Essa é uma série cujo propósito é estudar, com
profundidade, a vida do Senhor Jesus como apresentada nos quatro Evangelhos. No
final de cada estudo você irá encontrar links para outros estudos. A Série tem
o título Geral de: Jesus Confronta a Religião, a Sociedade e a Cultura.
Lição 003 – O Registro
Escrito Acerca de Jesus Cristo – Parte 2.
O
estudo independente de cada um dos documentos que chamamos de evangelhos é
bastante interessante e pode ser muito benéfico, exatamente porque nos permite
descobrir as ênfases e as perspectivas particulares de cada autor.
Mateus — O
documento produzido por Mateus possui cerca de 70 referências diretas do Antigo
Testamento. Estas passagens estão, de alguma maneira, relacionadas à vida e ao
ministério de Jesus. Isto nos dá a perspectiva de que o material produzido por
Mateus tinha a clara intenção de estabelecer uma relação direta entre as
profecias do Antigo Testamento e os eventos da vida do Senhor Jesus. Talvez
este tenha sido o motivo porque esta perspectiva da vida de Jesus, escrita por
Mateus, tenha sido colocada em primeiro lugar no conjunto de livros de compõem
o Novo Testamento. O livro de Mateus serve de transição natural entre a Antiga
e a Nova Aliança. Outro aspecto que se destaca neste livro é o uso das
expressões “reino” – que ocorre 55 vezes – e, “reino dos céus” – que aparece 35
vezes. Certamente sua audiência primária era composta de judeus que estavam
esperando o advento do Messias para estabelecer um reino teocrático, mas muitas
vezes esta esperança era mal direcionada por um literalismo cego que era
incapaz de ver além da mera letra.
Marcos — É
o mais breve de todos os documentos que nos falam acerca das boas novas em
Jesus. É também o mais simples no que diz respeito à estrutura gramatical.
Marcos era primo de Barnabé – ver Colossenses 4:10 – e ele não pertencia ao
grupo dos 12 apóstolos de Jesus. Marcos procurou alcançar os romanos em geral,
e isto talvez explique porque ele evitou ou omitiu o uso de genealogias, além
de demonstrar grande preocupação em explicar os costumes típicos da Palestina.
Como os romanos eram pessoas práticas e muito objetivas, o material produzido
por Marcos é bastante dinâmico e caracterizado pela palavra grega εὐθὺς –
euthùs, que é usada 33
vezes e é traduzida de forma consistente na ARA[1]
pela expressão “logo” em português – ver Marcos 1:10, 12 e 20 como exemplos.
Literalmente a expressão grega εὐθὺς – euthùs, quer dizer diretamente, imediatamente, em
seguida, o que empresta um enorme dinamismo ao texto produzido por Marcos.
Lucas —
Lucas era um médico e companheiro do apóstolo Paulo – ver Colossenses 4:14. Ele
também não pertencia ao grupo de apóstolos arregimentados diretamente pelo
Senhor Jesus. Mas Lucas foi um pesquisador extremamente detalhista – ver Lucas
1:1—4, especialmente o verso 3. A versão de Lucas acerca das boas novas em
Jesus é escrita em linguagem refinada e faz uso de um vocabulário excelente.
Seu documento é o mais longo de todos os que compõem o Novo Testamento. Lucas
escreveu para todas as pessoas do mundo helenizado e procura dar especial
ênfase à universalidade das boas novas. Lucas, mais do que os outros autores,
procura enfatizar a humanidade de Jesus, especialmente através do título “Filho
do Homem” que aparece 26 vezes. Entre seus temas favoritos podemos citar:
enfermidades – ele era médico! – pobreza, condições sociais, mulheres e
crianças.
João — João produziu seu documento cerca de 50 anos
depois dos outros três, entre os anos 90 – 100 d.C. O material que João
produziu era tão diferente dos outros três anteriores que foi apelidado de
“evangelho espiritual” por Clemente de Alexandria[2].
É de todos os quatro documentos que nos falam acerca das boas novas em Jesus o
que mais elabora acerca do Espírito Santo. É também o único a apresentar
inúmeros discursos proferidos por Jesus onde o Senhor faz extenso uso de
figuras de linguagem para ilustrar realidades espirituais, entre as quais
podemos destacar:
O Novo Nascimento.
A Água da Vida.
O
pão da Vida.
A
luz do mundo.
O
bom pastor.
A
videira e seus ramos.
O
Material produzido por João é tão exclusivo que aproximadamente 92% daquilo que
ele escreveu não aparece nos outros três documentos que chamamos de evangelhos
sinópticos.
O material
produzido por Mateus, Marcos, Lucas e João e que chamamos de “Evangelhos”, perfazem
cerca de 45% de tudo o que compõe o Novo Testamento.
