domingo, 28 de outubro de 2012

GEOGRAFIA DO ANTIGO TESTAMENTO – PARTE 1 - A MESOPOTÃMIA



Resultado de imagem para área geográfica abrangida pelo antigo testamento

Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo 

INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO


Capítulo 2 – Onde Ocorreram os Eventos Narrados do A. T.?

Introdução.

A Revelação contida no Novo Testamento é distinta daquela contida no Antigo Testamento. A história registrada no Novo Testamento nos fala que Deus se revelou à humanidade por meio da encarnação, ou seja, na pessoa de Jesus de Nazaré, Deus tomou a forma humana. Isso significa que a revelação de Deus ocorreu em um tempo e lugar específicos. Assim, para entendermos o Novo Testamento, precisamos estudar os acontecimentos da vida de Jesus e da igreja primitiva[1]. A história e a geografia do mundo palestino durante o primeiro século apresentam um pano de fundo importante para a leitura do Novo Testamento.

Mesmo sem uma revelação do mesmo tipo, isto é, sem uma encarnação por parte da divindade, a verdade de Deus também foi revelada no Antigo Testamento. Deus se revelou em tempos e lugares específicos para pessoas e grupos específicos de pessoas. Portanto, é importante que os cristãos conheçam e se familiarizem com os locais em que os eventos narrados no Antigo Testamento tiveram lugar.

I. Os Locais Onde Ocorreram os Eventos Narrados no Antigo Testamento?

A nação de Israel da Antiguidade ocupava apenas uma pequena parte de uma área maior conhecida como o Antigo Oriente Próximo. Esta região é conhecida e chamada em nossos dias como Oriente Médio. Os limites desta extensão de terra são os seguintes: 
    
    

  • No Leste as Montanhas Zagros[2].
     

  • No Oeste o mar Mediterrâneo.

      

  • Ao Norte, os limites do Antigo Oriente Próximo se estendiam até o Mar Cáspio e o Mar Negro, tendo entre eles as montanhas do Cáucaso[3].
         Resultado de imagem para peninsula do sinai

  • Ao sul, o Antigo Oriente Próximo fazia fronteira com o Deserto da Arábia e os dois corpos de água conhecidos como Mar Vermelho e Golfo Pérsico.

A terra conhecida desde tempos imemoriais como “Terra de Canaã”, ocupava uma pequena, mas bastante importante porção de terra do Antigo Oriente Próximo. A localização privilegiada da Terra de Canaã, no entroncamento entre três continentes – África, Ásia e Europa – acabaram por transformá-la em um pedaço estrategicamente importante ao longo da história antiga. Tal posição privilegiada despertou o interesse de todas as nações da Antiguidade que tentaram, de todas as maneiras possíveis, manter uma posição de domínio ou pelo menos de certo favorecimento sobre a mesma. Esta atitude se manifestava por dois motivos, a saber:


  • A região era importante por causa da necessidade que existia de comunicação e comércio entre os três continentes que a mesma interligava
  • Para nós que estamos estudando o Antigo Testamento compreendermos esta situação nos ajuda a entender a enormidade de influências culturais a que estavam sujeitos seus habitantes daquela região, incluindo-se ai, o povo de Israel.

A. O Antigo Oriente Próximo.

Quando estudamos o Antigo Oriente Próximo logo entendemos que o mesmo está dividido em três sub-regiões geográficas. Estas regiões estão unidas por um arco de terra fértil que foi chamado desde a Antiguidade de “Crescente Fértil — ele tem o formato de uma meia lua. A maior parte “da área do Antigo Oriente Próximo era desértica e pouco propícia à manutenção da vida humana. As poucas terras férteis estavam enquadradas entre montanhas quase intransponíveis ao norte e vastos desertos ao Sul. Todavia dentro da área que chamamos de Crescente Fértil existiam terras planas e abundância de água. A Bíblia e a arqueologia moderna concordam que esta é a região onde se originou a civilização humana.


Mapa do Crescente Fértil

As três regiões geográficas contidas no Antigo Oriente Próximo eram: Mesopotâmia[4], Egito e Síria-Palestina. Como não existe vida sem água, essas três regiões foram marcadas na Antiguidade por importantes culturas ligadas aos rios.

