O material abaixo é reproduzido
do site “Ministério Fiel — Apoiando a igreja”. O mesmo é da autoria de Jonathan
Leeman. Esperamos que Deus abençoe a todos por meio da leitura do mesmo.
Uma Cartilha de Disciplina Eclesiástica
Jonathan
Leeman
25 de
Novembro de 2013 - Igreja e Ministério
O que
você pensaria de um treinador que instrui os seus jogadores, mas nunca os faz
exercitarem-se? Ou de um professor de matemática que explica a lição, mas nunca
corrige os erros de seus alunos? Ou de um médico que fala sobre saúde, mas
ignora um câncer?
Você
provavelmente diria que todos eles estão fazendo apenas metade do seu trabalho.
Treinamento atlético requer instruir e exercitar. Ensino requer explicar e
corrigir. Medicina requer encorajar uma vida saudável e tratar a doença.
Correto?
Então, o
que você pensaria de uma igreja que ensina e discipula, mas não pratica a
disciplina eclesiástica? Isso faz sentido para você? Eu presumo que faça
sentido para muitas igrejas, porque toda igreja ensina e discipula, mas
pouquíssimas praticam a disciplina eclesiástica. O problema é que fazer
discípulos sem disciplina faz tanto sentido quanto um médico que ignora
tumores.
Eu
compreendo a relutância em praticar a disciplina eclesiástica. É um assunto
difícil por uma série de razões. Ainda assim, essa relutância em praticar a
disciplina eclesiástica, uma relutância que muitos de nós provavelmente sentem,
pode sugerir que nós nos achamos mais sábios e mais amorosos do que Deus. Deus,
afinal, "corrige o que ama" e "açoita a qualquer que recebe por
filho" (Hb 12.6, ARC). Sabemos mais do que Deus?
Deus
disciplina seus filhos para o bem de sua vida, crescimento e saúde: "Deus,
porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua
santidade" (Hb 12.10). Sim, é doloroso, mas vale a pena: "Toda
disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de
tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela
exercitados, fruto de justiça" (Hb 12.11).
Um fruto de justiça e paz! Essa
é uma linda imagem.
A
disciplina eclesiástica, em última instância, conduz ao crescimento da igreja,
assim como podar uma roseira faz que ela dê mais frutos. Dizendo de outra
maneira, a disciplina eclesiástica é um aspecto do discipulado cristão. Observe
que as palavras "discípulo" e "disciplina" são primas
etimológicas. Ambas as palavras são tomadas do campo da educação, o qual
envolve ensino e correção. Não surpreendentemente, há uma prática antiga de
referir-se a "disciplina formativa" e "disciplina
corretiva".
Meu alvo
nesta cartilha é introduzir o leitor aos aspectos básicos da disciplina
eclesiástica corretiva - o "quê", o "quando", o
"como", e algumas palavras a mais sobre o "porquê".
O que é
disciplina eclesiástica?
O que é
disciplina eclesiástica corretiva? Disciplina eclesiástica é o processo de
corrigir o pecado na vida da congregação e dos seus membros. Isso pode
significar corrigir o pecado por meio de uma admoestação feita em particular. E
pode significar corrigir o pecado ao remover formalmente um indivíduo da
membresia. A disciplina eclesiástica pode ser feita de uma série de maneiras,
mas o alvo é sempre corrigir as transgressões da lei de Deus entre o povo de
Deus.
Não
retributiva, mas terapêutica, profética e proléptica
.
Essa
correção do pecado não é um ato retributivo; não é a execução da justiça de
Deus, per se. Em vez disso, é terapêutica, profética e proléptica. Por
terapêutica, quero dizer que a disciplina é designada para ajudar o cristão
individual e a congregação a crescerem em piedade - em semelhança a Deus. Se um
membro da igreja é dado a fofocas ou calúnias, outro membro deveria corrigir o
pecado de modo que o fofoqueiro irá parar de fofocar e, ao invés disso, passar
a falar palavras de amor. Deus não usa suas palavras para ofender sem razão,
tampouco o seu povo deveria fazê-lo.
