A revista Época em sua edição
data de 31 de Dezembro de 2012 trouxe uma reportagem de capa falando de Jesus.
O título na capa dizia: “Jesus, um mistério que vai
além da história”. Como sabemos que nem todos terão a oportunidade de
ler esse artigo, resolvemos disponibilizar o mesmo aqui em nosso blog pela
relevância do mesmo para a nossa fé cristã. O artigo está em letras vermelhas:
“RELIGIÃO
- 31/12/2012
A conquista
do mundo pela fé em Cristo
Uma nova
interpretação das origens do cristianismo afirma que ele se expandiu por
conveniências políticas do Império Romano. Apenas isso, porém, não explica sua
persistência como religião universal
MARCELO MUSA CAVALLARI
O MISTÉRIO DA FÉ
Visão da
Praça de São Pedro durante a cerimônia de canonização de sete santos, em
outubro. Num mundo moderno dominado pelo secularismo, as religiões continuam a
exercer grande apelo (Foto: Alessandra Tarantino/AP)
Tente se
imaginar em Jerusalém, na sexta-feira antes do meio do primeiro mês lunar dos
judeus no ano 33 da nossa era. O líder judeu de um movimento morrera
crucificado, a mais degradante execução que poderia ser imposta pelo Império
Romano, entidade política dominante na região. Dentre os poucos que se
mantiveram seus seguidores até aquele momento de perseguição, alguns contavam
com ele para restaurar a independência de Israel, tornar-se rei dos judeus e
reformar o judaísmo, devolvendo-lhe seu caráter distinto das religiões pagãs de
todos os outros povos. Os líderes desse pequeno grupo eram, naquele momento, 11
homens. Nenhum deles gozava qualquer tipo de poder nem entre seus próprios
compatriotas judeus, muito menos no Império Romano.
Desse
cenário de derrota, o cristianismo evoluiu para ser a maior religião do mundo
em número de praticantes. É a principal religião da Europa, das Américas, da
Oceania, tem fortíssima presença na África e existe em quase todos os países da
Ásia. Para os adeptos do cristianismo, não é difícil explicar como isso se deu.
Desde o início, Jesus foi visto pela Igreja nascente como a encarnação de Deus
na Terra. Foi, pois, graças ao poder e à vontade de Deus que essa seita
derrotada da obscura Palestina do século I tornou-se a maior força
civilizatória que a humanidade conheceu. Para quem quer se ater às explicações
que prescindam de qualquer dado sobrenatural, a tarefa é muito mais complicada.
Um livro
publicado neste ano lança uma hipótese. Em And man created God (E o homem criou
Deus), ainda não lançado no Brasil, Selina O’Grady, uma documentarista da TV
britânica, analisa como o cristianismo beneficiou o Império Romano – e como o
Império Romano beneficiou o cristianismo. No livro, O’Grady desenvolve a tese
de que o cristianismo se tornou a primeira religião universal por ter servido
de base ideológica para um império, até então o mais amplo de todos. Desse
amálgama de interesses, o cristianismo, por ter durado mais tempo, foi o maior
beneficiário. Mas seu auge também já passou e, segundo O’Grady, estamos hoje
numa era pós-religiosa, em que o secularismo o substituiu como “solução
política para os sérios problemas de um mundo cada vez mais multicultural”.
Em seu
livro, que a revista britânica The Economist classificou como “guia do
cristianismo para ateus”, O’Grady analisa como diversos impérios – em Roma, na
Pérsia, na Índia e na China – usaram, mais ou menos no tempo de Jesus,
religiões para se expandir e foram usados por elas. O que mais interessa a
O’Grady é a situação do Império Romano na época de Augusto, o primeiro imperador.
Por volta do ano zero de nossa época, Roma, sob o domínio de Augusto, deixava
de ser uma potência que tinha na expansão pelo uso da força sua principal razão
de ser. Para Augusto, diz O’Grady, o objetivo era dar estabilidade a todo o
território conquistado, levando os integrantes de todos os povos dominados a
“adquirir um sentido de ‘romanidade’”. “Como sempre”, escreve O’Grady, “na
tentativa de criar um Estado estável, era necessário mais a persuasão do que a
força. As pessoas tinham de querer pertencer à nova e mais ampla entidade do
Império.”
