quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Gênesis — Estudo 052 — A TORRE DE BABEL — PARTE 004 — ASPECTOS ESPIRITUAIS DA CONSTRUÇÃO DA TORRE DE BABEL


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Este estudo é parte de uma Análise do Livro do Gênesis. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da História Primeva da Humanidade. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo. 
O Livro do Gênesis
O Princípio de Todas as Coisas

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ        
              Eretz   ha  ve-et  Hashamaim  et        Elohim        Bará       Bereshit
            Terra  a      e        céus       os        Deus         criou   princípio No
                                                                                     Gênesis 1:1

CONTINUAÇÃO

XII — Gênesis 11 — “Deram com uma Planície na Terra de Sinear”.

F. A Decisão de Construir a Torre — Os Aspectos Espirituais - Gênesis 11:4.

O plano propostos pelos humanos possui, no que diz respeito à construção, dois objetivos centrais:

1. A edificação de uma cidade que, como iremos ver, tornou-se o modelo representativo de tudo aquilo que se levanta contra Deus.

2. E a edificação de uma torre. A intenção com respeito à torre, que é chamada מִגְדָּל migddal – em hebraico, não deixa dúvidas de que a mesma deveria se parecer com um edifício moderno, sendo uma construção baseada em “andares”, uns em cima dos outros.

1. A Construção de Cidades — Caim o Primeiro Construtor de uma Cidade.
A história de Caim já foi analisada nesse trabalho sobre certos aspectos — ver parte VIII — inclusive sua ação como construtor da primeira cidade. Mas a construção da cidade e da Torre de Babel no obriga a retomarmos esse tema por causa da profunda dimensão que o mesmo tem em termos da narrativa bíblica. A cidade da Babilônia, iniciada aqui com a construção da cidade e da Torre de Babel, irá ocupar a imaginação dos autores bíblicos de todos os tempos, culminando com o Apocalipse de João — último livro da revelação bíblica. A cidade e a torre mencionadas em Gênesis 11 são representativas de todo e qualquer poder sociopolítico que se incorpore numa entidade ou organização contrária à adoração exclusiva de Deus. Ao agir dessa maneira os seres humanos desejam tornar-se um fim em si mesmos e reconstruir a realidade a partir de suas próprias convicções e independentes da vontade de Deus. É por esses motivos que precisamos retornar a Caim e ao grande significado de tudo o que ele começou a fazer ao gerar um filho e construir uma cidade — ver Gênesis 4:17.

Após Caim ter assassinado seu irmão Abel, ele foi confrontado pelo Senhor. Pelo fato de ter derramado o sangue do seu irmão, Caim foi então pronunciado אָרוּר arur — maldito, por parte de Deus — ver Gênesis 4:11. A maldição tem a ver com a forma como a terra irá reagir às tentativas de cultivo feitas por Caim, bem como o fato de que ele iria se tornar um fugitivo e alguém errante pela Terra. De acordo com a palavra do Senhor:

Gênesis 4:12

Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra.

Caim, por sua vez, se queixa ao Senhor alegando que seu castigo é muito grande e que certamente alguém irá encontrá-lo e matá-lo — ver Gênesis 4:13—14. O Senhor responde de forma graciosa, como lhe é tão comum — ver Êxodo 34:5—7 — assegurando a Caim que:

Gênesis 4:15

O SENHOR, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o SENHOR um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse.

A partir desse momento a Bíblia nos diz que “retirou-se Caim da presença do SENHOR” e foi habitar na terra de Node onde conheceu sua mulher, teve um filho e construiu um cidade — ver Gênesis 4:16—17. A frase que deve chamar nossa atenção, nesses últimos dois versículos, é exatamente essa que diz que Caim “retirou-se da presença do SENHOR”. E é aí, caro leitor, que reside a raiz de todos os problemas e de todas as malfadadas ações que, como seres humanos, intentamos contra Deus.

