A multidão concentrada na Praça
de São Pedro para a missa de canonização falecidos Papas João Paulo II e João
XXIII
O material abaixo foi publicado
originalmente no site da Revista Carta Capital. Nele encontramos uma entrevista
concedida pelo historiador eclesiástico alemão Hubert Wolf. Wolf é diretor da
Faculdade de Teologia Católica na Universidade de Münster, na Alemanha.
Segue o texto da Carta Capital:
“Existe uma inflação de papas santos", diz historiador
Em
entrevista, o historiador eclesiástico Hubert Wolf questiona a canonização de
João Paulo II e João XXIII. O que predestina um papa a ser santo?
por
Deutsche Welle
Neste
domingo 27/6, o papa Francisco declarou santos dois de seus antecessores – os
papas João Paulo 2° (1920-2005) e João 23 (1881-1963).
O papa
emérito Bento 16 também esteve presente à cerimônia de canonização na Santa Sé.
Assim, a Praça de São Pedro foi palco de um evento "sem precedentes na
história, ou seja, a presença de dois Papas vivos e dois Papas santos",
declarou no início da semana o vice-presidente da Obra Romana de Peregrinação
(ORP), monsenhor Liberio Andreatta.
Prof. Dr. Hubert Wolf
Em
entrevista à Deutsche Welle, o historiador eclesiástico Hubert Wolf falou sobre
o sentido da canonização. Wolf é diretor da Faculdade de Teologia Católica na
Universidade de Münster, na Alemanha.
DW: A
canonização de papas revela muito sobre os canonizados. O que ela revela sobre
o atual alinhamento da Igreja Católica?
Hubert
Wolf: Ao longo dos séculos, somente algumas poucas vezes um Papa foi
canonizado. E houve séculos em que não houve nenhuma canonização. E, agora,
desde meados do século 19, um em cada dois papas ou foi beatificado ou foi
canonizado ou o processo está em andamento. Ou seja, no que se refere a papas,
existe uma inflação de papas santos. E eu acho isso um pouco problemático. Pois
o que predestina um Papa a ser santo, frente a um trabalhador católico, cuja
atuação no trabalho é aliada às convicções católicas?
Assim
fica claro: quando papas são canonizados por papas, isso também é uma
autoencenação do papado como uma instituição sagrada. E tendo-se agora duas
canonizações – João 23 e João Paulo 2° –, então isso foi uma coisa bem
orquestrada.
Aqui se
trata de duas práticas diferentes do ministério petrino. Por um lado, João 23,
o papa que convocou o Concílio Vaticano 2° representa o abrir de portas para
que entre a renovação.
Do outro
lado, encontra-se João Paulo 2° com seu papel inegável na unificação política
na Europa, mas também com um forte reposicionamento da Igreja em direção a
Roma, com um papado marcado por viagens e uma forte presença midiática. Se
Francisco canoniza dois papas de uma só vez, ele está tentando satisfazer todas
as expectativas. Ele quer mostrar os dois papas como complementares.
DW: Ou
seja, a canonização dos dois papas revela a compreensão de papado por parte
Francisco?
HW: papa
Francisco assumiu os processos de seu antecessor. Eles já existiam
simplesmente. Mas o fato de ele unificá-los é decisivo. Ele poderia ter dito:
"OK, agora é a vez do Santo Súbito [nome dado pela imprensa italiana à
rápida canonização de João Paulo 2°]. Eu vou canonizar João Paulo 2°
sozinho." Isso poderia levar a crer que esse seria o alinhamento seguido
pelo papa Francisco.
O fato de
ele também canonizar João 23 torna a coisa toda bastante católica, ou seja,
katholon – de acordo com o todo, abrangente. Ele não está dizendo: "os
papas devem ser como João Paulo 2°!", mas: "Eles também podem ser
como João 23!" Em entrevista, Francisco disse ter cogitado chamar-se João
24.
DW: Então
ficamos sabendo: a canonização simultânea diz, programaticamente, muito sobre o
atual pontificado.
HW:
Qualquer canonização faz isso, não só a de papas. Aqueles que são elevados às
honras dos altares e apresentados como paradigmas aos olhos dos fiéis são
naturalmente o modelo. Todas as comissões de historiadores, todas as
Congregações para as Causas dos Santos só podem fazer sugestões. No final, o
Papa decide de forma solitária e imperativa. Assim fica claro que a forma da
canonização e as pessoas escolhidas fazem parte de uma orientação.
Francisco
não está submetido a nenhuma crítica. Ele diz: "OK, eu sou a favor do
Santo Súbito. Esse foi o desejo de muitos que admiram como ele aceitou o seu
sofrimento e a sua morte." Ele recomendou João Paulo 2° como modelo. E,
por outro lado, também levou João 23 junto. Assim, ele está manifestando seu
apoio ao Concílio, à abertura do Concílio para o mundo, à implementação das
reformas do Concílio.
Esta é a
tensão sob a qual está todo o pontificado. Será que vai prevalecer uma ou outra
direção? Ou Francisco vai tentar equilibrar isso de alguma forma? Qual será a
posição de sua cúria, de seus colaboradores mais próximos, seus adversários na
cúria também seguirão esse caminho?
O artigo original da Carta
Capital poderá ser visto por meio desse link aqui:
OUTROS ARTIGOS ACERCA DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA
Que Deus Abençoe a Todos
Alexandros Meimaridis
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