NO TEMPO DAS CATACUMBAS
Reprodução
de quadro do italiano Giuseppe Mancinelli, que retrata a perseguição aos
primeiros cristãos, antes de o cristianismo virar a religião oficial do Império
Romano (Foto: Glowimages/SuperStock)
A
identidade das pessoas no passado estava sempre ligada à religião a que cada
uma pertencia, diz O’Grady. Para transformar um império multiétnico num corpo
político de que todos quisessem participar, Augusto precisava de uma religião
imperial. Sua primeira opção foi divinizar a si próprio. O mesmo tipo de
estratagema foi usado por Wang Mang, um usurpador do trono chinês contemporâneo
de Augusto. Wang, segundo relatos, encenou cerimônias que o faziam parecer, aos
olhos dos confucionistas, uma espécie de reencarnação de imperadores
miticamente bons de três séculos antes. A forma tosca de combinar religião e
império usada por Augusto e Wang não deu grandes resultados. Augusto foi
declarado um deus oficialmente apenas depois de morto, e o Império Romano,
ainda que duradouro, nunca foi caracterizado pela estabilidade de suas
instituições. Wang foi derrubado e morto 12 anos depois de subir ao poder.
O’Grady
vê no cristianismo o tipo de religião necessária para o Império Romano: uma
religião universalista, que abolisse as diferenças entre as pessoas. O criador
dessa religião não foi Jesus Cristo, mas Paulo de Tarso. “E Paulo criou o
Cristo” é o nome do capítulo final de seu livro. Paulo era um judeu da
diáspora, nascido na cidade portuária e multicultural de Tarso, no sul da
Turquia. Formado como judeu estritamente observante, Paulo se tornou um
perseguidor de cristãos. Depois de uma visão de Jesus que teve a caminho de
Damasco, aderiu à nova seita. “Paulo dividiria o culto em dois e transformaria
Jesus, o homem que morreu uma morte de criminoso na cruz, no Cristo o redentor,
cuja morte e ressurreição deu a toda a humanidade, gentios e judeus, homens e
mulheres, escravos e livres, a promessa de salvação e vida eterna”, afirma
O’Grady.
Judeu,
cidadão romano nascido na parte de cultura grega do Império, Paulo criou,
segundo O’Grady, a imagem de um Deus que amaria a todos sem fazer distinção. O
cristianismo concebido por Paulo, para ela, foi uma resposta à divisão que ele
vivia em sua própria identidade. “Tarso era a arquetípica cidade greco-romana
florescente do Oriente Médio, assim como Paulo era o exemplo do habitante de
cidade lutando para combinar identidades novas e antigas”, escreve O’Grady.
“Paulo representava numa forma radical os problemas da assimilação
experimentada por toda pessoa conquistada do Império Romano – particularmente
os habitantes das cidades.”
Para
O’Grady, a nova religião se tornou especialmente atraente para uma classe média
que ela diz ter crescido no novo Império Romano mais comercial que militar.
Milhares de pessoas que lotavam as novas cidades e deixavam para trás suas
aldeias se tornaram seguidoras de Jesus Cristo. “Impérios precisam que
esqueçamos nossas diferenças, e Paulo forneceu o sistema de crença que faria
isso”, escreve O’Grady. O cristianismo, diz ela, diminuiu as tensões entre Roma
e os não romanos. Deixando de lado os séculos de perseguição, em que milhares
de cristãos foram mortos pelos imperadores romanos, e os séculos que levaram à
formação de um cristianismo organizado forte, O’Grady põe o cristianismo ao
lado das religiões que, segundo seu livro, “prosperaram num conluio que formou
uma aliança frequentemente instável entre um Estado poderoso e uma organização
sacerdotal e burocrática”.
O APÓSTOLO
Paulo de
Tarso, por Diego Velázquez. Ele teve papel central no cristianismo. Segundo um
novo livro, a concepção de um Deus para todos atendeu a um problema de
identidade de Paulo, judeu, cidadão romano e nascido na parte grega do antigo
Impéri (Foto: Glowimages/SuperStock)
A leitura
de E o homem criou Deus é interessante. O’Grady escreve bem, de modo fluente e
coloquial. Sem se preocupar com o rigor acadêmico, ela traça um panorama cheio
de curiosidades sobre experiências religiosas do mundo da Antiguidade. Sua
interpretação de largo fôlego, no entanto, esbarra em vários problemas. Ela não
é uma especialista em cristianismo. Sua versão para o início da religião não é
nem inédita nem muito atual. Ela se filia à tradição iniciada no século XIX, em
meio ao protestantismo liberal alemão, de separar o “Jesus histórico” do
“Cristo da fé”. Esse projeto intelectual pretendia desvendar quem realmente
tinha sido Jesus de Nazaré, o judeu do primeiro século de nossa era, antes de
ele ter se transformado no Filho de Deus, cultuado pelos adeptos da religião
dominante no Ocidente.
