Ontem recebi a seguinte
solicitação:
Desculpe
usar um tópico não pertinente, contudo não achei endereço de email que pudesse
endereçar minha dúvida. Tomei contato com seu site lendo sobre a polêmica do
Dep. Fed. Marcos Feliciano e li mais muitos outros tópicos. Seu vasto
curriculum me encorajou a lhe pedir um estudo (se não há neste extenso blog)
sobre divórcio e recasamento à luz da Bíblia. Li um estudo em um site e achei
muito profundo e bem diferente daquilo que é pregado. Assim, peço que o senhor
esclareça aos irmãos o significado da palavra grega "pornea" que é
traduzido na maioria das Bíblias por "imoralidade sexual" ou
"adultério".
Abaixo, o
link do estudo que li:
http://familiasparacristo.com.br/evangelho-de-mateus-capitulo-19-sob-duas-traducoes-diferentes
Agradeço
desde já.
Aqui vai a
resposta para o benefício de todos:
Caro irmão,
Não há nada para desculpar, pois
todos os tópicos são pertinentes a nós como crentes. Lamento que o blog não
tenha meu e-mail, mas você pode me escrever no seguinte endereço, se precisar
alguma outra vez:
Infelizmente ainda não
transformei em artigo(s) os ensinamentos bíblicos acerca de divórcio e novo casamento.
Quanto a expressão “porneían”,
com base em Colossenses 3:5 podemos dizer:
- πορνείαν — porneían — Pode ser traduzida de forma geral como : “relação sexual ilícita” o que pode incluir: “adultério, fornicação, homossexualidade, lesbianismo, relação sexual com animais etc”. Ver Strong, J., & Sociedade Bíblica do Brasil. (2002; 2005). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (H8679). Sociedade Bíblica do Brasil. Traduzida por “fornicação” é o sexo entre pessoas não casadas ou solteiras. Isto inclui o sexo entre namorados ou com uma mulher ou homem que vive da prostituição — venda de serviços sexuais. Quando envolve a participação de alguma pessoa casada, a mesma reflete o conceito de adultério. A cultura daqueles dias aceitava a relação sexual fora do casamento, o que é aqui condenado por Deus. A prostituição procede do coração humano — Marcos 7:21 — e é definida como uma das obras da carne que milita contra o espírito — Gálatas 5:19. Sua prática, muito comum entre nós, é frontalmente contrária à vontade explícita de Deus para nós — 1 Tessalonicenses 4:3. Ver também 1 Coríntios 6:19.
Quanto à questão do divórcio e
novo casamento, apesar de ter uma posição bem firmada em minha vida e meu
ministério pastoral, que está para completar 36 anos, eu posso oferecer as
seguintes breves idéias:
1. O divórcio era uma instituição
bastante sólida no Oriente Próximo, quando Deus tirou o povo de Israel do
Egito. O mesmo acontecia também, por exemplo, com o “vingador de sangue”. Então
Deus tolerou, por um tempo essas e outras práticas. Todavia impôs limites às
mesmas.
2. Quando ao vingador de sangue,
Deus passou a proteger aqueles que tinham cometido um assassinato não
intencional criando as chamadas cidades de refúgio —
Números 35:13
As cidades que derdes
serão seis cidades de refúgio para vós outros.
Três dessas cidades ficavam além
do Jordão — na Transjordânia e três do lado de cá do Jordão — na Cisjordânia.
3. Quanto ao divórcio, apesar de
Deus ser contra ele aceitou o mesmo pela dureza do coração do povo, por um
tempo —
Mateus 19:8
Respondeu-lhes Jesus:
Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa
mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio.
4. Mas Deus também impôs limites
ao divórcio ainda nos dias da antiga aliança —
Deuteronômio 24:1—4
1 Se um homem tomar uma
mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter
ele achado coisa indecente nela, e se ele lhe lavrar um termo de divórcio, e
lho der na mão, e a despedir de casa;
2 e se ela, saindo da
sua casa, for e se casar com outro homem;
3 e se este a
aborrecer, e lhe lavrar termo de divórcio, e lho der na mão, e a despedir da
sua casa ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a
morrer,
4 então, seu primeiro
marido, que a despediu, não poderá tornar a desposá-la para que seja sua
mulher, depois que foi contaminada, pois é abominação perante o SENHOR; assim,
não farás pecar a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá por herança.