Ao dizer
que a disciplina eclesiástica é profética, quero dizer que ela faz brilhar a
luz da verdade de Deus sobre o erro e o pecado. Ela expõe o câncer na vida de
um indivíduo ou do corpo, de modo que o câncer possa ser arrancado. O pecado é
um mestre dos disfarces. A fofoca, por exemplo, gosta de usar a máscara da
"preocupação piedosa". O fofoqueiro pode pensar que suas palavras são
moderadas, generosas até. Contudo, a disciplina eclesiástica expõe o pecado
como ele é. Ele expõe o pecado tanto para o pecador como para os demais
envolvidos, de modo que todos podem aprender e beneficiar-se.
Ao dizer
que a disciplina eclesiástica é proléptica, quero dizer que ela é uma pequena
figura do julgamento, no presente, que alerta sobre um julgamento muito maior
por vir (p. ex. 1Co 5.5). Esse alerta não é outra coisa senão gracioso. Suponha
que um professor dê notas acima da média para um aluno ao longo do semestre,
embora suas provas merecessem notas abaixo da média, com medo de
desencorajá-lo; então, no final do semestre, o professor reprova o aluno. Isso
não seria gracioso! Do mesmo modo, a disciplina eclesiástica é uma maneira
amorosa de dizer a um indivíduo pego em pecado: "Cuidado, uma penalidade muito
maior sobrevirá se você continuar nesse caminho. Por favor, volte atrás
agora.". Não é surpreendente que as pessoas não gostem da disciplina. É
difícil. Mas quão misericordioso é Deus em avisar o seu povo do grande
julgamento por vir, de modos comparativamente menos severos!
Fundamentos
bíblico-teológicos
Por trás
da disciplina eclesiástica está um dos projetos primordiais da história
redentiva - o projeto de restaurar o povo caído de Deus ao lugar onde eles
irão, mais uma vez, refletir a imagem de Deus à medida que estendem o seu
governo benevolente e vivificador por toda a criação (Gn 1.26-28; 3.1-6).
Adão e
Eva deveriam refletir a imagem de Deus. Assim também o reino de Israel.
Contudo, a falha de Adão e Eva em representar o governo de Deus, impelida pelo
desejo de governar em seus próprios termos, resultou no seu exílio do lugar de
Deus, o Jardim. A falha semelhante de Israel em guardar a lei de Deus e
refletir o caráter de Deus às nações também resultou em um exílio.
Como
criaturas feitas à imagem de Deus, nossas ações intrinsecamente falam sobre
ele, como espelhos representando o objeto com o qual se deparam. O problema é
que a humanidade caída distorce a imagem de Deus, como espelhos de superfície
ondulada. Uma vez que a humanidade caída fala mentiras, por exemplo, o mundo
conclui que as próprias palavras de Deus não são confiáveis. Ele, também, deve
ser um mentiroso. Tal é a criatura, tal deve ser o seu criador.
Ainda bem
que um filho de Adão, um filho de Israel de fato guardou a lei de Deus perfeitamente;
o mesmo a quem Paulo descreveria como "a imagem do Deus invisível"
(Cl 1.15). Agora, aqueles que estão unidos a esse Filho são chamados a
carregarem essa mesma "imagem", o que nós aprendemos a fazer por meio
da vida da igreja, "de um degrau de glória a outro" (ver 2Co 3.18);
Rm 8.29; 1Co 15;49; Cl 3;9-10).
Igrejas
locais deveriam ser aqueles lugares na terra aonde as nações podem ir para
encontrar humanos que crescentemente refletem a imagem de Deus de modo
verdadeiro e honesto. À medida que o mundo contempla a santidade, o amor e a
unidade em igrejas locais, ele irá conhecer melhor como Deus é e irá render-lhe
louvor (p. ex. Mt 5.14-16; Jo 13.34-35; 1Pe 2.12). A disciplina eclesiástica,
então, é a resposta da igreja quando um dos seus falha em representar a
santidade, o amor e a unidade de Deus, desobedecendo a Deus. É um esforço para
corrigir falsas imagens à medida que elas se levantam na vida do corpo de
Cristo, quase como polir manchas de sujeira para removê-las de um espelho.
Passagens
específicas
Jesus
concede a congregações locais a autoridade para disciplinar os seus em Mateus
16.16-19 e 18.15-20. O poder das chaves para ligar e desligar na terra,
primeiro mencionado em Mateus 16.18, é entregue à congregação local em Mateus
18.15-20, o que consideraremos mais cuidadosamente adiante. Paulo descreve o
processo da disciplina eclesiástica em uma variedade de lugares, incluindo
1Coríntios 5, 2Coríntios 2.6, Gálatas 6.1, Efésios 5.11, 1Tessalonicenses 5.14,
1Timóteo 5.19-20, 2Timóteo 3.5 e Tito 3.9-11.