O projeto
basicamente fracassou: não há nenhum consenso sobre quem teria sido o Jesus
histórico. Fora dos Evangelhos, há poucas fontes – praticamente nenhuma
independente – para conhecer o personagem. E separar, nos Evangelhos, o que
pertence ao Jesus histórico e o que pertence ao Cristo da fé depende
basicamente das intenções de cada pesquisador. Há quem veja em Jesus um judeu
ortodoxo. Esses tratam de desconsiderar nos Evangelhos tudo o que não se
coaduna com o judaísmo. Outros veem nele um judeu rebelde e descontam dos
Evangelhos tudo o que possa parecer judaico demais. Jesus também já inspirou
quem o vê como um judeu reformador, como um filósofo estoico ou como um
revolucionário social combatendo a opressão romana. O’Grady sugere que ele é um
dos muitos místicos ou pregadores errantes que percorriam o mundo clássico no
início de nossa era, de grande confusão religiosa. Mas ela não está muito
interessada em Jesus. Diante do pouco que se pode saber sobre ele, ela prefere
concentrar sua atenção em Paulo.
Saiba
Mais
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Sandel: "A política precisa se abrir à religião"
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Holland: “A religião deve ser investigada”
Sua
interpretação do relacionamento entre Paulo e Jesus também não é nova. Nem tem
hoje a importância que já teve entre os estudiosos. Para O’Grady, é uma tese
que vem a calhar. “A ideologia cristã representou uma tentativa similar (à do
secularismo) de universalizar o que cada um tem de especial como reação à
primeira fase de globalização criada pela Pax Romana”, diz ela. “São Paulo
transformou o pequeno e obscuro culto a Jesus numa religião pronta para
espalhar-se viralmente no mundo recém-globalizado.” Ao falar do projeto de
Paulo de transformar uma “seita obscura” num sistema ideológico que dissolvesse
as diferenças entre as pessoas, O’Grady conclui: “Estava fadado ao fracasso;
não se consegue realmente eliminar a diferença – é nossa diferença em relação
aos ‘outros’ que ‘nos’ define como grupo. De várias maneiras, Paulo complicou o
problema. Ao fazer de cada um alguém igualmente especial, ele também conferiu a
cada um de nós a autoridade moral para desafiar todas as outras formas de
autoridade e criar grupos antagônicos. Os cristãos da Europa Ocidental se
dividiram em seitas fervorosas depois da Reforma, e os resquícios do velho
Império Romano ocidental foram destruídos pela guerra”.
Conferir
a cada um a capacidade de desafiar a autoridade é algo visto como um dos
fatores mais civilizatórios do cristianismo, mesmo por aqueles que acham que,
num determinado momento, o cristianismo deixou de ser um avanço para se tornar
um empecilho. Além disso, há uma espécie de circularidade no argumento de
O’Grady. Ela diz que o cristianismo era exatamente o tipo de ideologia de que o
Império Romano precisava para se estabelecer, porque universalizava os
cidadãos. Depois, conclui que é exatamente essa característica que o tornava
“fadado ao fracasso”. Paulo de Tarso, o autor mais prolífico do Novo
Testamento, nunca diz que seu projeto tem qualquer coisa a ver com a perenidade
do Império Romano. Até porque, mesmo sendo cidadão romano, Paulo foi várias
vezes preso, torturado e acabou morto pelas autoridades do Império. O
cristianismo só se tornou a religião oficial do Império Romano na época de
Constantino, 300 anos depois de Jesus.
