Concepção artística do encontro de Paulo com o Senhor Jesus
Essa é uma série de artigos acerca da vida do apóstolo Paulo em ordem cronológica. Convidamos todos os nossos leitores a acompanharem a mesma à medida que for sendo publicada. Boa leitura.
A vida do Apóstolo Paulo é única.
Tendo iniciado sua vida pública como fariseu e aluno de Gamaliel, quando ainda
era chamado Saulo, tornou-se num feroz perseguidor da Igreja do Senhor Jesus.
Após um encontro pessoal com Jesus no caminho para Damasco, para onde se
dirigia com a intenção de prender e arrastar de volta para Jerusalém crentes em
Cristo, ele teve seu nome mudado para Paulo e tornou-se no maior pregador do evangelho
da graça de Deus. Seus escritos, parte integral do Novo Testamento, continuam
influentes até nossos dias. Vale a pena conhecer um pouco melhor sua trajetória,
em ordem cronológica, começando pelo artigo logo abaixo.
I. As origens de Paulo.
De acordo com sua
própria informação —
Filipenses 3:5
Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de
Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu.
Paulo era um judeu
descendente da tribo de Benjamin. Como era comum naqueles dias, ele havia
recebido de seus pais o mesmo nome do mais importante personagem da tribo de Benjamim:
שָׁאוּל — Shaul — cujo
significado é: desejado. Saul foi o primeiro rei da nação de Israel e, por esse
motivo, era apenas natural que os descendentes daquela tribo dessem a seus
filhos seu nome, apesar de sua vida representar um péssimo exemplo para
qualquer judeu sincero em sua fé no Deus ETERNO. A versão grega do nome Saul é Σαῦλος — Saûlos — Saulo. E é por este nome — Saulo — que ele é
chamado inicialmente no Livro dos Atos dos Apóstolos. Mas ele é também chamado
de Παῦλος — Paûlos — Paulo, cujo significado é: pequeno ou menor —
ver Atos 13:9.
Sabemos muito pouco
acerca dos progenitores de Paulo e, por causa de seu status como cidadão judeu,
podemos afirmar com certeza que sua mãe era judia. Sua afirmação de que era
“hebreu de hebreus”, como vimos acima, é compreendida por muitos como uma prova
definitiva de que ele era um legítimo descendente de pai e mãe judeus. Pela sua
trajetória religiosa, nós podemos dizer que os pais de Saulo pertenciam à seita
dos fariseus[1]
ou que eram, pelo menos, grandemente influenciados por eles.
Do resto de sua família
pouco ou quase nada sabemos, exceto que ele tinha uma irmã que estava em
Jerusalém na mesma ocasião em que ele foi feito prisioneiro ali — ver Atos
23:16.
Paulo nasceu na cidade
de Tarso — ao norte da região da Palestina — e por este motivo era chamado de
Saulo de Tarso — ver Atos 9:11 e 21:39. É provável que Paulo tivesse aprendido
o ofício de fabricante de tendas — ver Atos 18:1—3 — ainda quando morava em
Tarso, mas as afirmações contidas em Atos 22:3 parecem indicar que ele cresceu
em Jerusalém e não em Tarso.
Havia uma lei no
judaísmo que exigia que os meninos iniciassem os estudos das Escrituras aos
cinco anos de idade e o estudo das tradições religiosas aos dez. Certamente
Paulo se viu imerso nesta cultura de estudos logo cedo em sua vida sendo
ensinado tanto na sinagoga local quanto em casa. Os judeus também incentivavam
o trabalho manual e eram comuns ditados que expressavam ideias de que: força
intelectual e atividades físicas — trabalho — andam de mãos dadas. Como exemplo
disso nós podemos citar o seguinte: “Quem não ensina seu filho a trabalhar está
ensinando-o a roubar”. Esse é certamente o verdadeiro motivo porque Paulo
também aprendeu o ofício de “fabricar tendas”. O objetivo desse tipo de
formação — educação + trabalho — era produzir um homem que fosse capaz tanto de
pensar, quanto de produzir.
