Esse material é um estudo dividido em três partes. No final de cada parte você encontrará um link para o estudo seguinte. Não deixe de ler as três partes.
B. Grego
ἐλπίς, ἐλπίζω – elpís, elpízo – esperança, ter esperança.
1. Os
termos gregos seja em forma de substantivo
ἐλπίς
– elpís – esperança, seja em
forma de verbo ἐλπίζω
– elpízo – ter esperança, quando usados pelos escritores do
Novo Testamento, têm seu significado condicionado e determinado pela
compreensão que existia nos dias do Antigo Testamento.
O
verbo ἐλπίζω – elpízo – ter esperança é usado no sentido de uma
esperança associada a uma expectativa de concretização do esperado. Exemplo
deste tipo de uso pode ser visto em:
- Lucas 6:34 – “E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto”.
- Ver também 1 Coríntios 9:10 - 2 Coríntios 8:5 e 1 Timóteo 3:14 e Atos 16:19.
- O conceito de esperar no sentido de aguardar algum acontecimento pode ser visto de maneira mais clara em:
- Lucas 23:8 – “Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal”. De forma semelhante este uso ocorre também em Atos 24:26 e 27:20.
- Paulo usa esta expressão de forma freqüente neste sentido, como pode ser visto em Romanos 15:26; 1 Coríntios 16:7; Filipenses 2:19 E 23; Filemon 22.
O
uso de ἐλπίζω – elpízo – ter esperança, com referência a seres humanos
pode ser visto em:
- 2 Coríntios 1:13 – “Porque nenhuma outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis; e espero que o compreendereis de todo”. Mesmo tipo de uso existe em 2 Coríntios 5:11 e 13:6. Paulo esperava firmemente no fato de que os Coríntios, uma vez tendo sido participantes nos sofrimento também o seriam das consolações – ver 2 Coríntios 1:7.
A
esperança, da mesma forma como o amor e a fé em 1 Coríntios 13, não se refere a
um sentimento e sim a uma decisão que afeta nossos relacionamentos com Deus e
com as outras pessoas. Que a esperança caracteriza uma atitude e não um
sentimento pode ser claramente visto em 1 Coríntios 13:7 onde lemos: “(o amor)
tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. O uso dos quatro verbos
“sofrer, crer, esperar e suportar” no contexto do amor, são uma indicação de
que se trata de uma mesma atitude, e não um sentimento, manifestada de
quatro formas distintas!
2. A
esperança quando fixada em Deus engloba estes três aspectos: expectativa acerca
do futuro, confiança e paciência. Qualquer um destes três aspectos pode ser
enfatizado. A definição de fé como a certeza das coisas que se esperam, como
encontramos em Hebreus 11:1, segue a mesma compreensão que existe em Salmos
78:22. A esperança bíblica possui Deus como seu objeto e confia exclusivamente
n’Ele para alcançar o futuro esperado. A esperança em Deus exclui a
possibilidade de se esperar em fatos que possam ser controlados por aquele que
espera. Este é o motivo porque os autores bíblicos insistem na fórmula: espera
no SENHOR. O Salmo 37 é bastante relevante neste contexto:
- Verso 7 - Descansa no SENHOR e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.
- Verso 8 - Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal.
- Verso 9 - Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no SENHOR possuirão a terra.
- Verso 10 - Mais um pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás.
Este
mesmo aspecto, de confiar exclusivamente em Deus, independente de quão graves e
incontroláveis seja as circunstâncias, ao mesmo tempo em que se exercita
paciência no passar do tempo, pode também ser encontrado nos escritos do
apóstolo Paulo quando ele diz: “Porque, na esperança, fomos salvos. Ora,
esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? –
Romanos 8:24”. Este é certamente o motivo porque Paulo preferia muito mais
prestar atenção nas coisas que não se vêem i.e. nas coisas que são eternas do
que nas coisas que se vêem e que são temporárias – ver 2 Coríntios 4:18. O
próprio apóstolo expressa e ilustra esta atitude, de esperar sem evidência
externa aparente, de forma magistral em Romanos 4:18 onde lemos: “Abraão, esperando
contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações,
segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência”.
- Como descrito acima o termo ἐλπίζω – elpízo – ter esperança, possui elementos de certeza absoluta como pode ser visto nos versículos a seguir:
- Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens – 1 Coríntios 15:19.
- O qual nos livrou e livrará de tão grande morte; em quem temos esperado que ainda continuará a livrar-nos – 2 Coríntios 1:10.
- Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar – 2 Coríntios 312.
- Segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte – Filipenses 1:20.
- Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança – Hebreus 3:6.
- ... que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus – 1 Pedro 1:21.
Por
semelhante modo, ao usar a palavra
ἐλπίζω – elpízo – ter esperança, os autores colocaram a ênfase em
esperar com paciência como pode ser visto em:
- E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado – Romanos 5:3 – 5.
- Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança – Romanos 15:4.
- ... recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo – 1 Tessalonicenses 1:3.
- Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação; porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo – 1 Tessalonicenses 5:8.
- Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas – Hebreus 6:11 - 12.
- Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel – Hebreus 10:23.
