A primeira vez que ouvi falar sobre tsunamis eu estava na grande ilha do Havaí e o guia turístico estava nos explicado o desastre provocando por uma onda gigantesca que havia destruído boa parte da ilha. Apesar do acontecimento a que ele se referia ter ocorrido há trinta ou mais anos, ainda era possível ver algumas marcas deixadas pela fúria das águas.
A segunda vez que ouvi falar sobre tsunamis foi em Dezembro de 2005 quando a violenta onda matou 200.000 pessoas na Indonésia e ilhas vizinhas, chegando a causar destruição até no leste do continente africano. Mas esse tsunami não causou apenas danos materiais e perda massiva de vidas. Ele também causou a perda da fé em muitas pessoas, inclusive no pastor assembleiano Ricardo Gondim que, depois daquele evento fez reiteradas afirmações de que não podia mais acreditar no Deus do Antigo Testamento como a mesma pessoa que se manifesta no Novo Testamento, como o pai do Senhor Jesus Cristo. Para confirmar o que estou dizendo basta ler algumas coisas que ele escreveu de lá prá cá, especialmente o artigo em que ele tratou do terremoto que abalou o Haiti em Janeiro de 2010. Por ser pregador influente e formador de opinião, Ricardo arrastou uma multidão atrás dele.
É verdade que o Deus ETERNO, revelado no Antigo Testamento é, como diz o Salmista, um Deus que é justo juiz, e um Deus que sente indignação todos os dias – ver Salmos 7:11. Muitos indivíduos que insistem em se classificar como cristãos não aceitam essa verdade. De forma piegas nos dizem: “Deus é amor”. De fato Deus é também amor, mas isso não altera em nada a afirmação do salmista, que devemos notar, está até bastante amenizada já que a expressão hebraica זֹעֵם – zo`em – pode representar, além de “indignado”, alguém que está “furiosamente indignado”. E o motivo de toda essa indignação são os nossos pecados. É tolice pensarmos que os seres humanos são “bonzinhos” e que não merecem esse tipo de tratamento. NÃO SOMOS BONZINHOS, SOMOS TODOS GRANDES PECADORES.
Ver nosso arrtigo acerca da "Depravação Total do Ser Humano" por meio desse link aqui:
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2014/03/depravacao-total.html
Mas o Antigo Testamento nos ensina algo mais. Ele diz que Deus: Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades – Salmos 103:10. E sabe porque Deus faz isso? Por que ele não nos trata da forma como realmente merecemos ser tratados pela indignação que nosso pecados causam em Sua santa pessoa? É porque: O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira – Salmos 103:8—9.
Outra passagem, ainda do Antigo Testamento, que confirma o que estamos dizendo é Êxodo 34:5—7, onde lemos:
Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR. E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!
Esse é o Deus do Antigo Testamento que é também severo juiz e que, de vez em quando, quando a medida da iniquidade de alguém ou de um povo atinge o nível predeterminado por Deus, o Todo Poderoso exerce seu pleno direito de fazer justiça trazendo sobre a própria cabeça do pecador toda a indignação que lhe foi feita (a Deus) – ver Gênesis 15:13—16, especialmente a frase que diz: porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus. Sim, Deus é paciente e longânimo, mas ele não é nem tolo nem cruel como alguns desejam. As advertências do Antigo Testamento são repetidas no Novo Testamento. O homem é responsável por seus atos e nossos pecados no tempo presente continuam a encher Deus de indignação – Gálatas 6:7 diz: Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.
Mas existe uma passagem no Antigo Testamento, para a qual desejo chamar a atenção do leitor, porque é nela que vamos encontrar o verdadeiro motivo porque Deus não varre a todos nós de uma vez da face do planeta Terra. Não quero que ninguém pense, nem por um instante sequer, que somos melhores do que qualquer pessoas que perdem suas vidas em acidentes ou desastres naturais – ver Lucas 13:1—5. Somos todos merecedores de igual fim. Mas é importante entendermos que Deus é quem mantém pleno controle sobre nossas vidas e sobre tudo isso que chamamos de “acidentes naturais” e que muitas seguradoras chamam, de forma tão apropriada, de “atos de Deus”. Por favor, considere cautelosamente as palavras a seguir, que nos falam acerca das misericórdias de Deus e como elas nos preservam vivos, antes de cometer uma blasfêmia contra Deus e proferir palavras que soem como verdadeiras abominações aos ouvidos do Deus ETERNO e Todo Poderoso.
