I- Introdução – Versos 18—19
18 Porque
para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser
comparados com a glória a ser revelada em nós.
19 A ardente
expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus.
O
texto que vamos estudar é decorrente da afirmação de Paulo feita em Romanos 8:17
quando alude ao fato de "se
sofremos com Cristo, com ele também seremos glorificados." As idéias
de sofrimento e glória são o tema principal do nosso texto. O sofrimento e a
glória da criação de Deus — versos 19—22 — e o sofrimento e glória dos filhos
de Deus — versos 23—27.
A
- Sofrimento e Glória estão unidos de maneira indissolúvel — verso 17.
B
- Sofrimento e Glória caracterizam duas eras ou épocas.
Contrastam a época presente com a que há de vir. A época presente é
caracterizada por παθήματα — pathémata — sofrimento
— ou o que nos acontece — e a futura por δόξα — dóxa —
glória. Ver 2 Tessalonicenses 1:10; 1 João 3:2.
C
- Sofrimento e Glória apesar de estarem unidos de forma indissolúvel não devem
ser comparados — verso 18.
D
- O sofrimento e a glória dizem respeito tanto à criação de Deus como aos
filhos de Deus — verso 19. Veremos mais adiante que as duas
criações sofrem e gemem agora, mas as duas serão libertadas. A expressão
bíblica "a ardente
expectativa"
traduz a palavra grega ἀποκαραδοκία — Apokaradokía — que indica a atitude de
"esperar, com a cabeça levantada e com os olhos fixos naquele ponto do
horizonte de onde se espera virá o objeto aguardado
II - O Sofrimento
e a Glória da Criação de Deus — Versos 20—22.
20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não
voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou,
21 na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus.
22 Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo,
geme e suporta angústias até agora.
Paulo
personifica a Criação da mesma maneira que nos personificamos a natureza. Paulo
faz três afirmações acerca da Criação ou Natureza referentes ao passado,
presente e futuro da mesma.
A
- O Passado
- A Criação está (foi) sujeita(da) à vaidade. Certamente por causa do pecado de
Adão, a Terra foi amaldiçoada e produz ervas daninhas e espinhos e somente com
árduo trabalho pode o homem tirar dela o seu sustento. Paulo usa a expressão ματαιότητι —
mataiotes — que
é traduzida por vaidade. Essa palavra significa: Vazio, Futilidade, Falta de
Propósito ou Sentido e Transitoriedade. O livro de Eclesiastes é um comentário acerca desta palavra. Nele
temos expressado o absurdo que é a vida "debaixo do sol", presos no
tempo e no espaço sem nenhuma referência que seja a Deus ou à eternidade.
Note
porém que a Criação está sujeita à vaidade não porque quis mas pela vontade
daquele (Deus) que a sujeitou na esperança!(20)
B
- O Futuro
- A Criação será ἐλευθερωθήσεται — eleutherothésetai —
redimida ou libertada. Paulo expressa esta idéia de duas maneiras – verso 21a:
Negativamente - A
Criação será libertada "do cativeiro da corrupção",
verso 21b. A expressão grega é φθορᾶς — phthorâs — corrupção, destruição ou
algo que perece. Representa um ciclo interminável onde concepção, nascimento
e crescimento são seguidos obrigatoriamente por declínio, morte e
decomposição. A Criação está cativa desse ciclo.
Positivamente - A
Criação será libertada "para a
liberdade da glória dos filhos de Deus" — verso 21c. Assim o círculo
se fecha. A Criação irá compartilhar da Glória dos filhos de Deus, que por sua
vez irão compartilhar a Glória de Cristo – ver os versos 17—18.
C
- P Presente
- A Criação "geme e suporta angústias
até agora" — verso 22. Este gemer da criação não é um gemer e
sofrimento de alguém que não vê uma saída, de alguém que está desesperado. Este
gemer e sofrimento é igual ao de uma mulher com as dores do parto. Ela sabe — como
a criação também sabe — que os gemidos e o sofrimento trarão à luz uma nova
situação. Cristo mesmo usou esta expressão "dores de parto" para ilustrar a o período que antecede a
chegada da época futura.
III - O Sofrimento e a Glória dos
filhos de Deus — Versos 23—27.
23 E não somente ela, mas também nós, que temos as
primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção
de filhos, a redenção do nosso corpo.
24 Porque, na esperança, fomos salvos. Ora,
esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?
25 Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência
o aguardamos.
