sábado, 20 de outubro de 2012

ENTENDENDO MELHOR A REFORMA PROTESTANTE DO SÉCULO XVI




Martinho Lutero
Em breve estaremos comemorando, no próximo dia 31 de Outubro de 2012, os 495 anos do início do movimento que ficou conhecido como a Reforma Protestante do Século XVI. Nossa intenção nesse artigo é ajudar todos os leitores a entenderem, pelo menos um pouco, o significado desse verdadeiro mover de Deus no século XVI. Nesse artigo estaremos interessados apenas nos antecedentes que culminaram com a presença de Martinho Lutero diante do imperador do sacro império romano-germânico, Carlos V, na famosa dieta de Worms.
I. Por que a Igreja precisava de Reforma?
O fato é que sempre, durante toda a história da igreja cristã existiram, aqui e ali, movimentos reformistas bons e maus.
No século XV a Igreja Católica Apostólica Romana estava por demais corrompida e precisava, urgentemente, de uma Reforma. Neste contexto a relevância da rainha Isabel de Castela, na Espanha, cognominada “a Católica” é da maior importância.
   

Isabel de Castela
Isabel de Castela casou-se com Fernando de Aragão e juntos herdaram o reino de Castela, quando Henrique IV, meio irmão de Isabel, faleceu de maneira prematura. Assim ficou consolidado o reino de Aragão e Castela que dominava, praticamente, toda a península Ibérica.
Deste casal. Isabel e Fernando surgiram muitos descendentes: filhos, netos, bisnetos e tataranetos, que tiveram relevantes papeis na história posterior de toda a Europa. Apenas para citar alguns casos, por exemplo:
 ·       Catarina de Aragão, a primeira esposa repudiada pelo rei Henrique VIII da Inglaterra era filha de Isabel. Este fato marcou o início da ruptura entre o que ficou conhecido como a Igreja da Inglaterra e a Igreja Romana!

 ·       Carlos V, o imperador que Lutero teve que enfrentar na Dieta de Worms, era neto de Isabel.

·       Felipe II, filho de Carlos V era bisneto de Isabel e veio a se casar com sua prima, em segundo grau, Maria Tudor, que era rainha da Inglaterra e neta de Isabel.

Isabel era uma mulher sensível e reconhecia que a Igreja Romana estava muito corrompida e precisava ser Reformada. Para que a Reforma tivesse resultados práticos, Isabel acreditava que a mesma deveria se iniciar por uma completa reforma do clero, e isto por vários motivos:
 ·      Nos séculos anteriores ao século XV, os cardeais e os bispos com frequência se tornavam mais guerreiros do que pastores e se envolviam com todo empenho nas intrigas políticas da época, e isto, não para o bem dos seus rebanhos, mas para seus satisfazer seus próprios interesses políticos e econômicos. Cardeais e Bispos costumavam representar muitas das maiores fortunas da Europa naqueles anos. Isto tudo diz respeito ao alto clero.

 ·   O baixo clero também precisava de Reforma porque os sacerdotes eram, em sua grande maioria, ignorantes e incapazes de responder às mais simples perguntas por parte de seus paroquianos. Além disso, muitos deles não sabiam nada mais que dizer a missa, sem sequer entender o que estavam dizendo. Muitos eram analfabetos e memorizavam as falas que repetiam nas missas sem terem a menor ideia do que estavam falando em latin!

 ·        A vida monástica estava arruinada com muitos mosteiros sendo governados não de acordo com a regra criada pelo seu fundador, e sim de acordo com a vontade dos monges e madres das altas esferas.

 ·       A tudo isso, devemos somar o verdadeiro descalabro que era o pouco caso que se fazia do celibato. Os filhos bastardos de papas, cardeais e bispos se moviam com desenvoltura no meio da nobreza reclamando os direitos do sangue de quem eram herdeiros.

 ·   Neste particular precisamos citar o próprio arcebispo de Toledo, na Espanha, dom Alonso Carrillo de Albornoz que tinha pelo menos dois filhos bastardos.

