Ilustração de Jesus respondendo a uma pergunta que lhe foi dirigida por um doutor da Lei - Museu de Artes de Montreal
Esse artigo é parte da
série "Parábolas de Jesus" e é muito recomendável que o leitor
procure conhecer todos os aspectos das verdades contidas nessa série, com
aplicações para os nossos dias. No final do artigo você encontrará links para
os outros artigos dessa série.
Sermão 027
A
PARÁBOLA DO SAMARITANO
lUCAS 10:25—37
25 E eis que se levantou um certo
doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
26 E ele lhe disse: Que está escrito
na lei? Como lês?
27 E, respondendo ele, disse: Amarás
ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as
tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.
28 E disse-lhe: Respondeste bem; faze
isso e viverás.
29 Ele, porém, querendo justificar-se
a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
30 E, respondendo Jesus, disse: Descia
um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o
despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
31 E, ocasionalmente, descia pelo
mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
32 E, de igual modo, também um levita,
chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.
33 Mas um samaritano que ia de viagem
chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.
34 E, aproximando-se, atou-lhe as
feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura,
levou-o para uma estalagem e cuidou dele;
35 E, partindo ao outro dia, tirou
dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que
de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.
36 Qual, pois, destes três te parece
que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
37 E ele disse: O que usou de
misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira.
Introdução
A. Como nas três parábolas anteriores
que podem ser vistas por meios desses links aqui:
024 — A Parábola dos Pássaros e da
Raposa
025 — A Parábola do Discípulo que
Desejava Sepultar Seu Pai
026 — A Parábola da Mão no Arado
essa também é parte de um diálogo
teológico. E nosso estudo irá assumir — seguindo a opinião de vários
estudiosos — que a mesma possui uma unidade básica e trata-se de uma parábola
autêntica proferida por Jesus.[1]
B. Quando comparamos a estrutura dessa
parábola notamos que, ao contrário de outras parábolas de estrutura semelhante
— ver Lucas 7:36—50 e 18:18—30 — aqui o diálogo é consideravelmente curto
quando comparado com a extensão da parábola. Isso, muitas vezes, causa o sério
problema de levar o leitor a centra-se na parábola em si e a ignorar o diálogo
ao redor da mesma. Não é incomum revistas de escola dominical tratarem o texto
dessa maneira. Ao agirem assim transformam o mesmo apenas numa exortação ética,
voltada para suprir apenas as necessidades de pessoas que estejam precisando de
uma palavra de conforto.
C. Nosso interesse nesse estudo é
entendermos a parábola no contexto do diálogo em que a mesma está inserida.
D. A parábola do Samaritano é
precedida e, imediatamente, seguida por um diálogo entre Jesus e um doutor da
Lei.
E. Nos dois casos existem duas
perguntas e duas respostas.
F. Em cada um dos diálogos o doutor da
lei apresenta uma pergunta a Jesus, que invés de responder a pergunta
diretamente, responde fazendo outra pergunta para seu interlocutor.
G. Em cada um dos diálogos o doutor da
Lei responde à pergunta feita por Jesus.
H. Por fim, cada um dos diálogos
termina com uma resposta de Jesus.
I. Vamos começar analisando o primeiro
diálogo.
I.
O PRIMEIRO DIÁLOGO
A.
A narrativa se inicia com o doutor da Lei se colocando em pé — uma aparente
atitude de respeito — mas ele tem a intenção de colocara Jesus à prova — uma
atitude que revela a maldade intrínseca de seu coração — apesar de chamar Jesus
de “mestre” que é expressão geralmente usada por Lucas como equivalente do
hebraico rabi.
B,
O teste do doutor da Lei tem o propósito simples e direto de descobrir o
entendimento que Jesus tinha de como era possível alguém herdar a vida eterna.
C.
Na superfície a pergunta não faz muito sentido, porque apenas herdeiros podem
herdar alguma coisa, qualquer coisa que seja. Qualquer pessoa que seja herdeiro
legal de alguém poderá tomar parte da herança.
