Terra sem forma e Vazia
Este estudo é parte de uma Análise do Livro do
Gênesis. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança
que temos nas páginas da História Primeva da Humanidade. No final de cada
estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
O Livro do Gênesis
O Princípio de Todas as Coisas
בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ
Eretz ha
ve-et Hashamaim et
Elohim Bará Bereshit
Terra a
e céus os
Deus criou princípio No
Gênesis 1:1
Continuação do Estudo
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Disse Deus: Haja luz; e
houve luz. A palavra de Deus foi pronunciada sobre aquele
material que estava contido na Terra, e que se encontrava agora cheio de
poderes vitais, chamando à existência a vida e a organização que já estava disponível
através da ação prévia do Espírito de Deus. Uma por uma, todas as formas
criadas, minerais ou biológicas, compõem o enorme conjunto de elementos na face
da Terra. São estes mesmos elementos, minerais e vivos, que proclamam a glória
do Criador —
Salmos 8:1—9
1 Ó SENHOR, Senhor
nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a
tua majestade.
2 Da boca de pequeninos
e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para
fazeres emudecer o inimigo e o vingador.
3 Quando contemplo os
teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste,
4 que é o homem, que
dele te lembres E o filho do homem, que o visites?
5 Fizeste-o, no
entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.
6 Deste-lhe domínio
sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste:
7 ovelhas e bois,
todos, e também os animais do campo;
8 as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o
que percorre as sendas dos mares.
9 Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em
toda a terra é o teu nome!
A
obra da criação propriamente dita começa com as palavras “Disse Deus”. Estas
palavras proferidas por Deus constituem nas próprias coisas que são
mencionadas. Deus fala e o que é proferido acontece. Deus comanda e, sem demora,
suas palavras se concretizam! As palavras de Deus são de fato atos essenciais
do λόγος — lógos — Verbo de Deus, por meio de quem todas as coisas
são feitas — ver João 1:1—3. O ato de falar indica a revelação de pensamentos; a criação nada mais é
do que a realização material dos pensamentos de Deus; constitui-se em um ato
concreto e absoluto do Espírito de Deus e não é, em nenhuma hipótese, uma
emanação de formas criadas que se originam da essência divina.
Deus não é parte do Universo de nenhuma maneira. O Universo também não é Deus
nem uma manifestação de Deus. O Criador cria o Universo mediante a
materialização daquilo que suas palavras ordenam. A primeira coisa criada pelo
Verbo Divino foi a “luz”. Esta luz consistia em uma luz elementar ou luz
material e era totalmente distinta dos outros tipos de “luz” emitidas ou
refletidas por corpos celestes, como o Sol, a Lua e as estrelas que foram
criadas somente no quarto dia da Criação. A ciência moderna admite que a luz
que enxergamos, não procede nem do Sol nem das estrelas. A luz que enxergamos
procede das atmosferas que existem ao redor destes corpos celestes.
Assim, a luz foi o primeiro elemento a ser chamado à
existência e separado do grande caos e trevas que havia sobre a face do abismo.
A luz é o primeiro produto da ação incubadora ou energizante do Espírito
Santo descrita em Gênesis 1:2. A luz é a condição fundamental para a existência
de toda a vida orgânica. Sem luz e sem o calor que a mesma produz nenhum tipo
de vida, seja vegetal seja animal, poderia existir.
Fiat Lux
E viu Deus que a luz
era boa; e fez separação entre a luz e as trevas —
Como é que Deus vê? Dizer que Deus “viu” seria realmente um caso de antiptose[1],
onde aproveitamos uma capacidade humana para descrever uma divina e que
chamamos de antropomorfismo[2].
No próprio livro do Gênesis temos várias passagens que descrevem a capacidade
humana de ver ou enxergar — ver Gênesis 6:2; 12:14; 13:10. Não é a esta
capacidade de enxergar que o texto que estamos estudando agora, se refere.
Quando lemos que “e viu Deus que a luz era boa” o autor não está se referindo
ao deleite que é causado no cérebro pelo registro feito pelos olhos. Não é
também uma expressão que descreve o prazer que resulta da observação de um
trabalho bem feito. Quando lemos em Gênesis 1 que Deus “viu que a luz era boa”
o autor está querendo nos dizer que, começando com a luz, tudo o que é criado por Deus
possui o selo do próprio Deus de absoluta perfeição. A
criação da luz, entretanto, não representa a aniquilação das trevas. Nem
implica na transformação de todo material escuro que existe no mundo em pura
luz. O que este verso nos diz é que Deus separou a luz do todo criado, de tal
maneira que um intercâmbio entre luz e trevas pode ser estabelecido.
