Essa série pretende
disponibilizar as informações mais importantes acerca de cada um dos 27 livros
que compõem o Novo Testamento. Desde que lançamos nossa série de Introdução ao
Antigo Testamento, muitos leitores têm nos questionando acerca de algum
material semelhante com respeito ao Novo Testamento. Então, aproveitando que
iniciamos uma série de estudos acerca dos manuscritos do Novo Testamento —
tecnicamente chamada de “baixa crítica” — estamos usando essa oportunidade para
lançar uma série que trate também do texto do Novo Testamento em si, e da
interpretação geral do mesmo — “alta crítica”.
I. O EVANGELHO DE
MATEUS
H. O Autor do Evangelho
de Mateus
Creio que já afirmamos antes que
todos os quatro Evangelhos que temos no Novo Testamento são anônimos, ou seja,
não existe uma indicação precisa acerca do seu autor, e o Evangelho de Mateus
não é exceção.
Todavia, temos registros de que por
volta do ano 125 da Era Cristã esse evangelho já era atribuído a certo Mateus
sob o título: DE ACORDO COM MATEUS.
Pelo título acima podemos
concluir que algum tipo de autoria foi atribuída ao material, no caso
específico, a autoria foi atribuída a certo Mateus. Mas devemos reafirmar que
tal título não é, nem nuca foi parte do material original que foi produzido,
rigorosamente, por alguém anônimo, mas que desde a mais remota antiguidade foi
atribuído a Mateus, o apóstolo de Jesus.
Apesar de tudo o que acabamos de
afirmar, é importante destacarmos alguns fatos:
1. Como o nome do autor não
aparece no corpo do texto em si, então devemos aceitar, a princípio, que o
mesmo foi produzido por um anônimo.
2. A ausência de paralelos em sua
forma literária — ver estudos anteriores na lista publicada abaixo — também não
nos ajuda a identificar o autor. Nem mesmo o Evangelho de Lucas, que fala em
primeira pessoa nos versos iniciais nos permite identificar o médico amado como
o autor do Evangelho que leva seu nome.
3. O testemunho mais antigo
disponível é uma citação de Papias, um dos chamados Pais da Igreja — viveu
entre 70 a 163 — que encontramos na História Eclesiástica de Eusébio[1]. A
citação de Papias diz o seguinte: Mateus reuniu, de forma ordenada, na língua
hebraica, as sentenças [de Jesus] e cada um as interpretava conforme sua
capacidade.
Que Papias estivesse se referindo
ao Mateus canônico na citação acima é algo que só foi contestado nos dias do
liberal Schleiermacher em pleno século XIX. O argumento usado no século XIX para
contestar a autoria de Mateus do Evangelho que lhe é atribuído se baseava no
fato de que as cópias mais antigas disponíveis do mesmo estavam escritas em
grego e não em língua hebraica como afirma Papias. Além disso, os liberais do
século XIX também alegavam estranhar uma dependência gritante do Evangelho de
Mateus do chamado Evangelho de Marcos.
Todavia, apesar da citação de Papias
mencionar que Mateus reuniu o material de Jesus na língua hebraica não
representa, necessariamente, que Papias alguma vez tenha visto qualquer escrito
atribuído a Mateus que não fosse escrito na língua grega.
Os liberais do século XIX e
continuando até nosso próprio século[2],
inventaram e defendem, entre várias teorias, a seguinte, como forma de explicar
a afirmação de Papias e a dependência de Mateus do Evangelho de Marcos: pare
eles Mateus teria sido o autor duma fonte principal do Evangelho de Mateus,
chamada de A Fonte dos Logia ou de Mateus Aramaico. Para esses críticos,
sem apontarem evidências sólidas, o título Segundo
Mateus não passa duma hipótese sem fundamento.
Diante disso, é importante
estabelecermos o que sabemos com exatidão, antes de saltarmos para as
conclusões como fazem os liberais. Da mesma tradição de onde Papias recolheu
sua tradição podemos derivar apenas a correção do uso do nome Mateus. Disso
podemos presumir que trata-se do mesmo Mateus citado em todas as listas dos 12
apóstolos — Mateus 10:3; Marcos 3:18; Lucas 6:15; Atos 1:13 —, mas que é
designado como sendo cobrador de impostos
ou publicano apenas no Evangelho de Mateus:
Mateus 10:3
Filipe e Bartolomeu;
Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.
De acordo com o estudioso Martin
Hengel[3],
utilizando a análise feita por R. T. France em sua obra Matthew — evanegslist and teacher[4],
bem cedo, provavelmente antes do ano 100 d.C., as igrejas só aceitavam que
fossem lidos em suas reuniões, materiais cuja autoria não estivesse clara, logo
no início do texto. Isso era, particularmente importante, no que diz respeito
aos evangelhos já que existiam dois, três e, possivelmente quatro, disponíveis
e era importante caracterizá-los pelo nome do seu respectivo autor. Tais nomes,
começaram a ser percebidos pelas comunidade cristãs com sendo os “títulos” dessas
obras. De acordo com Hengel, chega a ser absurda a ideia de que os evangelhos
poderiam ter circulado durante cerca de 60 anos, de forma anônima, e depois,
subitamente, já no século II, terem recebido atribuições unânimes a certos
autores. De acordo com Hengel, os quatro evangelhos canônicos — Mateus, Marcos,
Lucas e João — jamais foram aceitos como sendo anônimos.
Outra distinção importante que
precisamos reconhecer é que anonimato não é equivalente a pseudoautoria. Obras
com falsas atribuições de autores — chamadas tecnicamente de pseudoepigráficas —
tornarem-se um problema para a igreja ainda durante o século I. Isso motivou a
mesma a rejeitar, unanimemente, a autoridade de qualquer obra sobre a qual
pesasse a suspeita de ser pseudônima.
CONTINUA...
OUTROS ESTUDOS ACERCA DA INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 001 — INTRODUÇÃO GERAL AOS EVANGELHOS — ESTUDO 001
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 002 — A FORMA LITARÁRIA DOS EVANGELHOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 003 — MOTIVOS PORQUE OS EVANGELHOS FORAM ESCRITOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 004 — O LUGAR OCUPADO PELOS QUATRO EVANGELHOS NO NOVO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 005 — A MELHOR FORMA DE ABORDAR OS QUATRO EVANGELHOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 006 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 001
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 007 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 002
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 008 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 003
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 009 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 004
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 010 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 005
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 011 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 006
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 012 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 007
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 013 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 008
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 014 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 009
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 015 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 010 — AUTOR — PARTE 002
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 016 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 011 — DATA DA COMPOSIÇÃO
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/03/introducao-ao-novo-testamento-estudo_3.htm
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO —
ESTUDO 017 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 012 — IDIOMA ORIGINAL
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/06/introducao-ao-novo-testamento-estudo.htmll
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO —
ESTUDO 018 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MARCOS — PARTE 001 — CARACTERÍSTICAS —
PARTE 001.
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/07/introducao-ao-novo-testamento-estudo_14.html
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que
puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
[1]
Eusébio. A História da Igreja de Cristo até Constantino.
Penguin Books, London, 1989.
[4] France. R. T. Matthew — evanegslist and teacher. Wipf & Stock Pub., Eugene, October, 2004.
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