Este estudo é parte de uma Análise do Livro do Gênesis. Nosso interesse é
ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da
História Primeva da Humanidade. No final de cada estudo o leitor encontrará
direções para outras partes desse estudo.
O Livro do Gênesis
O Princípio de Todas as Coisas
בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ
Eretz
ha ve-et Hashamaim
et Elohim Bará Bereshit
Terra a
e céus os
Deus criou princípio No
Gênesis
1:1
CONTINUAÇÃO
XII —
Gênesis 11 — “Deram com uma Planície na Terra de Sinear”.
F. A
Decisão de Construir a Torre — Os Aspectos Espirituais - Gênesis 11:4.
O plano propostos pelos humanos possui, no que diz
respeito à construção, dois objetivos centrais:
1. A edificação de uma cidade que, como iremos ver,
tornou-se o modelo representativo de tudo aquilo que se levanta contra Deus.
2. E a edificação de uma torre. A intenção com
respeito à torre, que é chamada מִגְדָּל — migddal – em hebraico, não deixa dúvidas de que a mesma
deveria se parecer com um edifício moderno, sendo uma construção baseada em
“andares”, uns em cima dos outros.
1. A
Construção de Cidades — Caim o Primeiro Construtor de uma Cidade.
A história de Caim já
foi analisada nesse trabalho sobre certos aspectos — ver parte VIII — inclusive
sua ação como construtor da primeira cidade. Mas a construção da cidade e da
Torre de Babel no obriga a retomarmos esse tema por causa da profunda dimensão
que o mesmo tem em termos da narrativa bíblica. A cidade da Babilônia, iniciada
aqui com a construção da cidade e da Torre de Babel, irá ocupar a imaginação
dos autores bíblicos de todos os tempos, culminando com o Apocalipse de João —
último livro da revelação bíblica. A cidade e a torre mencionadas em Gênesis 11
são representativas de todo e qualquer poder sociopolítico que se incorpore numa
entidade ou organização contrária à adoração exclusiva de Deus. Ao agir dessa
maneira os seres humanos desejam tornar-se um fim em si
mesmos e reconstruir a realidade a partir de suas próprias convicções e
independentes da vontade de Deus. É
por esses motivos que precisamos retornar a Caim e ao grande significado de
tudo o que ele começou a fazer ao gerar um filho e construir uma cidade — ver
Gênesis 4:17.
Após Caim ter assassinado
seu irmão Abel, ele foi confrontado pelo Senhor. Pelo fato de ter derramado o
sangue do seu irmão, Caim foi então pronunciado אָרוּר – arur — maldito, por parte de Deus — ver Gênesis 4:11. A
maldição tem a ver com a forma como a terra irá reagir às tentativas de cultivo
feitas por Caim, bem como o fato de que ele iria se tornar um fugitivo e alguém
errante pela Terra. De acordo com a palavra do Senhor:
Gênesis 4:12
Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua
força; serás fugitivo e errante pela terra.
Caim, por sua vez, se
queixa ao Senhor alegando que seu castigo é muito grande e que certamente
alguém irá encontrá-lo e matá-lo — ver Gênesis 4:13—14. O Senhor responde de
forma graciosa, como lhe é tão comum — ver Êxodo 34:5—7 — assegurando a Caim
que:
Gênesis 4:15
O SENHOR, porém, lhe disse: Assim, qualquer
que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o SENHOR um sinal em Caim para
que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse.
A partir desse momento a
Bíblia nos diz que “retirou-se Caim da presença do SENHOR” e foi habitar na
terra de Node onde conheceu sua mulher, teve um filho e construiu um cidade —
ver Gênesis 4:16—17. A frase que deve chamar nossa atenção, nesses últimos dois
versículos, é exatamente essa que diz que Caim “retirou-se da presença do
SENHOR”. E é aí, caro leitor, que reside a raiz de todos os problemas e de
todas as malfadadas ações que, como seres humanos, intentamos contra Deus.
Até o momento em que
Caim matou Abel, existia certa segurança tácita em meio à raça humana mediante
a proteção que certamente o Deus criador garantia às suas criaturas contra
agressões causadas pela natureza. Mas Caim destruiu essa segurança introduzindo
o gosto por derramar sangue e por vingança. E como o sangue de Abel foi
derramado sobre a terra, a mesma se torna inimiga do homem. Por outro lado, nós
os ocidentais, não fazemos a menor idéia da força representada pelo desejo de
vingança pelo sangue derramado que existe no meio dos povos que habitam o
chamado Oriente Médio.
