No mês em que a Reforma
Protestante do século XVI completa 499 anos, queremos compartilhar com todos
uma série de artigos que tratam da grande e necessária Nova Reforma, como temos
defendido em vários dos nossos artigos. POR FAVOR, NÃO CONFUNDA O CONCEITO DE IGREJA NOS LARES, COM O MOVIMENTO DE GRUPOS FAMILIARES OU DA IGREJA EM CÉLULAS.
O artigo abaixo é de autoria de Wolfgang
Simson e parte de seu livro Casas que
Transformam o Mundo — Igreja nos Lares, publicado pela Editora Evangélica
Esperança
15
Teses Acerca da Reforma Necessária à Igreja
Wolfgang Simson
Deus transforma a igreja e isso,
por sua vez, transformará o mundo. Milhões de cristãos em todo mundo sentem que
uma nova e surpreendente Reforma está se aproximando. Afirmam: “A igreja como a
conhecemos impede uma igreja como Deus a quer”. É admirável o grande numero de
cristãos que parece perceber que Deus está tentando dizer-lhes a mesma coisa.
Desse modo forma-se uma nova consciência coletiva para uma revelação existente
há milênios, um eco espiritual coletivo. Estou convicto de que as 15 teses a
seguir reproduzem uma parcela daquilo que “o Espírito diz hoje as igrejas”.
Para alguns, isso será apenas uma pequena nuvem no horizonte de Elias. Outros
já se encontram no meio da chuva.
1. Cristianismo como
estilo de vida, não como sucessão de eventos religiosos
Bem antes de serem chamados de
cristãos dava-se aos seguidores de Jesus Cristo o nome de “o Caminho”.
Um dos motivos era que eles
literalmente haviam encontrado o caminho de como se vive. O cerne da igreja
cristã não é apropriadamente espelhado por uma série de eventos religiosos em
recinto eclesiásticos reservados especialmente para encontros com Deus,
oferecidos por clérigos profissionais. Pelo contrário, está em questão o estilo
de vida profético dos seguidores de Jesus Cristo no dia-a-dia, que como famílias
extensas espiritualmente ampliadas respondem a perguntas formuladas pela
sociedade – justamente no local em que isso é mais decisivo: em casa.
2. Mudar o sistema das
“categorias”
Depois da época de Constantino
Magno, século IV, as igrejas Ortodoxa e Católica desenvolveram e sancionaram um
sistema religioso que consistia de um templo “cristão” (a catedral) e de um
padrão básico de culto que imitava a sinagoga judaica. Dessa maneira, um
sistema religioso não expressamente revelado por Deus, a “categoga”, uma mescla
de catedral e sinagoga, tornou-se a matriz dos cultos de todas as épocas subsequentes.
Tingido com um acervo gentílico de pensamentos helenistas que, p. ex., faz
separação entre o sagrado e o secular, o conceito das categogas recebeu uma
função de “buraco negro”, que suga pela raiz praticamente todas as energias de
transformação social da igreja e que por séculos deixou o cristianismo absorto
em si próprio.
É verdade que Lutero reformou o
conteúdo do evangelho, mas é notório que ele deixou as estruturas e formas
exteriores da “igreja” intactas.
As comunidades livres libertaram
do Estado esse sistema eclesiástico, os batistas o batizaram, os quacres[1] o
drenaram, o Exército da Salvação o enfiou num uniforme, os pentecostais o
ungiram e os carismáticos o renovaram, porém até hoje ninguém realmente o
transformou. É precisamente essa hora que chegou agora.
3. A terceira reforma
Por ter redescoberto o evangelho
da redenção “somente pela graça mediante a fé”, Lutero desencadeou uma Reforma
– uma reforma da teologia. A partir do final do século XVII, movimentos de
renovação como o Pietismo descobriram novamente o relacionamento pessoal do
individuo com Deus. Isso levou a uma reforma da espiritualidade, a segunda
Reforma. Agora Deus está avançando mais um passo, ao mexer com as formas
básicas do ser igreja. Dessa forma ele desencadeia uma terceira Reforma, uma
reforma das estruturas.