Até o momento em que Caim matou Abel, existia certa segurança tácita em meio à raça humana mediante a proteção que certamente o Deus criador garantia às suas criaturas contra agressões causadas pela natureza. Mas Caim destruiu essa segurança introduzindo o gosto por derramar sangue e por vingança. E como o sangue de Abel foi derramado sobre a terra, a mesma se torna inimiga do homem. Por outro lado, nós os ocidentais, não fazemos a menor idéia da força representada pelo desejo de vingança pelo sangue derramado que existe no meio dos povos que habitam o chamado Oriente Médio.

No diálogo travado entre Deus e Caim, como vimos a pouco, nos temos a nítida impressão que estamos mesmo diante de um homem que se revoltou contra seu Criador — ver Gênesis 4:3—8 — que matou seu próprio irmão e que, em muito pouco tempo, perderá toda capacidade de continuar acreditando em Deus. Mas independentemente da sua atitude, Caim está sobre a proteção graciosa de Deus e será esta proteção que irá garantir sua sobrevivência, mesmo que ele não a reconheça. Caim demonstra que não confia nem no Senhor nem na marca que este colocou sobre ele. Esse é o motivo central porque Caim decide retirar-se da presença de Deus. Mas do que “mudar de endereço” indo habitar na terra de Node, Caim se retira espiritualmente da presença de Deus. Ele não entende que bondade e severidade andam de mãos dadas quando se trata da maneira como Deus lida com nossos pecados que, por causa do fato de Deus ser eterno, o ofendem eternamente — ver Romanos 11:22. Pecados não são e não podem ser tratados como coisas insignificantes porque ofendem eternamente o Deus eterno. Como bem expressou o apóstolo Paulo “Graças a Deus pelo seu dom inefável! — 2 Coríntios 9:15. Não fosse pelo sacrifício de Cristo e nunca nossa relação com Deus poderia ser restabelecida. Mas retornemos a Caim e sua falta de confiança em Deus. Caim não confia que esta “tal marca”, que ele é incapaz de enxergar, será suficiente para garantir sua sobrevivência em meio à gravidade da sua rebelião e desobediência que o haviam alienado de Deus e de sua família. Caim percebe que de agora em diante ele precisará:

1. Lutar contra inúmeras forças hostis — Deus, outros seres humanos e a própria natureza.

2. Desenvolver meios para subjugar seres humanos e as forças contrárias da natureza.

3. Tomar todas as garantias que estejam ao seu alcance para garantir sua sobrevivência.

Mas tudo isso não passa de mera ilusão. Para Caim todas essas atitudes lhe parecem necessárias e objetivas, mas na realidade elas são incapazes de protegê-lo.

Pelo fato de Caim não aceitar a segurança que Deus lhe oferece é que ele irá procurar estabelecer sua própria segurança. O que ele não compreende é que não existe verdadeira segurança fora da presença de Deus — veja como Davi reconhece, quando era perseguido por Saul e seus homens e por Absalão e seus homens, que a verdadeira segurança está somente em Deus nos Salmos 7, 11, 12, 13, 17, 25, 26, 31, 34, 35, 52, 54, 56, 57, 59, 64, 109, 140, 141. Para Caim, todavia, a segurança oferecida por Deus não vale absolutamente nada. Ele só irá se sentir seguro se seguir os desejos mais profundos do seu coração insatisfeito.

Longe de Deus as duas maiores necessidades de Caim são sua sede de eternidade e de descanso. Ele olha para o Éden e o deseja. Sem saber, ele realmente deseja a presença de Deus no Éden e não o jardim em si mesmo. Mas seus sentidos estão turvados pelo pecado e ele não consegue perceber a verdade. Como Caim acha que tudo o que ele precisa é um novo Jardim do Éden, ele se propõe a criar um para si mesmo. Seu sonho de eternidade também poderá ser satisfeito, assim ele imagina, através da procriação. São essas considerações que estão por trás de seus atos de “edificar uma cidade e de gerar um filho”.

Caim, como o primeiro construtor de uma cidade imagina seu ato como a resposta mais apropriada a seus desejos mais profundos: segurança e eternidade. A relação entre esses dois anseios mais profundos de sua alma pode ser visto pelo nome que ele atribuiu à cidade e a seu filho primogênito:
1.E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch.
2. Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch, o nome de seu filho.