No diálogo travado entre
Deus e Caim, como vimos a pouco, nos temos a nítida impressão que estamos mesmo
diante de um homem que se revoltou contra seu Criador — ver Gênesis 4:3—8 — que
matou seu próprio irmão e que, em muito pouco tempo, perderá toda capacidade de
continuar acreditando em Deus. Mas independentemente da sua atitude, Caim está
sobre a proteção graciosa de Deus e será esta proteção que irá garantir sua
sobrevivência, mesmo que ele não a reconheça. Caim demonstra que não confia nem
no Senhor nem na marca que este colocou sobre ele. Esse é o motivo central
porque Caim decide retirar-se da presença de Deus. Mas do que “mudar de endereço”
indo habitar na terra de Node, Caim se retira espiritualmente da presença de
Deus. Ele não entende que bondade e severidade andam de mãos dadas quando se
trata da maneira como Deus lida com nossos pecados que, por causa do fato de
Deus ser eterno, o ofendem eternamente — ver Romanos 11:22. Pecados não são e
não podem ser tratados como coisas insignificantes porque ofendem eternamente o
Deus eterno. Como bem expressou o apóstolo Paulo “Graças a Deus pelo seu dom
inefável! — 2 Coríntios 9:15. Não fosse pelo sacrifício de Cristo e nunca nossa
relação com Deus poderia ser restabelecida. Mas retornemos a Caim e sua falta
de confiança em Deus. Caim não confia que esta “tal marca”, que ele é incapaz
de enxergar, será suficiente para garantir sua sobrevivência em meio à
gravidade da sua rebelião e desobediência que o haviam alienado de Deus e de
sua família. Caim percebe que de agora em diante ele precisará:
1. Lutar contra inúmeras
forças hostis — Deus, outros seres humanos e a própria natureza.
2. Desenvolver meios
para subjugar seres humanos e as forças contrárias da natureza.
3. Tomar todas as
garantias que estejam ao seu alcance para garantir sua sobrevivência.
Mas tudo isso não passa
de mera ilusão. Para Caim todas essas atitudes lhe parecem necessárias e
objetivas, mas na realidade elas são incapazes de protegê-lo.
Pelo fato de Caim não
aceitar a segurança que Deus lhe oferece é que ele irá procurar estabelecer sua
própria segurança. O que ele não compreende é que não existe verdadeira
segurança fora da presença de Deus — veja como Davi reconhece, quando era
perseguido por Saul e seus homens e por Absalão e seus homens, que a verdadeira
segurança está somente em Deus nos Salmos 7, 11, 12, 13, 17, 25, 26, 31, 34,
35, 52, 54, 56, 57, 59, 64, 109, 140, 141. Para Caim, todavia, a segurança
oferecida por Deus não vale absolutamente nada. Ele só irá se sentir seguro se
seguir os desejos mais profundos do seu coração insatisfeito.
Longe de Deus as duas
maiores necessidades de Caim são sua sede de eternidade e de descanso. Ele olha
para o Éden e o deseja. Sem saber, ele realmente deseja a presença de Deus no
Éden e não o jardim em si mesmo. Mas seus sentidos estão turvados pelo pecado e
ele não consegue perceber a verdade. Como Caim acha que tudo o que ele precisa é
um novo Jardim do Éden, ele se propõe a criar um para si mesmo. Seu sonho de
eternidade também poderá ser satisfeito, assim ele imagina, através da
procriação. São essas considerações que estão por trás de seus atos de
“edificar uma cidade e de gerar um filho”.
Caim, como o primeiro
construtor de uma cidade imagina seu ato como a resposta mais apropriada a seus
desejos mais profundos: segurança e eternidade. A relação entre esses dois
anseios mais profundos de sua alma pode ser visto pelo nome que ele atribuiu à
cidade e a seu filho primogênito:
1.E coabitou Caim com
sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque — חֲנוֹךְ — Hanoch.
2. Caim edificou uma
cidade e lhe chamou Enoque — חֲנוֹךְ — Hanoch, o nome de seu filho.