O profeta Jeremias nos deixou um excelente poema falando acerca das misericórdias de Deus em Lamentações de Jeremias capítulo 3. No início do capítulo 3 de Lamentações de Jeremias, o profeta está refletindo sobre a destruição de Jerusalém e o desterro do povo judeu para a Babilônia do rei Nabucodonosor. Pelas palavras dos versos 19 e 20:
Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do veneno.
Minha alma, continuamente, os recorda e se abate dentro de mim.
Jeremias nos indica que a dor e a angústia retornavam todas as vezes que ele se lembrava de suas tribulações e suas reflexões eram tão deprimentes quanto suas perspectivas. Talvez como Jó, o profeta estivesse pensando em “esquecer” suas aflições:
Se eu disser: eu me esquecerei da minha queixa, deixarei o meu ar triste e ficarei contente ainda assim todas as minhas dores me apavoram, porque bem sei que me não terás por inocente - Jó 9:27—28.
Mas não adiantava. Ele se lembra em todas as ocasiões – “minha alma continuamente os recorda” – verso 20 - da sua “aflição, do pranto, do absinto e do veneno” – ver verso19. É com estas palavras que ele se refere, de forma enfática, acerca da sua aflição. Era esta a maneira como ele percebia suas dores e como se sentia ao pensar nelas. Seus pensamentos se transformavam na própria miséria. Jeremias bem sabia que tudo pelo qual ele e o povo de Israel estavam passando era fruto do pecado e é exatamente o pecado que torna o cálice da aflição em um cálice de amargor profundo. É uma pena que até mesmo os crentes do século XXI estejam perdendo essa consciência, com alguns querendo, inclusive, colocar a culpa em Deus. Quanta vergonha! Que horror!
O profeta Jeremias se lembrava que os cativos na Babilônia deviam ter bem vívidas em suas mentes as cenas do cerco, do incêndio e da destruição de Jerusalém. E certamente, como o próprio profeta, eles deviam estar se lembrando de Sião, pois era impossível esquecer Jerusalém:
Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria - Salmos 137:1, 5—6.
A alma do profeta não estava somente abatida por causa da aflição em que ele se encontrava em profundo amargor – “absinto e veneno” – mas também por causa do pecado. Da mesma maneira nós devemos humilhar nossos corações quando Deus, em Sua providência, permite que sejamos afligidos ou nos aflige por causa dos nossos pecados, como a situação presente em vários lugares do mundo. Quando temos esta atitude nós podemos nos aperfeiçoar pelas correções do passado e do presente e evitarmos as futuras.
A partir do verso 21, entretanto, as nuvens escuras começam a se dissipar e podemos enxergar o céu azul novamente. A queixa do profeta desde o começo do capítulo 3 e até o verso 20 era realmente muito deprimida e deprimente. A tristeza e a melancolia podem fazer o coração arrebentar. O profeta sabe disso e em vez de se entregar completamente à melancolia, ele prefere resgatar seu coração, livrando-o da tristeza imensa, trazendo à memória o que me “pode dar esperança” – ver verso 21. As coisas que podem dar esperança ao profeta não são, neste contexto, as coisas antigas e passadas e sim as que ele espera que virão. Muitas vezes nossos corações estão cheios de tristeza e de aflição e nos sentimos perdidos e esquecidos. Mas Deus, em Sua graça infinita, nos desperta pela leitura da Sua palavra, por uma palavra amiga ou por uma lembrança e nos renova em esperança impedindo-nos de mergulharmos de cabeça no fundo do poço. Vamos juntos ver a que coisas o profeta poderia estar se referindo quando disse:
Quero trazer à memória o que me pode dar esperança – Lamentações de Jeremias 3:21.
