O artigo abaixo foi publicado
pelo site da Revista Superinteressante da Editora Abril.
Evangélicos
Não dá mais para fingir que não
vemos. Um a cada cinco brasileiros já é evangélico - e o número continua
crescendo. Se você quer entender o Brasil e antever o futuro, precisa antes
saber como isso foi acontecer.
Por Redação da Revista
Supernteressante
O texano Kenneth Hagin, nascido
em 1917, era uma criança doente. Desde os 9 anos, ficou confinado na casa do
avô. Aos 16, desenganado pelos médicos, infeliz e preso a uma cama, tinha
poucas esperanças de ver sua vida melhorar. Um ano depois, em agosto de 1934,
Hagin teve uma revelação. Ele compreendeu de repente o significado de um
versículo do Evangelho de São Marcos. A passagem do Novo Testamento dizia:
“Tudo quanto em oração pedires, credes que recebeste, e será assim convosco”.
Hagin então ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela cura, mesmo sem
ver sinal de melhora. Então levantou-se da cama. Estava curado.
A mensagem, que Hagin popularizou
por meio de mais de 100 livros, é clara: Deus é capaz de dar o que o fiel
desejar. Basta ter fé e acreditar que as próprias palavras têm poder. Sendo
assim, para os verdadeiros devotos, nunca faltará dinheiro ou saúde. Essa
doutrina ficou conhecida como “teologia da prosperidade”. A crença foi
incorporada anos depois por várias igrejas. Ela é central no mais
impressionante fenômeno religioso do Brasil contemporâneo: a explosão
evangélica.
No começo, essa explosão se deu
em silêncio, praticamente ignorada pelas classes médias. Os templos evangélicos
surgiam nas cidadezinhas perdidas e nas periferias miseráveis das metrópoles.
Já não é mais assim. No primeiro dia de 2004, a Igreja Pentecostal Deus é Amor
inaugurou no coração de São Paulo o seu novo templo. A obra tem tamanho de
shopping center, arquitetura de gosto duvidoso e comporta 22 mil pessoas
sentadas.
É cinco vezes maior que a
católica Catedral da Sé, lá perto.
Há meio século os evangélicos são
a religião que mais cresce no país. Nos últimos 20 anos, mais que triplicou o
número de fiéis: de 7,8 milhões de pessoas em 1980 para 26,4 milhões em 2001,
um pulo de 6,6% para 15,6% da população brasileira. Em 2010 já ultrapassava os
40 milhões, Hoje representa cerca de 22% de toda população brasileira. Em
algumas cidades, foram criados vagões de trem exclusivos para crentes, em que
as pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Em outras, não parece longe
o dia em que eles representarão mais de 50% dos habitantes. Com mais de 400
anos de atraso, finalmente estamos sentindo os efeitos da Reforma protestante
que varreu a Europa no século 16.
Um terreninho do Céu
Evangélicos, é importante
esclarecer, é a mesma coisa que protestantes. As duas palavras são sinônimas.
Ou seja, evangélicas são praticamente todas as correntes nascidas do racha
entre o teólogo alemão Martinho Lutero e a Igreja Católica, em 1517. O alemão
estava especialmente chateado com o comportamento dos padres, que, segundo ele,
tinham virado corretores imobiliários do céu, comercializando indulgências –
vagas no Paraíso para quem pagasse.
Lutero abriu a primeira fenda no
até então indevassável poder papal sobre as almas do Ocidente. A ele se
seguiram outros. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII criou sua própria
dissidência do catolicismo – depois batizada de anglicanismo – só porque o papa
não queria que ele se divorciasse e casasse de novo. Na Suíça, Ulrico Zwinglio
e João Calvino aprofundaram as reformas de Lutero. Zwinglio pregava o princípio
que fundamentaria todo o movimento: o cristão deve seguir apenas a Bíblia (os
católicos aceitam influências de teólogos, como Santo Agostinho e Santo Tomás
de Aquino). Já Calvino foi o responsável pela introdução do puritanismo, que
combinava regras rígidas de conduta com uma fervorosa dedicação ao trabalho. No
começo do século 20, o sociólogo alemão Max Weber publicou o texto clássico A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, no qual atribui a essa invenção
de Calvino o sucesso do capitalismo em países evangélicos.
