terça-feira, 15 de março de 2016

XUXA E O RACISMO DOS RICOS CONTRA OS POBRES

Xuxa
Xuxa: 'Daivison, João e Pedro...meus novos amiguinhos ralando para conseguir um dindin', escreveu Xuxa no Facebook
  
O artigo abaixo foi publicado no site da revista Carta Capital e é de autoria de Djamila Ribeiro

Xuxa e a fetichização da pobreza

Ao dizer que os três meninos negros no sinal estavam “ralando para conseguir um dindin”, Xuxa não percebe a violência e o racismo da situação.

por Djamila Ribeiro —

No dia 5 de março, sábado último, a apresentadora Xuxa postou em sua página do Facebook uma foto de, no mínimo, mau gosto. Na foto, a “rainha dos baixinhos” está dentro de seu carro importado e, do lado de fora, estão três meninos negros, segurando bolas que sugerem o trabalho em algum semáforo, com a seguinte legenda: “Daivison, João e Pedro...meus novos amiguinhos ralando para conseguir um dindin”. De imediato, a foto viralizou (eram mais de 5 mil compartilhamentos até a manhã da segunda) e várias críticas surgiram.

São tantos os erros nessa atitude que fica difícil nomear. Primeiro, trabalho infantil é crime e não deve ser naturalizado. Ao dizer que os meninos estavam “ralando para conseguir um dindin”, Xuxa não percebe a violência no fato de crianças estarem submetidas a este tipo de atividade.

Elas lá estão porque a sociedade é desigual e racista – não à toa os três meninos são negros. É sabido que o Ministério Público incentiva que se denuncie trabalho infantil, em vez de utilizá-lo como forma de se promover em redes sociais.

Não há nada de lindo naquela imagem: é o retrato de uma sociedade racista que nega oportunidades à população negra enquanto privilegia o grupo branco. Essa é a típica mentalidade do branco médio no Brasil. Finge se importar com os problemas sociais de dentro de sua SUV.

Em dezembro, houve uma situação semelhante: um homem fotografou um menino negro que trabalhava no sinal sorrindo para a filha dele, um bebê. Dentro do carro com ar-condicionado. Na legenda, dizia: “A sociedade os separa, mas o sorriso os une”.

É muita fetichização da pobreza.

Quem é essa sociedade que os separa? Por acaso, trata-se de uma entidade? Por que a criança branca está no conforto do carro e a negra trabalhando? Por que uma tem todas as oportunidades e a outra não?

Essas são as questões que precisam ser feitas e não a propaganda de si mesmo como cidadãos de bem, sem se responsabilizar por essa sociedade ser como é.

A branquitude precisa parar de nos tratar como fetiche e assumir a responsabilidade de mudar essa realidade.

Xuxa deveria ter vergonha de expor esses meninos, porque aí eu pergunto: eles são menores de idade, ela por acaso teve a autorização dos pais ou responsáveis para expô-los? Essas crianças têm direitos, não podem servir de zoológico humano para gente privilegiada. Se alguém tirasse uma foto de Sasha sem autorização, Xuxa gostaria?

Tirar fotos com esses meninos não contribui em nada para mudar a situação deles, eles seguirão à margem enquanto Xuxa se promove através da miséria.

Passou da hora das pessoas brancas realmente se posicionarem contra o racismo no Brasil. Estudarem sobre a história desse País, sobre os 354 anos de escravidão, os estupros cometidos pelos senhores romantizados sob a égide da miscigenação, os efeitos da herança escravocrata. Não podem mais se comportar como neo sinhás e senhores que ainda nos querem no lugar determinado para nós.

Não bastasse as quatro gerações de paquitas loiras que causaram danos profundo à autoestima de meninas negras, Xuxa agora quer passar-se por não racista exibindo exploração infantil. Lugar de criança é na escola, brincando e tendo direito à dignidade.

Xuxa não mostrou preocupação alguma com a situação desses meninos, os chamou de amiguinhos, expôs e seguiu para sua vida confortável. Esta é a harmonia das raças que esse país quer, negros do lado de fora do ar condicionado. A verdadeira consciência social é aquela que quer para os outros a mesma dignidade que tem o seu filho. Passou da hora da branquitude ter limites.


Que Deus ajude o povo brasileiro a ponderar na gravidade dessas palavras.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

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