I. Em primeiro lugar o profeta reconhece que mesmo que as coisas estejam ruins, é somente pela graça de Deus que elas não estão piores. E nós sabemos que as situações podem ser sempre piores. Nós somos afligidos pela vara do Senhor, mas é por causa das misericórdias do Senhor que não somos consumidos:
As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim – Lamentações de Jeremias 3:22.
Quando estamos enfrentando problemas e dificuldades nós devemos, para o encorajamento da nossa fé e esperança, observar quais são os benefícios que tal situação nos traz, além do mal evidente, que é mais fácil de perceber. A situação está ruim, mas poderia ser bem pior e com esta possibilidade temos o outro lado, de que a situação pode ser melhor. Note as coisas que o profeta nos ensina:
• Ele reconhece o fluxo constante das misericórdias do Senhor. É por causa deste fluxo constante, que nós não somos consumidos. Somos como a sarça ardente, pegando fogo, mas não consumidos. Como igreja, independente das aflições pelas quais temos que passar, temos a certeza que estaremos aqui até o final dos tempos, mas não devemos nunca nos esquecer que estamos aqui apenas de passagem. O apóstolo Paulo resumiu bem esta verdade ao dizer:
Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo - 2 Coríntios 4:7—10.
• As misericórdias fluem de uma única fonte: Deus. Note a forma plural “misericórdias”, que denota tanto abundância como variedade. Deus é uma fonte inesgotável de misericórdias. É por este motivo que ele é chamado de: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o PAI DE MISERICÓRDIA E DEUS DE TODA CONSOLAÇÃO – 2 Coríntios 1:3. Todos nós somos devedores, diariamente, à misericórdia de Deus pelo fato de não sermos consumidos.
II. Em segundo lugar, o profeta, na sua profunda dor e aflição, ainda pode experimentar a ternura da compaixão divina e a verdade da promessa de Deus. É certo que ele em outros momentos se queixou do fato de Deus não ter demonstrado piedade, como quando disse:
Afastou a paz de minha alma; esqueci-me do bem. Então, disse eu: já pereceu a minha glória, como também a minha esperança no SENHOR – Lamentações de Jeremias 2:17—18.
Mas agora ele se corrige e reconhece:
• Que as misericórdias do Senhor não falham por causa da fidelidade de Deus. Mesmo em tempos difíceis quando parece que Deus bloqueou Suas misericórdias elas continuam, de fato, fluindo. Os rios das misericórdias de Deus correm cheios e transbordantes e nunca estão secos. Caso o suprimento do dia anterior alcance um nível baixo, o profeta tem certeza de que as misericórdias do Senhor serão completamente renovadas pela manhã. A cada manhã um novo, completo e suficiente suprimento estará disponível. No meio das suas aflições Jó disse que Deus visita os filhos dos homens a cada manhã:
Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado, e cada manhã o visites, e cada momento o ponhas à prova? - Jó 7:17—18.
De maneira semelhante o profeta Sofonias reconhece que Deus traz à luz Seu juízo manhã após manhã, mas o ímpio não sabe reconhecer seus erros:
O SENHOR é justo, no meio dela; ele não comete iniqüidade; manhã após manhã, traz ele o seu juízo à luz; não falha; mas o iníquo não conhece a vergonha - Sofonias 3:5.
Quando as coisas nas quais confiamos nos são tiradas o Senhor permanece constante, manhã após manhã.
• Que a fidelidade do Senhor é grande. Mesmo quando parece que o Senhor quebrou Sua aliança conosco, ela está em plena força. Mesmo que Jerusalém esteja em ruínas, a verdade do Senhor dura para sempre. Não importa que tipo de dores e problemas nós tenhamos que enfrentar, nós não podemos nestes momentos entreter, nem por um segundo, pensamentos errados acerca de Deus e sim manter firme nossa posição de que Ele é compassivo e fiel:
As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade – Lamentações de Jeremias 3:22—23.
Tu reduzes o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens - Salmos 90:3.
III. Em terceiro lugar o profeta se lembra que Deus – o Deus do Antigo Testamento me permitam dizer - é e sempre será a alegria toda-suficiente do Seu povo. Isto ocorre porque o povo de Deus O tem escolhido e depende – espera - que Deus seja exatamente isto:
A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele – Lamentações de Jeremias 3:24.
