sábado, 29 de setembro de 2012

A TRANSMISSÃO DO TEXTO DA BÍBLIA – PARTE 2 - ANTIGO TESTAMENTO

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Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo 

INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO - O Que é o Antigo Testamento? — pARTE 4

IV. Transmissão Textual: Como a Bíblia chegou até nós? — Continuação

Graças ao trabalho de inúmeros indivíduos fiéis ao longo de muitos séculos nós podemos ler a Bíblia hoje. Estes indivíduos são tecnicamente chamados de escribas. Estes homens copiaram, à mão, a Palavra de Deus, tomando grande cuidado para manter a exatidão daquilo que copiavam.

2. O Texto Protomassorético.

O texto consonantal do TM, anterior à época dos massoretas, é chamado de texto Protomassorético, não contendo ainda a vocalização, a acentuação e o aparato massorético, que foram desenvolvidos somente durante a Idade Média. O texto Protomassorético é um dos tipos textuais da Bíblia Hebraica utilizados pelos judeus, durante o período do Segundo Templo — c. 450 a.C. a 70 d.C., ao lado de outras formas textuais transmitidas naquela mesma época.

O texto Protomassorético, preservado e transmitido pelos escribas judeus na época do Segundo Templo, foi a base e a origem do TM desenvolvido pelos massoretas, na época medieval. Este texto foi, provavelmente, o preferido pelos fariseus e pelos círculos dos escribas do Templo em Jerusalém, que o copiaram constantemente através dos séculos. Alguns estudiosos acreditam que esta forma textual foi a que teve a melhor transmissão e preservação, pelo foto de ter sido copiada meticulosamente seguindo regras estabelecidas pelos próprios escribas.

Os outros tipos textuais hebraicos existentes, ao lado do Protomassorético, eram o tipo que deu origem ao Pentateuco Samaritano e o tipo que deu origem à Septuaginta - designada pela sigla LXX[1] - os quais discordam do texto Protomassorético, em vários detalhes relativos ao texto, à ortografia e à morfologia. Os eruditos costumam argumentar que estes outros tipos textuais são, na verdade, textos vulgarizados, transmitidos sem muitos critérios e sem obedecer a regras estabelecidas e, por isso, eles possuíam alterações como se vê no Pentateuco Samaritano e em certos manuscritos de Qumram. Mas apesar disto, todos eles eram de uso comum entre os judeus e nenhum deles tinha mais autoridade do que o outro no período pré-cristão.

3. O Pentateuco Samaritano.

O Pentateuco Samaritano, como o próprio nome revela, tem sua origem relacionada aos judeus samaritanos, que contém somente os cinco primeiros livros do Antigo Testamento - Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Estes judeus surgiram de casamentos mistos entre judeus e estrangeiros trazidos pelo imperador da Assíria, após destruir o reino do norte - reino de Israel em 722 a.C. Esta prática era comum entre os imperadores Assírios, que desterravam parte da população dos territórios ocupados, transportando-as para outras regiões, igualmente ocupadas. Assim, parte da população do reino de Israel, foi desterrada para outras terras, enquanto povos de outras regiões, foram trazidos para Israel. Desta miscigenação entre judeus e estrangeiros surgiu esta raça mista conhecida como samaritanos.

As cópias manuscritas mais antigas do Pentateuco Samaritano são aproximadamente do ano 1100 a.D. Os estudiosos acreditam que estes manuscritos refletem, de maneira apropriada, textos antigos, produzidos originalmente entre 200 e 100 a.C.

Os judeus de Jerusalém viam os samaritanos como mestiços, raça não pura, e que faziam inúmeras concessões culturais, entre as quais, a mais grave, era a de se casarem com estrangeiros. Os samaritanos, por sua vez, consideravam que preservavam uma forma mais antiga e mais pura da fé do que os judeus que haviam retornado da Babilônia. Aqui, cabe lembrar, as palavras da mulher samaritana a Jesus quando disse: “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar – João 4:20”. Em suas palavras podermos notar que havia diferenças teológicas entre judeus e samaritanos. O Pentateuco Samaritano possui características que refletem estas diferenças. O texto do Pentateuco Samaritano oferece um testemunho, muito antigo, de como os samaritanos interpretavam o Pentateuco. Os samaritanos como que ajustaram o texto do Pentateuco para refletir suas próprias conveniências e isto, torna esse manuscrito uma testemunha mais fraca.

O Pentateuco Samaritano era desconhecido pelo mundo ocidental até 1616, quando foi descoberto por Pietro della Valle, em Damasco, na Síria. Após a descoberta do texto, o Pentateuco Samaritano foi incluído na Poliglota[2] Parisiense produzida entre 1629 e 1645, bem como na Poliglota Londrina produzida entre 1654 e 1657.