A
hipótese historicista de E Deus criou o homem não parece muito capaz de
explicar o impressionante destino histórico do cristianismo. “Desde pelo menos
os anos 1960, supõe-se que a religião está de saída, que a ideologia secular
dissolveria todas as fidelidades religiosas. É uma suposição que integra a
ideia secularista de progresso. Com que alarme vemos hoje que a sociedade
secular moderna abriga fundamentalismos religiosos de todas as variedades”,
disse O’Grady ao encerrar sua palestra no Festival Internacional do Livro de
Edimburgo, s onde foi uma das estrelas, em agosto. Ela dá voz a uma
perplexidade comum em nosso tempo. Diante do radicalismo islâmico, presente
mesmo entre as comunidades de muçulmanos emigrados para os países mais
desenvolvidos da Europa, da violenta militância de colonos judeus
ultraortodoxos nos territórios ocupados ou mesmo da fé arraigada e de
consequências políticas de eleitores cristãos nos EUA ou no Brasil, o consenso
do pensamento contemporâneo parece não ter outro diagnóstico senão o atraso.
Religião, em suma, seria coisa de gente pouco ou mal instruída.
O IMPERADOR
Busto de
Augusto, o primeiro imperador romano. De acordo com o livro, ele percebeu a
necessidade de criar uma religião para estabilizar um império multiétnico. Sua
primeira opção foi tentar divinizar a si próprio. Não deu certo (Foto:
bridgemanart)
Há outros
livros no mercado que parecem atestar outra visão. Em novembro, foi lançado o
livro Jesus de Nazaré: as narrativas da infância. Trata-se do terceiro e último
volume da obra sobre Jesus escrita pelo papa Bento XVI. Assim como nos dois
primeiros volumes, o papa discute as teses de exegetas e teólogos
contemporâneos, especialmente de língua alemã. Não é um livro de leitura fácil.
Mesmo assim, a obra saiu com tiragem de 1 milhão de exemplares em mais de 50
países e tradução em nove línguas. Joseph Ratzinger é um intelectual
sofisticado. Seu debate com o filósofo Jürgen Habermas sobre a crise do
secularismo, pouco antes de ele se tornar papa, é um ponto alto no diálogo de
alto nível dos últimos anos. Mesmo assim, é possível argumentar que o papa e
seus leitores não servem para desmentir o preconceito contemporâneo contra os
religiosos. Ratzinger é um intelectual, mas é como teólogo que ele se destaca.
E a teologia é uma parte desse mundo estranho da religião que o secularismo
pretendia ver desaparecer. No livro sobre a infância de Jesus, o papa reitera,
contra leituras pretensamente mais esclarecidas dos Evangelhos, a virgindade de
Maria. “Isso é um escândalo para o espírito moderno”, diz. Para a visão
secularista, Deus “tem permissão para operar no pensamento e nas ideias, mas
não na matéria”, afirma Bento XVI.
Esse
secularismo tem ganhado, nos últimos anos, uma ala mais radical, chamada nos
países de língua inglesa de “novos ateus”. São intelectuais ou cientistas que
fazem da religião organizada ou da simples crença em Deus um inimigo a combater
duramente. O filósofo Daniel Dennet e o biólogo Richard Dawkins são os mais
conhecidos representantes do gênero. É exatamente contra esse “novo ateísmo”
que se põe outro livro que vem chamando a atenção nos países de língua inglesa:
Where the conflict really lies: science, religion, and naturalism (Onde está
realmente o conflito: ciência, religião e naturalismo), de Alvin Plantinga. “Há
um conflito superficial, mas uma profunda concordância entre a ciência e a
religião teísta; e concordância superficial, mas profundo conflito entre a
ciência e o naturalismo”, escreve Plantinga. Por naturalismo, Plantinga entende
a concepção muito difundida hoje de que não há nada além do que pode ser
descrito pelas ciências naturais. Professor aposentado de Notre Dame,
importante universidade católica dos Estados Unidos, Plantinga é calvinista
como seus antepassados holandeses. Quando fala de Deus, não fala de algum “Deus
dos filósofos”, uma entidade abstrata dedutível pela razão, mas com que não se
pode manter nenhum tipo de relação pessoal. Como escreve Thomas Nagel,
importante filósofo americano, na resenha do livro de Plantinga que fez para a
New York Review of Books no mês passado, “a religião de Plantinga é de
verdade”. Com criação, pecado, Céu, inferno e tudo o mais que está na Bíblia.