Por que teria Caim atribuído a seu filho primogênito, bem como à cidade que edificou o mesmo nome? Comecemos pela cidade que Caim construiu. Aquele era um lugar onde ele podia, acima de tudo, ser ele mesmo. O lugar onde ele podia se sentir seguro, onde poderia encontrar descanso e deixar de ser vagabundo no sentido próprio do termo — alguém que leva uma vida errante; que vagueia. Além disso, a cidade representava para Caim um sinal visível da sua segurança. De acordo com a decisão que ele havia tomado de “retirar-se da presença do SENHOR”, sua segurança dependia agora dele mesmo apenas. A construção da cidade, portanto, é consequência direta do ato criminoso de Caim e de sua recusa terminante de aceitar a segurança oferecida por Deus.

O Éden de Deus é substituído pela cidade de Caim, da mesma maneira que o propósito que o Deus Criador tinha para Caim foi substituído pelos planos que o próprio Caim fizera para si mesmo. Sua cidade e seu filho são chamados de Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch e isso não é mera coincidência. Este nome é derivado do verbo que significa: dedicar, inaugurar ou iniciar. Para Caim seus atos possuem um profundo significado. Eles representam um novo princípio, não como o “princípio” originado por Deus e mencionado em Gênesis 1:1, e sim algo completamente diferente. Algo iniciado pelo homem e dependente do ser humano. “No princípio Deus” nos diz o livro do Gênesis. Para Caim porém, Deus não era mais nem apropriado nem pertinente. Um novo início era necessário. Um início centrado no homem, em sua mente distorcida e seu coração enfermos pelo pecado.

A cidade de Caim se opõe ao Éden de Deus. A proposta de Caim é grandiosa. Ele deseja reconstruir o mundo conforme a sua imagem e semelhança. Para alcançar seu objetivo Caim arrasta a criação para dentro do mesmo abismo em que ele se encontrava. Abismo de escravidão, de pecado e de uma amargurada revolta que tenta a todo custo se libertar desta situação. Com isso Caim aumenta ainda mais a distância que existia entre ele e o Deus Criador. É dessa revolta que nasce a primeira cidade. Sua maior dificuldade, todavia, é que a solução para os problemas que ele enfrentava estava concentrada nas mãos de Deus, e isto era algo que ele não podia tolerar. Caim deseja encontrar, por si mesmo, a solução para todos os dilemas que seus atos haviam criado. Mas seus projetos apenas agregam ofensa à injúria. Cada novo ato de sua parte representa uma ofensa ainda maior a Deus e o afunda em um abismo cada vez mais profundo.

A civilização humana, como a definimos em tempos modernos, começa com o estabelecimento de uma cidade e com tudo o que tal cidade representa. Para Caim Deus se torna apenas uma figura imaginária, uma hipótese. Por modo semelhante o Paraíso se torna apenas uma lenda e a própria criação não passa de um mito. Quando Caim decide chamar seu filho e sua cidade de Enoque — חֲנוֹךְ Hanoch — início, ele estava coberto de razão. Por todos os cantos do planeta Terra nós encontramos exemplos de como aquele início se desenvolveu e se tornou ubíquo. Ao registrar a história de Caim como construtor da primeira cidade — Gênesis 4:17 —  a Bíblia nos revela muito mais do que o mero ato ali descrito. Ela nos revela:

1. Qual era a intenção do ser humano ao decidir construir a cidade — dar o pontapé inicial em um novo “princípio” independente de Deus