Os
versos 22 e 23 traçam um paralelo importante entre a Criação e os filhos de
Deus. Ambos "gemem". Nós,
como filhos de Deus somos pegos entre o que Deus inaugurou — dando-nos o
Espírito Santo — e o que ele irá consumar — quando da nossa completa adoção e
redenção — e por este motivo gememos. O Espírito Santo que habita em nós nos dá
alegria, a expectativa da glória vindoura nos enche de esperança, mas o
suspense entre o agora e o amanhã nos enche de dor!!
Paulo
alista 5 aspectos da nossa condição atual nos versos 23—27.
A - Nós
temos "as primícias do Espírito" — verso 23a. A expressão grega é ἀπαρχὴν — aparchèn — os
primeiros frutos representam o início da colheita, bem como a promessa de que a
colheita plena se seguirá no tempo certo. Paulo certamente tinha em mente a
Festa das Semanas — chamada em grego de Pentecostes — que foi exatamente quando
o Espírito Santo foi dado. Em outras passagens tais como — 2 Coríntios 1:22; 5:5;
Efésios 1:14 — Paulo usa a expressão ἀρραβὼν — arrabòn —
penhor, para ilustrar a certeza do nosso resgate ou o cumprimento da colheita
integral.
B
- Durante este tempo nós "gememos em nosso íntimo" — verso 23b. A
presença do Espírito Santo nas nossas vidas é um lembrete do fato de que nossa
salvação não está terminada, pois ainda compartilhamos com o resto da Criação a
frustração causada pelo ciclo de decadência e sofrimento. Um dos motivos porque
gememos é nossa fragilidade e mortalidade. Como disse o poeta Belchior
"sei que estou vivo, mas porque posso sangrar". Paulo mesmo expressou este sentimento quando
disse "E, por isso, neste
tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação
celestial... Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos
angustiados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o
mortal seja absorvido pela vida" — 2 Cor. 5:2 e 4. Mas não é somente
nosso frágil σωμά — somá — corpo,
que nos faz gemer. Nossa natureza caída — σαρκὸς — sarkòs —
que nos impede de agirmos como deveríamos e nos impediria, de maneira completa,
não fosse a presença do Espírito Santo nas nossas vidas, também nos faz gemer —
ver Romanos 7:17, 20. Note o grito de angústia do verso 24 e a compreensão
expressa da libertação no verso 25. Nós gememos porque ansiamos pela destruição
da nossa natureza caída — σαρκὸς — sarkòs — e
pela transformação do nosso σωμά — somá — corpo!
Hoje em dia, muitos que se intitulam cristãos não querem gemer nem um pouco.
Querem e demandam imediata libertação de todos os males e sofrimentos.
C
- Nós estamos "aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso
corpo" — ver 23c. É claro que nós já fomos
adotados na família de Deus — verso 15 — e temos assegurado pelo Espírito Santo
que somos filhos de Deus — verso 16. Mas ansiamos pela plena revelação do que
seremos — verso 19, pois sabemos que seremos "conformes a imagem do seu fIlho" — verso 29.
D
- Foi "na esperança que fomos salvos" — 24a. O
termo grego ἐσώθημεν — esothémen —
está no aoristo, o que indica que de uma forma completa fomos resgatados da
culpa e da escravidão dos nossos pecados, bem como do justo castigo de Deus
sobre os mesmos. Mas tudo isto aconteceu na esperança de que a nossa σαρκὸς — sarkòs —
carne será completamente obliterada e nosso σωμά —
somá —
corpo será completamente redimido i.e., revestido de imortalidade. Essa
esperança olha para frente, para aquilo que não temos ainda, pois "esperamos o que não vemos" — 25a.
E
- Enquanto isto "com paciência o aguardamos" — verso 25b. O
quê? A satisfação plena da nossa esperança. Que é qual? A confiança que temos
nas promessas de Deus de que os primeiros frutos serão seguidos pela colheita
integral, que o cativeiro será seguido pela liberdade, que a corrupção será
seguida por aquilo que é incorruptível e que as dores e o sofrimento do tempo
presente trarão à luz um novo mundo!!!
Diante daquilo que somos e daquilo que seremos a atitude cristã correta
é aguardar com uma ardente expectativa — ver verso 23 e conferir com o verso 19
— por um lado, e com ὑπομονῆς — upomonês —
paciência — i.e., permanecendo firmes no meio das nossas tribulações — ver 2 Coríntios 4:17!! — pelo outro
lado. Não devemos aguardar com tanta expectativa que percamos nossa paciência,
nem com tanta paciência que percamos nossa expectativa. E sim, de maneira
equilibrada com expectativa e paciência. Este equilíbrio é difícil. Alguns que
se intitulam cristão tem enfatizado a chamada para sermos pacientes. Falta-lhes
entusiasmo e, por este motivo, caem em estados de letargia, apatia e
pessimismo. Se esquecem das promessas de Deus e são culpados de falta de fé.