Por que teria Caim atribuído a seu filho primogênito, bem como à cidade que edificou o mesmo nome? Comecemos pela cidade que Caim construiu. Aquele era um lugar onde ele podia, acima de tudo, ser ele mesmo. O lugar onde ele podia se sentir seguro, onde poderia encontrar descanso e deixar de ser vagabundo no sentido próprio do termo — alguém que leva uma vida errante; que vagueia. Além disso, a cidade representava para Caim um sinal visível da sua segurança. De acordo com a decisão que ele havia tomado de “retirar-se da presença do SENHOR”, sua segurança dependia agora dele mesmo apenas. A construção da cidade, portanto, é consequência direta do ato criminoso de Caim e de sua recusa terminante de aceitar a segurança oferecida por Deus.
O Éden de Deus é
substituído pela cidade de Caim, da mesma maneira que o propósito que o Deus
Criador tinha para Caim foi substituído pelos planos que o próprio Caim fizera
para si mesmo. Sua cidade e seu filho são chamados de Enoque — חֲנוֹךְ — Hanoch e isso
não é mera coincidência. Este nome é derivado do verbo que significa: dedicar,
inaugurar ou iniciar. Para Caim seus atos possuem um profundo significado. Eles
representam um novo princípio, não como o “princípio” originado por Deus e
mencionado em Gênesis 1:1, e sim algo completamente diferente. Algo iniciado
pelo homem e dependente do ser humano. “No princípio Deus” nos diz o livro do
Gênesis. Para Caim porém, Deus não era mais nem apropriado nem pertinente. Um
novo início era necessário. Um início centrado no homem, em sua mente
distorcida e seu coração enfermos pelo pecado.
A cidade de Caim se opõe
ao Éden de Deus. A proposta de Caim é grandiosa. Ele deseja reconstruir o mundo
conforme a sua imagem e semelhança. Para alcançar seu objetivo Caim arrasta a
criação para dentro do mesmo abismo em que ele se encontrava. Abismo de
escravidão, de pecado e de uma amargurada revolta que tenta a todo custo se
libertar desta situação. Com isso Caim aumenta ainda mais a distância que
existia entre ele e o Deus Criador. É dessa revolta que nasce a primeira
cidade. Sua maior dificuldade, todavia, é que a solução para os problemas que
ele enfrentava estava concentrada nas mãos de Deus, e isto era algo que ele não
podia tolerar. Caim deseja encontrar, por si mesmo, a solução para todos os
dilemas que seus atos haviam criado. Mas seus projetos apenas agregam ofensa à
injúria. Cada novo ato de sua parte representa uma ofensa ainda maior a Deus e
o afunda em um abismo cada vez mais profundo.
A civilização humana,
como a definimos em tempos modernos, começa com o estabelecimento de uma cidade
e com tudo o que tal cidade representa. Para Caim Deus se torna apenas uma
figura imaginária, uma hipótese. Por modo semelhante o Paraíso se torna apenas
uma lenda e a própria criação não passa de um mito. Quando Caim decide chamar
seu filho e sua cidade de Enoque — חֲנוֹךְ — Hanoch — início, ele estava coberto de razão. Por todos
os cantos do planeta Terra nós encontramos exemplos de como aquele início se
desenvolveu e se tornou ubíquo. Ao registrar a história de Caim como construtor
da primeira cidade — Gênesis 4:17 — a
Bíblia nos revela muito mais do que o mero ato ali descrito. Ela nos revela:
1. Qual era a intenção
do ser humano ao decidir construir a cidade — dar o pontapé inicial em um novo
“princípio” independente de Deus
2. O que o ser humano
esperava alcançar por meio daquela construção — uma segurança que fosse
independente de Deus.
3. O que os pensamentos
do ser humano desejavam estabelecer — um nome para si mesmo que se estendesse
por toda a eternidade.