Note bem: o homem — macho —
poderia divorciar sua mulher por qualquer motivo, mas:
A. Era obrigado a fornecer uma
carta de divórcio explicando o motivo — algo muito humilhante para os machões
da época.
B. No caso do homem que divorciou
sua mulher e se casou com outra e descobriu, tardiamente que tinha feito um
péssimo negócio, ele podia se divorciar da segunda mulher, também fornecendo
uma carta de divórcio, mas não podia, em nenhuma hipótese, voltar a se casar
com a primeira mulher.
5. Esses dois impedimentos
agravaram bastante a liberdade desfrutada pelos machos israelenses com relações
às suas mulheres.
6. Mais adiante já mais perto do
advento do Messias Jesus, Deus abriu o jogo quanto ao divórcio com palavras
firmes e inequívocas:
Malaquias 2:16 na Nova
Tradução na Linguagem de Hoje:
Pois o SENHOR Todo-Poderoso
de Israel diz: — Eu odeio o divórcio; eu odeio o homem que faz uma coisa tão
cruel assim. Portanto, tenham cuidado, e que ninguém seja infiel à sua mulher.
7. Ainda nos dias da Antiga
Aliança que durou até a ressurreição de Jesus quando entramos, de fato na nova
aliança, o Senhor Jesus endureceu também o jogo admitindo o divórcio apenas em
caso de infidelidade conjugal. Já não era possível se divorciar por qualquer
motivo. Os próprios discípulos reclamaram desse ensinamento:
Mateus 5:32
Eu, porém, vos digo:
qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas,
a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete
adultério.
Mateus 19:3—12 — Jesus
resume a Criação, a concessão do divórcio no Antigo Testamento, mas já
introduz, como legislador que era, novas regras:
3 Vieram a ele alguns
fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua
mulher por qualquer motivo?
4 Então, respondeu ele:
Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher
5 e que disse: Por esta
causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois
uma só carne?
6 De modo que já não
são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o
homem.
7 Replicaram-lhe: Por
que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar?
8 Respondeu-lhes Jesus:
Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa
mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio.
9 Eu, porém, vos digo:
quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e
casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada comete
adultério.
10 Disseram-lhe os
discípulos: Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não
convém casar.
11 Jesus, porém, lhes
respondeu: Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a
quem é dado.
12 Porque há eunucos de
nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos
se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir
admita.
8. Mais adiante já com a Nova
Aliança em plena atividade o adultério é visto como pecado capaz de fazer um
indivíduo não herdar o reino dos céus. Não são apenas a práticas homossexuais
que são condenadas como certos pastores midiáticos e políticos gostam de
pensar.
1 Coríntios 6:9—10
9 Ou não sabeis que os
injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem
idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas,
10 nem ladrões, nem avarentos,
nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.
9. Por fim mais uma grave advertência:
Hebreus 13:4
Digno de honra entre
todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os
impuros e adúlteros.
Palavras claras e inequívocas,
mas a imoralidade corre solta dentro das igrejas chamadas evangélicas.
Da perspectiva pastoral, todavia,
existem problemas práticos e aqui está o que tenho adotado com o passar dos
anos procurando ser compassivo com os transgressores, mas sem abrir mão dos
ensinamentos bíblicos.
1. Divórcio não tendo como motivo
a infidelidade é PECADO. Nesse caso deve ser tratado como tal, pouco importa
quem seja o homem ou a mulher que praticaram o mesmo. Mas temos que nos lembrar
que todos os pecados podem ser perdoados, havendo arrependimento verdadeiro, com exceção do pecado imperdoável. Mas mesmo que o pecado seja perdoado aquele que se divorciou, não está livre para casar novamente, sob a pena de cometer adultério, que é outro pecado sério.
Mateus 12:32
Se alguém proferir
alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém
falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem
no porvir.
Marcos 3:29
Mas aquele que
blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu
de pecado eterno.
