A Revista ÉPOCA publicou em seu
site em 23/08/2013 um artigo comentando o lançamento de um novo livro: Zealot:
the life and times of Jesus of Nazareth — Zelote: a vida e os tempos de Jesus
de Nazaré — do iraniano Reza Aslan.
Livros sobre Jesus são
frequentes, porque as pessoas sentem-se intrigadas por ele, mas não querem
saber de nenhum tipo de compromisso sério com o próprio nem com seus
ensinamentos. O artigo da ÈPOCA, escrito por Rodrigo Turrer, vale à pena ser
lido por todos. O artigo é bom, já as opiniões do autor do livro, apesar dos
seus 20 anos de estudos sobre a cristandade são pífias e tolas, típicas de
gente que leu muito acerca de Jesus, mas que leu muito pouco a Bíblia. Por esse
motivo estamos publicando o mesmo abaixo:
A volta do
Jesus revolucionário
RODRIGO
TURRER
Um novo
livro afirma que o Jesus pacifista foi uma invenção dos evangelistas e sugere
que, na vida real, ele foi mais um Che Guevara que uma Madre Teresa de Calcutá
AGITADOR
Jesus expulsa os vendilhões do templo. Um novo livro diz que ele não defendia a
paz, mas a espada (Foto: Rischgitz/Getty Images)
Livros
sobre Jesus são garantia de polêmica e publicidade. Tornaram-se uma mina de
ouro editorial e um fecundo filão acadêmico. Todo ano publicam-se dezenas de
obras e estudos que tentam iluminar algum aspecto da vida de Jesus. Nas listas
de mais vendidos, sucedem-se os livros com “revelações” sobre o pai do
cristianismo. O mais novo best-seller é: Zealot: the life and times of Jesus of
Nazareth (Zelote: a vida e os tempos de Jesus de Nazaré), do iraniano Reza
Aslan, um estudioso de religiões e professor de escrita criativa na
Universidade da Califórnia. O livro, lançado há um mês nos Estados Unidos,
lidera há três semanas a lista de mais vendidos do The New York Times e da
Amazon. Desbancou até recordistas de vendas como a britânica J.K.Rowling. Em
2014, Zealot será lançado no Brasil.
Aslan e
seu livro ascenderam aos céus do mercado editorial depois de uma polêmica
entrevista na rede de televisão americana Fox News, com grande audiência entre
os cristãos fundamentalistas dos Estados Unidos. Na entrevista de quase dez
minutos, a âncora Laura Green questionou duramente Aslan. Perguntou
sucessivamente a ele se tinha direito, por ser muçulmano, de escrever um livro
sobre Jesus. Diante do preconceito da inquisidora, Aslan argumentou que
escreveu o livro como acadêmico com doutorado e especializações em história das
religiões e 20 anos de estudo das origens do cristianismo. O quiproquó
contribuiu para as vendas aumentarem quase 50%.
Eis a
tese defendida por Aslan no livro: Jesus, ao contrário do que prega a Igreja
Católica, não foi um pacifista que, diante da violência, “oferecia a outra
face” e amava os inimigos. Segundo Aslan, Jesus foi um revolucionário, cujo objetivo
principal era expulsar os romanos da Judeia, criar um reino de Deus na Terra e
assumir seu trono. Ele recupera com novas cores uma antiga versão de
cristianismo – em voga nos anos 1960 graças à Teologia da Libertação, que
misturava cristianismo com marxismo. Era um Jesus mais para Che Guevara do que
para Madre Teresa de Calcutá. “Ele era um zelote revolucionário, que atravessou
a Galileia reunindo um exército de discípulos para fazer chover a ira de Deus
sobre os ricos, os fortes e os poderosos”, escreve Aslan no começo de seu
livro. Zelote é uma palavra derivada do aramaico. Significa “Alguém que zela
pelo nome de Deus”. Outra possível tradução para o termo é fervoroso, ou mesmo
fanático. Sua origem está ligada ao movimento político judaico que defendia a
rebelião do povo da Judéia contra o Império Romano. Os zelotes pretendiam
expulsar os romanos pela força.