João se
refere a um tipo de disciplina em 2João 10. Judas parece tê-la em mente em
Judas 22 e 23. Mais exemplos poderiam ser mencionados. De fato, a disciplina
eclesiástica é o que Jesus e os autores bíblicos têm em mente cada vez que eles
dizem aos seus ouvintes que corrijam o pecado em suas vidas conjuntamente.
Quando uma
igreja deveria praticar disciplina?
Quando
uma igreja deveria praticar disciplina? A resposta curta é: quando alguém peca.
Mas a resposta pode diferir a depender de estarmos falando em disciplina
eclesiástica informal ou formal, para usar a distinção de Jay Adams entre
confrontações feitas em particular e confrontações feitas publicamente, perante
a igreja.
Todo
pecado, seja ele de natureza grave ou não grave, deve evocar uma repreensão
privada entre dois irmãos ou irmãs na fé. Não significa dizer que nós
deveríamos repreender todo e cada pecado que um companheiro membro de igreja
comete. Significa simplesmente que todo pecado, não importa quão pequeno, está
no domínio do que dois cristãos podem
amorosamente trazer à tona um ao outro em uma conversa privada, a ser
avaliado com prudência.
Quando
nos voltamos para a questão de quais pecados requerem disciplina corretiva
formal ou pública, precisamos avançar com um pouco mais de cuidado.
Listas
bíblicas
Alguns
dos teólogos mais antigos apresentaram listas de quando é apropriado proceder à
disciplina formal. Por exemplo, o ministro congregacional John Angell James
afirmou que cinco tipos de ofensas deveriam ser disciplinadas: (i) todos os
vícios escandalosos e imoralidades (p. ex. 1Co 5.11-13); (ii) a negação da
doutrina cristã (p. ex. Gl 1.8; 2Tm 2.17-21; 1Tm 6.35; 2Jo 10ss.); (iii) o
surgimento de divisões (Tt 3.10); (iv) a falha em prover o sustento de parentes
próximos quando eles se encontrem em necessidade (p. ex.
1Tm 5.8); (v) e
inimizades não reconciliadas (p. ex. Mt 18.7). [1]
Esse tipo
de lista bíblica pode ajudar até certo ponto. Observe que cada um dos pecados
descritos é sério e possui uma manifestação exterior. Eles não são apenas
pecados interiores, do coração; eles podem ser vistos com os olhos ou ouvidos
com os ouvidos. E nessa manifestação exterior eles enganam tanto o mundo como
outras ovelhas acerca do Cristianismo.
Contudo,
essas listas falham em abranger a vasta multidão de pecados que as Escrituras
jamais abordam (o que dizer do aborto?). Além disso, textos sobre disciplina
eclesiástica podem mencionar apenas um pecado particular, tal como 1Coríntios
5, que discute o pecado de deitar-se com a mulher de seu pai; mas é evidente
que Paulo não está dizendo às igrejas para disciplinar apenas aquele pecado.
Como as igrejas deveriam partir desses exemplos para outros pecados?
Exterior,
sério e impenitente.
Uma
maneira de resumir os dados bíblicos é dizer que a disciplina eclesiástica
formal é necessária em casos de pecado exterior, sério e impenitente. Um pecado
deve ter uma manifestação exterior. Ele deve ser algo que pode ser visto com os
olhos ou ouvido com os ouvidos. As igrejas não deveriam rapidamente balançar a
bandeira vermelha da expulsão cada vez que suspeitassem haver avareza ou
orgulho no coração de alguém. Não é que esses pecados do coração não sejam
sérios. É que o Senhor sabe que nós não podemos ver o coração uns dos outros, e
que os verdadeiros problemas do coração irão, de todo modo, emergir para a
superfície no final (1Sm 16.7; Mt 7.17ss.; Mc 7.21).
Segundo,
um pecado deve ser sério. Por exemplo, eu posso perceber que um irmão exagerou
os detalhes de uma história e então, em particular, confrontá-lo acerca da questão.