2. O que o ser humano esperava alcançar por meio daquela construção — uma segurança que fosse independente de Deus.

3. O que os pensamentos do ser humano desejavam estabelecer — um nome para si mesmo que se estendesse por toda a eternidade.
A palavra hebraica עִיר ‘iyr – traduzida por cidade possui, na realidade, outros significados. Esses são: agitação, angústia e terror. Uma contração provinda da mesma raiz עָר ‘ar — é traduzida pela palavra “inimigo” — ver 1 Samuel 28:16. Esses significados denotam que as cidades não são apenas ajuntamentos de moradias, ruas, palácios, muralhas e etc. As cidades são forças espirituais. A primeira cidade foi fruto da revolta do ser humano e certamente “outras forças” estavam também presentes auxiliando o homem em sua empreitada. Como tal as cidades possuem a capacidade de influenciar as pessoas. Elas podem direcionar e alterar o curso da vida espiritual dos seres humanos. As cidades não representam apenas o “urbano” em oposição ao rural ou campestre. Elas são poderosas na força de atração que exercem sobre as pessoas e compõe um mistério que é mesmo assustador. Se considerarmos, de forma desapaixonada, o significado da palavra עִיר ‘iyr — agitação, angústia e terror, bem como da sua contração עָר ‘ar — inimigo, nós podemos concluir que elas descrevem de modo preciso o que as cidades representam em pleno século XXI.

A cidade como concebida por Caim não passava de um ídolo. Estava, portanto, destinada a ser destruída.  Ao mesmo tempo ela representava um poder cujo propósito era o de se elevar acima do próprio Deus. A cidade de Caim deveria representar para ele mesmo, muito daquilo que só podemos encontrar, de forma verdadeira, na pessoa do próprio Deus. Ao construir sua cidade Caim colocou toda sua revolta em cada parte. Se pudéssemos ver tal construção a partir do seu espectro espiritual, nós ficaríamos muito chocados com a terrível aparência da mesma. Todas as vezes que podemos presenciar esse tipo de manifestação, nós estamos diante de uma força que só pode ser definida de uma maneira: demoníaca.

As atitudes de Caim são representativas daquelas que são comuns a todos os seres humanos. Caim foi pronunciado אָרוּר arur — maldito pelo Senhor — ver Gênesis 4:11. De modo semelhante todos os seres humanos, como descendentes de Adão, estão sobre a maldição da condenação do pecado. É somente em Cristo que nós podemos nos livrar desta maldição — ver Gálatas 3:13. E é por causa de Cristo que temos a promessa de que na eternidade “nunca mais haverá qualquer maldição” — ver Apocalipse 22:3. Mas em vez de aceitar a provisão de Deus, tanto Caim como outros seres humanos buscam solucionar seus problemas por si mesmos. A posição de arrogância é refletida na imaginação que diz: “eu posso resolver meus problemas sozinho e sem o auxílio ou a bênção de Deus”. Ou como fazemos em nossos dias, “eu acredito que posso comprar a solução para os meus problemas por meio de minhas ofertas”. É por causa da maldição de Deus que pesa sobre os seres humanos que eles fazem de tudo para tornarem-se poderosos — poder manifesto em forma de riquezas, desenvolvimento, domínio, etc. Eles acreditam, em suas mentes doentias, que ao se tornarem poderosos poderão manter em cheque e impedir os efeitos da maldição proferida sobre suas cabeças. Este é o verdadeiro motivo porque o homem desenvolve as artes e as ciências; porque ele organiza exércitos e constrói armamentos cada vez mais sofisticados, bem como cidades. A manifestação desse “espírito de poder” não passa de uma tentativa desesperada do ser humano de tentar paralisar ou até reverter as consequências de ser pronunciado אָרוּר arur — maldito pelo Senhor.