Aos treze anos os
meninos judeus se tornavam em “Bar
Mitzvah” i.e., “filho do mandamento”. Naquele momento eles aceitavam a
obrigação de cumprir a Lei e aqueles que haviam se mostrado mais promissores,
durante o tempo de preparação, eram encaminhados para as escolas rabínicas onde
podiam ser treinados sob a supervisão de afamados mestres. Foi depois de se
tornar Bar Mitzvah que Paulo foi encaminhado para Jerusalém para continuar seus
estudos. Nesse período ele deve ter ficado hospedado na casa de sua irmã que
foi mencionada acima. Segundo suas próprias palavras: “Eu sou
judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui
instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos
antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de
hoje” — Atos
22:3. Nesse versículo fica
bem clara a vinculação da sua ida à Jerusalém com o inicio do seu treinamento
rabínico aos pés de Gamaliel. O fato de que Paulo foi enviado para estudar em
Jerusalém e não em outro local indica, indiretamente, quão promissor ele devia
ser como aluno. E de fato, segundo suas próprias palavras: “E, na
minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo
extremamente zeloso das tradições de meus pais — Gálatas 1:14”.
O que sabemos acerca da
aparência física do apóstolo Paulo? Muito pouco é verdade. O Novo Testamento
nos oferece bem poucas ideias. De toda informação disponível nós podemos
concluir o seguinte:
1. Atos 14:12 nos diz que o povo da cidade de Listra identificou
Barnabé com o supremo deus grego do Olimpo, Zeus, enquanto Paulo foi
identificado com o deus mensageiro, Hermes. Isto pode ser uma indicação de que
Barnabé era mais alto — talvez bem mais alto — e Paulo era mais articulado
verbalmente.
2. Em 2
Coríntios 10:10 Paulo faz uma
referência a um comentário feito por seus antagonistas que dizia: “As
cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é
fraca, e a palavra, desprezível”.
3. Temos
também a impressão de que Paulo sofria de algum tipo de enfermidade que
dificultava seu relacionamento com as pessoas conforme podemos perceber em
Gálatas 4:13—15
13 E vós sabeis que vos preguei o evangelho a
primeira vez por causa de uma enfermidade física.
14 E, posto que a minha enfermidade na carne
vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo nem desgosto; antes,
me recebestes como anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus.
15 Que é feito, pois, da vossa exultação?
Pois vos dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios
olhos para mos dar.
4. Seria a enfermidade
mencionada acima o motivo de suas reiteradas orações a Deus conforme ele nos
diz em —
2 Coríntios 12:7—10
7 E, para que não me ensoberbecesse com a
grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de
Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.
8 Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor
que o afastasse de mim.
9 Então, ele me disse: A minha graça te
basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me
gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.
10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas
injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de
Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.
5. Paulo
também faz uma referência ao fato de ser falto no falar — ver 2 Coríntios 11:6.
Mas esta pode ser apenas uma expressão retórica já que a expressão ἰδιώτης — idiótes —
traduzida por “falto”, faz referência a pessoas simples em oposição a pessoas
de posições mais elevadas — um cidadão comum em oposição a um oficial, magistrado
e etc.
6. Além
do mais, Paulo havia apanhado tanto por causa do seu testemunho acerca de Jesus
e havia sofrido tantos acidentes por causa de suas viagens que, certamente, sua
aparência física havia sido alterada de forma considerável por estes eventos —
2 Coríntios 11:23—28
23 São ministros de Cristo? (Falo como fora
de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em
açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.
24 Cinco vezes recebi dos judeus uma
quarentena de açoites menos um;
25 fui três vezes fustigado com varas; uma
vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem
do mar;
26 em jornadas, muitas vezes; em perigos de
rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre
gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em
perigos entre falsos irmãos;
27 em trabalhos e fadigas, em vigílias,
muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez.
28 Além das coisas exteriores, há o que pesa
sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas.
Paulo costumava se
referir a estas marcas como sendo “as marcas de Cristo” —
Gálatas 6:17
Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu
trago no corpo as marcas de Jesus.