4. De casas que são
igreja para igreja nas casas
Desde os tempos do Novo Testamento
não existe mais algo como a “casa de Deus”. Deus não vive em templos, erguidos
por mãos humanas. É o povo de Deus que constitui a igreja. Por essa razão a
igreja está em casa no exato lugar em que as pessoas estão em casa: nos lares.
É ali que os seguidores de Cristo partilham a vida no poder do Espírito de
Deus, tomam refeições em conjunto e muitas vezes nem mesmo hesitam vender
propriedade particular, repartindo as bênçãos materiais e espirituais com
outras pessoas. Instruem-se sobre como se inserir melhor, enquanto ser humano,
nas leis espirituais constitutivas de Deus em meio à vida prática – e
justamente não por meio de palestras professorais, mas de modo dinâmico, no
estilo de pergunta e resposta. É ali que oram, batizam e profetizam uns aos
outros. É ali que podem deixar cair à máscara e até confessar pecados, porque
conquistam uma nova identidade coletiva pelo fato de se amarem mutuamente,
apesar de se conhecerem e constantemente tornarem a se perdoar e se aceitar.
5. Primeiro a igreja
tem de encolher, antes que possa crescer
A maioria das igrejas cristãs
simplesmente é grande demais para realmente proporcionar espaço para a
comunhão. Foi assim que se tornaram “comunidade sem comunhão”. As comunidades
eclesiais do Novo Testamento eram, invariavelmente, grupos pequenos, com cerca
de 15 a 20 pessoas. O crescimento não acontecia pelo inchaço aditivo, formando
comunidades eclesiásticas grandes, estacionárias e que lotavam catedrais com 20
a 300 pessoas, mas pelo crescimento multiplicativo da amplitude, apresentando
características de um movimento. As igrejas nos lares se subdividiam quando
tinham atingido o limite orgânico de cerca de 15 a 20 pessoas. Esse crescimento
multiplicativo pela base possibilitou aos cristãos que também se congregassem
para reuniões celebrativas que abrangiam a cidade toda, como, p.ex., nos salões
do Templo de Jerusalém.
Em comparação com isso, a
congregação cristã típica de hoje é um triste meio-termo: estatisticamente ela
não é mais uma igreja no lar, mas tampouco é um evento celebrativo. Dessa
maneira, ela perde duas dinâmicas imaginadas pelo seu Inventor: a atmosfera
familiar dinâmica e relacional e o mega-evento eletrizante, com efeito de
sucção.
6. Do sistema de um
pastor único para a estrutura de equipe
Igrejas nos lares não são
conduzidas por um “pastor”, mas acompanhas por um presbítero e por um dono de
casa sábio e atento à realidade.
As igrejas nos lares são
interligadas em rede, formando movimentos, pela conexão orgânica dos
presbíteros com o assim chamado ministério quíntuplo (apóstolos, profetas,
pastores, evangelistas e mestre), que circula “de casa em casa” pelas igrejas,
como um saudável sistema de circulação sanguínea. Nessa atividade as pessoas
com dons apostólicos e proféticos (Efésios 4:11—12; 2:20) desempenham um papel
fundamental.
Sem dúvida os pastores são uma
parte importante de toda a equipe, porém não podem ser mais que um fragmento
dela, “para capacitar os santos para serviço”. Seu ministério precisa ser
complementado pelos outros quatros ministérios, do contrário as igrejas não
apenas sofrem de enfermidades de carência espiritual, devido à dieta
unilateral, mas igualmente os próprios pastores não conseguem mover nada,
ficando impedidos de se realizar em sua vocação.