Todos esses movimentos
estimulavam o fim do monopólio da Igreja sobre a interpretação da Bíblia. Cabia
a todo e qualquer cristão ler as Escrituras e tirar delas o que quisesse. Os
protestantes recusavam a idéia de que um único líder – o papa – deveria guiar
os rumos da religião. Foi isso que começou a fragmentação do movimento em
diversas correntes, com pequenas diferenças doutrinárias. Surgem os batistas,
os metodistas, os presbiterianos...
Mas o Brasil colonial passou
quase imune à avalanche protestante. Houve apenas algumas exceções, como os
calvinistas franceses e holandeses que invadiram o país – o primeiro culto
evangélico por estas terras foi celebrado por franceses no Rio de Janeiro, em
1557, só 57 anos depois da missa católica inaugural. Era proibido realizar
cultos de qualquer religião que não o catolicismo no território português.
A liberdade religiosa no Brasil
só veio com a independência, na Constituição de 1824, ainda que impondo
restrições de que as reuniões acontecessem em locais que não tivessem
“aparência exterior de templo”. No mesmo ano, alemães fundaram a primeira
comunidade luterana do Brasil. Logo depois chegaram as correntes missionárias,
como os metodistas, dispostas a pregar nas ruas para salvar almas. Eles caíram
nas graças da elite intelectual republicana que, impressionada com a “ética
protestante”, defendia a presença de evangélicos como condição para a
modernização do país.
Mas os protestantes que
prosperaram no Brasil pouco tinham a ver com a tal ética protestante de Weber.
No início do século 20, a fundação de duas igrejas seria decisiva para definir
o perfil evangélico nacional: a Congregação Cristã no Brasil, inaugurada em São
Paulo pelo italiano Luigi Francescon, em 1910, e a Assembléia de Deus, aberta
um ano depois em Belém pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg. Apesar da
origem européia, eles chegaram ao país via Estados Unidos, onde se envolveram
com uma nova corrente protestante, o pentecostalismo, um grupo que crescia em
popularidade por lá desde a virada do século.
Começou aí o que o sociólogo Paul
Freston chama de “a primeira onda do pentecostalismo brasileiro”. O movimento
era desaprovado tanto por católicos quanto pelos protestantes “históricos”,
como são conhecidas as correntes diretamente ligadas a Lutero e Calvino. Nem
uns nem outros gostavam da principal característica da doutrina pentecostal: a
exacerbação dos poderes sobrenaturais do Espírito Santo (a palavra
“pentecostalismo” vem de uma passagem da Bíblia que diz que, num dia de Pentecostes
– a Páscoa judaica –, o Espírito Santo desceu aos apóstolos e começou a operar
milagres). O mais notável desses poderes é a capacidade que Deus tem de curar
imediatamente qualquer problema de saúde – daí as cenas de aleijados
abandonando muletas e míopes pisando nos óculos. O pentecostalismo cresceu na
classe baixa, promovendo cultos de adoração fervorosa e improvisada, bem
dissonantes dos protestantes tradicionais, tão formais quanto contidos.
Para participar das novas
congregações, os fiéis eram obrigados a se submeter a rígidas normas
comportamentais. Os pentecostais eram os “crentes” estereotípicos: mulheres de
cabelos compridos e saia, homens de terno e Bíblia na mão. As palavras
essenciais para entender suas rotinas de vida são ascetismo, ou a recusa de
usufruir os prazeres da carne, e sectarismo, o isolamento do restante da
sociedade. Por trás delas, está a idéia de que o cristão deve se manter
concentrado em Deus. Só assim ele pode evitar que o Diabo ganhe espaço na sua
vida. Para os pentecostais, o mundo é simples: o que não é de Deus é o Diabo.