D.
No Antigo Testamento a ideia de herança estava vinculada, principalmente, ao
conceito do privilégio de Israel de herdar a terra prometida, que curiosamente,
continuava na posse do SENHOR, o qual considerava os judeus apenas como Seus
“inquilinos” — estrangeiros e peregrinos — de acordo com
Levítico
25:23 — Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha;
pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos.
Ainda
com relação às palavras de
Isaías
60:21
E
todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos
por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.
E.
Já era entendimento dos rabinos que a “herança” era uma referência à
participação na salvação futura, portanto não guardava nenhuma relação com a
terra de Israel em si mesma.
F.
Nos dias do Novo Testamento, a frase “herdarão a terra” é aplicada pelo Senhor
Jesus à salvação que se estende a todo o seu povo. A ideia da terra prometida
ser concedida ao povo de Israel não é repetida no Novo Testamento.
G.
A herança, torna-se portanto, vida eterna. E a forma de se alcançar essa vida
eterna, era no entendimento dos judeus, por meio da estrita obediência da Lei.
H.
Diante dessas realidades tanto nas mentes dos seus ouvintes e do doutor da Lei,
bem como no própria mente do Senhor Jesus ele tinha dois caminhos para escolher
em sua resposta à pergunta que lhe foi dirigida:
1.
Jesus poderia seguir pelo caminho do argumento apresentado no Antigo Testamento
e insistir que a “herança de Israel” é um dom de Deus e que não se pode fazer
nada para se merecer a mesma. Essa abordagem criaria apenas uma oportunidade
para uma longa e estéril discussão acerca de filigranas da Lei quanto ao que
deve ou não deve ser feito para tentar “herdar” a vida eterna.
2.
Ou Jesus poderia adotar a opinião rabínica que a herança está, em realidade
atrelada à vida eterna conforme vimos acima, e esse é o caminho que Jesus
prefere seguir, até mesmo porque era parte do seu próprio ensinamento.
3.
Aqui ainda precisamos mencionar que naqueles dias alguns rabinos achavam que
era possível alcançar a vida eterna por meio da obediência estrita à Lei. Para
esse caso ver, especialmente, a literatura pseudoepigráfica conhecida como “Salmos de Salomão” nas seguintes
referências: 14:1—2; 9—10. O mesmo é ensinado no livro pseudoepigráfico do “Enoque Eslavônico” em seu nono capítulo.
I.
Mas a questão realmente preponderante estava atrelada a esse último aspecto que
mencionamos. A questão era: “Esse rabi — Jesus — acredita ou não acredita que a
herança de Israel poderia ser alcançada pela obediência estrita da Lei. Como
podemos ver aqui, a ideia de uma herança atrelada à terra já havia sido
abandonada há algum tempo pelos rabinos judaicos, algo que torna apenas mais
evidente a mentira propagada pelos judeus sionistas de que Deus deu a terra de
Israel como possessão perpétua do povo judeu.
J.
É obvio que Jesus não concordava com o entendimento dos rabinos dos seus dias e
sabia bem a armadilha que lhe havia sito montada pelo doutro da Lei. Então, em
vez de oferecer uma resposta que expusesse suas ideias, Jesus de modo genial,
reverte a armadilha pedindo que seu interrogador dê sua opinião acerca dessas
coisas.
K.
A pergunta de Jesus é simples: “Que está escrito na lei? Como lês?” Na última
parte da pergunta é como se Jesus dissesse: Gostaria muito de ouvir como as
autoridades judaicas interpretam isso. Mas o doutor da lei, parecia muito
seguro de si mesmo e oferece uma resposta a Jesus sem citar nenhuma autoridade
como apoio.
L.
A reposta do doutor da lei tem o seguinte teor:
Lucas
9: 27
Amarás
ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as
tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.
M.