2. Nimrode: O Construto de Cidades.

Depois de Caim o próximo construtor mencionado na Bíblia é Nimrode. Mas ao contrário de Caim que, pelo registro bíblico construiu apenas uma cidade, Nimrode é citado como tendo sido o construtor de muitas cidades — ver Gênesis 10:10—12. De fato, a Bíblia nos diz que Nimrode foi o primeiro homem a se tornar גִּבֹּר gibor — poderoso sobre a terra. Temos que nos lembrar que Nimrode era neto de Cam e esse, por sua vez, havia sido pronunciado אָרוּר arur — maldito pelo seu próprio pai, Noé. Apesar do fato de que a maldição proferida por Noé tenha sido pronunciada contra o filho de Cam chamado Canaã, a intenção de Noé era bastante clara como podemos ver na narração que encontramos em Gênesis 9:24—27. A reação de Nimrode contra a maldição proferida sobre seu avô é semelhante à de Caim. Para ele pouco importava o que seu bisavô — Noé — tinha feito. Ele decide lutar com todas as suas forças para provar que era capaz de impedir ou até mesmo reverter as consequências da maldição proferida sobre seu antepassado. Essa é a causa porque ele decide tornar-se poderoso e seu poder se manifesta, de forma bastante explícita, na construção não de uma, mas de muitas cidades.      

Todas as manifestações de concentração de poder por parte dos seres humanos são o resultado direto do endurecimento do nosso coração contra a pessoa de Deus. O poder humano de qualquer natureza é uma declaração de que o ser humano é poderoso em verdadeira oposição ao Deus Todo-Poderoso. É mesmo muito surpreendente a tendência que existe em nós de admirar e até mesmo de adorar aqueles que são poderosos. E uma das maneiras prediletas dos seres humanos afirmarem que são poderosos é construindo e conquistando cidades. Mas esse tipo de poder é ilusório porque ele existe somente até Deus se levantar para julgar. Note como a poderosa “Babilônia” mencionada no livro do Apocalipse e que representa todas as cidades do mundo, desaparece rapidamente quando Deus decide agir contra ela — ver Apocalipse 18:8, 10, 17 e 19. Este é o motivo porque Jesus insiste que o caminho que precisamos trilhar não é do “poder” humano, independentemente da forma que o mesmo possa assumir, e sim do serviço mútuo — ver Mateus 20:25 – 28 e João 13:4 – 17. Esse também foi o motivo da tentação do diabo ao oferecer a Cristo o domínio sobre os reinos do mundo. É vergonhoso perceber, mesmo em instituições religiosas, uma hierarquia rígida de poder.

O texto bíblico, todavia, além de nos dizer que Nimrode tornou-se poderoso acrescenta que isso não aconteceu em um vazio, mas que tal evento ocorreu na presença do SENHOR — ver Gênesis 10:8—9. Esse é o Deus acerca do qual a Bíblia nos diz que é:

1. Terrível em feitos gloriosos — Êxodo 15:11.

2. Cujo nome é “glorioso e terrível” — Deuteronômio 28:58.

3. Tu, sim, tu és terrível; se te iras, quem pode subsistir à tua vista? — Salmos 76:7.

4. Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo — Isaías 40:17.

5. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo — Hebreus 10:31.

E foi exatamente a esse Deus que nós, os cristãos, nos aproximamos. Portanto vejamos bem como nos comportamos — ver Hebreus 12:22—29.

Nimrode, apesar da sua capacidade como construtor, e toda sua arrogância — ele certamente estava envolvido com a construção da cidade e da torre de Babel — não compreendia que todas suas manifestações de poder estavam mantidas, de forma permanente, em cheque pelo Deus Todo-Poderoso. E aqui nós devemos anotar um princípio permanente através das páginas da Bíblia. Todas as manifestações de concentração de poder — seja ele político, econômico, militar, religioso ou de outra natureza qualquer — estão completamente fora da vontade de Deus. Os descendentes de Nimrode e todos os descendentes de Cam foram, de modo geral, habitantes de cidades e é a eles que devemos o desenvolvimento de algumas das maiores civilizações de todos os tempos. O Egito, a Mesopotâmia, a Índia, a China, o México, a América Central e a América do Sul — especialmente a porção Andina — estão marcadas, de forma indelével, pela presença destes povos.