A
história da Igreja cristã registra inúmeras tentativas de harmonizar estas
quatro narrativas. A mais antiga foi uma obra compilada por Taciano[3]
e que ficou conhecida por “Diatessaron” — cujo significado é “retirado dos
quatro”. A partir da Reforma Protestante do século XVI e, com o advento da
imprensa, o que facilitou a publicação de livros, surgiram centenas de obras
conhecidas de forma geral por “Harmonia dos Evangelhos”, Estas obras procuraram
combinar e harmonizar o conteúdo dos quatro documentos produzidos por Mateus,
Marcos, Lucas e João. É quase desnecessário dizer que todas estas tentativas de
harmonização das boas novas acerca de Jesus estão baseadas em decisões
subjetivas feitas por seus organizadores. Mas, independente deste fato, as
mesmas possuem certas qualidades que não devem ser desprezadas. Entre essas
qualidades, podemos destacar a possibilidade de ler os 4 textos, com a riqueza
de detalhes de cada autor, de maneira contígua ou comparando versículo com
versículo, dependendo do tipo de arranjo que foi feito pelo organizador. Uma
“Harmonia dos Evangelhos” pode nos mostrar claramente que, durante o curso do
ministério terreno de Jesus, Ele manteve uma oposição franca e
permanente contra as formas religiosas que existiam na Palestina dos seus dias.
OS
QUATRO RETRATOS DE JESUS SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO
Evangelhos
|
Mateus
|
Marcos
|
Lucas
|
João
|
Audiência
|
Judeus
|
Romanos
|
Helenistas
|
Todo
o Mundo
|
Retrato
de
Jesus
|
Jesus
é o Messias
que
cumpre a profecia bem como as expectativas do Antigo Testamento
|
Jesus
é o Filho
de
Deus
|
Jesus
é o Filho do
Homem
perfeito que veio para salvar todas as pessoas através do poder do Seu Espírito
Santo
|
Jesus
é o Filho de
Deus
em quem
devemos
crer para
receber
a
vida
eterna
|
Versos
Chave
|
Mateus
1:1; 16:16; e 20:28.
|
Marcos
1:1;
8:27;
10:45 e 15:34
|
Lucas
19:10
|
João
20:31
|
Palavra
Chave
|
Para
que se
cumprisse
|
E
logo
|
Filho
do Homem
|
Creia
e vida eterna
|
OUTROS ESTUDOS ACERCA DA VIDA DE JESUS PODEM SER ENCONTRADOS NOS LINKS ABAIXO:
001 — Estudos Na Vida de Jesus — Porque Jesus Veio a Este Mundo
002 — Estudos na Vida de Jesus — O Registro Escrito Acerca de Jesus — Parte 001
003 — Estudos na Vida de Jesus — O Registro Escrito Acerca de Jesus — Parte 002.
004 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões —
005 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 2.
006 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 3.
007 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 4.
008 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 5.
009 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 6.
010 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 7.
011 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 8.
012 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 9.
013 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 10.
014 — Estudos Na Vida de Jesus — A Revelação de Jesus e o Fim das Religiões — Parte 11.
015 — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 12
016 — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 13
017 A — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 14A
017 B — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 14B
017 C — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 14C
017 D — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 14D
018 A — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 15A
018 B — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 15B
019A — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 16A
019B — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 16B
020 — Estudos na Vida de Jesus — A Revelação de Deus e o Fim das Religiões — Parte 17
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS.
Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde
já agradecemos a todos.
[1] ARA é o acrônimo usado para
representar a versão da Bíblia de Almeida Revista e Atualizada
publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil.
[2] Clemente de Alexandria nasceu
em Atenas, na Grécia em 150 a. D. e veio
a falecer, provavelmente em Alexandria, no Egito entre os anos 211 e 215 a.D.
Seu nome latino era Titus Flavius Clemens. Ele foi um apologista cristão e
teólogo missionário ao mundo Helenista – dominado pela cultura grega. Clemente
foi precedido por Pantaenus e imediatamente seguido por Orígenes naquela que se
tornou a primeira instituição de altos estudos acerca da fé cristã localizada
na cidade de Alexandria, no Egito. Sua obra mais importante é uma trilogia
composta de: Proteptikos ou Exortação; Paidagogos ou Educador e Stramatas ou
Miscelânea.
[3] Taciano – Nasceu na Síria em
120 a.D, aonde também veio a falecer em abril de 173 a.D. Compilou uma obra que
ficou conhecida com Diatessaron — dos quatro ou retirado dos quatro — que era
uma versão dos quatro evangelhos arranjados como se fossem uma narrativa
contínua. Seu material foi produzido usando as versões siríacas– aramaico
clássico – dos quatro evangelhos e serviram como esteio bíblico-teológico para
a igreja Síria por séculos.
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