6. Por
outro lado quando lemos suas epístolas, nós percebemos que estamos diante de um
homem que era, ao mesmo tempo:
a. Inteligente e
mentalmente articulado ao extremo.
b. Possuidor de uma
natureza sensível.
c. Dono de uma
vitalidade e de uma determinação capaz de enfrentar as mais duras provas sem
esmorecer – ver sua reação em —
Atos 14:19—20
19 Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e
Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para
fora da cidade, dando-o por morto.
20 Rodeando-o, porém, os discípulos,
levantou-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu, com Barnabé, para
Derbe.
d. Capaz de desenvolver
amizades verdadeiras e duradouras.
7. Um
presbítero do segundo século da Era Cristã descreveu Paulo como sendo: um homem
de baixa estatura e completamente careca e que tinha também as pernas
encurvadas; possuía todos os membros e suas sobrancelhas emendavam uma na
outra, além de possuir um nariz grande e adunco. Algumas vezes ele se parecia
como um homem qualquer e outras como um verdadeiro anjo”— ver “Os Atos de Paulo
e Tecla” in loco.
.
8. Uma
questão que nunca será resolvida de forma satisfatória tem a ver com o fato se
Paulo era casado ou não. A grande maioria dos autores consultados acredita que
Paulo ficou solteiro toda sua vida, mas há muitos que pensam o contrário. O
argumento mais forte a favor daqueles que defendem a ideia de que Paulo era
casado não está nas páginas do Novo Testamento e sim em uma lei judaica
referente ao Sinédrio, que dizia que para um homem ser parte do mesmo precisava
ser, necessariamente, tanto casado como pai de filhos. A inferência encontrada
em Atos 26:10 indica, possivelmente, que Paulo era membro do Sinédrio. Mas esta
evidência não é tão forte como pode parecer em um primeiro momento. E isso, por
um simples motivo que muitas vezes passa despercebido aos defensores da ideia
de que Paulo era casado. A lei judaica que acabamos de mencionar foi produzida
pelo Rabi Akiba visando aumentar a moderação no Sinédrio em Jerusalém face à
crescente atividade dos Zelotes, que arriscava incendiar o país inteiro. Essa
lei foi produzida entre o final do primeiro e o início do segundo século da Era
Cristã. Podemos dizer que quando a mesma foi introduzida, o apóstolo Paulo já
se encontrava morto há, pelo menos, uns 30 anos. Portanto, tal lei jamais pode
ser aplicada ao seu caso em particular. Antes da introdução daquela lei não
havia a obrigatoriedade de o membro do Sinédrio ser casado e nem mesmo ser pai
de filhos.
9. A
menção feita por Clemente de Alexandria[2]
— ver Stromata III, 6 — de que Paulo era realmente casado e que teria deixado
sua esposa em Filipos, de tal maneira que ela não interferisse em suas viagens
e a quem Paulo, eventualmente, se refere como “companheiro de jugo” em
Filipenses 4:3, também não merece ser levada muito à sério e isso por um
simples motivo: Paulo insiste com os solteiros e as viúvas de Corinto que
“seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo”. Que o estado ao qual ele se refere é o estado
de alguém solteiro ou viúvo — não temos dúvidas, porque a alternativa a
permanecer neste estado é o casamento —
1 Coríntios 7:8—9
8 E aos solteiros e viúvos digo que lhes
seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo.
9 Caso, porém, não se dominem, que se casem;
porque é melhor casar do que viver abrasado.
O apóstolo Paulo era um
homem cosmopolita[3]
e isto lhe permitia ministrar a uma grande variedade de pessoas e nas mais
diversas culturas —
1 Coríntios 9:19—23
19 Porque, sendo livre de todos, fiz-me
escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.
20 Procedi, para com os judeus, como judeu, a
fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu
mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja
eu debaixo da lei.
21 Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não
estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que
vivem fora do regime da lei.
22 Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim
de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os
modos, salvar alguns.
23 Tudo faço por causa do evangelho, com o
fim de me tornar cooperador com ele.
Ele nasceu em Tarso que
era a cidade capital da província romana da Cilícia. Foi educado em Jerusalém e
suas viagens missionárias e prisões o levaram a conhecer as maiores cidades dos
seus dias: Éfeso, Filipos, Atenas, Corinto e Roma.