Dia e Noite
Chamou Deus à luz Dia e
às trevas, Noite — Foi Agostinho de Hipona — conhecido como Santo
Agostinho[3]
— quem disse que: ”nem toda a luz é dia da mesma maneira que nem todas as
trevas são noite, mas a alternância da luz e das trevas em uma rotina regular
constitui o que chamamos de dia e noite”. Somente leitores mal intencionados
poderiam se mostrar ofendidos pelo fato de Deus dar nome às coisas criadas. O
nome de qualquer coisa, como sabemos, é apenas uma indicação da natureza
daquilo que é nominado. Quando o homem dá nome a alguma coisa, este ato reflete
apenas a tentativa de fixar, em palavras, a impressão que aquele elemento
causou na mente humana. Todavia, quando Deus dá nome a alguma coisa, este ato
expressa, através do nome, a realidade definitiva daquilo que o objeto nominado
realmente representa no contexto da criação de Deus e do lugar que esse mesmo
objeto ocupa no meio de todas as outras coisas criadas.
Houve tarde
e manhã, o primeiro dia - A expressão hebraica אֶחָד - ehad, traduzido aqui como “primeiro” corresponde em
todos os sentidos ao grego eiV — eis —
um e ao latim unus —
um. É, portanto um numeral ordinal e não cardinal. A mesma palavra aparece em
Gênesis 2:11; 4:19 e 8:5. Assim temos
que o primeiro dia é literalmente o dia número 1 — um. Da mesma maneira, os
números atribuídos aos outros dias são todos ordinais e estão desacompanhados
de artigo o que indica que cada novo dia surge da passagem recorrente de tarde
e manhã. Quando o sexto dia é mencionado — ver Gênesis 1:31 — o mesmo vem
acompanhado de um artigo e isto indica que a obra da criação foi completada
naquele dia. Aqui temos que notar que os dias da criação em Gênesis 1 estão
amarrados à rotina indicada pelas expressões “tarde e manhã”. Assim, o dia
número 1 ou primeiro, não consiste em uma descrição das trevas primevas e da
criação da luz e sim uma descrição, que o mesmo só veio a existir após o
primeiro intercâmbio entre tarde e manhã. A primeira tarde e, por extensão, a
primeira noite, não representam a escuridão imensa que foi descrita em Gênesis
1:2 como as trevas primevas. Somente depois da luz ter sido criada e de ser
feita a separação entre a luz e as trevas é que a primeira noite aconteceu e a
mesma foi seguida por um novo dia. Foi esta combinação de um dia, seguido por
uma noite e que, por sua vez, foi seguida por um novo alvorecer que se
constituiu no dia número 1 ou primeiro dia. Note que a luz é chamada de dia e
as trevas são chamadas de noite e o final do dia é chamado de tarde. A expressão
hebraica עֶרֶב — yereb — traduzida por “tarde” possui os seguintes
significados na língua hebraica: anoitecer, noite, o pôr do sol. A
conclusão que temos que tirar aqui é que os dias da criação não são contados
“de uma noite até outra noite” como muitos ensinam e desejam e sim como a
bíblia ensina “de uma manhã até a outra manhã”.
De acordo com o que ensina o livro do Gênesis 1:5, o dia número 1 ou
primeiro dia só termina quando a luz retorna depois das trevas da noite em um
novo alvorecer. Somente com este novo alvorecer do novo dia, após um período de
luz — dia e trevas — noite é que o primeiro dia está completamente terminado. A
idéia que o primeiro dia em Gênesis 1 e, por extensão, todos os outros dias é
composto da soma de “tarde+noite+manhã” comete uma violência tanto contra a
gramática hebraica, quanto contra os fatos que realmente aconteceram. Note que
no esquema que acabamos de citar “tarde+noite+manhã” ficaria faltando a adição
de mais uma “tarde” para que pudéssemos chegar até ao começo da noite para
iniciar um novo dia. O besteirol
inventado pelos judeus e acompanhado por judaizantes, como os Adventistas do
Sétimo Dia, de que um “dia” se inicia às 18 horas de um determinado dia e
termina às 17 horas 59’ e 59” do dia posterior, não passa realmente, de uma
grande tolice e não está baseado nos ensinamentos de Gênesis 1. Como vimos
acima a expressão “tarde” em hebraico não representa o período da tarde de um
determinado dia e sim o entardecer, o por do sol e a própria noite. O primeiro
dia como descrito em Gênesis 1 começou no exato momento quando Deus fez com que
a luz surgisse do meio das trevas que existiam sobre a face do abismo —
conforme Gênesis 1:2. Mas a existência desta luz não constituía o primeiro dia
em si mesma. Foi somente após um período de trevas, chamado por Deus de “noite”
ter acontecido, e o surgimento de um novo alvorecer que o primeiro dia foi
completado. Note que em Gênesis 1:5 Deus mesmo chama a luz de יוֹם — yom — Dia e as trevas de לָיְלָה — layelah — Noite. Após está afirmação e, somente após esta
afirmação, é que a Bíblia nos dia que: “Houve tarde e manhã, o primeiro dia.