A palavra hebraica עִיר — ‘iyr –
traduzida por cidade possui, na realidade, outros significados. Esses são:
agitação, angústia e terror. Uma contração provinda da mesma raiz עָר — ‘ar — é
traduzida pela palavra “inimigo” — ver 1 Samuel 28:16. Esses significados
denotam que as cidades não são apenas ajuntamentos de moradias, ruas, palácios,
muralhas e etc. As cidades são forças espirituais. A primeira cidade foi fruto da revolta do ser
humano e certamente “outras forças” estavam também presentes auxiliando o homem
em sua empreitada. Como tal as cidades possuem a capacidade de influenciar as
pessoas. Elas podem direcionar e alterar o curso da vida espiritual dos seres
humanos. As cidades não representam apenas o “urbano” em oposição ao rural ou
campestre. Elas são poderosas na força de atração que exercem sobre as pessoas
e compõe um mistério que é mesmo assustador. Se considerarmos, de forma
desapaixonada, o significado da palavra עִיר — ‘iyr — agitação, angústia e terror, bem como da sua
contração עָר — ‘ar — inimigo, nós podemos concluir que elas descrevem
de modo preciso o que as cidades representam em pleno século XXI.
A cidade como concebida
por Caim não passava de um ídolo. Estava, portanto, destinada a ser destruída. Ao mesmo tempo ela representava um poder cujo
propósito era o de se elevar acima do próprio Deus. A cidade de Caim deveria
representar para ele mesmo, muito daquilo que só podemos encontrar, de forma
verdadeira, na pessoa do próprio Deus. Ao construir sua cidade Caim colocou
toda sua revolta em cada parte. Se pudéssemos ver tal construção a partir do
seu espectro espiritual, nós ficaríamos muito chocados com a terrível aparência
da mesma. Todas as vezes que podemos presenciar esse tipo de manifestação, nós
estamos diante de uma força que só pode ser definida de uma maneira: demoníaca.
As atitudes de Caim são
representativas daquelas que são comuns a todos os seres humanos. Caim foi
pronunciado אָרוּר — arur — maldito pelo Senhor — ver Gênesis 4:11. De modo
semelhante todos os seres humanos, como descendentes de Adão, estão sobre a
maldição da condenação do pecado. É somente em Cristo que nós podemos nos
livrar desta maldição — ver Gálatas 3:13. E é por causa de Cristo que temos a
promessa de que na eternidade “nunca mais haverá qualquer maldição” — ver Apocalipse 22:3. Mas em vez de aceitar a provisão de Deus, tanto
Caim como outros seres humanos buscam solucionar seus problemas por si mesmos.
A posição de arrogância é refletida na imaginação que diz: “eu
posso resolver meus problemas sozinho e sem o auxílio ou a bênção de Deus”. Ou como fazemos em nossos dias, “eu
acredito que posso comprar a solução para os meus problemas por meio de minhas
ofertas”. É por causa da
maldição de Deus que pesa sobre os seres humanos que eles fazem de tudo para
tornarem-se poderosos — poder manifesto em forma de riquezas, desenvolvimento,
domínio, etc. Eles acreditam, em suas mentes doentias, que ao se tornarem
poderosos poderão manter em cheque e impedir os efeitos da maldição proferida
sobre suas cabeças. Este é o verdadeiro motivo porque o homem desenvolve as
artes e as ciências; porque ele organiza exércitos e constrói armamentos cada
vez mais sofisticados, bem como cidades. A manifestação desse “espírito de
poder” não passa de uma tentativa desesperada do ser humano de tentar paralisar
ou até reverter as consequências de ser pronunciado אָרוּר — arur —
maldito pelo Senhor.
2.
Nimrode: O Construto de Cidades.
Depois de Caim o próximo
construtor mencionado na Bíblia é Nimrode. Mas ao contrário de Caim que, pelo
registro bíblico construiu apenas uma cidade, Nimrode é citado como tendo sido
o construtor de muitas cidades — ver Gênesis 10:10—12. De fato, a Bíblia nos
diz que Nimrode foi o primeiro homem a se tornar גִּבֹּר — gibor — poderoso sobre a terra. Temos que nos lembrar
que Nimrode era neto de Cam e esse, por sua vez, havia sido pronunciado אָרוּר — arur —
maldito pelo seu próprio pai, Noé. Apesar do fato de que a maldição proferida
por Noé tenha sido pronunciada contra o filho de Cam chamado Canaã, a intenção
de Noé era bastante clara como podemos ver na narração que encontramos em Gênesis
9:24—27. A reação de Nimrode contra a maldição proferida sobre seu avô é
semelhante à de Caim. Para ele pouco importava o que seu bisavô — Noé — tinha
feito. Ele decide lutar com todas as suas forças para provar que era capaz de
impedir ou até mesmo reverter as consequências da maldição proferida sobre seu
antepassado. Essa é a causa porque ele decide tornar-se poderoso e seu poder se
manifesta, de forma bastante explícita, na construção não de uma, mas de muitas
cidades.