Todas as cidades construídas por Nimrode e seus descendentes são marcadas, de forma idêntica, por uma manifestação de poder político, militar, econômico e religioso. A terra de Sinear tornou-se o verdadeiro oposto do paraíso plantado pelo Senhor. Enquanto aquele era um lugar de paz, onde o próprio Deus costumava andar na “viração do dia” — ver Gênesis 3:8 — esta tem sido a terra da morte e da destruição por longos milênios. Sumérios, babilônios, assírios, medos, persas e gregos tiveram seus centros de poder estabelecidos ali. E, em tempos modernos, é também ali que estadunidenses, ingleses, alemães, italianos e mais duas dúzias de nacionalidades combatem contra afegãos e iraquianos e outras nacionalidades. Sinear é a terra que representa o poder de sedução de todas as cidades. Foi em Sinear que os Judeus, levados cativos para a Babilônia, sentiram-se atraídos para aquele modo de vida — representado por poder e violência. Sucumbiram à tentação e poucos demonstraram o desejo de retornar para a terra prometida. Abandonaram o Senhor e Seus caminhos a favor das coisas novas — especialmente as práticas do comércio — que haviam aprendido em Babilônia. Esse é um problema antigo. Era da Babilônia, a boa capa cobiçada por Acã em Jericó, o que levou a contaminar todo arraial dos israelitas a ponto deles serem derrotados por seus inimigos — ver Josué 7. A terra de Sinear é a terra da idolatria e do pecado. É a terra da pirataria e da roubalheira — ver Daniel 1:2. Talvez a passagem mais descritiva acerca da impiedade da terra de Sinear seja a que encontramos em Zacarias 5:5—11 onde nos é dito que a iniquidade de “toda a terra” tem sua moradia naquele lugar.  

Ests é a ímpia herança que nos foi legada por Nimrode: a construção de cidades e a prática da guerra. Estss são os dois polos que têm marcado, de forma bastante característica, aquilo que chamamos de civilização humana desde quando nossa história passou a ser registrada. Mas precisamos nos lembrar sempre de que o SENHOR vê e sabe todas estas coisas.

3. Os Construtores da Cidade e da Torre de Babel.

Gênesis 11:4

Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.

A história da cidade e da torre narrada em Gênesis 11 tem seu foco central na palavra hebraica שֵׁם shem – que é traduzida pela expressão “nome” em português. Para nos ajudar a entender melhor essa afirmação que acabamos de fazer, nós precisamos compreender o valor que o nome — qualquer nome — tinha no seio da cultura judaica. Para os judeus o nome de qualquer ser é um sinal de domínio e o mesmo sempre possui conotações ou qualidades espirituais. Foi o próprio Deus quem deu nome ao primeiro homem e esse, por sua vez, deu nome a todos os animais. Esses atos, aparentemente sem muito significado, são representativos do estabelecimento de um relacionamento onde aquele que recebe o nome é inferior àquele que confere o nome. O povo rebelde que alcançou a planície de Sinear — ver Gênesis 11:2 — estava cansado de ter que se submeter àquele de quem haviam recebido seu nome. Estavam fartos daquela condição de inferioridade. Este é o motivo central porque declaram: “tornemos célebre nosso nome”. Eles querem se nominar a si mesmos. Esta autodenominação não deve ser confundida com nosso conceito de reputação. A autodenominação, neste contexto, significa em primeiro lugar e acima de tudo, independência. E essa, por sua vez, será afirmada pela construção da cidade e da torre. O desejo daquele povo era ver-se livre, independente e separado do Deus Criador e Todo-Poderoso de uma vez por todas. Mas como iremos ver as coisas não são tão simples assim como arquitetadas pelos seres humanos.

Mesmo nutrindo ests imenso desejo de independência, aquele povo, continuava dependente de Deus, do Deus Criador, do Deus que era o Soberano Senhor sobre eles, porque fora dEle que eles tinham recebido o nome que tinham. Como foi com o primeiro homem — a quem Deus veio ao encontro no Jardim do Éden chamando-o pelo seu nome אָדָם Adam — assim também, Deus pretende confrontar esses rebeldes. Querendo ou não, gostando ou não dessa idéia, eles eram ainda criaturas. Ainda pertenciam, por direito absoluto, ao Deus Criador.