Alvin Plantinga
Plantinga
é um filósofo analítico. Isso significa que ele se dedica a analisar os usos da
linguagem e da lógica na ciência e em outras áreas do conhecimento. A
racionalidade é um dos campos de trabalho de Plantinga, além da moderna
filosofia da religião da qual ele é um dos fundadores. A argumentação de
Plantinga em seu novo livro é técnica e bastante complicada, mas poderia ser
resumida assim: a suposição de que a razão pode explicar o mundo, de que o
mundo segue padrões que podem ser descobertos pela ciência, não tem como ser
demonstrada logicamente. Aceita-se uma verdade com base em outra previamente
conhecida. Mas, em algum ponto, o recurso a uma justificativa racional anterior
tem de parar. E parar em alguma “garantia” de que pode derivar de uma
percepção, de uma intuição racional ou dos sentidos. Nenhuma delas pode ser
demonstrada. Assim como a crença em Deus, uma “garantia” tão forte ou tão fraca
como as outras, já que também não pode ser justificada e tem de ser aceita como
dado inicial.
Segundo
Plantinga, se for aceita a narrativa tradicional de que Deus criou o homem e
lhe deu a inteligência que permite conhecer o mundo, o quadro se completa e é
coerente. É razoável, para quem crê em Deus, imaginar que a inteligência humana
pode atingir o conhecimento seguro sobre o mundo. Mas se, ao contrário,
aceita-se a narrativa darwinista, não há nenhuma justificativa para imaginar
que o homem, um produto do acaso como qualquer outra espécie animal, tenha
atingido a capacidade de entender o mundo. A tese da evolução contém um
paradoxo: se o homem é fruto do acaso, assim também é sua inteligência;
consequentemente não há nenhuma garantia de que a inteligência humana fará mais
do que aumentar as chances de sobrevivência do animal humano. Esse raciocínio
leva a esta conclusão: não se pode afirmar a verdade da teoria da evolução,
porque ela seria um simples produto aleatório da inteligência humana.
O ARAUTO DA FÉ
Bento
XVI, durante a festa da Imaculada Conceição, em dezembro. No mundo
contemporâneo, o papa continua a reiterar a importância dos dogmas cristãos
(Foto: Imago Stock)
Plantinga
aceita a descrição da evolução das espécies. O único ponto que ele nega é que
seja um processo ao acaso. Para ele, o processo tem de ter sido iniciado e
guiado por Deus. Do contrário, não há conhecimento possível. Do ponto de vista
epistemológico, ele alega que, como há evidência empírica de que milhões de
pessoas têm fé, uma forma de garantia do conhecimento tão forte ou tão fraca
quanto qualquer outra, não se pode descartá-la por nenhum método científico,
que também se baseia em garantias primárias não demonstráveis. Aceite-se ou não
a argumentação de Plantinga, e simplesmente acompanhá-la em sua exposição
completa já é bastante complicado, evidentemente estamos muito longe da crença
de alguém pouco ou mal instruído.
Embora
Plantinga argumente que não é por acaso que a ciência tenha surgido no Ocidente
cristão – por causa da concepção dos cristãos sobre Deus – a união entre alta
sofisticação intelectual e religião tradicional no Ocidente não é exclusiva do
cristianismo. Um dos maiores filósofos vivos é o lógico americano Saul Kripke,
que revolucionou seu campo de estudos nos anos 1970 com o livro Naming and
necessity (Dar nomes e necessidade). Apontado por alguns como o único gênio
filosófico vivo, Kripke não abandonou a fé de seu pai, rabino, e é um judeu
observante. “Eu não tenho os preconceitos que muitos têm hoje”, disse ele
recentemente numa entrevista na Noruega. “Não acredito numa visão de mundo
naturalista. Não baseio meu pensamento em preconceitos ou numa visão de mundo e
não acredito no materialismo.”
Na
persistência das religiões, há muito mais do que um interesse mútuo entre
crenças e impérios. Há muito mais em jogo do que simples resquícios de velhas
identidades religiosas que, mais cedo ou mais tarde, serão varridas do mapa
pelo secularismo moderno. Não há respostas simples para a pergunta do começo
deste artigo. Não há nenhuma resposta simples para o fato de estarmos, em pleno
século XXI, na América do Sul, ainda celebrando o Natal e discutindo um
movimento de pescadores judeus aparentemente derrotado no primeiro século de
nossa era.