Segundo
Aslan, Jesus compartilhava algumas das ideias igualitárias dos zelotes e, assim
que se estabeleceu numa vila de pescadores em Cafarnaum, começou a procurar
seus discípulos “entre aqueles que se viram lançados à margem da sociedade,
cujas vidas tinham sido interrompidas pelas mudanças sociais e econômicas que
ocorriam por toda a Galileia”. Na interpretação de Aslan, entre seus discípulos
recolhidos nas franjas da sociedade da época, Jesus, como muitos
revolucionários, tornou-se amado não apenas por seus ensinamentos, mas pelo
carisma. “Ele era visto como alguém com autoridade, mas, ao contrário dos
escribas inacessíveis e dos sacerdotes ricos, parecia um homem do povo, uma
dádiva de Deus.”
Em
Zealot, o ponto central da vida de Jesus não é seu nascimento nem sua
Ressurreição, mas o Domingo de Ramos, um acontecimento mencionado nos quatro
Evangelhos canônicos (Marcos, Mateus, Lucas e João). Nesse episódio, Jesus
entra em Jerusalém de forma triunfal, montado num jumento. O povo comemora sua
entrada sob gritos de Hosana, canta partes de um salmo e jogam ramos de árvores
à sua frente. “Mais do que qualquer outra palavra ou ação, sua entrada em Jerusalém
ajuda a revelar quem era Jesus e o que ele quis dizer”, diz Aslan. “Um camponês
analfabeto entra em Jerusalém e é o tão aguardado Messias – o verdadeiro rei
dos judeus –, que veio para libertá-los da escravidão.”
POLÊMICA
Reza Aslan (acima). Ao lado, ele discute com a âncora da Fox News, Laura Green.
Ela achou estranho que ele, por ser muçulmano, escrevesse um livro sobre Jesus
(Foto: Bret Hartman/For The Washington/Getty Images e reprodução)
A prova
de que Jesus pretendia livrar os judeus do jugo romano pelas armas está,
segundo Aslan, na passagem do Evangelho de Mateus em que Jesus diz a seus
apóstolos: “Não penseis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer paz, mas a
espada”. Ao dizer isso, Jesus demonstra ser um “adorador do sangrento Deus de Abraão,
Moisés, Jacó e Josué”. Logo, Jesus passa das palavras à ação. Ao chegar ao
Templo de Jerusalém, para a Páscoa Judaica, se enfurece com a visão de centenas
de pessoas vendendo, comprando e trocando moedas no local sagrado. Com um
chicote na mão, Jesus expulsa os que ali vendiam e compravam, derruba as mesas
dos cambistas e acusa os comerciantes de profanar o local de culto e de
mercantilizar a fé.
Para
Aslan, o episódio revela todos os “segredos messiânicos” de Jesus. “Atacar o
comércio do templo era uma ofensa semelhante a atacar a nobreza clerical, o
que, considerando a emaranhada relação do templo com Roma, era o mesmo que
atacar o próprio Império”, escreve. Com esse gesto, Jesus diz, no entender de
Aslan, que a terra sagrada não pertencia a Roma, mas a Deus, e era hora de
César devolvê-la ao verdadeiro rei dos judeus – ele mesmo. Diante disso, afirma
Aslan, Jesus se torna um personagem “tão radical, tão perigoso, tão
revolucionário que a única resposta concebível para Roma seria prendê-lo e
executá-lo por insurreição”. Como era o mais grave dos crimes contra o Império
Romano, a punição foi também a mais severa: a crucificação.