7. As peças certas –
montadas erroneamente
Num quebra-cabeça é essencial que
as peças sejam montadas de acordo com o modelo certo, do contrário não apenas
fica incorreto o quadro inteiro, mas também as diversas peças que não fazem
sentido. No cristianismo temos todas as peças à disposição, mas por tradição, lógica
de poder e zelo religioso quase sempre as montamos erroneamente. Assim como
existe H²O nos três estados de agregação (gelo, água e vapor) também os dons de
serviço (Efésios 4:11—12), como, p. ex., o do pastor, ocorrem de três formas,
porém muitas vezes na forma errada no lugar errado. Eles congelaram como pedras
por meio do clericalismo eclesiástico, correm como água límpida ou ainda
evaporam na falta de compromisso.
Assim como a melhor coisa é regar
flores com água, também os cinco ministérios que fomentam a igreja (apóstolos,
profetas, pastores, evangelistas e mestres) têm de reencontrar formas novas – e
muito antigas – na igreja, para que o sistema todo comece a florescer e cada
pessoa encontre um lugar apropriado no todo. Por isso a igreja não pode nem
deve voltar atrás na história, porém precisa retornar à matriz original.
8. Das mãos dos
burocratas eclesiásticos ao sacerdócio de todos os que creem
As igrejas do Novo Testamento
nunca foram dirigidas por um “homem santo” ou “senhor pastor”, que se encontra
numa ligação especial com Deus em substituição a outros e que regularmente
alimenta consumidores relativamente passivos na fé, como se fosse um Moisés do
Novo Testamento. O cristianismo assumiu das religiões gentílicas – ou, na
melhor das hipóteses, do judaísmo – a categoria dos sacerdotes como um espaço
amortecedor de mediação entre Deus e o ser humano.
Desde os dias de Constantino
Magno a rigorosa profissionalização da igreja já pesou tempo suficiente como
maldição sobre a igreja, subdividindo artificialmente o povo de Deus em leigos
infantilizados e clero profissional. Conforme o Novo Testamento há “um só Deus
e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus” (1 Timóteo 2:5).
Deus retém sua bênção quando
profissionais da religião se imiscuem entre ele e o povo. O véu do Templo foi
rasgado e Deus possibilita a todas as pessoas a terem acesso a ele diretamente
por meio de Jesus Cristo, o único Caminho e Advogado. Já não precisam manter
contato com ele de forma mediada e indireta através do representante de uma
casta religiosa. A fim de transportar para a prática o “sacerdócio de todos os
que creem”, que entrementes já foi impetrado há 500 anos pela primeira Reforma,
o atual sistema de uma igreja profissionalizada e burocratizada terá de ser
transformado radicalmente – ou afundará na irrelevância religiosa.
A burocracia é a mais diabólica
de todas as formas de administração, porque no fundo levanta apenas duas
perguntas: sim ou não. Nela dificilmente há espaço para a espontaneidade, a
humanidade e a vida genuína cheia de variações. Essa forma estrutural pode ser
adequada a empreendimentos políticos ou econômicos, porém não ao cristianismo.
Deus parece estar em vias de libertar seu povo do cativeiro babilônico de
burocratas eclesiásticos e de pessoas no exercício do poder religioso, bem como
tornar a igreja novamente um bem comum. Faz isso ao colocá-la nas mãos de
pessoas simples, chamadas por Deus para algo extraordinário e que, como nos
dias de outrora, talvez ainda estejam cheirando a peixe, perfume ou revolução.
Você também está convidado a
aderir a esse mover aberto, e dar a sua própria contribuição. Dessa maneira
provavelmente também a sua casa há de ser uma casa que transforma o mundo.
FIM DA PRIMEIRA PARTE.
CONTINUA...
(Texto publicado em português no
livro “Casas que transforma o mundo — Igreja nos lares”, de Wolfgang Simson —
Editora Evangélica Esperança)
O artigo original em Inglês
acesse:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
[1] Membro de seita religiosa
protestante inglesa (a Sociedade dos Amigos), fundada no século XVII
[Prega a existência da luz interior, rejeita os sacramentos e os representantes
eclesiásticos, não presta nenhum juramento e opõe-se à guerra.]
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