor de Uma Cidade — Parte 22
024 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Assassino e Fugitivo da Presença de Deus — Parte 23
025 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Primeiro Construtor de uma Cidade e Pseudo-Salvador da Humanidade — Parte 24
026 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Conclusão Acerca de Caim — Parte 25
027 — Estudo de Gênesis — Gênesis 5 — Sete e outros Patriarcas Antediluvianos — Parte 26
028 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Perversidade Humana, Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens— Parte 27A
029 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — OS Nefilim e os Guiborim — Os Gigantes e os Valentes — Parte 27B
030 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Maldade do Coração Humano— Parte 27C.
031 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Corrupção Humana Sobre a Face da Terra e Deus Pode se Arrepender? — Parte 27D.
032 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28A.
033 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28B.
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052 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 004
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054 — Estudo de Gênesis — A GENEALOGIA DOS SEMITAS

055 — Estudos de Gênesis — A APROPRIAÇÃO DE GÊNESIS 11 PELO NOVO TESTAMENTO

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[1] - Para uma discussão acerca do desenvolvimento do texto do Antigo Testamento o autor sugere a leitura do primeiro capítulo desta série intitulado “O Que é o Antigo Testamento?”.

[2] - Filo Judaeus também chamado de Filo de Alexandria nasceu entre 15—10 a.C na cidade de Alexandria no Egito, onde também faleceu entre 40—50 a.D. Esse indivíduo era um filósofo judeu que falava o grego e que veio tornar-se o maior expoente do Judaísmo Helenístico. Em seus escritos nós podemos encontrar a mais cristalina apresentação de como o judaísmo se desenvolveu na diáspora iniciada com o cativeiro babilônico. Ele foi o primeiro judeu a buscar uma síntese entre a fé baseada na revelação divina com a razão baseada no raciocínio filosófico — é possível que Platão foi o primeiro gentio a tentar o mesmo, mas de forma menos evidente. Por sua coragem e visão Filo ocupa um lugar bastante privilegiado na História da Filosofia. Muitos cristãos, de eras posteriores, chegaram a considerá-lo como o precursor da Teologia Cristã.

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