Assim temos que: quando nossa alma diz: “A minha porção é o SENHOR”, nós estamos afirmando:
• Que quando eu tiver perdido todas as coisas que tenho neste mundo, inclusive minha liberdade, meu sustento e quase a própria vida ainda assim eu não perdi meu interesse em Deus. Porções na terra são todas perecíveis, mas o Senhor é porção por toda a eternidade. Não podemos desprezar o fato de que até mesmo igrejas e pastores são, muitas vezes, responsáveis por grandes perdas em nossas vidas. Ensinamentos falsos são muito comuns e poderosos nesses dias de comunicação instantânea. O próprio profeta Jeremias já reconhecia essa situação nos seus dias, portanto, não deve nos surpreender que pastores sejam responsáveis por grandes danos causados ao povo de Deus:
Muitos pastores destruíram a minha vinha e pisaram o meu quinhão; a porção que era o meu prazer, tornaram-na em deserto – Jeremias 12:10.
Mas a nossa porção, mesmo nestas horas, deve continuar a ser o Senhor, pelo simples fato de que nós mesmos somos a porção do Senhor. Desse modo, os fatos a seguir são inegáveis:
• Que enquanto eu tenho interesse em Deus eu tenho tudo o que eu preciso. Quando Deus é minha porção eu tenho aquilo que é suficiente para contrabalançar todas as minhas aflições e compensação por todas as minhas perdas. Deus, como nossa porção, não pode jamais ser tirado de nós.
• Que isto é em que eu dependo e descanso satisfeito. Portanto “esperarei nele”. Vou me lançar sobre Ele completamente, e vou me encorajar em Deus quando todos os outros apoios que me sustentavam desabarem. Note bem: é nossa obrigação fazer do Senhor a porção das nossas almas e recebê-lo como Consolador no meio das nossas lamentações.
IV. Em quarto lugar, o profeta nos lembra que todos aqueles que se relacionam com Deus descobrirão que a confiança depositada nEle não é em vão. Isto se evidencia pelos seguintes fatos:
• Deus é bom para os que confiam n’Ele:
Bom é o SENHOR para os que esperam por ele, para a alma que o busca – Lamentações de Jeremias 3:25.
Deus é bom para todos. Suas tenras misericórdias são derramadas sobre toda Sua criação; todas as Suas criaturas podem experimentar da Sua bondade. Mas Deus é bondoso, de uma maneira toda especial, para aqueles que esperam n’Ele, para a alma que o busca:
Melhor é buscar refúgio no SENHOR do que confiar no homem – Salmos 118:8.
Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração - Jeremias 29:13.
Todas as vezes que as dificuldades se prolongarem ou que o livramento parecer demorado, nós devemos esperar pacientemente pelo Senhor e Suas misericórdias:
Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro - Salmo 40:1.
Enquanto aguardamos pelo Senhor em fé, nós precisamos buscá-lo em oração. Nossas almas precisam buscar o Senhor com intensidade. Esta busca, em oração, irá nos ajudar na nossa espera. E Deus tem prometido ser todo gracioso para aqueles que O buscam e O aguardam desta maneira. É a estes que Deus irá revelar sua maravilhosa bondade.
• Que todos aqueles que esperam no Senhor descobrirão que isto é algo bom:
Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio – Lamentações de Jeremias 3:26.
Aguardar a salvação do Senhor é bom - de fato esta é nossa responsabilidade e será nosso conforto e satisfação indescritíveis. Aguardar a salvação do Senhor em silêncio quer dizer que devemos aguardar pelo Senhor, mesmo quando pareça que ele está demorando e que as dificuldades parecem insuperáveis. Enquanto esperamos em tais situações não devemos murmurar nem nos sentir transtornados e sim nos submeter em silêncio aos desígnios divinos. Se nos lembrarmos das palavras do Senhor Jesus quando disse: “seja feita a Tua vontade”, nós podemos ter esperança de que tudo irá terminar exatamente como Deus deseja e este final é sempre o melhor para nós.