Mas o desejo daquele povo ia além da mera independência de Deus. Como Caim, que imaginou fazer um novo início — chamando tanto seu filho como sua cidade — a primeira cidade a ser construída — pelo nome de חֲנוֹךְ Hanoch — início, esse povo também desejava excluir Deus do mundo criado. Para alcançar esse alvo, todavia, era necessário certo tipo de solidariedade que só poderia ser alcançada através de um nome que pudesse unir os seres humanos de tal maneira, que nunca mais pudessem ser dispersos por sobre a face da terra. O sinal e símbolo maior dessa solidariedade era a construção duma cidade e de uma torre. Uma construção que seria fruto do trabalho coletivo e solidário. Aquele deveria ser um local construído pelo homem e para o homem e de onde Deus deveria ser completamente banido. Somente assim eles poderiam “criar”, para si mesmos, um nome que fosse célebre. Era ali, naquela cidade e torre que o homem enxergava a possibilidade de deixar de ser mera criatura para se tornar semelhante ao Senhor que os havia criado e de quem haviam recebido o nome que tinham. Agora note que, ao contrário do que aconteceu com Caim, não sabemos como eles pretendiam chamar esse empreendimento. O nome que temos בָּבֶל Babel — não era o nome original, mas foi como o local ficou conhecido após a ação de Deus — ver Gênesis 11:9.

O projeto dos construtores do complexo que ficou conhecido como Babel incluía uma cidade e uma torre. Isto era necessário porque é na construção de uma cidade que a independência de Deus por parte do ser humano é estabelecida. E essa mesma cidade serve como um memorial permanente daquela mesma independência. A torre é apenas um passo além nesse desejo de independência e da construção de um memorial. A palavra que traduzimos por torre é מִגְדָּל — migddal — que significa torre ou plataforma elevada é muitas vezes utilizada no Antigo Testamento para se referir a uma torre ou acrópole fortificada, como podemos ler em Juízes 8:9 e 17; 9:46—52; Salmos 48:12 e Ezequiel 26:9. O próprio Deus é referido como uma torre de proteção contra os inimigos, como podemos ver no Salmo escrito por Davi — ver Salmos 61:2—3. No livro do profeta Isaías, a expressão מִגְדָּל — migddal é utilizada como um símbolo, por excelência, de força e orgulho — ver Isaías 2:12—17; 30:25 e 33:17—19  — e por esse motivo constitui-se em um elemento que aborrece a Deus de um modo particular — ver Isaías 25:1—3.

Quando lemos Gênesis 11:4 ficamos com a nítida impressão que estamos diante de um bando de megalomaníacos. Temos essa impressão porque a intenção daqueles construtores era fazer com que a torre que pretendiam construir “chegasse até os céus”. Mas essa expressão é apenas um indicativo de que tratava-se de um edifício de proporções monumentais. Quando os espiões retornaram de espiar a terra prometida, eles reportaram ao povo que as cidades que eles haviam visto na terra prometida eram “grandes e fortificadas até aos céus” — ver Deuteronômio 1:28. O próprio Moisés se referiu às cidades que os israelitas estavam para tomar posse como sendo “grandes e amuralhadas até aos céus” — ver Deuteronômio 9:1. E as palavras de Jeremias 51:53 são reminiscentes dessas que encontramos em Gênesis 11:4.

A pretensão de tornar célebre o nome não é esclarecida pelo texto. Não temos idéia de que consequências sobre seu nome eles esperavam ao construir a cidade e a torre. É certo que grandes cidades acabam celebrizando seus arquitetos como é o caso de Barcelona com suas muitas torres traçadas por Gaudi e de Brasília projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemayer. Esses três são realmente célebres, mas no sentido de terem alcançado uma enorme reputação e não era esse o propósito daqueles construtores como já vimos. Mais do que reputação eles desejavam autonomia.