Em Mateus e Marcos a combinação das palavras de Deuteronômio 6:5 — amar a Deus
— com as de Levítico 19:18 — amar o próximo — são atribuídas ao próprio Senhor
Jesus Cristo. É possível que o doutor da Lei estivesse apenas repetindo de
volta as palavras que ele mesmo teria ouvido dos lábio de Jesus, o que lhe
teriam sido mencionadas por alguém.
N.
A resposta de Jesus, então não poderia ser muito diferente:
Lucas
9:28
E
disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás
O.
Alguns pontos que devemos considerar nesse contexto:
1.
De acordo com Karl Barth[2]:
“Jesus louva o doutor por seu bom conhecimento e fiel recitação do texto
sagrado”. De fato podemos afirmar que o doutor da Lei tinha uma teologia
correta, mas a pergunta que permanece é: ele estava disposto a viver à altura
daquilo que afirmava crer? Sua condição intelectual é excelente, mas sua
prática continua em jogo.
2.
Como já havia acontecido no caso da visita de Jesus à casa de Simão, o fariseu
— ver Lucas 7:43 — Jesus consegue arrancar do próprio doutor da Lei uma
resposta apropriada. Jesus não diz o que o doutor da Lei deve fazer, ele mesmo
responde sua própria pergunta.
3.
A pergunta do doutor da Lei estava volta para a vida eterna. Mas na resposta
que Jesus força o mesmo a dar, Jesus o obriga a incluir o todo da vida e não
apenas a vida eterna. É muito provável que a expressão de Jesus “viverás”, não
está tão relacionada ao futuro distante, mas sim ao futuro imediato. Ou seja,
Jesus está afirmando para o doutor da Lei que ele poderá começar a viver de
verdade, a partir do momento em que colocar essas coisas em prática. Ver
também:
João
17:3
E
a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus
Cristo, a quem enviaste.
4.
Já o verbo “faze” está no imperativo presente, cujo significado é: continue
fazendo. Isso era muito mais do que o doutor da lei poderia esperar. Tudo o que
ele deseja ouvir do Senhor Jesus era algo na linha de: uma vez tendo feito
isso, você herdará o que procura. Em vez disso ele recebe um mandamento no
imperativo e que vale de forma contínua e inclui um estilo de vida que requer
um amor ilimitado e incondicional por Deus e pelo Seu povo!
Tanto
Jesus quanto Paulo concordavam com seus contemporâneos que, se fosse possível,
podia-se alcançar a salvação eterna por meio de uma estrita obediência da Lei
apresentada nas Escrituras Sagradas. Mas tanto Paulo quanto Jesus sabiam também
que alcançar tal objetivo era impossível porque nosso ser humano encontra-se
enfermo pelo pecado o que torna, na prática, impossível alcançar aquele
objetivo — ser obediente a todos os mandamentos da Lei de Deus sem vacilar um
instante sequer. Esse foi a razão central porque Deus enviou Seu filho ao
mundo. Jesus viveu uma vida ser cometer nenhum pecado e assim: 1) enquanto por
um lado ele assume sobre si mesmo todos os nossos pecados e recebe o justo
castigo que os mesmo merecem da parte de um Deus absolutamente santo e justo;
2) por outro lado ele nos reveste com Sua própria santidade de tal maneira que
podemos comparecer diante de Deus como se nunca tivéssemos cometido um único
pecado durante todas nossas vidas.
Conclusão
da Primeira Parte
Com
isso está finalizada a primeira parte do diálogo entre Jesus e o doutor da Lei.
Mas o doutor da Lei é persistente e não se dá por vencido. Ele não está
disposto a abrir mão da possibilidade de alcançar a salvação eterna, por meio
de seus próprios esforços. A lei de Deus foi citada e agora é necessário que se
faça um comentário sobre a mesma. E ele espera que Jesus faça esse comentário.
