Esse é um estudo especial que irá
abordar temas de grande interesse, tais como: 1. Deus 2. Os seres humanos e o
mundo criado 3. Jesus e Sua missão como o CRISTO. 4. O Espírito Santo. 5. A
vida cristã. 6. A Igreja. 7. O futuro e etc. Esperamos que a mesma possa ajudar
todos os nossos leitores a conhecerem melhor o que o Novo Testamento ensina
acerca de tudo o que nos é importante.
INTRODUÇÃO GERAL
TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO E A HISTÓRIA
A BUSCA PELO JESUS HISTÓRICO — O FIM DA VELHA ESCOLA — PARTE 004
c. DIVERSIDADE DENTRO DO
MOVIMENTO DA VELHA ESCOLA DA BUSCA PELO JESUS HISTÓRICO
De acordo com o estudioso Karl
Adams em sua obra The Christ of Faith[1]
depois dos ensinamentos de Strauss — ver estudo anterior na lista abaixo —
nós podemos observar o surgimento de três tipos diferentes de abordagens quanto
à busca pelo Jesus Histórico pela velha escola:
1. A abordagem mitológica.
2. A abordagem representada pelas
chamadas vidas liberais de Jesus.
3. A abordagem escatológica.
Apesar do próprio Strauss ter
abandonando a abordagem mitológica na segunda edição de sua obra em 1864, a
mesma ainda continuou como uma abordagem básica para a velha escola da busca
pelo Jesus histórico. Isso foi possível devido à continuada influência da ideia
representada pelo filósofo Hegel que defendia o conceito que a força criativa
seminal da história não estava centrada em qualquer personagem histórico, e sim
em ideias. Desse modo, o cristianismo não é o resultado da vida e da obra de
Jesus de Nazaré, mas da ideia da união entre Deus e o homem. Todavia, a
abordagem mitológica não teve muitos adeptos depois de Strauss. A mesma ficaria
aguardando o surgimento do teólogo Rudolf Karl Bultmann — 1884 a 1976 — para
ser, novamente, explorada sob a ótica do existencialismo.
A segunda imagem de Cristo que
emergiu da escola velha da busca pelo Jesus histórico foi aquela representada
pelas vidas liberais de Cristo. Ao contrário da visão mitológica de Strauss e
da ênfase hegeliana, esse grupo enfatizava que a história não é feita de
ideias, mas de personalidades. Desse modo, para esse pessoal, o fator mais
importante para explicar a existência do cristianismo era a personalidade de
Jesus. Mas, diziam eles, para que a verdadeira personalidade de Jesus possa vir
à tona é necessário que a mesma seja redescoberta pela utilização das
ferramentas da moderna ciência da história. Afinal, não podemos nos esquecer
que eles ainda representavam a velha escola da busca pelo Jesus histórico.
Qualquer elemento sobrenatural ou miraculoso precisava ser descartado. Era
necessário que Jesus fosse entendido como um ser humano comum —
independentemente de quão extraordinário ou único ele pareça ter sido. Daí,
podemos entender o alvo principal da escola liberal de teologia, de provar como
não histórico qualquer coisa que seja
sobrenatural ou misteriosa na vida de Jesus. Como resultado disso, a imagem de
Jesus que surge é típica do liberalismo teológico: Jesus se parece mais com o
filósofo grego Sócrates do que consigo mesmo. Os autores de maior destaque
dessa bordagem são facilmente identificáveis como sendo: Adolf Von Harnack,
Wilhelm Herrmann e Ernst Troeltsch.
A terceira abordagem é
representada pela chamada imagem escatológica de Jesus. Essa escola rejeitou
tanto a abordagem mitológica quanto a da visão liberal, porque percebia nas
mesmas pressuposições dogmáticas, que fazia com seus proponentes enxergassem
naquilo que produziam suas próprias pressuposições. Por seu lado, eles
defendiam que uma leitura objetiva e factual das fontes conduziria o leitor —
mais é uma pressuposição! — a enxergar a Jesus de uma perspectiva escatológica.
Apesar da evidente pressuposição, essa escola se considerava como a única
verdadeiramente fiel à pesquisa histórica em busca de Jesus. Representantes
importantes dessa escola são:Willhelm Bousset, Albert Schweitzer, Julius
Wellhausen e outros. Como afirma Karl Adam na obra mencionada acima: “com a
ajuda espinhosa de uma crítica textual, eles tentaram descobrir a pedra
fundamental livrando-se, com isso, de todo e qualquer extrato secundário ou
terciário”. Mas, de forma patética, muito pouco de qualquer pedra fundamental
foi descoberta. Não demorou muito para que o valor da abordagem escatológica
fosse reconhecido pelo fato de chamar a atenção para um elemento negligenciado,
mas à mesma faltava autenticidade em sua exagerada ênfase que pendia
rigorosamente para um lado. Alguns elementos da abordagem escatologia, estão
reaparecendo nas teologias de Wolfhart Pannenberg e Jürgen Moltmann.
Até aqui vimos como a velha
escola da busca pelo Jesus histórico desejava ser objetiva e desprovida de
pressuposições com o objetivo de redescobrir o verdadeiro Jesus da história.