Como
podemos notar, a forma como os autores do Novo Testamento usaram o termo
“esperança” não difere em praticamente nada do uso que encontramos no Antigo
Testamento. Todavia, existe uma diferença bastante marcante no que diz respeito
à situação ou condição daqueles que esperam, como pode ser visto em 2 Coríntios
3:1 – 18 onde lemos:
1
Começamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos
necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós outros ou de vós?
2
Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os
homens,
3
estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério,
escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de
pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.
4 E
é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus;
5
não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se
partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus,
6 o
qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da
letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.
7 E,
se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória,
a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da
glória do seu rosto, ainda que desvanecente,
8
como não será de maior glória o ministério do Espírito!
9
Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será
glorioso o ministério da justiça.
10
Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não
resplandece, diante da atual sobreexcelente glória.
11
Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que
é permanente.
12 Tendo,
pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar.
13 E
não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel
não atentassem na terminação do que se desvanecia.
14
Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a
leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que,
em Cristo, é removido.
15
Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.
16
Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.
17 Ora,
o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
18 E
todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do
Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como
pelo Senhor, o Espírito.
As
expressões Πεποίθησιν - pepoíthesin –
verdade, confiança e segurança – ver 2 Coríntios 3:4 - e ἐλπίδα - elpída –
esperança – ver 2 Coríntios 3:12, indicam, de forma inequívoca, a confiança
expectante que deveria existir entre os membros da comunidade cristã na cidade
de Corinto. De fato esta confiança expectante era realmente algo experimentado
pelo próprio apóstolo Paulo – ver 2 Coríntios 1:13 e 15 - e os outros apóstolos
como διακόνους καινῆς διαθήκης - diakónous kaines diathekes – ministros de uma nova aliança – ver 2 Coríntios
3:6. Esta confiança expectante correspondia em todos os sentidos à ἐλευθερία - eleuthería – liberdade – ver 2 Coríntios 3:17 - da escravidão
causada pela Lei e da morte decretada pela Lei. E esta liberdade é algo que os
judeus, vivendo sobre a Antiga Aliança e tutelados pelos rabinos, jamais
experimentaram[1].
Desta
maneira a esperança cristã se apóia nos atos divinos efetuados a favor da nossa
salvação. O coração da mensagem do Evangelho não tem a ver com algo que Deus
requer de nós e sim com algo que Deus fez a nosso favor; algo que precisava ser
feito; algo que não precisa ser feito nunca mais! – Ver 2 Coríntios 5:21.
Mas
nossa esperança é, em última realidade, uma esperança escatológica, porque
ainda existem inúmeras coisas que ainda estamos esperando – ver Romanos 8:24
-25.
Em
função disto, ao contrário dos incrédulos que não possuem esperança – ver
Efésios 2:12 - os crentes possuem a
verdadeira esperança – ver 1 Tessalonicenses 4:13. E esta esperança se estende
para além desta vida e pela eternidade. De fato os crentes já estão, mesmo
nesta vida, vivendo a vida eterna, pois como Jesus ensinou, a vida eterna
consiste em se conhecer o único Deus verdadeiro e a Jesus a quem Ele enviou –
ver João 17:3. Note o tempo presente na afirmativa de Jesus: “A vida eterna
é esta”!
O
cristão não espera e nem se apóia nas coisas que podem ser vistas, pois como
diz o apóstolo Paulo: “... não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas
que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são
eternas. – ver 2 Coríntios 4:18.
3. A esperança - ἐλπίς - elpís,
juntamente com a fé - πίστις – pístis – e o amor -
ἀγάπη – agápe - constituem a essência da vida cristã como
podemos ver nos versículos a seguir:
- Romanos 15:13 - E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo.
- Hebreus 11:6 - De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.
- Colossenses 3:14 - Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.
Escrevendo
aos Tessalonicenses o apóstolo Paulo deixa claro que estas três qualidades
representam, por excelência, aquilo que o cristão deve ser: ... recordando-nos,
diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação
do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus
Cristo – 1 Tessalonicenses 1:3.
Estas
são as três coisas que permanecem na vida cristã, independente das
circunstâncias, de acordo com o apóstolo Paulo – ver 1 Coríntios 13:13.
Como
já dissemos antes, a esperança, como o amor e a fé, é uma decisão e não um
sentimento. É a decisão de esperar em Deus e Suas promessas independente
das circunstâncias ao redor. O
leitor deverá notar que todas as vezes que as expressões ἐλπίς - elpís - esperança,
πίστις – pístis –
fé e ἀγάπη – agápe – amor, aprecem no Novo Testamento, as mesmas
estão acompanhadas de verbos, indicando, com isto, a clara necessidade que
temos de agir em vez de sentir.
A
parte 001 desse estudo poderá ser acessada aqui:
http://ograndedialogo.blogspot.com/2012/03/nossa-preciosa-esperanca-parte-1.html
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos
leitores que puderem que “curtam” nossa página no facebook através do seguinte
link:
Desde já agradecemos a todos.
[1]. A
discussão do material acerca dos conceitos de esperança no judaísmo rabínico e
no grego do Novo Testamento foi, em parte, adaptado do artigo de autoria de
Rudolf Bultmann, publicado no dicionário teológico editado por Gerhard Kittel, Theologisches Wörtebuch Zum
Neuen Testament,
publicado por W. Kohlhammer Verlag,
Stuttgart, Deutchland.
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