Todas as manifestações
de concentração de poder por parte dos seres humanos são o resultado direto do
endurecimento do nosso coração contra a pessoa de Deus. O poder humano de
qualquer natureza é uma declaração de que o ser humano é poderoso em verdadeira
oposição ao Deus Todo-Poderoso. É mesmo muito surpreendente a tendência que
existe em nós de admirar e até mesmo de adorar aqueles que são poderosos. E uma
das maneiras prediletas dos seres humanos afirmarem que são poderosos é
construindo e conquistando cidades. Mas esse tipo de poder é ilusório porque
ele existe somente até Deus se levantar para julgar. Note como a poderosa
“Babilônia” mencionada no livro do Apocalipse e que representa todas as cidades
do mundo, desaparece rapidamente quando Deus decide agir contra ela — ver
Apocalipse 18:8, 10, 17 e 19. Este é o motivo porque Jesus insiste que o
caminho que precisamos trilhar não é do “poder” humano, independentemente da
forma que o mesmo possa assumir, e sim do serviço mútuo — ver Mateus 20:25 – 28
e João 13:4 – 17. Esse também foi o motivo da tentação do diabo ao oferecer a
Cristo o domínio sobre os reinos do mundo. É vergonhoso perceber, mesmo em
instituições religiosas, uma hierarquia rígida de poder.
O texto bíblico,
todavia, além de nos dizer que Nimrode tornou-se poderoso acrescenta que isso
não aconteceu em um vazio, mas que tal evento ocorreu na presença do SENHOR —
ver Gênesis 10:8—9. Esse é o Deus acerca do qual a Bíblia nos diz que é:
1. Terrível em feitos
gloriosos — Êxodo 15:11.
2. Cujo nome é “glorioso
e terrível” — Deuteronômio 28:58.
3. Tu, sim, tu és
terrível; se te iras, quem pode subsistir à tua vista? — Salmos 76:7.
4. Todas as nações são
perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como
um vácuo — Isaías 40:17.
5. Horrível coisa é cair
nas mãos do Deus vivo — Hebreus 10:31.
E foi exatamente a esse
Deus que nós, os cristãos, nos aproximamos. Portanto vejamos bem como nos
comportamos — ver Hebreus 12:22—29.
Nimrode, apesar da sua
capacidade como construtor, e toda sua arrogância — ele certamente estava
envolvido com a construção da cidade e da torre de Babel — não compreendia que
todas suas manifestações de poder estavam mantidas, de forma permanente, em
cheque pelo Deus Todo-Poderoso. E aqui nós devemos anotar um princípio
permanente através das páginas da Bíblia. Todas as manifestações de
concentração de poder — seja ele político, econômico, militar, religioso ou de
outra natureza qualquer — estão completamente fora da vontade de Deus. Os
descendentes de Nimrode e todos os descendentes de Cam foram, de modo geral,
habitantes de cidades e é a eles que devemos o desenvolvimento de algumas das
maiores civilizações de todos os tempos. O Egito, a Mesopotâmia, a Índia, a
China, o México, a América Central e a América do Sul — especialmente a porção
Andina — estão marcadas, de forma indelével, pela presença destes povos.
Todas as cidades
construídas por Nimrode e seus descendentes são marcadas, de forma idêntica,
por uma manifestação de poder político, militar, econômico e religioso. A terra
de Sinear tornou-se o verdadeiro oposto do paraíso plantado pelo Senhor.