Por semelhante modo a expressão עֶרֶב
בֹּקֶר — yereb boquer — tardes e manhãs — encontrada em Daniel 8:14
também não serve como argumento porque a expressão “manhã” não é equivalente ao
“dia”, da mesma maneira que expressão “tarde”não é equivalente à “noite”. O
costume judaico de iniciar a contagem de um novo dia ao entardecer, que é até
mencionado na Lei de Moisés — ver Levítico 23:32 — e que representa um costume
muito seguido, seja por tribos árabes pré Maometanas, pelo gregos de Atenas,
pelos Gauleses e até mesmo por tribos germânicas, além de inúmeras outras
tribos da Antiguidade, não é derivado do ensino que encontramos no primeiro
capítulo do Livro do Gênesis acerca dos dias da criação e sim, do antigo
costume de regular as estações utilizando as fases da lua!
A implicação mais contundente de tudo o que acabamos de dizer é que: se
os dias da criação são regulados pela constante repetição de um intercâmbio
recorrente entre períodos de luz - dia e trevas - noite, os mesmos não podem
ser considerados como períodos de tempo de duração incalculável de milhares ou
até milhões de anos, mas apenas como simples períodos de 24 horas terrestres.
É verdade que os três primeiros dias — dia como período de luz —
registrados nos livro do Gênesis não foram produzidos pelo nascer e por do sol,
pois o sol não havia ainda sido criado. Mas também não podemos pensar que o
intercâmbio recorrente entre luz e trevas, que produzia o dia e a noite sobre a
terra, deva ser entendido como se a luz chamada à existência do meio das trevas
do caos voltasse a tornar em trevas novamente e aparecesse e desaparecesse,
periodicamente. A única maneira pela qual podemos representar o que aconteceu,
nos três primeiros dias da criação, com respeito aos períodos de luz e trevas é
pensarmos que a luz, chamada à existência pelo poder criador da palavra de Deus
quando disse: “Haja Luz”, foi separada da massa caótica e que se encontrava em
trevas e concentrada “do lado de fora” ou acima do globo terrestre. Desta
maneira, o intercâmbio entre luz e trevas aconteceu tão logo a massa caótica e
envolta em trevas, que chamamos de terra, começou sua rotação[4]
em seu próprio eixo, assumindo neste processo da criação a forma de um corpo
esférico. O tempo que a terra levou para completar as três primeiras rotações
em torno do seu próprio eixo não podem ser medidas pelos nossos relógios
baseados em horas e minutos. Mas mesmo que estas primeiras três rotações tenham
sido “mais lentas” e não tenham atingido a velocidade presente até que o
sistema solar estivesse concluído, as mesmas não se constituem em períodos que
sejam essencialmente diferentes dos próximos três dias da criação que já foram
regulados pela presença do sol.
Ao fazermos a exegese[5]
dos primeiros capítulos do Gênesis nós precisamos insistir na interpretação das
palavras que ali encontramos pelo valor que elas tinham para seu autor original
e os primeiros leitores, sem tentarmos inferir nenhuma dedução advinda das
ciências modernas. Ao escrever o Gênesis, Moisés não estava querendo fazer ciência e sim
teologia. Sua intenção era nos trazer a revelação de que
Deus, o Deus verdadeiro, é o criador de todas as coisas que existem.
Interpretações do Gênesis baseadas na ciência são realmente irrelevantes, a
partir desta perspectiva, porque os limites da criação divina estão
completamente fora das capacidades empíricas e especulativas das pesquisas
modernas. A criação divina está na categoria de “ato direto do Deus
Todo-Poderoso” e, como tal, na categoria de milagre e mistério que podem ser
recebidos e aceitos mediante a fé somente —
Hebreus
11:3
Pela fé,
entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o
visível veio a existir das coisas que não aparecem.
Com isto não estamos querendo dizer que não devemos estudar as ciências.
Devemos estudá-las sim, pois sabemos que não existe nenhuma contradição
absoluta entre as ciências — de fato — e a revelação bíblica.
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039 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 002
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043 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 006 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 002 — OS NEGROS SÃO AMALDIÇOADOS?
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045 — Estudo de Gênesis — A TÁBUA DAS NAÇÕES — PARTE 001 — OS DESCENDENTES DE JAFÉ
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/02/genesis-estudo-045-tabua-das-nacoes.htmlQue Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem
que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
[1] Estudos da Linguagem -
Antiptosi - Emprego de um caso gramatical por outro.
[2] Antropomorfismo - Tendência
para atribuir, ou a forma de pensamento que atribui formas ou características
humanas a Deus, deuses, ou quaisquer outros entes naturais ou sobrenaturais.
[3] Agostinho — Aurelius
Augustinus que se notabilizou como Santo Agostinho, e que nasceu em 13 de
Novembro de 345 a.D. na cidade de Tagaste na Numídia — norte da África — e foi
bispo da cidade de Hipona na África Romana entre 396 a 430 a.D. Foi formidável
teólogo e defensor da fé cristã contra as heresias daqueles dias. Suas obras mais
conhecidas são: 1) Confissões; e 2) A Cidade de Deus. Agostinho faleceu na
cidade de Hipona aos 28 de Agosto do ano 430 a.D.
[4] Rotação da Terra - Movimento
executado pela Terra, em torno da linha dos pólos de oeste para leste, em 23
horas, 56 minutos e 4 segundos, o que equivale ao período que chamamos de um
dia.
[5] Exegese - Comentário ou
dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de
uma palavra.
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