O SERVO SOFREDOR DE ISAÍAS 52:13
— 53:12 — PARTE 001
O SERVO SOFREDOR DE ISAÍAS 52:13
— 53:12 — PARTE 002 — O SERVO SOFREDOR É O PRÓPRIO DEUS
CONTINUAÇÃO... PARTE
003
53:1—3: A rejeição do
Servo
Não existe unanimidade entre os
comentaristas sobre a identificação do pronome “nós”, em Isaías 53:1. Seriam as
“nações/reis” como representantes dos gentios (52:15)? Seria o profeta como
representante da comunidade de Israel? Possivelmente o pronome seja uma
referência à comunidade de Israel, no caso, o remanescente fiel que crê no
Servo dO ETERNO.
1Quem creu naquilo que
ouvimos? 24
E a quem foi revelado o
braço de ETERNO?
2 Porque foi subindo
como renovo25 perante ele26
e como raiz de uma
terra seca;
não tinha aparência nem
formosura,
e quando olhamos para
ele, nenhuma beleza havia para que o desejássemos.
3 Era desprezado e
rejeitado pelos homens;
homem de dores e que
conhece27 o sofrimento28;
e, como um de quem os
homens escondem o rosto, era desprezado29, e dele não fizemos caso.
No v.1, nota-se a forma verbal
xemu‘atenu particípio qal “ouvimos”, “aquilo que foi ouvido de/por nós”30.
O substantivo xemu‘ah significa “notícia”, “nova”. Mas essa mensagem seria
recebida com incredulidade — ver
João 12:38
Para se cumprir a
palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a
quem foi revelado o braço do Senhor?
Romanos 10:16
Mas nem todos
obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa
pregação?
Na verdade, o que é rejeitado e
considerado como inconcebível pelos incrédulos é a exaltação do Servo na primeira
estrofe (52:13—15) quando comparada com seu sofrimento descrito nos versos
seguintes.31
O “braço do ETERNO” expressa a
ação salvífica de Deus para Israel. Considerando a total incapacidade de Israel
para salvar-se a si mesmo, o ETERNO faria isso por meio de seu poderoso “braço”
—
Isaías 40:10
Eis que o SENHOR Deus
virá com poder, e o seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e
diante dele, a sua recompensa.
Isaías 48:14
Ajuntai-vos, todos vós,
e ouvi! Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR amou a Ciro e
executará a sua vontade contra a Babilônia, e o seu braço será contra os
caldeus.
Isaías 51:5
Perto está a minha
justiça, aparece a minha salvação, e os meus braços dominarão os povos; as
terras do mar me aguardam e no meu braço esperam.
Isaías 52:10.
O SENHOR desnudou o seu
santo braço à vista de todas as nações; e todos os confins da terra verão a
salvação do nosso Deus.
Mas essa ação poderosa de Deus só
pode se “revelar” (hebraico galah “descobrir”, “remover”) mediante a humilhação
do Servo. O poder de Deus se manifesta na fraqueza!
O v.2a refere-se às origens
humildades do Servo. A palavra yoneq “renovo” significa “criança de peito” ou
“árvore nova”. Este último sentido é mais plausível, pois aqui está relacionado
com xorex “raiz” (de árvore). O Servo
está “subindo” (‘alah qal waw consecutivo perfeito “subir”, “ascender”),
aparecendo a partir de um tronco fincado em “terra seca”.
O Servo “não tinha aparência nem
formosura” (v.2b). Nada de atrativo. Claus Westermann comenta que no AT a boa
aparência e a beleza física normalmente estão associadas à bênção do ETERNO,
como se lê nas narrativas que apresentam José e Davi — Gênesis 39:6b; 1 Samuel
16:18); o Servo, porém, não tinha esses requisitos, o que poderia levar o seus
observadores a dizerem que Ele não tinha a bênção de ETERNO.33
Será que Aquele nazareno, pobre
carpinteiro, desprezado por seus familiares e por seu próprio povo, poderia
mudar a história da humanidade? Seria Ele o Messias? Seria possível um profeta
ser levantado da Galileia —
João 7:52
Responderam eles:
Dar-se-á o caso de que também tu és da Galileia? Examina e verás que da Galileia
não se levanta profeta.
Um homem crucificado. Que poder
há nisso? Entretanto, essa é a imagem apresentada no v.2: um renovo que surge
em meio à sequidão. É a vida surgindo na “terra seca”, onde reina morte.
Mas os “homens” (v.3a) rejeitam
as aparências humildes do Servo. Afinal, eles se atêm às aparências humanas, e
desprezam o poder do ETERNO que seria manifesto a partir de um humilde troco de
árvore fincado em terra seca.