Enquanto aquele era um lugar de paz, onde o próprio Deus costumava andar na
“viração do dia” — ver Gênesis 3:8 — esta tem sido a terra da morte e da
destruição por longos milênios. Sumérios, babilônios, assírios, medos, persas e
gregos tiveram seus centros de poder estabelecidos ali. E, em tempos modernos,
é também ali que estadunidenses, ingleses, alemães, italianos e mais duas
dúzias de nacionalidades combatem contra afegãos e iraquianos e outras
nacionalidades. Sinear é a terra que representa o poder de sedução de todas as
cidades. Foi em Sinear que os Judeus, levados cativos para a Babilônia,
sentiram-se atraídos para aquele modo de vida — representado por poder e
violência. Sucumbiram à tentação e poucos demonstraram o desejo de retornar
para a terra prometida. Abandonaram o Senhor e Seus caminhos a favor das coisas
novas — especialmente as práticas do comércio — que haviam aprendido em
Babilônia. Esse é um problema antigo. Era da Babilônia, a boa capa cobiçada por
Acã em Jericó, o que levou a contaminar todo arraial dos israelitas a ponto deles
serem derrotados por seus inimigos — ver Josué 7. A terra de Sinear é a terra
da idolatria e do pecado. É a terra da pirataria e da roubalheira — ver Daniel
1:2. Talvez a passagem mais descritiva acerca da impiedade da terra de Sinear
seja a que encontramos em Zacarias 5:5—11 onde nos é dito que a iniquidade de
“toda a terra” tem sua moradia naquele lugar.
Ests é a ímpia herança
que nos foi legada por Nimrode: a construção de cidades e a prática da guerra.
Estss são os dois polos que têm marcado, de forma bastante característica,
aquilo que chamamos de civilização humana desde quando nossa história passou a
ser registrada. Mas precisamos nos lembrar sempre de que o SENHOR vê e sabe
todas estas coisas.
3. Os
Construtores da Cidade e da Torre de Babel.
Gênesis 11:4
Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma
cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso
nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.
A história da cidade e da
torre narrada em Gênesis 11 tem seu foco central na palavra hebraica שֵׁם — shem – que
é traduzida pela expressão “nome” em português. Para nos ajudar a entender
melhor essa afirmação que acabamos de fazer, nós precisamos compreender o valor
que o nome — qualquer nome — tinha no seio da cultura judaica. Para os judeus o
nome de qualquer ser é um sinal de domínio e o mesmo sempre possui conotações
ou qualidades espirituais. Foi o próprio Deus quem deu nome ao primeiro homem e
esse, por sua vez, deu nome a todos os animais. Esses atos, aparentemente sem
muito significado, são representativos do estabelecimento de um relacionamento
onde aquele que recebe o nome é inferior àquele que confere o nome. O povo
rebelde que alcançou a planície de Sinear — ver Gênesis 11:2 — estava cansado
de ter que se submeter àquele de quem haviam recebido seu nome. Estavam fartos
daquela condição de inferioridade. Este é o motivo central porque declaram:
“tornemos célebre nosso nome”. Eles querem se nominar a si mesmos. Esta autodenominação
não deve ser confundida com nosso conceito de reputação. A autodenominação,
neste contexto, significa em primeiro lugar e acima de tudo, independência. E
essa, por sua vez, será afirmada pela construção da cidade e da torre. O desejo
daquele povo era ver-se livre, independente e separado do Deus Criador e
Todo-Poderoso de uma vez por todas. Mas como iremos ver as coisas não são tão
simples assim como arquitetadas pelos seres humanos.
Mesmo nutrindo ests
imenso desejo de independência, aquele povo, continuava dependente de Deus, do
Deus Criador, do Deus que era o Soberano Senhor sobre eles, porque fora dEle
que eles tinham recebido o nome que tinham. Como foi com o primeiro homem — a
quem Deus veio ao encontro no Jardim do Éden chamando-o pelo seu nome אָדָם — Adam —
assim também, Deus pretende confrontar esses rebeldes. Querendo ou não,
gostando ou não dessa idéia, eles eram ainda criaturas. Ainda pertenciam, por
direito absoluto, ao Deus Criador.
Mas o desejo daquele
povo ia além da mera independência de Deus. Como Caim, que imaginou fazer um
novo início — chamando tanto seu filho como sua cidade — a primeira cidade a
ser construída — pelo nome de חֲנוֹךְ — Hanoch — início, esse povo também desejava excluir Deus
do mundo criado. Para alcançar esse alvo, todavia, era necessário certo tipo de
solidariedade que só poderia ser alcançada através de um nome que pudesse unir
os seres humanos de tal maneira, que nunca mais pudessem ser dispersos por
sobre a face da terra. O sinal e símbolo maior dessa solidariedade era a
construção duma cidade e de uma torre. Uma construção que seria fruto do
trabalho coletivo e solidário. Aquele deveria ser um local construído pelo
homem e para o homem e de onde Deus deveria ser completamente banido. Somente
assim eles poderiam “criar”, para si mesmos, um nome que fosse célebre. Era
ali, naquela cidade e torre que o homem enxergava a possibilidade de deixar de
ser mera criatura para se tornar semelhante ao Senhor que os havia criado e de
quem haviam recebido o nome que tinham. Agora note que, ao contrário do que
aconteceu com Caim, não sabemos como eles pretendiam chamar esse
empreendimento. O nome que temos בָּבֶל — Babel — não era o nome original, mas foi como o local
ficou conhecido após a ação de Deus — ver Gênesis 11:9.