Mas, mesmo que ele negue o fato, eu provavelmente não o levaria à frente da
igreja. Por que não? Primeiro, algo como esse pecado de florear histórias está
enraizado em pecados muito mais significativos e ocultos, como idolatria e
autojustificação. Esses são os pecados com os quais eu quero gastar tempo
discutindo pessoalmente com ele. Segundo, perseguir cada pecadilho na vida de
uma igreja provavelmente levará à paranoia e impelirá a congregação ao
legalismo. Terceiro, claramente deve haver um lugar para o amor que "cobre
uma multidão de pecados" na vida de uma congregação (1Pe 4.8). Nem todo
pecado deveria ser perseguido até as últimas consequências. Graciosamente, Deus
não agiu assim conosco.
Em último
lugar, a disciplina eclesiástica formal é o curso de ação apropriado quando o
pecado é impenitente. A pessoa envolvida em um pecado sério foi confrontada em
particular com os mandamentos de Deus na Escritura, mas ele ou ela se recusa a
abandonar o pecado. Tudo indica que a pessoa valoriza o pecado mais do que
Jesus. Pode haver um tipo de exceção a isso, a qual consideraremos adiante.
Todos os
três fatores estavam em jogo na minha primeira experiência com a disciplina
eclesiástica corretiva. Aconteceu de a pessoa em questão ser um bom amigo e um
companheiro próximo. Contudo, tanto eu como a igreja estávamos cegos para o
fato de que ele estava envolvido em um estilo de vida de pecado sexual, ao
menos até ele me contar, um dia, enquanto almoçávamos. Imediatamente,
perguntei-lhe se ele sabia o que a Bíblia afirma acerca daquela atividade, e
ele sabia. Contudo, ele disse que estava em paz com Deus. Eu o instei para que
se arrependesse. Outros também o fizeram. Mas ele dizia a mesma coisa a todos
nós: "Deus não está incomodado com isso". Após alguns meses de conversas
como essa, a igreja formalmente o removeu da sua comunhão. O pecado dele era
sério, impenitente e tinha uma clara manifestação exterior. Ele iria enganar
outros, tanto na igreja como fora dela, sobre o que significa ser um cristão. A
igreja passou vários meses em busca desse homem. Nós o amávamos. Nós queríamos
que ele se voltasse do seu pecado para conhecer que Jesus é mais valioso do que
qualquer coisa oferecida por este mundo. Ainda assim, fica claro quase
imediatamente que ele não tinha intenção de voltar atrás. Ele estava resoluto.
Diante da escolha entre seu pecado e a Palavra de Deus, ele escolheu o pecado.
Então a igreja agiu formalmente.
Como uma
igreja deveria praticar a disciplina?
Como uma
igreja deveria praticar a disciplina eclesiástica? Jesus apresenta o esboço
básico em Mateus 18.15-17. Ele diz aos seus discípulos:
Se teu
irmão pecar [contra ti], vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas
pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir
também a igreja, considera-o como gentio e publicano.
Observe
aqui que a ofensa começa entre dois irmãos, e a resposta não deveria ir além do
que é necessário para produzir reconciliação. Jesus descreve o processo em
quatro passos.
Quatro passos
básicos
1. Se um
problema de pecado pode ser resolvido entre duas pessoas por elas mesmas, então
o caso está encerrado.
2. Se ele
não pode ser resolvido, então o irmão ofendido deveria trazer dois ou três
outros "para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda
palavra se estabeleça" (Mt 18.16). Jesus toma essa frase de Deuteronômio
19, a qual, no contexto, é designada para proteger as pessoas contra falsas
acusações. Com efeito, Deuteronômio exige uma "investigação
cuidadosa" sempre que haja qualquer dúvida acerca do crime (Dt 19.18,
NTLH). Eu entendo que Jesus, do mesmo modo, está dizendo que os cristãos devem
preocupar-se com a verdade e a justiça, o que pode exigir a devida diligência.
As duas ou três testemunhas devem poder confirmar que, de fato, há uma ofensa
séria e exterior e que, de fato, o ofensor é impenitente. Esperançosamente,
envolver outras pessoas irá ou chamar o ofensor de volta à razão ou ajudar o
ofendido a ver que ele não deveria estar tão ofendido. Tanto este passo como o
anterior podem ser executados ao longo de vários encontros, tantos quantos as
partes acharem prudente realizar.