Se Jesus
foi de fato um revolucionário, como se deu sua conversão num pacifista humilde,
que ensina a amar a todos, até ao inimigo? Foi, diz Aslan, obra dos Evangelhos
canônicos e das epístolas de Paulo de Tarso, escritas depois da crucificação,
no período em que a perseguição aos judeus e aos primeiros cristãos se
intensificou. Receosos de ser vistos como insurgentes, os primeiros seguidores
do cristianismo quiseram se afastar do fervor revolucionário de Jesus. “Assim
começou o longo processo de transformar Jesus de um revolucionário nacionalista
judeu num líder espiritual desinteressado de questões terrenas”, diz Aslan.
Como judeu, Jesus se rebelaria contra qualquer noção de que Deus pudesse
encarnar num humano. Por isso, a ascensão de Jesus a divindade surgiu quase 30
anos após a crucificação, pelas mãos de “judeus cristãos” que, na tentativa de
evitar as perseguições do Império, “transformaram o Jesus revolucionário num
semideus romanizado”. Foi dessa maneira que Paulo criou a religião universal,
sem distinção entre as pessoas, que três séculos depois conquistou o Império
Romano e se espalhou pelo mundo.
JESUS EM
ARMAS Um grafite na Venezuela mostra Jesus com um fuzil. Ele virou símbolo revolucionário (Foto:
Miguel Gutierrez/AFP)
As teses
de Aslan reacenderam uma acalorada discussão acadêmica acerca de Jesus. Há
décadas, duas vertentes do estudo de sua vida se digladiam. Uma delas tenta
desvendar o “Jesus histórico”: quem foi Jesus de Nazaré, antes de ele se
transformar no Filho de Deus, cultuado pelos cristãos. A outra está mais
interessada no “Cristo da fé”, o Jesus da religião. A busca pelo Jesus da
história, desvinculado da divindade, começou com o alemão Herman Samuel
Reimarus (1694-1768). Ele foi o primeiro de uma série de escritores a condenar
os dogmas religiosos que, na sua visão, embaçavam a compreensão do
cristianismo.
Apesar
dos esforços de teólogos e filósofos, a primeira busca foi em vão: pouco se
revelou sobre o Jesus histórico. No século XX, os teólogos alemães Martin
Dibelius e Rudolf Bultmann começaram uma segunda busca. Definiram critérios
objetivos para separar o que era histórico do que não era nos relatos bíblicos.
A ideia era encontrar o real Jesus, despindo-o dos mitos a ele acoplados por
seus discípulos nos Evangelhos. Para muitos, porém, a segunda leva de pesquisas
continuou a revelar mais sobre os pesquisadores do que sobre Jesus.
A
terceira onda de busca do Jesus histórico ressurgiu com intensidade no começo
do nosso século, com livros, filmes e programas de TV. Ela é baseada em
métodos históricos e racionais, incluindo a análise crítica dos Evangelhos, a
pesquisa arqueológica e o estudo do contexto histórico e cultural em que Jesus
viveu. Como a busca pelo Jesus histórico se atém ao racionalismo e nega a
existência dos milagres, ela costuma ser rechaçada pelos defensores do Cristo
da fé. As críticas vêm tanto de teólogos ligados à tradição dos Evangelhos,
defensores dos milagres como sustentáculo do cristianismo, como dos filósofos
que rejeitam o materialismo e a ideia de que tudo na existência pode ser
descrito pelas ciências naturais.
Ao
reavivar as teses do Jesus revolucionário, Aslan conseguiu um feito: foi
criticado por ambas as vertentes. “Aslan usou demais suas habilidades de
professor de escrita criativa e ignorou seus estudos históricos”, afirma
Stephen Prothero, professor de história do cristianismo na Universidade de
Boston. “O livro de Aslan é uma litania de erros,
todos causados pelo fato de ele aceitar premissas que não existiam para
reforçar suas teses.” De fato, sobram
certezas definitivas no livro de Aslan, que passa ao largo de quase todas as
infindáveis controvérsias a respeito da vida de Jesus. Teria ele nascido em
Belém? Aslan garante que ele nasceu em Nazaré. Por que Jesus saiu de Nazaré e
foi para a Judéia pela primeira vez? Aslan deixa nas entrelinhas que era para
se juntar aos zelotes revolucionários. Jesus era um profeta inovador e único?