1. A Mesopotâmia.


A Mesopotâmia

O que acabamos de referir acima fica melhor evidenciado pela primeira região conhecida como Mesopotâmia, que se localizava entre os Rios Eufrates[5] e Tigre[6]. Esta região iniciava no Golfo Pérsico ao sul e se estendia rumo noroeste, ao longo da curva do Rio Eufrates. O limite leste é o Rio Tigre que corre aos pés das Montanhas Zagros no moderno Irã. Nos dias de hoje, todo o Iraque e partes do Irã, da Síria e o Líbano compõe a área conhecida como Mesopotâmia.

O terreno físico da Mesopotâmia é típico de toda aquela região: altas cadeias de montanhas ao norte e leste e desertos escaldantes ao sul. Esta mistura é certamente responsável pelo clima imprevisível da região. Além disso, as águas dos rios Eufrates e Tigre são cheias de caprichos e movimentos de inundações e secas realmente súbitas. Estes fatores consistiam em um perigo constante e real para todos os habitantes da Mesopotâmia. Em decorrências dessas realidades, enchentes e secas, especialmente a região sul da Mesopotâmia, variava sempre entre um terreno desértico e um terreno pantanoso. Se invasores conseguissem vencer o deserto ou as montanhas não havia nenhum outro tipo de defesa natural para proteger seus habitantes.

Mesmo diante destas realidades e da permanente possibilidade de invasões, a Mesopotâmia era capaz de proporcionar uma vida relativamente tranquila para aqueles viviam por ali, especialmente na região sul, onde as águas dos rios podiam ser canalizadas para a irrigação das plantações ou serem navegadas com fins comerciais.

Existe um inusitado consenso entre os estudiosos da Antiguidade quanto ao fato que a civilização humana teria se iniciado na base das montanhas ao Norte do rio Tigre, quando os mesopotâmicos do Período Neolítico - cerca de 7.000 a.C. - começaram a cultivar plantas, domesticar animais e colher frutos para seu sustento. A Bíblia nos ensina que o Jardim do Éden estava plantado exatamente entre quatro rios, dois dos quais são o Eufrates e o Tigre – ver Gênesis 2:10. De que maneira poderia Moisés, que escreveu o livro do Gênesis e que viveu por volta de 5600 anos depois da data estabelecida pelos historiadores para o início da civilização humana, saber que a mesma teve origem precisa e exatamente no mesmo local apontado pelos historiadores? A resposta pode ser uma somente: Deus revelou.

Foi no sul da Mesopotâmia que, entre 3500 a 3300 a.C., os sumérios inventaram a escrita, quando descobriram que podiam usar marcas cuneiformes[7] em diferentes materiais para representar palavras[8]. A escrita cuneiforme — do latim cunes que quer dizer cunha e do latim forma que quer dizer formato — era mais facilmente reproduzida em porções de barro úmido, que era um material muito fácil de ser encontrado naquelas partes da Mesopotâmia. Era comum “assar” as placas de barro no sol ou em forno. Dessa maneira, eram obtidas placas extremamente duráveis com escrita cuneiforme, e muitos milhares destas placas já foram encontradas por arqueólogos modernos. A escrita cuneiforme também podia ser entalhada em metais e pedras, mas estas práticas eram bem menos comuns.


   Alfaberto Cuneiforme
     

  
   Placas com escrita cuneiforme

Aquela vida, razoavelmente tranquila do sul era motivo de inveja, especialmente dos povos vindos do norte. Como não possuíam defesas naturais os habitantes do sul precisavam manter atenção permanente sobre possíveis ameaças externas. A história antiga da mesopotâmia está pontilhada pelo fluxo de inúmeros grupos. Este fluxo foi o responsável por muitas alternâncias de poder naquela região. Os sumérios foram sucedidos por uma longa séria de povos semitas, de diferentes nacionalidades. Durante o último quarto do terceiro milênio – entre 2250 e 2000 a.C., o primeiro grupo de semitas, os acádios, chegou ao poder e ocupou o sul da Mesopotâmia junto com os sumérios. Todavia tal domínio não foi muito extenso, pois na virada do milênio, outro grupo semita, conhecido como os amoritas, começou a chegar à região em grandes números. Os amoritas são importantes porque dominaram a Mesopotâmia pelos 1000 anos seguintes da história. Eles estabeleceram um grande foco de poder ao sul, na cidade de Babilônia, no Eufrates, e ao norte, em Assur e Nínive, ao longo do rio Tigre. A herança dos amoritas pode ser vista pelo fato dos babilônios ao sul e dos assírios ao norte terem sido os dois grupos mais importantes na Mesopotâmia e que tiveram, como iremos ver, um papel significativo na história do Antigo Testamento.
Babilônia

Nínive


Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento

A. O Texto do Antigo Testamento

001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM

004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano

005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo

006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX
 
007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia 


Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no facebook através do seguinte link:


Desde já agradecemos a todos.