V. Em quinto lugar, Jeremias nos lembra que as aflições são realmente boas para nós e que se as suportarmos da maneira correta elas irão produzir algo de bom para nós – ver Romanos 8:28. Nós devemos saber que não somente é bom aguardar e esperar pela salvação do Senhor, mas que também é bom estarmos atribulados neste meio tempo:
Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade – Lamentações de Jeremias 3:27.
É bom para o homem suportar jugo na sua mocidade. Muitos dos jovens a quem Jeremias estava se referindo haviam sido levados como cativos para a Babilônia. É para aliviá-los que ele escreve esse versículo. Note que Jeremias não culpa os Babilônios. Ele diz que, em última instância, quem está trazendo este jugo sobre aqueles jovens é Deus mesmo. Este jugo é como aquele que é representado pelos mandamentos de Deus. É muito bom aprendermos desde cedo, que temos sérias obrigações para com Deus e não podemos pretender que Deus aceita qualquer coisa. Nunca é cedo demais para começarmos a nos moldar pelo molde de Deus. Sem o jugo que Deus nos impõe, a grande maioria de nós seria como touros indomáveis que não se ajustam ao uso da canga e se tornam improdutivos. Jeremias nos diz que em tais situações nós devemos:
• Acalmar-nos diante das nossas adversidades e aprender a nos sentar sozinhos e guardar silêncio:
Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto esse jugo Deus pôs sobre ele – Lamentações de Jeremias 3:28
Em vez de correr de um lado para o outro reclamando da nossa condição e agravando nossa situação e calamidade, questionando os propósitos da providência no que nos diz respeito, devemos nos retirar no dia da adversidade para um local tranquilo onde possamos sentar sozinhos e mantermos comunhão com o Senhor, silenciando nossos pensamentos de descontentamento e colocarmos nossas mãos sobre nossas bocas, como fez Aarão, que em meio à terrível tribulação pela qual teve que passar, ainda assim guardou sua paz:
Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o SENHOR disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão se calou – Levítico 10:1—3.
Todas as vezes que Deus trouxer um jugo sobre nossos pescoços nós devemos nos submeter de forma paciente.
• Que nós só nos humilhamos de forma verdadeira, quando nos prostramos, literalmente, no chão diante de Deus e aguardamos pacientemente pelo Senhor:
Ponha a boca no pó; talvez ainda haja esperança – Lamentações de Jeremias 3:29
Muitas vezes será conveniente nos humilharmos completamente, encostando nossos próprios rostos no chão, como uma demonstração da nossa submissão à vontade de Deus no meio da aflição, bem como uma demonstração da nossa tristeza, da nossa vergonha e de quanto nós nos abominamos por sermos os pecadores que somos. Precisamos agir com a mesma dignidade de Jó:
Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza – Jó 42:2—6.
Quando nos humilhamos desta maneira o profeta nos diz: “talvez ainda haja esperança”.
• Que quando somos mansos de verdade, e nos submetemos àqueles que são os instrumentos das nossas aflições e mantemos um espírito perdoador:
Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta – Lamentações de Jeremias 3:30.
Então nos tornamos verdadeiros filhos de Deus como descritos em Mateus 5:39—41:
Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.
Nosso Senhor Jesus nos deixou um exemplo vivo de como proceder. O profeta Isaías descreveu algumas das coisas pelas quais o Senhor passou quando disse:
Ofereci as costas aos que me feriam e as faces, aos que me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam - Isaías 50:6.
Aqueles que são capazes de resistir às ofensas e afrontas e que não revidam ultraje com ultraje, nem fazem ameaças quando maltratados, estão imitando nosso Senhor:
Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente – 1 Pedro 2:20—23.
Todos os que agem desta maneira descobrirão que é benéfico suportar este jugo e que em última instância o mesmo se transformará em uma vantagem espiritual. Como disse o apóstolo Paulo:
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado – Romanos 5:3—5.
VI. Em sexto lugar o profeta Jeremias reflete acerca do glorioso fato de que Deus irá retornar de forma graciosa ao Seu povo, com consolações proporcionais às aflições causadas:
O Senhor não rejeitará para sempre; pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias – Lamentações de Jeremias 3:31—32.