Para realizar seus intentos, essas pessoa tiveram que romper com a ortodoxia e
abandonarem os dogmas das igrejas patrísticas, medievais e da Reforma. Foi o
iluminismo que trouxe a mudança radical da perspectiva dogmática para a
perspectiva histórica. Mas o resultado obtido foi muito diversificado e
bastante contraditório. Os diversos tipos de abordagem foram apresentadas
acima, mas, por falta de tempo, não podemos analisar as subdivisões dentro de
cada uma dessas abordagens. Como disse Joachim Jeremias: “A imagem racionalista
de Jesus como um pregador da moralidade; a visão dos idealista acerca do homem
ideal; os estetas exaltaram a Jesus como mestre das palavras e os socialistas
como um amigo dos pobres e um reformador social; ao mesmo tempo em que
pretensos estudioso o transformaram apenas num personagem de ficção”[2] Jeremias
prossegue dizendo que:”Jesus foi modernizado. Essas vida de Jesus são fruto
exclusivo da criatividade dos seus autores. ... O dogma foi substituído pela
psicologia e pela fantasia”. Além disso, Carl Braaten em sua obra History e
Hermeneutics[3],
nos apresenta uma análise devastadora da velha escola da busca pelo Jesus
histórico. Ele diz:
“Os biógrafos de Jesus do século
XIX eram como cirurgiões plásticos reconstruindo a face de seus pacientes às
suas imagens e semelhanças, ou como um artista que pinta a si mesmo no quadro
que está criando. Existia, em muitos casos, uma semelhança inequívoca entre o
que escreviam acerca da religião de Jesus com suas próprias condições
religiosas. Também acontecia do autor geralmente conseguir encontrar o que
estava procurando. Quer dizer, ele descobria muitas coisas acerca de Jesus,
alegadamente em cima da sua pesquisa puramente histórica, na justa medida em
que necessitava das informações para fazer avançar sua própria teologia. Não
existe nada que possa promover mais o ceticismo de uma pessoa quando considera
os estudos do Novo Testamento, do que a comparação, facilmente feita, entre
aquilo que o pesquisador alega ter descoberto historicamente, com sua
necessidade teológica daquele mesmo momento”.
Nessa parte final da nossa
análise acerca da busca pelo Jesus histórico realizada pela velha escola, nós
ignoramos intencionalmente o filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, apesar
dele ter vivido naquele período, entre 1813—1855. Assim procedemos porque Kierkegaard
não teve sobre a velha escola nenhum impacto que possamos considerar como sendo
notável. Sua influência só foi plenamente sentida durante o período chamado de
neo-ortodoxia, no qual se sobressai a pessoa do teólogo Karl Barth. Outro
importante autor que não foi mencionado é o russo Martin Kähler que escreveu O Jesus Histórico e o Cristo Bíblico
Histórico. O título original na língua alemã as duas palavras — historie e geschichte
— que se tornaram muito importantes nas fases subsequentes da busca pelo Jesus
histórico. Os dois, todavia, serão citados na próxima fase da busca.
A busca pelo Jesus histórico da
velha escola demonstrou o verdadeiro espírito do Iluminismo e do início da
chamada ciência histórico-crítica aplicada à teologia. Hoje fica evidente —
como demonstramos nos artigos dessa série —que a alegação de que eles desejavam
ser objetivos e sem desposarem nenhuma pressuposição, era de fato, o único mito
nessa história toda. Tudo o que a velha escola da busca pelo Jesus histórico
conseguiu fazer foi criar um Cristo ebionita, o que é equivalente a dizer o
seguinte: eles criaram um Cristo humano. A divindade de Jesus foi negada com
base na PRESSUPOSIÇÃO com a qual o movimento se originou. Jesus foi considerado
apenas como um ser humano natural típico, do qual todos os elementos divinos e
sobrenaturais foram retirados logo de cara. Desse modo o termo histórico foi substituído na velha escola
da busca pelo Jesus histórico por mero historicismo.
Ou seja, uma história distorcida sem a presença da pregação.
A velha escola da busca pelo
Jesus histórico criou o ambiente necessário para os desenvolvimentos
posteriores da busca numa espécie de gangorra teológica. É praticamente
impossível entendermos Karl Barth e Rudolf Bultman, se não levarmos em conta o
background na velha escola e do liberalismo.Os dois tentaram fugir do impasse
representado pelas posições da velha escola e do liberalismo, mas tudo o que
conseguiram foi apenas desenvolver uma visão do evangelho que paira sobre a
história como um disco voador que nunca aterrissa na História.
Rever a história da velha escola
acerca da busca pelo Jesus histórico nos ensina uma importante lição. Existe um
relacionamento inevitável entre a Palavra e Cristo, entre a Escritura e o
Cristo revelado na Palavra. Não é difícil notarmos como a chamada alta crítica — do Iluminismo — minou a
autoridade das Escrituras e influenciou a busca pelo Jesus histórico pela
escolha velha. Sempre que alguém perde a fé na Palavra revelada de Deus, o
passo seguinte é também a perda do reconhecimento do Cristo da Palavra.
É nossa convicção que nós podemos
aprender a lição da história e pela graça de Deus alcançarmos uma convicção
ainda maior da estratégica interrelação entre a história e a pregação. Jesus de
Nazaré e os eventos acerca da sua pessoa como revelados nas Escrituras têm um
significado eterno. O próprio Evangelho, a pregação, está arraigada na
história: na própria pessoa de Jesus, o Filho encarnado de Deus que morreu na
cruz por nós naquela sexta-feira e que ressuscitou para nossa justificação no
domingo da ressurreição.
CONTINUA...
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