·       No baixo clero, era comum os padres viverem publicamente com suas concubinas e filhos.  

Todos estes fatores: o espírito guerreiro, os interesses financeiros e a crassa imoralidade eram para a rainha Isabel motivo de escândalo. Com a finalidade de reformar o alto clero, os reis espanhóis obtiveram de Roma, o direito de nomear os bispos em seus territórios. Enquanto em Castela, Isabel se esforçava para encontrar homens idôneos para ocupar as vagas dos bispados, em Aragão, Fernando fazia nomear arcebispo de Zaragoza, seu filho bastardo, dom Fernando, de apenas seis anos de idade.
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Francisco Ximenez de Cisneros
Finalmente Isabel conseguiu achar um homem realmente decente em Francisco Ximenez de Cisneros, a quem nomeou como arcebispo de Toledo. Este Francisco já havia, desde muito cedo, se chocado com os interesses do arcebispo Alonso Carrillo de Albornoz e havia passado 10 anos na cadeia por ordens do arcebispo, sem ceder, todavia, nas suas críticas.
Ao arcebispo Carrillo seguiu o arcebispo Pedro Gonzalez de Mendonça e com a morte deste, o caminho estava aberto para a indicação de Francisco Ximenez de Cisneros. Curiosamente, a nomeação do bispo Cisneros, o grande reformador da igreja espanhola, foi confirmada pelo Papa Alexandre VI, de tristíssima memória e dono de umas das piores reputações entre todos os papas romanos. 
 
Papa Alexandre VI

Ao papa Alexandre VI, que era também espanhol e cujo nome era Rodrigo de Borja y Doms e que foi chamado na Itália de Rodrigo Borgia, é a quem devemos creditar, por causa da sua extremada corrupção e vida imoral, a maior contribuição jamais feita para a Reforma Protestante por um oficial católico romano.
 Como dissemos anteriormente, tanto o alto clero como o baixo clero estavam completamente corrompidos. Com o Papa Alexandre VI a corrupção tomou assento no próprio trono papal. Este papa teve inúmeros filhos com várias mulheres e chegou a ajuntar tão grande fortuna a ponto de se reputado como o homem mais rico da Europa.
 Foi este papa que convenceu o grande Michelangelo a traçar os primeiros planos para uma nova e suntuosa basílica de São Pedro que, como veremos a seguir, teve profundo impacto no início do movimento que ficou conhecido como a Reforma Protestante do Século XVI.
 
Basílica de São Pedro

II. Lutero e a questão das indulgências.

·       Breve história da vida e da obra de Martinho Lutero.

·       Lutero nasceu em Eisleben, na Alemanha em 1483.

·       Em Abril de 1501 Lutero ingressou na universidade de Erfurt onde obteve o grau de bacharel em Artes em 1502 e de mestre em Artes em 1505.

·       Em 1505, pouco antes de completar 22 anos, Lutero ingressou no mosteiro agostiniano de Erfurt.

·       Sua motivação era usar os meios propostos pela Igreja Romana para obter a salvação da sua alma e para isto a vida monástica lhe parecia o melhor caminho.

·       Lutero foi consagrado como padre em 1507.

·       Por mais que se esforçasse, entretanto, não conseguia encontrar a paz almejada através da prática de boas obras, da confissão e das mais variadas penitência.

·       Seu mentor, então, recomenda-lhe que leia os livros dos místicos católicos. Por algum tempo Lutero encontrou algum consolo nestas leituras, mas nada que realmente pudesse acalmar sua alma.
 ·    Lutero prosseguiu com seus estudos. Entre 1508 e 1512 ensinou filosofia na Universidade de Wittenberg, onde também acabou por tornar-se doutor em Teologia e se especializou nas epístolas aos Romanos, aos Gálatas e aos Hebreus. Sem que soubesse, Lutero estava sendo conduzido por Deus para estudar três dos mais contundentes livros do Novo Testamento cujos ensinamentos eram fortemente contrários às doutrinas ensinadas pela Igreja Católica Apostólica Romana.