Como Caim antes deles, nossos construtores imaginavam que a cidade e torre fortificada que estavam edificando lhes traria também segurança. Mas como a construção que eles pretendiam fazer estaria estabelecida em uma planície não é difícil entendermos suas naturais preocupações com a segurança. De todos os tipos de terrenos onde se pode construir uma cidade, certamente a planície é o mais vulnerável. A esperança deles é que uma vez estabelecidos e seguros, não precisariam mais ser espalhados sobre toda a face da Terra, e isto constituía em uma ofensa direta ao Deus que havia ordenado que se multiplicasse e se espalhasse ao ponto de ocupar toda a Terra — ver Gênesis 9:1.

Enquanto os homens tentavam construir um edifício que fosse monumental ao ponto de “alcançar os céus”, o versículo 5 de Gênesis 11 expressa a verdadeira ironia de toda essa situação. Não são os homens que alcançam os céus e sim o Deus dos Céus é que decide “descer” para ver tanto a cidade como a torre que os homens estavam edificando.

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007 — Introdução ao Gênesis — Parte 7 — OS NOMES DO DEUS CRIADOR, OS CÉUS E A TERRA
008 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 1 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 1
009 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 8A – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 2
010 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus - Parte 9 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Segundo e o Terceiro Dia
011 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 10 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quarto Dia
012 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 11 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quinto Dia
013 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 1
013A — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12A — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 2
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015 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 14 — GÊNESIS 2A
016 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 15 — GÊNESIS 2B
017 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 16 — GÊNESIS 3A
018 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 17 — GÊNESIS 3B
019 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 18 — GÊNESIS 3C
020 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Livre Arbítrio — Parte 19
021 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Dois Adãos — Parte 20
022 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Era Pré-Patriarcal e a Mulher de Caim — Parte 21
023 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, O Primeiro Construtor de Uma Cidade — Parte 22
024 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Assassino e Fugitivo da Presença de Deus — Parte 23
025 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Primeiro Construtor de uma Cidade e Pseudo-Salvador da Humanidade — Parte 24
026 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Conclusão Acerca de Caim — Parte 25
027 — Estudo de Gênesis — Gênesis 5 — Sete e outros Patriarcas Antediluvianos — Parte 26
028 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Perversidade Humana, Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens— Parte 27A
029 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — OS Nefilim e os Guiborim — Os Gigantes e os Valentes — Parte 27B
030 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Maldade do Coração Humano— Parte 27C.
031 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Corrupção Humana Sobre a Face da Terra e Deus Pode se Arrepender? — Parte 27D.
032 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28A.
033 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28B.
034 — Estudo de Gênesis — Gênesis 7 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 29 — O Dilúvio Foi Global Ou Local?
035 — Estudo de Gênesis — Gênesis 8 — A promessa que Deus Fez a Noé e seus descendentes — Parte 30 — Nunca Mais Destruirei a Terra Pela Água
036 — Estudo de Gênesis —  O Valor Perene do Dilúvio para todas as Gerações — PARTE 001
037 — Estudo de Gênesis — O Valor Perene do Dilúvio para todas as Gerações — PARTE 002
038 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 001
039 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 002
040 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 003
041 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 004 — A NATUREZA DA ALIANÇA ENTRE DEUS E NOÉ
042 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 005 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 001
043 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 006 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 002 — OS NEGROS SÃO AMALDIÇOADOS?
044 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 007 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 003 — A CONTRIBUIÇÃO DOS FILHOS DE NOÉ PARA A HUMANIDADE
045 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 001 — OS DESCENDENTES DE JAFÉ
046 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 002 — OS DESCENDENTES DE CAM: NEGROS, AMARELOS E VERMELHOS
047 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 003 — OS DESCENDENTES DE SEM E A ORIGEM DOS HEBREUS
048 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 004 — A TÁBUA DAS NAÇÕES É UM DOCUMENTO ÚNICO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
049 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 001
050 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 002
051 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 003
052 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 004
053 — Estudo de Gênesis — A TORRE DE BABEL — PARTE 005
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/08/genesis-estudo-053-torre-de-babel-parte.html
054 — Estudo de Gênesis — A GENEALOGIA DOS SEMITAS
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/11/genesis-estudo-054-genealogia-dos.html

Que Deus abençoe a todos. 

Alexandros Meimaridis 

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Desde já agradecemos a todos. 

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