O Artigo original poderá ser visto
através desse link:
Algumas observações da nossa
parte:
1. Essa nova interpretação das
origens da fé cristã está baseada na história da religião natural apesar do
autor reconhecer que sem uma ação sobrenatural fica bem mais difícil explicar o
que aconteceu. Como cristãos sabemos que foi como Jesus anunciou em:
Atos 1:1—8
1 Escrevi o primeiro
livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a
ensinar
2 até ao dia em que,
depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos
que escolhera, foi elevado às alturas.
3 A estes também,
depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis,
aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao
reino de Deus.
4 E, comendo com eles,
determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a
promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes.
5 Porque João, na
verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não
muito depois destes dias.
6 Então, os que estavam reunidos lhe
perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?
7 Respondeu-lhes: Não
vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva
autoridade;
8 mas recebereis poder,
ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.
9 Ditas estas palavras,
foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus
olhos.
2. As estatísticas acerca das
religiões ao redor do mundo desmentem a autora do livro Selina O’Grady, pois
contradizem frontalmente o que ela declara em “And man
created God” — E o homem criou Deus), ainda não lançado no Brasil. Vejam
nosso artigo, recentemente publicado acerca desse tema através desse link aqui:
3. A autora, por não ser teóloga,
comete erro crasso ao aceitar uma das inúmeras teorias disponíveis no mercado,
que procuram dissociar os ensinamentos de Jesus daqueles feitos pelo apóstolo
Paulo. Ora tudo já foi mais que provado que não passa de um argumento tolo e
pura balela.
4. A autora O’Grady desconhece ou
despreza propositadamente os ensinamentos do Antigo Testamento acerca de Cristo.
Para citar um único exemplo vejamos o que está escrito em:
Isaías 53:1—12
1 Quem creu em nossa
pregação? E a quem foi revelado o braço do SENHOR?
2 Porque foi subindo
como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem
formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse.
3 Era desprezado e o
mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e,
como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos
caso.
4 Certamente, ele tomou
sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.
5 Mas ele foi
traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados.
6 Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez
cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.
7 Ele foi oprimido e
humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como
ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.
8 Por juízo opressor
foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da
terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido.
9 Designaram-lhe a
sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca
fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca.
10 Todavia, ao SENHOR
agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo
pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR
prosperará nas suas mãos.
11 Ele verá o fruto do
penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o
seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará
sobre si.
12 Por isso, eu lhe
darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo,
porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores;
contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu.
Diante dessa descrição, que
necessidade Paulo tinha de inventar um Cristo como pretende O’Grady?
5. O’Grady despreza os séculos de
perseguição como se fossem uma mera nota no rodapé da história. Sua ignorância é
abismal e nos deixa com aquele desalento que esse é apenas mais um livro para
ajudar alguém enriquecer mentido acerca de Jesus e da fé cristã.
6.O autor do artigo, Marcelo Musa
Cavallari, conhece a história do cristianismo e da teologia cristã melhor que a
autora do livro. Ele está de parabéns.
7. O’Grady não entende que a fé
cristã não trata de práticas religiosas – não é uma religião — e sim o
estabelecimento de relacionamentos com Deus, com Jesus e com outros cristãos
através do poder do Espírito Santo que habita em cada verdadeiro cristão. Foi
isso que Jesus ensinou em:
João 17:3
E a vida eterna é esta:
que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem
enviaste.
8. Quanto a Alvin Plantinga, não
existe nenhuma comprovação que o mesmo tenha abraçado o suposto calvinismo de
seus ancestrais holandeses. Ele é catedrático em uma Universidade Católica
Romana — Notre Dame University — e adota, exatamente, aas mesmas ideias
defendidas pelo catolicismo quanto à Teoria da Evolução. Ela acredita na Evolução,
mas crê que Deus controlou todo o processo e outras bobagens.
9. Por fim nos resta lamentar,
profundamente, que tanto a autora do livro, O’Grady, quanto o articulista
Marcelo Cavallari entendam que apenas a Igreja Católica Romana representa o
corpo de cristãos. Uma verdadeira pena que demonstra até onde pode ir o ressentimento
humano contra a verdade recuperada pela Reforma Protestante do Século XVI.
Que Deus abençoe a todos
.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
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