·       Ao fazer estes estudos Lutero foi capaz de perceber claramente os erros da Igreja Romana.
 ·       Em 1515 Lutero foi nomeado vigário geral responsável por 11 mosteiros. Este foi também o ano em que se viu envolvido nas controvérsias acerca da venda das indulgências que havia se tornado apenas numa fábrica de fazer dinheiro para a Igreja Romana e era completamente destituída de qualquer valor espiritual.
 ·       Por este tempo também Lutero começa a repensar a salvação eterna da sua alma baseado na afirmativa de Paulo em Romanos 1:17, e que diz: O Justo viverá por fé.
 ·       Com a compreensão deste versículo Lutero estava chegando à redescoberta de uma verdade bíblica a muito sepultada, que é a que trata da justificação do pecador diante de Deus, baseada exclusivamente na graça de Deus e mediante a fé em Jesus Cristo apenas. Aqui nasciam três dos cinco pilares da Reforma Protestante: Solus Christus, Sola Gratia e Sola Fide — Somente Jesus, Somente a Graça e Somente a Fé.


    Cinco "Solas"        
    
    Lutero torna-se um severo crítico da dominação da filosofia tomista – São Tomás de Aquino – sobre a teologia romana. Estuda os escritos de Agostinho de Hipona, de Anselmo da Cantuária e de Bernardo de Claraval.

 ·       Em 1516 Lutero se torna pároco da igreja em Wittenberg. Torna-se um pregador popular e começa a se opor à venda de indulgências como um meio de libertar as almas que se encontravam no purgatório.
 
·       Na noite de 31 de Outubro de 1517, Lutero fixou na porta de entrada da Scholosskirche – castelo-igreja – em Wittenberg suas noventa e cinco teses acadêmicas, intituladas “Debate para o Esclarecimento do Valor das Indulgências”.
Lutero na frente da Catedral fixando as teses
·       Para sua surpresa o debate que se seguiu foi muito além do que ele esperava.

Porta onde as 95 teses estão gravadas de forma permanente

III. Lutero diverge cada vez mais da Igreja Romana.
 ·       Lutero foi denunciado em Roma e o teólogo João Eck tornou-se seu oponente pelo resto da sua vida.

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Disputa entre Johannes Eck e Martinho Lutero
 
·       Entre 12 a 14 de Outubro de 1518, Lutero esteve na presença do Cardeal Cajetano que exigia que Lutero se retratasse da tese de número 58 que diz — Tampouco consistem eles dos méritos de Cristo e dos santos, pois esses sempre operam, sem o Papa, a graça do homem interior e ao mesmo tempo a cruz, a morte e o inferno do homem exterior — pois segundo o cardeal a mesma rejeitava a autoridade papal. Lutero recusou-se e teve que fugir às pressas. Este encontro marcou o início dos seus estudos concernentes à autoridade do papado, dos quais ele concluiu que o papado não possui nenhuma autoridade derivada da Bíblia, mas somente dos concílios que ele considerava que podiam errar.

Cardeal Cajetano julgando Lutero.
 ·       Suas novas descobertas foram apresentadas em um debate com João Eck na Universidade de Leipzig entre os dias 4 e 8 de Julho de 1619. Nesta ocasião Eck forçou Lutero a admitir que ele sentia que os concílios podem errar, e isto consistia em uma doutrina especificamente combatida pela Igreja Romana.

 ·       Ainda neste encontro, João Eck conseguiu arrancar de Lutero uma confissão onde ele pensava que João Huss havia sido injustamente condenado pelo Concílio de Constança acontecido entre os anos de 1414—1418.