A Deus é Amor, aquela que acabou
de abrir um megatemplo no centro de São Paulo, é uma das mais rigorosas entre
as pentecostais. Ela proíbe freqüentar praias, praticar esportes ou participar
de festas. Às mulheres, é vetado cortar o cabelo e depilar. Crianças com mais
de 7 anos não podem jogar bola, graças a um versículo bíblico que diz “desde
que me tornei homem, eliminei as coisas de criança”. Tantas regras têm
compensação: para os pentecostais, o melhor da vida está reservado aos fiéis
para depois da morte.
Até a década de 50, esse modelo
reinou sozinho no pentecostalismo nacional. Fez sucesso, mas ficou restrito a
grupos relativamente pequenos. A chegada da “segunda onda”, no entanto, traria
uma novidade. É o que se convencionou chamar de “neopentecostalismo”. Em 1951
desembarcou aqui a Igreja do Evangelho Quadrangular, inaugurando no país o
pentecostalismo de costumes liberais. “Todas essas igrejas que fazem sucesso
hoje são nossas filhas, netas ou bisnetas”, diz o pastor Neslon Agnoletto, do
conselho nacional da Quadrangular. De fato, inovações como os hinos com ritmos
populares, a forte utilização do rádio e regras de comportamento menos duras,
todos ingredientes indispensáveis do “evangelismo de massas”, foram práticas
importadas pela Quadrangular, fundada nos Estados Unidos em 1923.
Deus é um office-boy
Para resumir, neopentecostalismo
quer dizer que Monique Evans, Gretchen e Marcelinho Carioca podem agora se
considerar “crentes”. Para isso, algumas adaptações aconteceram: saem os homens
de terno e as mulheres de pêlos nas pernas, entram pessoas que se vestem com
roupas comuns e não se animam a seguir normas rígidas de conduta. A primeira
inovação foi riscar do mapa o ascetismo, o sectarismo e a crença de que a
melhor parte da vida está reservada para o Paraíso. “A preocupação dos
neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”, afirma o
sociólogo Ricardo Mariano, autor de Neopentecostais – Sociologia do Novo
Pentecostalismo no Brasil.
Outra diferença é a radicalização
da divisão do Universo entre Deus e o Diabo. Para os neopentecostais, os homens
não são responsáveis pelos atos de maldade que cometem: é o Diabo que os leva a
pecar. Numa sessão de descarrego da Igreja Universal, o pastor explicou que, se
o fiel enfrenta um problema há mais de três meses, é provável que esteja
carregando um encosto. “Se a dificuldade completar um ano, daí não há dúvida: a
culpa é do demônio”, disse para a congregação. Ele não se referia só a entraves
financeiros ou comportamentais. A receita vale para tudo, inclusive para
doenças incuráveis. Assim, expulsar o demônio do corpo é a receita única para
todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão.
O ritual é feito aos gritos de
“sai, capeta”, às vezes com lágrimas escorrendo pelo rosto e transes que
terminam no exorcismo. Os cultos tornaram-se mais ativos, incluindo aplausos
para Jesus e música gospel. Mas a inovação mais profunda do neopentecostalismo
foi a aplicação da teologia da prosperidade, aquela exposta no primeiro
parágrafo desta reportagem. Graças a ela, o neopentecostalismo ganhou o apelido
de “fé de resultados”.
“A teologia da prosperidade faz o
fiel encarar Deus como um office-boy”, diz o cientista da religião e pastor
Paulo Romeiro, autor de Supercrentes – O Evangelho Segundo os Profetas da
Prosperidade. “O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer
reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um
Deus superior”, afirma Romeiro. No Brasil, além da Universal, a Renascer em
Cristo, a Sara Nossa Terra e a Internacional da Graça de Deus adotam a teologia
da prosperidade.