O v.3b apresenta duas descrições
do Servo: “homem de dores e que sabe o que é padecer”. Na primeira, o Servo é
’ix mak’obot, “homem de dores”. A palavra mak’obot “dores” refere-se ao sofrimento
físico e mental. Na segunda descrição, a forma verbal apresenta variantes
textuais. O Texto Massorético apresenta widua‘ qal particípio passivo “e foi
conhecido”. Seguimos a proposta da BHS/Biblia Hebraica Stuttgartensia:
possivelmente trata-se de weyode‘a qal particípio ativo “e que sabe”,
apresentado nos rolos de Qumran. De qualquer modo, a raiz verbal yada‘
“saber/conhecer” é utilizada com o sentido de “saber por experiência”. No caso,
o Servo sabe por experiência o que é o “sofrimento. O substantivo hebraico holi
normalmente é traduzido como “doença”, mas apresenta o sentido de “sofrimento”.34
Em alguns casos o significado da raiz hlh é de fragilidade decorrente de
ferimentos físicos.35
Por fim, o v.3c descreve a
rejeição do Servo. Ele não desperta nenhum interesse nos seus expectadores: “e
dele não fizemos caso”.
O sentido geral do v.3 foi muito
bem compreendido por Oswalt: “Ele [Servo] não é um dos vencedores; ele é um dos
perdedores... Ele é um homem de dores e enfermidades; o que pode ele fazer pelo
restante de nós?”.36
CONTINUA...
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O texto original poderá ser
acessado por meio desse link aqui:
Luciano R. Peterlevitz
Bacharel em Teologia (FTBC e
FATEO/UMESP); Mestre e Doutor em Ciências da Religião, na área de Literatura e
Religião no Mundo Bíblico, pela Universidade Metodista de São Paulo.
Coordenador Acadêmico da Faculdade Teológica Batista de Campinas, onde também
leciona Hebraico, Antigo Testamento e Hermenêutica Bíblica nos cursos de
Bacharelado em Teologia e Pós-graduação em Exposição Bíblica.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS.
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Desde
já agradecemos a todos.
NOTAS
24 xemu‘atenu particípio qal
“aquilo que foi ouvido de/por nós”. John N. Oswalt, Comentário do Antigo
Testamento: Isaías, p. 456.
25
yoneq “renovo”, “criança de
peito”, “árvore nova”. O termo “se
refere a ‘um recém-nascido’, quer humano ou planta”. John N. Oswalt, Comentário
do Antigo Testamento: Isaías, p. 457.
26 TM: lepanayw “diante dele”.
BHS: provavelmente lipnenu “diante de nós”.
27 TM: widu‘a qal particípio
passivo “e foi conhecido”. BHS: weyode‘a qal particípio ativo “e que conhece”,
apresentado nos rolos de Qumran. Veja Gary V. Smith, Isaiah 40-66, p. 436.
28 holi “doença, sofrimento”.
Nelson Kirst et. al., Dicionário hebraico-português e aramaico-português, São
Leopoldo/Petrópolis, Sinodal/Vozes, 16a edição, 2003, p. 69.
29 nibzeh nifal particípio de
bazah “ser desprezado” . 1QIsa: wnbwzhw “o desprezamos”, escrito com o waw no
final, provavelmente por influência do waw no verbo seguinte. BHS: wannibzehu
“e foram desprezados”.
30 John N. Oswalt, Comentário do
Antigo Testamento: Isaías, p. 456.
31 Hans-Jürgen Hermisson, “The Fourth Servant
Song in the Contexto of Second Isaiah”, p. 30.
32 John N. Oswalt, Comentário do
Antigo Testamento: Isaías, p. 465.
33 Claus Westermann, Isaiah 40-66: A
Commentary, Londres, SCM Press, 1969, p. 261 (Old Testament Library).
34 Nelson Kirst et. al.,
Dicionário hebraico-português e aramaico-português, p. 69.
35 R. Laird Harris; Gleason L.
Archer Jr.; Bruce K. Waltke (organizadores), Dicionário internacional de
teologia do Antigo Testamento, p. 466. Pv 23.35: “Espancaram-me, e não me doeu
(halah)...” (ARA) . 2Rs 1.2: E caiu Acazias pelas grades de um quarto alto, em
Samaria, e adoeceu (halah)...” (ARA).
2Rs 8.29: “...e desceu Acazias, filho de Jeorão, rei de Judá, para ver a
Jorão, filho de Acabe, em Jezreel, porquanto estava doente (halah) (ARA). Nesses textos, o sentido de halah é de
debilidade física provada por ferimentos.
36 John N. Oswalt, Comentário do
Antigo Testamento: Isaías, p. 467.
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