Outros que também se intitulam cristãos estão cansados de esperar. Querem
aquilo que Deus prometeu para o futuro, hoje, agora. Se arrogam o direito de
mover a mão de Deus. Estes querem experimentar, agora, libertação total de
fraquezas, doenças, dor e decadência. São presunçosos e arrogantes e estão em
frontal desafio ao Deus que controla a história e faz as coisas acontecerem no
Seu devido tempo.
IV – A Presença do Espírito Santo em
Nós
26
Também o Espírito, semelhantemente,
nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós sobremaneira,
com gemidos inexprimíveis.
27 E aquele que sonda os corações sabe qual é a
mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos
santos.
Nesta
ardente e paciente expectativa não estamos sós — ver os versos 26—27. Da mesma
maneira como nossa esperança em Deus nos sustenta, assim também "o Espírito, semelhantemente, nos assiste em
nossa fraqueza" — verso 26a. Nossa fraqueza é nossa ignorância "porque não sabemos orar como convém"
— verso 26b. Assim "o Espírito
intercede por nós" — verso 26c. E a intercessão do espírito é feita
"por nós sobremaneira e com gemidos
inexprimíveis" — verso 26d. Nossa dificuldade em oração é fruto da
nossa situação presente. Não sabemos se devemos orar para nos ver livres do
sofrimento presente ou para termos forças para enfrentá-lo. Mas o Espírito
sabe.
Note
que a Criação geme, nós gememos e o Espírito Santo de Deus também geme! A
Criação e nós gememos por causa do nosso estado atual. O Espírito geme porque
se identifica conosco!! Apesar dos gemidos do Espírito serem inexprimíveis,
Deus que é "aquele que sonda os corações
sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele
intercede pelos Santos". Assim temos que o Espírito Santo:
·
Nos assiste em nossas fraquezas.
·
Intercede por nós sobremaneira.
·
Intercede por nós segundo a vontade de
Deus!
V – Conclusão
A
– Vivemos em um mundo caído. O Homem caiu e arrastou toda a Criação para um
estado de futilidade e vazio.
B
– Cristo veio para nos livrar da culpa e da escravidão do pecado e do justo
castigo que merecíamos.
C –
Recebemos o Espírito Santo da parte de Deus como as primícias e o penhor de que
nossa salvação apenas começou. A mesma será completada quando nos livrarmos
definitivamente da natureza pecaminosa σαρκὸς — sarkòs — carne, e
quando nosso corpo mortal — σωμά —
somá — corpo for revestido de imortalidade.
D
– Até aquele dia devemos aguardar com grande expectativa e paciente esperança.
E
– Nessa nossa espera não estamos sozinhos. O Espírito Santo está conosco.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem
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Desde já agradecemos a todos.
Que Deuse seja glorificado pelo seu trabalho aqui irmão Alex. Meu nome é Alex Borges e sou professor de EBD, e este, tem sido de grande ajuda para mim. Obrigado!
ResponderExcluirMeu caro Alex,
ExcluirMuito obrigado por ler nosso material e por tuas mais que generosas palavras. Que Deus te abençoe e te dirija em teu ministério como professor.
Quanto a nós vamos continuar nos empenhando para produzir material com qualidade cada vez melhor.
Grande abraço fraterno,
irmão Alex
Deus te abençoe meu querido ótima explicação que Deus te ilumine sempre
ExcluirCaro Sandro,
ResponderExcluirValeu mesmo. Deus te abençoe.
Abraço, irmão Alex
Que benção 👏🏼👏🏼👏🏼🙌🙌
ResponderExcluirMuitos irmãos acabam caindo no erro de dizer, que o texto; a criação aguarda com expectação a manifestação dos filhos de Deus, se refere a uma expectativa das pessoas que não conhecem a Jesus. Quando na verdade está se referindo a natureza (planeta terra), estou certo?
ResponderExcluirSim, é isso mesmo. Trata-se da natureza criada.
ExcluirCaro Alex, amo o seu blog, frequentemente encontro aqui muitas explicações valiosas para os meus estudos. Que Deus continue te capacitando. Deus te abençoe muito!
ResponderExcluirMizael Glaicom
Excelente estudo, vou ministrar hoje em nossa igreja meu irmão. Deus te use muito mais..
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