A força de enxurrada com que o
neopentecostalismo cresceu desorganizou todo o protestantismo. “Há uma
verdadeira perda de identidade no movimento evangélico mundial. O
pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais e até os
protestantes históricos passaram a aceitar a participação mais ativa do fiel no
culto e algumas manifestações sobrenaturais”, afirma o pastor batista Joaquim
de Andrade, pesquisador da Agência de Informações da Religião. Mais e mais, boa
parte do mundo protestante aceita a teologia da prosperidade.
A onda de mudança foi bater até
onde a Reforma de Lutero não tinha chegado: nas praias do catolicismo. A
influência neopentecostal sobre a renovação carismática católica é tão grande
que seu maior expoente no Brasil, padre Marcelo Rossi, é acusado de ter gravado
hinos religiosos tirados de templos evangélicos.
Promessas de um novo
mundo
Mas por que cada vez mais pessoas
abandonam suas religiões para tornarem-se evangélicas? Nos anos 60, a nova
religião era vista como uma forma de migrantes de zonas rurais enfrentarem a
falta de valores e regras da sociedade moderna e estabelecerem relações de
solidariedade na metrópole. Demorou dez anos para essa hipótese ser
desacreditada por estudos que mostraram que as igrejas eram compostas
igualmente pelos pobres nascidos e viventes na cidade e no campo.
Houve espaço para teorias
conspiratórias: o avanço evangélico seria um plano dos Estados Unidos (ou do
Diabo) para dominar a América Latina. A hipótese foi defendida a sério pela
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que na década de 80 enviou
memorando ao Vaticano, citado no livro de Mariano, afirmando que a CIA, aliada
à direita brasileira, acelerava a “expansão dessa religião alienante no
continente para frear a proliferação da Igreja Católica progressista”.
Mas essas explicações não
convencem ninguém e o avanço neopentecostal exigiu um novo foco nos estudos. Em
seu mais recente trabalho, o ainda não publicado “Análise Sociológica do
Crescimento Pentecostal no Brasil”, Mariano afirma que as motivações para a
conversão estariam nas soluções mágicas oferecidas. “Uma grande parcela da
população não tem acesso ao serviço de saúde – e, quando tem, recebe
atendimento precário e mal entende os médicos. É muito mais fácil, e faz mais
sentido, acreditar que os problemas são causados pelo demônio e se tratar na
igreja”, afirma o sociólogo.
Não é apenas a questão médica que
está em jogo. A dualidade entre Deus e o Diabo é uma das mais eficientes
respostas para a eterna pergunta sobre como é possível existirem tantas coisas
ruins. Um presidiário pode culpar a influência do demônio pelo passado violento
– uma explicação para o sucesso da religião nas prisões. Essa dualidade também
pode estar na raiz da popularidade evangélica entre ex-viciados em drogas – e
de sua comprovada eficácia na luta contra o vício. O apelo pode efetivamente
ajudar ex-criminosos e ex-viciados a deixarem seus “maus hábitos” para trás.
Com isso, os neopentecostais respondem satisfatoriamente às questões dos nossos
tempos – coisa que outras religiões nem sempre conseguem fazer.
Juntando tudo, o que se tem é uma
religião que escancara uma ambição materialista e imediata na relação com Deus.
Um apelo e tanto, que parece ter especial atração para os mais pobres.
Estaríamos, portanto, diante de uma mudança naquilo que as pessoas esperam da
experiência religiosa? “Não”, responde o estudioso de religiões Antonio Flávio
Pierucci, da Universidade de São Paulo. “A maior parte das religiões tem esse
viés materialista. As pessoas sempre rezam com o objetivo de pedir e receber
algo. A diferença é que os evangélicos assumem essa faceta sem se envergonhar.”