É por este motivo que o profeta decide ser penitente e paciente. De fato, a compreensão de como Deus é gracioso e misericordioso é o maior incentivo ao arrependimento como proposto nos evangelhos, bem como à paciência cristã. Quando agimos assim nós podemos ter certeza de que:
• Apesar de estarmos humilhados, nós não perdemos nossa herança, continuamos filhos de Deus.
• Apesar de estarmos humilhados, não ficaremos para sempre neste estado, pois a controvérsia entre nós e Deus não é eterna.
• Seja qual for a tristeza pela qual temos que passar ou estejamos passando a mesma é exatamente o que Deus tem designado para nós e Sua mão pode ser vista no controle de todas as coisas. É Deus quem causa a tristeza e por este motivo nós podemos ter a certeza que a mesma é sábia e graciosamente ordenada. Tal tristeza é sempre por um tempo e tem um propósito específico:
Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma – ver 1 Pedro 1:6—9.
• Que Deus tem guardado muitas consolações para aqueles que Ele tenha, por ventura, entristecido. É tolice pensar que quando Deus nos entristece o mundo pode nos consolar. O mesmo que nos entristeceu precisa nos trazer o consolo. Como nos ensina o profeta Oséias temos que nós voltar para Deus, pois foi Ele quem nos feriu e é Ele quem irá nos sarar:
Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará – Oséias 6:1.
• Quando Deus se volta para lidar graciosamente conosco, não O faz baseado em nossos méritos, mas de acordo com Suas misericórdias. Sim, de acordo com Sua multidão de misericórdias. Nós somos tão indignos que somente uma multidão de misericórdias pode realmente resolver nossa pecaminosidade. Todos aqueles que têm este tipo de expectativa não verão as aflições como algo negativo e sim como uma oportunidade de Deus derramar uma multidão de misericórdias!
VII. Em sétimo lugar Jeremias nos lembra que todas as vezes que Deus causa dor e aflição, Ele tem um propósito sábio e santo e, em nenhuma hipótese, Deus se alegra em nos ver aflitos:
Porque não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos homens – Lamentações de Jeremias 3:33.
Deus de fato aflige e traz agravos sobre os filhos dos homens. Todas as aflições que vem sobre nós têm sua origem em Deus. Mas Deus não tem nenhum prazer em nos afligir. Destas duas últimas frases podemos concluir que:
• Deus só nos aflige quando nós damos motivos para Ele assim proceder. Deus não dispensa Seus aborrecimentos da mesma maneira que ele dispensa seus favores. Deus não tem prazer em afligir, mas tem prazer em dispensar Seu amor e compaixão, porque eles são imensos – ver Lamentações de Jeremias 3:32 acima. Quando Deus manifesta sua bondade Ele o faz porque isto lhe agrada, mas quando Sua receita envolve coisas amargas para nós é porque nós merecemos e precisamos destas coisas.
• Deus não tem prazer em nos afligir. Deus não tem prazer na morte dos pecadores ou nas inquietações dos Seus santos, mas sempre nos aflige com certa relutância. É como se Deus tivesse que se deslocar do seu lugar, o assento de misericórdia – ver Hebreus 4:16 - para nos afligir. Deus não tem nenhum prazer em ver nenhuma de Suas criaturas em estado miserável. E naquelas situações que envolvem Seu próprio povo, Deus sofre juntamente com Seu povo. O Senhor se aflige com as aflições do Seu povo. Deus é movido à compaixão!
• Deus preserva Sua bondade para com Seu povo mesmo quando o aflige. Como Deus não aflige de bom grado os filhos dos homens, muito mais, então, Seus próprios filhos. Independentemente de qualquer coisa, Deus é bom
Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo – Salmos 73:1.
Os filhos de Deus precisam aprender a ver o amor no coração de Deus mesmo quando estão vendo o rosto irado de Deus e a vara da disciplina em Suas mãos.
VIII. Em oitavo lugar, o profeta nos faz lembrar que apesar de Deus usar seres humanos como instrumentos para corrigir Seu próprio povo, Deus está muito longe de se agradar dos excessos que os homens cometem:
Pisar debaixo dos pés a todos os presos da terra, perverter o direito do homem perante o Altíssimo, subverter ao homem no seu pleito, não o veria o Senhor? – Lamentações de Jeremias 3:34 – 36.