3. Se a
intervenção dos dois ou três não levar a uma solução, a parte ofendida é então
instruída a dizê-lo à igreja (Mt 18.7a). Na minha própria congregação, isso é
comumente feito por intermédio dos presbíteros, uma vez que o Senhor deu
presbíteros à igreja para a supervisão de todas as questões da igreja (1Tm
5.17; Hb 13.17; 1Pe 5.2). Os presbíteros anunciarão o nome da parte acusada do
pecado exterior, sério e impenitente. Elas fornecerão uma brevíssima descrição
do pecado, uma descrição apresentada de modo a não causar escândalo a outros
nem constranger indevidamente algum membro da família. E, comumente, eles então
darão dois meses para que a congregação busque o pecador e o chame ao
arrependimento.
4. O
passo final da disciplina eclesiástica é a exclusão da comunhão ou membresia da
igreja, o que essencialmente significa exclusão da Mesa do Senhor: "E, se
recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano" (Mt
18.17b). Ele deve ser tratado como alguém de fora do povo da aliança de Deus,
alguém que não deve ter parte na refeição da aliança de Cristo (embora ele
provavelmente será encorajado a continuar frequentando as reuniões da igreja;
ver discussão adiante). A nossa própria congregação dará esse passo assim que
os dois meses tenham expirado e o indivíduo tenha se recusado a abandonar o
pecado. Dois meses é um número arbitrário, é claro; ele simplesmente representa
uma programação básica que corresponde às assembleias de membros regularmente
agendadas em nossa igreja. Em qualquer situação concreta, a igreja pode reputar
necessário acelerar ou retardar essa programação.
Por que
acelerar ou retardar o processo?
Algumas
vezes, os processos de disciplina deveriam avançar mais lentamente. Esse é o
caso, por exemplo, quando um pecador apresenta ao menos algum interesse em
lutar contra o seu pecado. Não é apenas a natureza do pecado que deve ser
considerada, mas também a natureza do próprio pecador. Pecadores diferentes,
falando de modo grosseiro, exigem estratégias diferentes. Como Paulo instrui:
"admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e
sejais longânimos para com todos" (1Ts 5.14). Algumas vezes, não fica
imediatamente claro se as pessoas são indolentes ou indiferentes ao seu pecado,
ou se elas estão genuinamente fracas.
Eu me
lembro de uma vez lidar com um irmão envolvido em um tipo de vício; por algum
tempo, eu não estava certo se ele estava apenas dando desculpas por seus
desvios morais ou se a sua alma estava verdadeiramente enfraquecida e deformada
por anos de pecado, tornando muito mais difícil para ele parar de pecar. A
resposta a esse tipo de dúvida deveria afetar quão rapidamente os processos de
disciplina avançam.
Algumas
vezes, os processos de disciplina precisam ser acelerados, o que pode
significar pular um ou dois dos passos descritos por Jesus em Mateus 18. Duas
claras permissões bíblicas para acelerar os processos de disciplina são (i)
divisão na igreja e (ii) escândalo público (i.e., pecado que representará
Cristo de modo enganoso na comunidade além da igreja). No tocante à primeira
categoria, Paulo diz: "Se uma pessoa causar divisões entre os irmãos na
fé, aconselhe essa pessoa uma ou duas vezes; mas depois disso não tenha nada
mais a ver com ela" (Tt 3.10, NTLH). Não fica inteiramente claro que tipo
de processo Paulo tem em mente aqui. Mas suas palavras de fato sugerem que a
igreja deveria responder rápida e decisivamente aos causadores de divisão, para
o bem do corpo.
Um
processo ainda mais rápido é apresentado em 1Coríntios 5, no qual Paulo convoca
a igreja a remover imediatamente um indivíduo sabidamente envolvido em um
pecado publicamente escandaloso, isto é, um pecado que até mesmo a comunidade
de não-cristãos desaprova. Na verdade, Paulo sequer diz à igreja para alertar o
homem de modo que ele pudesse ser trazido ao arrependimento. Ele simplesmente
os diz que "entreguem esse homem a Satanás" (v. 5a, NTLH).
Por que
pular a questão do arrependimento e não dar ao homem uma segunda chance? Não é
que Paulo esteja desinteressado em arrependimento ou segundas chances. Ao contrário,
ele diz à igreja para remover o homem de modo que o seu "espírito seja
salvo no Dia do Senhor" (v. 5b). Certamente, Paulo está aberto a receber o
homem de volta à igreja, caso ele de fato demonstre arrependimento (cer 2Co
2.5-8). Mas o ponto é que o seu pecado é publicamente conhecido e faz uma
declaração pública sobre Cristo. Portanto, a igreja deveria responder com uma
declaração igualmente pública perante o mundo: "Inaceitável! Cristãos não
agem assim!".