 
    João Huss

·       A partir daí Lutero passou a depender cada vez mais e mais da Bíblia como única fonte de autoridade em questões de fé e prática. E aqui temos outro pilar da Reforma Protestante: Sola Scriptura. Como o todo da salvação depende exclusivamente de Deus e da obra realizada pelo Senhor Jesus, então não existe nenhum espaço para o ser humano se gloriar. Aqui está outro pilar da Reforma Protestante: Soli Deo Gloria.

    Cinco solas
·       Lutero tornou-se tão inimigo do papado que começou a desenvolver inúmeras idéias que muito da corrupção que existia na igreja devia-se exatamente ao fato da existência da instituição chamada de papado. Lutero publicou, no final da sua vida, um pesado e muito amargo livro intitulado: “Sobre o Papado em Roma, Fundado pelo Diabo”.

IV. Lutero começa a promover a necessidade da Reforma.
 ·       Foi somente após o debate em Leipzig, em 1519, que Lutero começou a reclamar abertamente que a Igreja Católica Romana precisava ser reformada. Para alcançar este objetivo produziu uma série de livros e tratados, entre os quais podemos citar:

o   Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã sobre a Reforma do Estado Cristão.
 
o   Do Cativeiro Babilônico da Igreja.

 o   Sobre a Liberdade Cristã.

·       Nestes materiais Lutero começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único mediador entre Deus  e os homens e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade dos papas e dos concílios.

 ·       Além do mais, Lutero passou a acentuar a necessidade de pôr um fim aos abusos eclesiásticos, tendo alistado várias práticas abusivas nos jejuns, missas, dias santos e votos monásticos, entre os quais, considerava especialmente pernicioso o celibato para os clérigos.
 
·       Lutero atacou frontalmente o sacramentalismo da Igreja Romana e questionava a doutrina ensinada acerca da repetição do sacrifício de Cristo mediante a missa católica.

·       Por fim Lutero passou a ensinar a ética cristã com base no amor.

V. A Cúria Romana reage a Lutero.
 ·       Em 15 de Junho de 1520, a cúria Romana expediu a bula — uma carta pontifícia de caráter especialmente solene — Exsurge Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado a menos que se retratasse de seus pontos de vista.

 ·       A reação de Lutero foi queimar a bula papal em público, juntamente com muitos livros que ensinavam as doutrinas católicas romanas. O rompimento era definitivo e não havia mais nenhum modo de voltar atrás.


Lutero Queimando a Bula Papal
 ·       O imperador Carlos V reagiu ordenando a queima, também em público, dos livros escritos por Lutero.

 
Imperador Carlos V

 ·       O imperador Carlos V apesar de católico, usou as proposta de Lutero contra o papado como uma arma em benefício próprio quando percebeu que o papa Leão X se inclinava, de maneira mais favorável a seu rival, Francisco I, da França.
 
·       Mas, ao mesmo tempo, Carlos V desejava ver Lutero condenado à morte sem que fosse sequer ouvido. Mas tanto príncipes como teólogo, por razões diversas, não consentiam com tal possibilidade.  Ficou então decido que Lutero deveria comparecer diante duma dieta – Assembléia política de alguns Estados do Império – que se reuniria em Worms no ano de 1521.
 
·       Lutero então compareceu diante do Imperador Carlos V na dieta de Worms em 1521. O homem responsável por interrogá-lo, perguntou a Lutero se se retratava. Lutero respondeu dizendo que seus livros refletiam a doutrina cristã e que não era lícito ninguém pedir-lhe para se retratar de tais escritos.

Dieta de Worms

·       Depois de apresentar outras acusações, seu inquiridor, por fim, lhe perguntou: Retratas-te, ou não? Ao que Lutero respondeu em alemão, desprezando o latim, a língua oficial dos teólogoS: NÃO POSSO NEM QUERO RETRATAR-ME DE COISAALGUMA, POIS IR CONTRA A CONSCIÊNCIA NÃO É JUSTO NEM SEGURO. DEUS ME AJUDE. AMÉM.

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Lutero diante da Dieta de Worms

Que Deus abençoe a todos.
 Alexandros Meimaridis
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