O Deus mencionado ele presume conhecer, mas quem é esse “próximo” a quem ele
precisa amara como a si mesmo? Ele precisa, urgentemente, de uma definição. De
uma lista talvez. Se a tal lista não for muito longa ele talvez possa tentar
guardar suas ordenanças. É isso que o motiva a dar início à segunda parte da
nossa parábola.
O
doutor da Lei pergunta a Jesus:
Lucas
10:29
Ele,
porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu
próximo?
Em
resposta Jesus irá então, contar a Parábola do Samaritano, mas isso será
assunto do nosso próximo estudo.
OUTRAS PARÁBOLAS DE JESUS PODEM SER ENCONTRADAS NOS LINKS ABAIXO:
001 – O Sal
002 – Os Dois Fundamentos
003 – O Semeador
004 – O Joio e o Trigo =
005 – O Credor Incompassivo
006 — O Grão de Mostarda e o Fermento
007 — Os Meninos Brincando na Praça
008 — A Semente Germinando Secretamente
009 e 010 — O Tesouro Escondido e a Pérola de Grande Valor
011 — A Eterna Fornalha de Fogo
012 — A Parábola dos Trabalhadores na Vinha
013 — A Parábola dos Dois Irmãos
014 — A Parábola dos Lavradores Maus — Parte 1
014A — A Parábola dos Lavradores Maus — Parte 2
015 — A Parábola das Bodas —
016 — A Parábola da Figueira
017 — A Parábola do Servo Vigilante
018 — A Parábola do Ladrão
019 — A Parábola do Servo Fiel e Prudente
020 — A Parábola das Dez Virgens
021 — A Parábola dos Talentos
022 — A Parábola das Ovelhas e dos Cabritos
023 — A Parábola dos Dois Devedores
024 — A Parábola dos Pássaros e da Raposa
025 — A Parábola do Discípulo que Desejava Sepultar Seu Pai
026 — A Parábola da Mão no Arado
027 — A Parábola do Bom Samaritano — Completo
027A — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 1
027B — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 2 — Os Ladrões e o Sacerdote
027C — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 3 — O Levita
027D — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 4 — O Samaritano
027E — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 5 — O Socorro
027F — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 6 — O transporte até a hospedaria
027G — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 7 — O pagamento final
027H — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 8 — O diálogo final entre Jesus e o doutor da Lei
028 — A Parábola do Rico Tolo —
029 — A Parábola do Amigo Importuno —
030 — A Parábola Acerca de Pilatos e da Torre de Siloé
031 — A Parábola da Figueira Estéril
032 — A Parábola Acerca dos Primeiros Lugares
033 — A Parábola do Grande Banquete
034 — A Parábola do Construtor da Torre e do Grande Guerreiro
035 — Introdução a Lucas 15 — Parábolas Acerca da Condição Perdida da Raça Humana — Parte 001
036 — Introdução a Lucas 15 — Parábolas Acerca da Condição Perdida da Raça Humana — Parte 002
037A — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 001
037B — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 002
037C — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 003
037D — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 004 — A Influência do Antigo Testamento
037E — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 005 — Características Cristológicas da Parábola da Ovelha Perdida
037F — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 006 — A importância das pessoas perdidas.
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS.
Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no
facebook através do seguinte link:
Desde
já agradecemos a todos.
[1] Ver os livros de Joachim Jeremias nas Parábolas de Jesus, de T. W. Manson
intitulado The Sayings of Jesus que
tratam das parábolas de Jesus e o comentário de I. Howard Marshall no livro de
Lucas escrito para a série: The New
International Greek Testament Commentary.
[2] Barth, Karl. The Doctrine of the Word of God, Volume I, Parte II, em Church Dogmatics. Hendrickson
Publishers, Marketing, LLC, Peabody, 2010.
Meu caro irmão Alexandros, eu dou muito graças a Deus por sua vida e por esses estudos, pois eles são verdadeiro alimento para a alma, pão espiritual para aqueles que amam o Senhor e Sua Palavra genuína. Que o Senhor continue a te usar assim, como servo para abençoar a vida de outros servos Dele. Paz, - Osvair
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