Havendo
dito isso, é importante observar que em 1Coríntios 5 não havia qualquer dúvida
se o homem estava ou não envolvido em pecado. Era um fato incontestável.
Todavia, se há alguma dúvida sobre se um pecado ocorreu ou não, ainda que seja
um pecado escandaloso, a igreja deveria parar por tempo o suficiente para
realizar uma investigação cuidadosa, como Jesus requer em Mateus 18. Por
exemplo, uma igreja não quer disciplinar alguém por desvio de verbas públicas
(um pecado publicamente escandaloso) baseada em boatos, apenas para virem os
tribunais seculares extinguirem o processo três meses depois, por falta de
provas.
Quais são
então as duas considerações que podem levar uma igreja a acelerar os processos
de disciplina? Uma igreja pode reputar sábio agir mais rapidamente quando (i)
há uma ameaça imediata à unidade do corpo ou da comunidade da igreja, ou (ii)
há um pecado que pode trazer grande dano ao nome de Cristo na comunidade. Não
há uma fórmula exata para estabelecer quando uma dessas fronteiras é
ultrapassada, e uma igreja faz bem em designar uma pluralidade de presbíteros
piedosos para supervisionar essas questões difíceis.
Frequência e
restauração
Membros
de igreja frequentemente perguntam se uma pessoa que tenha sido excluída da
membresia e da Mesa do Senhor pode continuar a frequentar as reuniões semanais
da igreja, bem como têm dúvidas sobre como devem interagir com ela durante a
semana. O Novo Testamento aborda essa questão em vários lugares (1Co 5.9,11;
2Ts 3.6,14-15; 2Tm 3.5; Tt 3.10; 2Jo 10), e diferentes circunstâncias podem
também exigir respostas diferentes. Mas a instrução dada pelos presbíteros na
minha própria igreja geralmente contém dois pontos:
Exceto em
situações nas quais a presença da parte impenitente seja uma ameaça física à
congregação, uma igreja deveria considerar bem-vinda a frequência da pessoa à
reunião semanal. Não há lugar melhor para a pessoa estar do que sentado sob a
pregação da Palavra de Deus.
Embora os
membros da família do indivíduo disciplinado certamente devam continuar a
cumprir as obrigações bíblicas da vida familiar (p.ex. Ef 6.1-3; 1Tm 5.8; 1Pe
3.1-2), o teor dos relacionamentos dos membros da igreja com o indivíduo
disciplinado deveria mudar notadamente. As interações não deveriam ser
caracterizadas pela casualidade ou afabilidade, mas por conversas deliberadas
sobre arrependimento.
A
restauração à comunhão da igreja ocorre quando há sinais de verdadeiro
arrependimento. O modo como o verdadeiro arrependimento se apresenta depende da
natureza do pecado. Algumas vezes, arrependimento é uma questão de preto no
branco, como quando um homem abandona a sua esposa. Para ele, arrepender-se
significa voltar para ela, simples e óbvio. Contudo, algumas vezes,
arrependimento não significa tanto vencer um pecado completamente, mas
sobretudo demonstrar uma nova diligência em fazer guerra contra o pecado, como
quando uma pessoa é pega em um quadro de vício.
Claramente,
a questão do verdadeiro arrependimento é um assunto difícil que exige muita
sabedoria. Cautela deve ser equilibrada com compaixão. Pode ser necessário algum
tempo para que o arrependimento seja demonstrado por seus frutos, mas não muito
tempo (ver 2Co 2.5-8). Uma vez que uma igreja tenha decidido restaurar um
indivíduo arrependido à sua comunhão e à Mesa do Senhor, não há que se falar em
um período probatório ou uma cidadania de segunda classe. Em vez disso, a
igreja deveria anunciar publicamente o seu perdão (Jo 20.23), afirmar o seu
amor pelo indivíduo arrependido (2Co 2.8) e celebrar (Lc 15.24).
Por que uma
igreja deveria praticar a disciplina eclesiástica?