O material contido nesses estudos foi, em parte, adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:
 

Bibliografia

Aharoni, Yahanan; Avi-Yonah, Michael; Rainey, Anson F. e Safrai, Ze’ev. Atlas Bíblico. Casa Publicadora das Assembléias de Deus – CPAD, Rio de Janeiro, 1998,

Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.

Durant, Will. The History of Civilization Volume 1 – Our Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.

Heródoto de Halicarnassus. The Histories. Penguin Books Ldt, Middlisex, reprinted, 1986.

Hallo, William W. e Simpson, William Kelly. The Ancient Near East: A History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.

King, Philip J. American Archaeology in the Mideast: A History of the American Schools of Oriental Research. ASOR, Philadelphia, 1983.

Millard, Alan; Stanley, Brian e Wrigth, David. Atlas Vida Nova da Bíblia e História do Cristianismo. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, reimpressão, 1998.

Schoville, Keith N. Biblical Arcaheology in Focus. Baker Book House, Grand Rapids, 1978.

Wilson, John A. The Culture of Ancient Egypt. Chicago University Press, Chicago, 1951.

__________Britannica Atlas. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 1996.


Enciclopédias

__________The New Encyclopaedia Brtannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.

NOTAS


[1] Os historiadores definem o período da igreja primitiva como aquele que se estende do início da igreja até o ano 100 a.D. aproximadamente.

[2] As Montanhas Zagros – Kuhhã Ye Zagros – estão localizadas no país moderno do Irã.

[3] As Montanhas do Cáucaso — Bol Soj Kaukaz — estão localizadas nos países modernos da Rússia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão.

[4] Mesopotâmia — do grego mésos — no meio, entre e potamós — rio e que significa entre-rios e designava a extensão de terra contida entre os rios Eufrates e Tigre.

[5] O rio Eufrates é chamado de Buanunu em sumério, Parattu em acádio, Ufrat em persa antigo, Eufrates em grego e latim, Furat em arábico e Firat em turco.  O Eufrates é o rio mais comprido do oeste da Ásia e se inicia nas planícies da Armênia, na Turquia moderna, e segue rumo sudeste através da Síria e da parte sul do Iraque onde se une ao rio Tigre para formar o que é chamado de Shatt al-'Arab, que termina por desaguar no Golfo Pérsico. A extensão total do Eufrates é de aproximadamente 2.700 km.

[6] O rio Tigre é chamado de Tigra em persa antigo, de Tigres ou Tigris em grego, de Tigris em Latim, de Idiclat em acádio, na Bíblia é chamado de Hiddekel, de Dijla em arábico e de Dicle em turco. O rio Tigre tem sua origem ao Sul das Toros Daglan — Montanhas Taurus na Turquia — e segue em direção sudeste por aproximadamente 1.900 km em direção ao Golfo Pérsico, quando se junta ao Eufrates e juntos, sob o nome de Shatt al-'Arab penetram no Golfo Pérsico. O Shatt al-'Arab possui uma extensão de 193 km.

[7] Escrita Cuneiforme: Sistema de escrita provavelmente inventado pelos sumérios e depois adotado por babilônicos e assírios, constituído de sinais em forma de cunha, produzidos sobre tabletes de argila.

[8] Durant, Will. The History of Civilization Volume 1 – Our Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.

3 comentários:

  1. Segundo autores e estudiosos do tema , a Bíblia, AT & NT,foram desenvolvidas ao longo de 1600 anos,obra de quarenta autores aproximadamente.Quanto ao AT,a única fonte seria a Torá.Quais seriam,então,as razões por que a versão ou versões cristãs divergem dessa fonte?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro blog da esquina,

      Lamento, mas tuas informações acerca da Torá estão equivocadas.

      Para se informa melhor, sugiro que leia os seguintes artigo, todos disponíveis no blog, por meio dos link abaixo:

      Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento

      A. O Texto do Antigo Testamento
      001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
      http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/o-canon-do-antigo-testamento.html

      002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
      http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-inspiracao-do-antigo-testamento.html

      003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM
      http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-1.html

      004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano
      http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-2.html

      005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo
      http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-3.html

      006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX
      http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/10/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte.html

      007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia
      http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/10/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-5.html

      Abraço,

      irmão Alex

      Excluir