Lucas 12:10
Todo aquele que
proferir uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, para
o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão.
2. Em caso de divórcio
pecaminoso, por outro motivo que não seja infidelidade, nós adotamos em nossa
igreja o princípio de admitir pessoas que estão num segundo casamento. Mas se houver novo divórcio
nossa posição é bem clara: se quiser continuar em nossa igreja como divorciado
pode, mas não pode se casar uma terceira vez, pois já está mais que provado que
a pessoa não tem o dom para viver casado. Além disso precisa haver profundo
arrependimento e confissão de pecado diante de Deus.
3. Quando alguém vem para nossa
igreja e já está no segundo, terceiro ou quarto casamento, nós os recebemos de modo
normal fazendo apenas questão de garantir que o casal entenda a gravidade dos
pecados cometidos no passado, dos quais eles precisam de arrependimento
profundo. Caso esse casal venha a se divorciar passam a valer as regras
apontadas no item 2 acima.
4. Em caso de divórcio por
abandono, onde o incrédulo abandona o crente, mesmo não tendo acontecido
infidelidade, tal divórcio é considerado não pecaminoso, e o crente está
totalmente livre daquele relacionamento, mas não está livre para se casar novamente.
1 Coríntios 7:12—15
12 Aos mais digo eu,
não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta
consente em morar com
ele, não a abandone;
13 e a mulher que tem
marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido.
14 Porque o marido
incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é
santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam
impuros; porém, agora, são santos.
15 Mas, se o descrente
quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão
nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz.
5. Um novo casamento só é completamente aceitável diante de Deus em caso da morte de um dos cônjuges conforme a instrução que temos em -
1 Coríntios 7:39
A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor.
Quanto aos ensinamentos contidos
no site indicado por você:
1 Coríntios 7:39
A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor.
Seguem algumas ponderações sobre
o que lá está escrito.
1. Em primeiro lugar ele não diz
que ele tem uma agenda e que por causa dessa mesma agenda sua visão será sempre
distorcida em um ou outro ponto, porque ele deseja, acima de tudo, provar que
seu entendimento está certo.
2. Depois ele não diz que o adultério,
a fornicação, a prostituição, a homossexualidade e etc., são todos PECADOS e,
como pecados, estão sujeitos ao perdão divino mediante arrependimento profundo e
confissão sincera e ninguém pode julgar o coração de outra pessoa, apenas Deus.
3. O longo artigo ignora um fato
gritante em toda a passagem de Mateus 19. Se Jesus está falando de intercurso
sexual onde uma das partes — homem ou mulher — é CASADO, que diferença
realmente faz chamar isso de fornicação ou de “imoralidade sexual” como o faz a
Almeida Revista e Atualizada, ou de “adultério” como faz a Nova Tradução na
Linguagem de Hoje? Todas essas são traduções válidas para a expressão grega πορνείαν — porneían. Como a relação envolve uma pessoa CASADA não é
mesmo um caso de ADULTÉRIO? Não é exatamente essa conclusão a que o próprio
Jesus chega no final do versículo 9 quando usa a expressão “adultério”? Não
existe saída: infidelidade conjugal, independente do nome que se queira chamar
é sempre ADULTÉRIO, em última instância. Agora não querer conceder perdão a
algum adúltero é concordar com a Congregação Cristã do Brasil que considera o
adultério como sendo o pecado imperdoável.
4. O autor do artigo citado trata
Mateus 19:9 como se o mesmo não estivesse tratando de uma cláusula de exceção.
Mas em nenhum momento tem coragem de citar outro verso que trata do mesmo
assunto que é
Mateus 5:32
Eu, porém, vos digo:
qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas,
a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete
adultério.
Nesse versículo a cláusula de
exceção fica transparente pelo uso que Jesus faz da expressão grega παρεκτὸς — parektòs — cujo
significado é: exceto; com a exceção de.
Todavia, como falamos acima, mesmo em caso de adultério, a parte inocente que se divorcia não tem liberdade para casar novamente
Que Deus abençoe a todos
Alexandros Meimaridis
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Desde já agradecemos a todos.
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