Seria injusto, no entanto, listar
apenas explicações sociológicas para justificar a onda de conversões. Poucas
religiões têm tanta disposição para atrair fiéis como os evangélicos. Templos
são abertos nos mais distantes rincões e pastores dedicam-se com fervor. As
igrejas estão à frente das demais no entendimento de que evangelizar é como
convencer um consumidor a comprar. “Os depoimentos de fiéis na TV e no rádio
são o apelo de marketing para demonstrar a eficiência dos serviços”, diz Ari
Pedro Oro, antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e
organizador do livro Igreja Universal do Reino de Deus. As igrejas seduzem com
um produto atraente e oferecem bom serviço. São religiosamente adeptas da mais
pura e simples mentalidade empresarial.
Crescei e mutiplicai
Em novembro do ano passado, um
evangélico foi ao Programa do Ratinho pedir a devolução dos dízimos que havia
dado à igreja. Argumentava que o pastor lhe prometera prosperidade em troca do
dinheiro. Sem melhorar de vida, o fiel, como se fosse um consumidor lesado, foi
ao Ratinho pedir o dinheiro de volta.
Essa história ilustra de modo
brilhante a relação que as neopentecostais criaram com seus fiéis-clientes.
Elas prestam um serviço. E eles pagam. É bom lembrar que dar dinheiro a Deus, seja
através da caridade ou de doações, é parte da doutrina de diversas religiões,
incluindo todas do braço judaico-cristão. Com a teologia da prosperidade, no
entanto, o dinheiro ganhou nova função. Agora é preciso dar para receber. Num
de seus livros, Edir Macedo, o líder da Universal, explica que devemos formar
uma “sociedade com Deus”. “O que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso
dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d’Ele (as bênçãos, a paz, a
felicidade, a alegria, tudo de bom) passa a nos pertencer”, afirma o bispo.
É uma leitura polêmica do
Evangelho. A idéia de que dar dinheiro é parte de uma relação de troca com Deus
desperta calafrios em muitos religiosos. “É uma contradição. A Reforma
protestante começou justamente porque Lutero se levantou contra a venda das
indulgências”, diz o pastor Paulo Cezar Brito, líder da Igreja Evangélica
Maranata, uma pentecostal que rejeita a teologia da prosperidade.
“Templo é dinheiro”, diz a
maldosa adaptação do ditado popular. “Deus é o caminho, Edir Macedo é o
pedágio”, diz outra. Na cabeça de muita gente, as igrejas evangélicas são
ótimas opções de carreira para quem pretende enriquecer facilmente. Não dá para
negar que muitos realmente ganharam dinheiro com a fé alheia – em especial os
líderes das grandes igrejas. Como em qualquer empresa moderna, pastores hábeis
que trazem muito dinheiro para a igreja ganham bem – ninguém confirma a
informação, mas comenta-se que alguns salários se parecem com os de astros de
futebol, na casa das várias dezenas de milhares de reais. Mas essas afirmações
escondem também um preconceito. Em termos legais, não há diferença entre um
templo evangélico e qualquer outro local de cultos religiosos. A Constituição
garante a todos – evangélicos, católicos ou budistas – a mesma isenção de
vários tributos, entre eles o IPTU e o Imposto de Renda.
Além disso, o crescimento da
concorrência faz ser cada vez mais difícil sobreviver entre tantas denominações
evangélicas. Calcula-se que uma congregação precise ter no mínimo 50
integrantes para recolher dízimos e doações em quantidade suficiente para
cobrir as despesas mínimas, como aluguel e contas de luz e água. Nessas horas,
ser a religião dos pobres não é vantagem. Por isso, cada denominação procura
seu nicho de atuação. A Assembléia de Deus prefere abrir templos dentro de
bairros isolados, enquanto a Universal opta pelas grandes vias de acesso – uma
decisão que pouco tem a ver com a fé, segue mais a lógica da competição de
qualquer mercado capitalista.