Quando lemos suas
epístolas não é difícil perceber a influência que a vida urbana tinha sobre o
que ele escreveu. Suas ilustrações e metáforas são tiradas, em grande parte, de
aspectos da vida urbana e são, por este motivo, muito distintas daquelas
produzidas pelo Senhor Jesus, que retirava a maioria das suas ilustrações e
metáforas da vida agropastoril. Paulo faz frequentes citações em seus escritos
aos seguintes elementos que eram muito comuns em todas as cidades da bacia do
Mediterrâneo que haviam se desenvolvido segundo o modelo da “polis” — cidade —
dos gregos.
1. Estádio — σταδίῳ — stadío. Ver
1 Coríntios 9:24—27 e Filipenses 3:14.
2. Legislações diversas
como eram aplicadas nos fóruns — ver Romanos 7:1—4; Gálatas 3:15 e 4:1—2.
3. As procissões dos
guerreiros vitoriosos — ver 2 Coríntios 2:14 e Colossenses 2:15.
4. O mercado — ver 1
Coríntios 10:25—26.
Por ter sido treinado
nas tradições milenares do judaísmo, e conhecer muito bem a cultura grega que
prevalecia sobre toda a bacia do Mediterrâneo e, ainda por ser cidadão do
Império romano, Paulo estava preparado, de forma única, para compartilhar o evangelho
com o maior número de pessoas possível.
OUTROS ESTUDOS ACERCA DA
VIDA DE PAULO
Estudo 001 — As Origens
de Paulo
Estudo 002 — Paulo e o
Judaísmo
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/03/a-vida-do-apostolo-paulo-estudo-002.html
Estudo 003 — Paulo como Perseguidor da Igreja
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/07/a-vida-do-apostolo-paulo-estudo-003.html
Que Deus abençoe a
todos.
Alexandros Meimaridis
PS.
Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no
Facebook através do seguinte link:
Desde
já agradecemos a todos.
_______________
[1] Fariseus — Seita que parece ter se
iniciado depois do exílio babilônico, entre os chamados “hassidim”, que foram
os homens piedosos que se aliaram a Judas Macabeu, para combater os invasores
helenistas representados pela dinastia Selêucida, da Síria. Além dos livros do
Antigo Testamento, os Fariseus reconheciam na tradição oral, um padrão de fé e
vida que deveria ser seguido por todos os judeus. Os Fariseus procuravam alcançar
reconhecimento e mérito através da observância externa dos ritos e formas de
piedade, tais como: lavagens cerimoniais, jejuns, orações, e esmolas.
Comparativamente, os fariseus eram negligentes da genuína piedade que consistia
em: justiça, misericórdia, fé e amor de Deus — ver Mateus 6:1—7 e 16—18; ver
também Mateus 23:23 e Lucas 11:42 — e, orgulhavam-se em suas boas obras. Eles mantinham, de forma persistente, a fé na
existência de anjos bons e maus, e na vinda do Messias e tinham esperança de que
os mortos, após uma experiência preliminar de recompensa ou penalidade, no
Hades, seriam novamente chamados à vida pelo Messias, e seriam recompensados,
cada um de acordo com suas obras individuais. Em oposição à dominação da
família de Herodes e do governo romano, eles, de forma decisiva, sustentavam a
teocracia e a causa do seu país, e tinham grande influência sobre o povo comum.
Eram inimigos amargos de Jesus e sua causa; e foram, por outro lado, duramente
repreendidos por Jesus por causa da sua avareza, ambição, confiança vazia nas
obras externas, e aparência de piedade a fim de ganhar popularidade.
[2] Clemente de Alexandria — nasceu em
Atenas, na Grécia, em 150 a.D., e veio a falecer, provavelmente, em Alexandria,
no Egito, entre os anos 211 e 215 a.D.
[3] Cosmopolita
— 1. Indivíduo que vive ora num país, ora noutro, adotando-lhes com facilidade
os usos e costumes. 2. Pessoa que se julga cidadão do mundo inteiro, ou para
quem a pátria é o mundo.
Os comentários não representam a opinião do Blog O Grande Diálogo; a responsabilidade é do autor da mensagem, sujeito à legislação brasileira.
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