O projeto dos
construtores do complexo que ficou conhecido como Babel incluía uma cidade e
uma torre. Isto era necessário porque é na construção de uma cidade que a
independência de Deus por parte do ser humano é estabelecida. E essa mesma
cidade serve como um memorial permanente daquela mesma independência. A torre é
apenas um passo além nesse desejo de independência e da construção de um
memorial. A palavra que traduzimos por torre é מִגְדָּל — migddal — que significa torre ou plataforma
elevada é muitas vezes utilizada no Antigo Testamento para se referir a uma
torre ou acrópole fortificada, como podemos ler em Juízes 8:9 e 17; 9:46—52;
Salmos 48:12 e Ezequiel 26:9. O próprio Deus é referido como uma torre de
proteção contra os inimigos, como podemos ver no Salmo escrito por Davi — ver
Salmos 61:2—3. No livro do profeta Isaías, a expressão מִגְדָּל — migddal é utilizada
como um símbolo, por excelência, de força e orgulho — ver Isaías 2:12—17; 30:25
e 33:17—19 — e por esse motivo
constitui-se em um elemento que aborrece a Deus de um modo particular — ver
Isaías 25:1—3.
Quando lemos Gênesis
11:4 ficamos com a nítida impressão que estamos diante de um bando de
megalomaníacos. Temos essa impressão porque a intenção daqueles construtores
era fazer com que a torre que pretendiam construir “chegasse até os céus”. Mas
essa expressão é apenas um indicativo de que tratava-se de um edifício de
proporções monumentais. Quando os espiões retornaram de espiar a terra
prometida, eles reportaram ao povo que as cidades que eles haviam visto na
terra prometida eram “grandes e fortificadas até aos céus” — ver Deuteronômio
1:28. O próprio Moisés se referiu às cidades que os israelitas estavam para
tomar posse como sendo “grandes e amuralhadas até aos céus” — ver Deuteronômio
9:1. E as palavras de Jeremias 51:53 são reminiscentes dessas que encontramos
em Gênesis 11:4.
A pretensão de tornar
célebre o nome não é esclarecida pelo texto. Não temos idéia de que consequências
sobre seu nome eles esperavam ao construir a cidade e a torre. É certo que
grandes cidades acabam celebrizando seus arquitetos como é o caso de Barcelona
com suas muitas torres traçadas por Gaudi e de Brasília projetada por Lúcio
Costa e Oscar Niemayer. Esses três são realmente célebres, mas no sentido de
terem alcançado uma enorme reputação e não era esse o propósito daqueles
construtores como já vimos. Mais do que reputação eles desejavam autonomia.
Como Caim antes deles,
nossos construtores imaginavam que a cidade e torre fortificada que estavam
edificando lhes traria também segurança. Mas como a construção que eles
pretendiam fazer estaria estabelecida em uma planície não é difícil entendermos
suas naturais preocupações com a segurança. De todos os tipos de terrenos onde
se pode construir uma cidade, certamente a planície é o mais vulnerável. A
esperança deles é que uma vez estabelecidos e seguros, não precisariam mais ser
espalhados sobre toda a face da Terra, e isto constituía em uma ofensa direta
ao Deus que havia ordenado que se multiplicasse e se espalhasse ao ponto de
ocupar toda a Terra — ver Gênesis 9:1.
Enquanto os homens
tentavam construir um edifício que fosse monumental ao ponto de “alcançar os
céus”, o versículo 5 de Gênesis 11 expressa a verdadeira ironia de toda essa
situação. Não são os homens que alcançam os céus e sim o Deus dos Céus é que
decide “descer” para ver tanto a cidade como a torre que os homens estavam
edificando.