O maior país católico do mundo
pode estar se tornando uma nação de maioria evangélica? Dificilmente, concorda
a maioria dos especialistas. Mas eles discordam na hora de prever o ritmo do
crescimento. De um lado, estão os que acham que o boom já passou e que a Igreja
Católica, com a renovação carismática, equilibrou o jogo. Do outro,
pesquisadores que veem no frágil compromisso dos brasileiros com a religião um
prato cheio para os neopentecostais. Cerca de 80% dos nossos católicos se dizem
não-praticantes. É um enorme mercado para os evangélicos.
Não é à toa que a maioria dos
convertidos vem do catolicismo. Mas, na hora de afirmar a identidade e escolher
um adversário, o pentecostalismo ataca o candomblé e a umbanda. E vai na
jugular, às vezes escorregando para a intolerância religiosa. Em quase todos os
templos é possível ouvir que essas religiões cultuam o Diabo. Também há casos
de ataques a terreiros estimulados por pastores. Pode-se dizer que a briga
contra as religiões afro-brasileiras, e não contra o catolicismo, o verdadeiro
rival, seja uma estratégia de marketing. Quando enfrentaram os católicos, os
evangélicos levaram um contra-ataque duro, que envolveu denúncias de
charlatanismo e estelionato e ameaçou a sobrevivência das igrejas, além de
provavelmente afastar fiéis. A popularidade dos evangélicos chegou ao fundo do
poço quando um pastor da Universal chutou na TV uma estátua de Nossa Senhora
Aparecida (os evangélicos não cultuam imagens).
Mas, embora esses episódios
possam dar a impressão de que o fanatismo religioso esteja em alta no Brasil,
muitos especialistas defendem a tese de que o crescimento evangélico seja um
indício do contrário: de que cada vez mais gente rejeita a religião. É o que
sugerem pesquisas mostrando concentrações de evangélicos nas mesmas regiões
onde há altos índices de pessoas “sem religião” – caso do estado do Rio e da
zona leste paulistana. “As pessoas estão experimentando uma nova crença. Se
perceberem que não está dando certo, que Deus não é tão fiel, podem desistir da
busca”, diz o sociólogo Pierucci. “Abandonar a religião oficial é o primeiro
passo de saída do mundo religioso”, afirma.
Um indício de que a conversão ao
mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que
as neopentecostais exigem poucas mudanças nos fiéis. O resultado é que, quanto
mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país – bem ao contrário da
revolução que ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino. Prova disso
é a programação da Rede Record, comprada pela Igreja Universal com o dinheiro
do dízimo, que pouco difere das concorrentes.
Talvez o trunfo evangélico para
conquistar almas seja sua capacidade de adaptação. Com a rejeição à
centralização da interpretação bíblica herdada da Reforma protestante, qualquer
um pode abrir um templo e pregar como quiser. Assim, enquanto seus “irmãos” se
expandiam em áreas pobres, a Igreja Bola de Neve cresceu 1 100% em três anos
orando para os ricos. Seus dez templos, cuja marca registrada são as pranchas
de surfe como púlpito e os hinos religiosos em ritmo de reggae, funcionam em
áreas de classe média-alta de São Paulo e cidades de praia como Florianópolis,
Itacaré e Guarujá. O público são jovens da classe A e B, com curso superior.
Para quem está acostumado a fiéis pobres e pouco instruídos, a Bola de Neve é
uma surpresa desconcertante. Para os evangélicos, somente mais uma prova de que
a obra de Deus chegará a todos os corações.
Sérgio Gwercman
O artigo original poderá ser
visto por meio do seguinte link:
NOSSO COMENTÁRIO
O artigo apesar de falho em
vários aspectos tem méritos e deve ser lido por todas as pessoas interessadas
no fenômeno que atende pelo nome de “Evangélicos”.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos
leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte
link:
http://www.facebook.com/pages/O-Grande-Diálogo/193483684110775
Desde já agradecemos a todos.
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