Aslan afirma que nos tempos de Jesus havia um candidato a Messias em cada
figueira e oliveira da antiga Palestina. Quem eram os evangelistas? Para Aslan,
eram seguidores de Jesus que se reuniram em comunidades a partir do ano 70 d.C.
De onde
vêm todas as certezas de Aslan? Das mesmas fontes que ele critica. “Aslan diz
que os Evangelhos não são uma fonte confiável, mas se lambuza neles quando quer
reforçar suas teses de um Cristo revolucionário”, afirma o teólogo Martin
Goodman, professor de história romana em Oxford. “O problema não é ele ser
muçulmano ou ser iraniano. O problema é que ele usa
uma tese ultrapassada e desacreditada como se fosse uma verdade absoluta.” A entrevista na Fox News provou, portanto, ter sido muito
útil para Aslan. Ele escreve de modo fluente e coloquial sobre complexas
discussões acadêmicas e transforma densos emaranhados filosóficos em narrativas
emocionantes. Mas seu livro apenas prova como é difícil cingir a compreensão do
cristianismo à história de um personagem de traços tão fugidios como Jesus.
O artigo da ÉPOCA poderá ser
visto no original por meio desse link aqui:
Como falamos acima o autor do
artigo nos fez um grande favor ao colocar algumas opiniões de pessoas que
entendem a narrativa bíblica melhor que o autor do livro.
É bom que se diga que tolos como
Aslam existem desde o século XIX, quando impulsionados pelo iluminismo, muitos
se aventuraram a descobrir um “Jesus histórico” que seria diferente do Jesus da
Fé. Todos os argumentos desde Hermann Samuel Reimarius, e passando por Hase,
Schleiermacher, David Strauss, Albert Schweitzer, Bauer, Ernest Renan e outros,
incluindo aqui mesmo no Brasil o sr. Rubens Sodré, já foram amplamente
respondidas na literatura disponível.
Para todos os que tiverem
interesse em conhecer a verdade sugerimos a leitura dos seguintes livros:
0. A Bíblia Sagrada — procure uma
tradução de verdade e não uma paráfrase e dê preferência por ler uma Bíblia sem
notas.
1. O Texto do Novo Testamento de
Kurt e Barbara Aland — Sociedade Bíblica do Brasil — 2013.
2. Novas Evidências que Demandam
um Veredito — Volumes 2 e 2 — Josh McDowell — Editora Hagnos — 2013.
3. Evangelização na Igreja
Primitiva — Michael Green — Edições Vida Nova — 2000.
4. Teologia do Novo Testamento —
George Eldon Ladd — Exodus Editora — 1997.
5. Em Defesa de Jesus — Lee
Strobel — Editora Vida — 2002.
6. A Cruz de Cristo — John Stott
— Editora Vida — 1991.
7. Arqueologia, História e
Sociedade na Galiléia — O Contexto Social de Jesus e dos Rabis — Editora Paulus
— 2000.
8. Cristo, o Senhor — A Reforma e
Senhorio da Salvação — Editora Cultura Cristã — 2000.
9. Os Desafios de Jesus — N. T.
Wright — Editora Palavra — 2012.
10. Jesus — Uma Defesa Bíblica da
Sua Divindade — Josh McDowell e Bart Larson — Editora Candeia — 1990.
11. Movimentos Messiânicos no
Tempo de Jesus — Jesus e outros Messias — Donizete Scardelai — _Paulus — 1998.
12. Jesus e o Império — Richard
A. Horsley — Paulus — 2004.
13. A Vida Diária nos Tempos de
Jesus — Henri Daniel-Rops — Edições Vida Nova — 1999.
14. Jerusalém no Tempo de Jesus —
J. Jeremias — Edições Paulinas — 1983.
Creio que a literatura acima deve
ser suficiente. Se alguém desejar mais é só nos escrever.
Grande
Abraço e que Deus possa abençoar a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.