Em 1815, Wilhelm Gesenius considerou o texto impróprio para a crítica textual do Pentateuco, por conter alterações deliberadas feitas pelos Samaritanos. Outros estudiosos, entre os quais podemos citar Abraham Geiger e Paul E. Kahle, vieram a considerar o Pentateuco Samaritano como um testemunho de grande valor para a crítica bíblica. Começando no final do século XIX e, estendendo-se por todo século XX, os estudos acerca do Pentateuco Samaritano, esclareceram sua natureza, o seu tipo textual e a sua relação com o TM - Texto Massorético. Estes estudos constataram cerca de 6.000 variantes com relação ao texto do TM e cerca de 1900 leituras concordantes com a LXX - Septuaginta. A maioria das variantes é de ordem ortográfica - grafia correta e pontuação, linguística - língua e gramática, fonológica — sistemas sonoros da língua — e de vocabulário — conjunto de palavras. As diferenças que mais chamaram a atenção dos estudiosos, todavia, foram as de cunho ideológico, que foram inseridas no texto em defesa de pontos de vista dos próprios Samaritanos. Entre estas diferenças podemos citar:

·       Diferenças relacionadas às cronologias do período patriarcal no livro de Gênesis e da importância de Siquém quanto ao status religioso, quando comparada com Jerusalém[3] – ver Gênesis 12:6 e 33:18 a 34:2. Os samaritanos achavam que a cidade de Siquém já existia nos dias de Abrão (c. 2100 a.C.) conforme Gênesis 12:6. Isto era importante para eles porque a cidade de Siquém ficava bem no centro da terra de Canaã onde estava localizado o centro do reino de Israel — após a divisão entre os reinos de Judá e Israel — com sua capital em Samaria. Mas na realidade esta cidade de Siquém foi assim chamada por causa do filho de um príncipe heveu homônimo, que existiu nos dias de Jacó — pelo menos 200 anos depois de Abrão ter passado por lá. Então o que aconteceu? Nós precisamos entender que quem escreveu o livro de Gênesis foi Moisés por volta do ano 1440—1400 a. C. Portanto, quando Moisés escreveu o livro de Gênesis aquela localidade já se chamava Siquém. Assim sendo, quando Moisés a chama de Siquém nos dias de Abrão, ele o faz em sentido de antecipação e não querendo indicar que aquela localidade já era conhecida por Siquém nos dias de Abrão.


·       Diferenças com relação a mandamentos adicionais ordenando a construção de um templo no monte Gerizim como, por exemplo, em Deuteronômio 11:29. Na grafia Samaritana a expressão monte Gerizim aparece como uma palavra הַרגְּרִזִים hargerizim – monte gerizim, enquanto que em hebraico a grafia é הַר גְּרִזִים har gerezim – monte gerezim.


De acordo com os estudos paleográficos, textuais, históricos e, principalmente, dos Manuscritos de Qumram, o tipo textual do Pentateuco Samaritano pertence ao período do Segundo Templo e não é anterior ao século II a.C. Este dado coloca o surgimento do Pentateuco Samaritano, solidamente, no período da história de Israel, conhecido como época dos Hasmoneus[4].

OUTROS ESTUDOS DESSA SÉRIE PODEM SER ENCONTRADOS NOS LINKS ABAIXO:

001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM

004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano

005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-3.html


006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX

007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia
 

Que Deus Abençoe a todos

Alexandros Meimaridis

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Parte do material contido neste estudo foi adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:
 

Bibliografia

Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.

Confort, Philip Wesley (Editor). A Origem da Bíblia. Casa Publicadora das Assembléias de Deus, Rio de Janeiro, 4ª Edição, 2003.

Champlin, R. N, editor. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos, São Paulo, SP.

Francisco, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético. Sociedade 
Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª Edição, 2003.

Geisler, Norman e Nix, William. Introdução Bíblica – Como a Bíblia chegou até nós. Editora Vida, São Paulo, 2ª Impressão, 1977.

Walton, John H. Chronological Charts of The Old Testament. The Zondervan Corporation, Grand Rapids, 1978.

Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Reprinted, 1992.

Enciclopédias

__________The New Encyclopaedia Britannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.

Antigo Testamento, Texto Protomassorético, Pentateuco Samaritano, Segundo Templo, Septuaginta, João 4:20, Jerusalém, Siquém. Monte Gerizim, Monte Sião,  Hasmoneus, Destruição do Reino de Israel,


[1] A Septuaginta, comumente identificada pelo símbolo LXX, é a tradução das escrituras hebraicas para o grego realizada no Egito, sob o patrocínio do Ptolomeu II Filadelfo entre 285—246 a.C.

[2] Chama-se de “Poliglota” a publicação de textos, sejam do Antigo Testamento, sejam do Novo Testamento em colunas paralelas como a Poliglota publicada no Brasil pela Sociedade Bíblica do Brasil e Edições Vida Nova contendo o texto do Antigo Testamento em Hebraico (TM conforme editado na Bíblia Hebraica Stuttgartensia), Grego (Septuaginta — LXX, texto editado por Alfred Ralphs), Português (versão de Almeida Revista e Atualizada – ARA) e Inglês (texto da The New International Version — NVI).

[3] Jerusalém – Origem do nome é desconhecida. Certamente está relacionada a Salém — Paz — e estudiosos especulam como tendo o significado entre “fundada em paz” ou “cidade da paz”. A primeira parte do nome “Jeru” é obscura e não possui origem hebraica – ver mais detalhes em “Jerusalém” na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia escrita e editada por R. N. Champlin, e publicada pela Editora Hagnos, São Paulo, SP.

[4] Hasmoneus, nome pelo qual é conhecida a dinastia judaica que conseguiu uma relativa independência do jugo grego das dinastia dos Selêucidas centrada na Síria e dos Ptolomeus centrada no Egito. Esta dinastia teve início — c. 165 a.C — com a rebelião comandada por um sacerdote chamado Matatias, seu filho Judas, chamado Macabeu e seus irmãos João, Simão, Eleazar e Jonatan. O fim veio com a invasão dos Romanos comandados por Pompeu em 64 a.C.

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