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008 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 1
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009 – Gênesis — A Criação
de Deus - Parte 8A – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 2
010 — Estudo de Gênesis —
A Criação de Deus - Parte 9 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Segundo e o
Terceiro Dia
011
— Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 10 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quarto
Dia
012 — Estudo de Gênesis —
A Criação de Deus — Parte 11 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quinto Dia
013 — Estudo de Gênesis —
A Criação de Deus — Parte 12 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia —
Parte 1
013A — Estudo de Gênesis
— A Criação de Deus — Parte 12A — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia —
Parte 2
014
— Estudo de
Gênesis — A Criação de Deus — Parte 13 — Teorias Evolutivas
015 — Estudo de Gênesis — Gênesis
2 — Parte 14 — GÊNESIS 2A
016 — Estudo de Gênesis — Gênesis
2 — Parte 15 — GÊNESIS 2B
017 — Estudo de Gênesis — Gênesis
3 — Parte 16 — GÊNESIS 3A
018 — Estudo de Gênesis — Gênesis
3 — Parte 17 — GÊNESIS 3B
019 — Estudo de Gênesis — Gênesis
3 — Parte 18 — GÊNESIS 3C
020 — Estudo de Gênesis — Gênesis
3 — O Livre Arbítrio — Parte 19
021 — Estudo de Gênesis — Gênesis
3 — O Dois Adãos — Parte 20
022 — Estudo de Gênesis —
Gênesis 4 — A Era Pré-Patriarcal e a Mulher de Caim — Parte 21
023 — Estudo de Gênesis —
Gênesis 4 — Caim, O Primeiro Construtor de Uma Cidade — Parte 22
024 — Estudo de Gênesis —
Gênesis 4 — Caim, Como Assassino e Fugitivo da Presença de Deus — Parte 23
025 — Estudo de Gênesis —
Gênesis 4 — Caim, Como Primeiro Construtor de uma Cidade e Pseudo-Salvador da
Humanidade — Parte 24
026 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Conclusão
Acerca de Caim — Parte 25
027 — Estudo de Gênesis — Gênesis 5 — Sete e
outros Patriarcas Antediluvianos — Parte 26
028 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A
Perversidade Humana, Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens— Parte 27A
029 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — OS Nefilim
e os Guiborim — Os Gigantes e os Valentes — Parte 27B
030 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A
Maldade do Coração Humano— Parte 27C.
031 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A
Corrupção Humana Sobre a Face da Terra e Deus Pode se Arrepender? — Parte 27D.
032 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e
a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28A.
033 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e
a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28B.
034 — Estudo de Gênesis — Gênesis 7 — Noé e
a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 29 — O Dilúvio Foi Global
Ou Local?
035 — Estudo de Gênesis — Gênesis 8 — A
promessa que Deus Fez a Noé e seus descendentes — Parte 30 — Nunca Mais
Destruirei a Terra Pela Água
036 — Estudo de Gênesis — O Valor Perene do Dilúvio para todas as
Gerações — PARTE 001
037 — Estudo de Gênesis — O Valor Perene do
Dilúvio para todas as Gerações — PARTE 002
038 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus
com Noé — PARTE 001
039 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus
com Noé — PARTE 002
040 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus
com Noé — PARTE 003
041 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus
com Noé — PARTE 004 — A NATUREZA DA ALIANÇA ENTRE DEUS E NOÉ
042 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus
com Noé — PARTE 005 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 001
043 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus
com Noé — PARTE 006 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 002 — OS NEGROS SÃO
AMALDIÇOADOS?
044 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus
com Noé — PARTE 007 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 003 — A CONTRIBUIÇÃO DOS FILHOS
DE NOÉ PARA A HUMANIDADE
045 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES
— PARTE 001 — OS DESCENDENTES DE JAFÉ
046 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES
— PARTE 002 — OS DESCENDENTES DE CAM: NEGROS, AMARELOS E VERMELHOS
047 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES
— PARTE 003 — OS DESCENDENTES DE SEM E A ORIGEM DOS HEBREUS
048 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES
— PARTE 004 — A TÁBUA DAS NAÇÕES É UM DOCUMENTO ÚNICO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
049 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 001
050 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 002
051 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 003
052 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 004
053 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 005
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/08/genesis-estudo-053-torre-de-babel-parte.html
054 — Estudo de Gênesis — A
GENEALOGIA DOS SEMITAS
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/11/genesis-estudo-054-genealogia-dos.html
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
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