À medida
que uma igreja começa a praticar a disciplina eclesiástica, ela frequentemente
se verá diante de situações da vida real que são complexas e não têm um
"estudo de caso" exato na Escritura para ajudá-la a examinar as
diversas facetas das circunstâncias. Nem sempre estará claro se a disciplina
eclesiástica formal é necessária, ou quanto tempo o processo deve durar, ou se
a parte culpada está verdadeiramente arrependida, e assim por diante.
À medida
que uma congregação e os seus líderes lidam com essas questões complexas, eles
devem se lembrar de que a igreja é chamada, acima de tudo o mais, a guardar o
nome e a glória de Cristo. Fundamentalmente, a disciplina eclesiástica diz
respeito à reputação de Cristo e se uma igreja pode ou não continuar a confirmar
a profissão verbal feita por alguém cuja vida odiosamente representa Cristo de
modo enganoso. Os pecados e as circunstâncias do pecado variarão em grande
medida, mas esta questão sempre deve encabeçar os pensamentos de nossas
igrejas: "Como o pecado deste pecador e a nossa resposta a ele irão
refletir o santo amor de Cristo?".
No fim
das contas, preocupar-se com a reputação de Cristo é preocupar-se com o bem dos
não-cristãos. Quando as igrejas falham em praticar a disciplina eclesiástica,
elas começam a se parecer como o mundo. Elas se tornam como o sal que perdeu o
seu sabor, o qual serve apenas para ser pisado pelos homens (Mt 5.13). Quando
isso acontece, não há qualquer testemunho a ser dado a um mundo perdido em
trevas.
Do mesmo
modo, preocupar-se com a reputação de Cristo é preocupar-se com os outros
membros da igreja. Os cristãos deveriam desejar parecer-se com Jesus, e a
disciplina eclesiástica ajuda a manter clara essa santa imagem. Os membros são
lembrados de tomar ainda mais cuidado com suas próprias vidas sempre que um ato
formal de disciplina acontece. O congregacional James o resume bem: "As
vantagens da disciplina são óbvias. Ela recupera os desviados, detecta os
hipócritas, faz circular um temor saudável pela igreja, fornece um incentivo adicional
para a vigilância e a oração, demonstra cabalmente o fato e as consequências da
fragilidade humana e, além disso, testifica publicamente contra a
impiedade". [2]
Por fim,
preocupar-se com a reputação de Cristo é preocupar-se com o indivíduo pego em
pecado. Em 1Coríntios 5, Paulo sabia que o curso de ação mais amoroso era
excluir o homem da congregação "a fim de que o espírito seja salvo no Dia
do Senhor" (1Co 5.5).
Por que
uma igreja deveria praticar a disciplina? Pelo bem do indivíduo, o bem dos não-cristãos,
o bem da igreja e a glória de Cristo. [3] Ter esses alvos em mente ajudará as
igrejas e os presbíteros a avançarem de um caso difícil para outro, sabendo que
a sabedoria e o amor de Deus prevalecerão mesmo quando a nossa sabedoria e o
nosso amor falharem.
Notas
1. John
Angell James, Church Fellowship or The Church Member’s Guide, extraído do
volume XI da 10ª edição de Works of John Angell James, p. 53.
2. James,
Christian Fellowship, p. 53.
3. Ver
Mark Dever, Nine Marks of a Healthy Church (Crossway, 2004), 174-78 [N.T.:
Publicado no Brasil pela Editora Fiel, com o título Nove Marcas de Uma Igreja
Saudável].
O material original poderá ser
acessado por meio do seguinte link:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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Desde já agradecemos a todos.
Há muito tempo procurava por um texto assim.
ResponderExcluirNa verdade eu precisava ler e aprender sobre isso, embora não tenha qualquer função eclesiástica, por recusa pessoal, como cristão tinha grande necessidade de acessar um tesouro desses, que me ensinou que "disciplina sem misericórdia é crueldade".
Caro Joel,
ExcluirOs problemas envolvendo a disciplina são basicamente dois:
1. A absoluta ausência da mesma.
2. A crueldade, quando a disciplina é aplicada, como o caso da moça da AD que foi levada ao suicídio pela falta de direção dos país que a castigaram de um modo onde a última coisa que se manifestou foi o amor.
Que Deus te abençoe e te ajude a aplicar esse conhecimento, especialmente, para proteger pessoas de serem massacradas por hipócritas de plantão.
Grande abraço,
irmão Alex.