Mesmo que Deus use para Seus próprios propósitos a violência de homens perversos e pouco razoáveis, ainda assim não podemos concluir que Deus aprova os métodos violentos e opressivos como somos muitas vezes tentados:
Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele? – ver Habacuque 1:13.
O profeta Jeremias descreve duas maneiras pelas quais o povo de Deus é injuriado e oprimido pelos inimigos e nos assegura que Deus não aprova nenhuma delas:
• Se os homens causam danos ao povo de Deus pelo uso de força física, Deus não aprova este tipo de agressão, pois Deus não pisa debaixo dos pés a todos os presos da terra, pelo contrário, Deus ouve cada lamento e reclamo causado por ações opressoras. Deus não somente não aprova tal opressão, mas a mesma O desagrada profundamente. É uma verdadeira afronta a Deus “pisar em cima” daqueles que já estão prostrados ou agredir aqueles que estão amarrados e não podem se defender.
• Por outro lado, aqueles que causam o mal sob a bandeira da “justiça e lei” e nesse processo, de forma pretensiosa “perverterem o direito do homem perante o Altíssimo”, de tal maneira que sejam negados ao oprimido seus direitos e plena e verdadeira justiça, e pensam que estão fora do alcance de Deus, e, se estes mesmos homens subverterem a justa causa de qualquer pessoa e impuserem um veredicto injusto ou promoverem um falso juramento, que sejam, então, advertidos que:
Deus está vendo tudo. Todas as coisas estão patentes diante daquele a quem todos nós teremos que prestar conta:
Subverter ao homem no seu pleito, não o veria o Senhor? – Lamentações de Jeremias 3:36.
E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas - Hebreus 4:13.
Tudo está revelado diante de Deus e estes atos, mencionados acima, são extremamente desagradáveis a Ele. E todos os homens conhecem esta verdade. Portanto, quando agem de maneira tão injusta o fazem com altivez e arrogância contra Deus, o Todo-Poderoso. Os homens preferem ignorar a simples verdade de que Deus está acima de todos os seres por mais poderosos que estes possam ser:
Se vires em alguma província opressão de pobres e o roubo em lugar do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que está alto tem acima de si outro mais alto que o explora, e sobre estes há ainda outros mais elevados que também exploram – ver Eclesiastes 5:8.
Deus não aprova tais atitudes. Existem implicações bem maiores do que o texto nos informa diretamente. A perversão da justiça ou a subversão do direito de qualquer pessoa são uma grande afronta a Deus. E mesmo que Deus use tais elementos para corrigir Seu próprio povo, mais cedo ou mais tarde irá confrontar tais pessoas diretamente. Deus muitas vezes permite que os perversos progridam nesse mundo, mas isto não quer dizer, nem por um instante sequer, que Ele está aprovando o que essas pessoas estão fazendo. Deus é bom e não tolera a iniquidade de nenhuma espécie.
Que as palavras de Deus,por meio de suas muitas testemunhas, citadas acima, nos sirvam de consolo e fortalecimento seja na hora, da angústia, da tribulação, das dificuldades e até mesmo diante de perseguições.
Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça, consolem o vosso coração e vos confirmem em toda boa obra e boa palavra – 2 Tessalonicenses 2:16—17.
Que essas palavras sirvam de consolo a todos os verdadeiros filhos de Deus. Que sirvam também de advertência a todos aqueles que, vendo os dramáticos acontecimentos que ocorrem o tempo todo no mundo, não sentem o peso dos seus próprios pecados. Nossa evidente fragilidade deve nos fazer considerar nossos caminhos. Quando Deus se levanta para julgar não existe sabedoria humana nem tecnologia que seja capaz de impedir os propósitos de Deus.
Termino com o convite que nos faz o profeta Isaías 55:1—3, 6—7:
Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.
ARTIGOS ACERCA DE RICARDO GONDIM
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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Notas:
O comentário do capítulo 3 de Lamentações de Jeremias foi, em parte, adaptado da obre de Matthew Henry.
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