sábado, 8 de outubro de 2016

IGREJA NOS LARES: UMA NOVA REFORMA EM ANDAMENTO - PARTE 001


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No mês em que a Reforma Protestante do século XVI completa 499 anos, queremos compartilhar com todos uma série de artigos que tratam da grande e necessária Nova Reforma, como temos defendido em vários dos nossos artigos. POR FAVOR, NÃO CONFUNDA O CONCEITO DE IGREJA NOS LARES, COM O MOVIMENTO DE GRUPOS FAMILIARES OU DA IGREJA EM CÉLULAS.

O artigo abaixo é de autoria de Wolfgang Simson e parte de seu livro Casas que Transformam o Mundo — Igreja nos Lares, publicado pela Editora Evangélica Esperança

15 Teses Acerca da Reforma Necessária à Igreja
Wolfgang Simson

Deus transforma a igreja e isso, por sua vez, transformará o mundo. Milhões de cristãos em todo mundo sentem que uma nova e surpreendente Reforma está se aproximando. Afirmam: “A igreja como a conhecemos impede uma igreja como Deus a quer”. É admirável o grande numero de cristãos que parece perceber que Deus está tentando dizer-lhes a mesma coisa. Desse modo forma-se uma nova consciência coletiva para uma revelação existente há milênios, um eco espiritual coletivo. Estou convicto de que as 15 teses a seguir reproduzem uma parcela daquilo que “o Espírito diz hoje as igrejas”. Para alguns, isso será apenas uma pequena nuvem no horizonte de Elias. Outros já se encontram no meio da chuva.

1. Cristianismo como estilo de vida, não como sucessão de eventos religiosos

Bem antes de serem chamados de cristãos dava-se aos seguidores de Jesus Cristo o nome de “o Caminho”.

Um dos motivos era que eles literalmente haviam encontrado o caminho de como se vive. O cerne da igreja cristã não é apropriadamente espelhado por uma série de eventos religiosos em recinto eclesiásticos reservados especialmente para encontros com Deus, oferecidos por clérigos profissionais. Pelo contrário, está em questão o estilo de vida profético dos seguidores de Jesus Cristo no dia-a-dia, que como famílias extensas espiritualmente ampliadas respondem a perguntas formuladas pela sociedade – justamente no local em que isso é mais decisivo: em casa.

2. Mudar o sistema das “categorias”

Depois da época de Constantino Magno, século IV, as igrejas Ortodoxa e Católica desenvolveram e sancionaram um sistema religioso que consistia de um templo “cristão” (a catedral) e de um padrão básico de culto que imitava a sinagoga judaica. Dessa maneira, um sistema religioso não expressamente revelado por Deus, a “categoga”, uma mescla de catedral e sinagoga, tornou-se a matriz dos cultos de todas as épocas subsequentes. Tingido com um acervo gentílico de pensamentos helenistas que, p. ex., faz separação entre o sagrado e o secular, o conceito das categogas recebeu uma função de “buraco negro”, que suga pela raiz praticamente todas as energias de transformação social da igreja e que por séculos deixou o cristianismo absorto em si próprio.

É verdade que Lutero reformou o conteúdo do evangelho, mas é notório que ele deixou as estruturas e formas exteriores da “igreja” intactas.

As comunidades livres libertaram do Estado esse sistema eclesiástico, os batistas o batizaram, os quacres[1] o drenaram, o Exército da Salvação o enfiou num uniforme, os pentecostais o ungiram e os carismáticos o renovaram, porém até hoje ninguém realmente o transformou. É precisamente essa hora que chegou agora.

3. A terceira reforma

Por ter redescoberto o evangelho da redenção “somente pela graça mediante a fé”, Lutero desencadeou uma Reforma – uma reforma da teologia. A partir do final do século XVII, movimentos de renovação como o Pietismo descobriram novamente o relacionamento pessoal do individuo com Deus. Isso levou a uma reforma da espiritualidade, a segunda Reforma. Agora Deus está avançando mais um passo, ao mexer com as formas básicas do ser igreja. Dessa forma ele desencadeia uma terceira Reforma, uma reforma das estruturas.

4. De casas que são igreja para igreja nas casas

Desde os tempos do Novo Testamento não existe mais algo como a “casa de Deus”. Deus não vive em templos, erguidos por mãos humanas. É o povo de Deus que constitui a igreja. Por essa razão a igreja está em casa no exato lugar em que as pessoas estão em casa: nos lares. É ali que os seguidores de Cristo partilham a vida no poder do Espírito de Deus, tomam refeições em conjunto e muitas vezes nem mesmo hesitam vender propriedade particular, repartindo as bênçãos materiais e espirituais com outras pessoas. Instruem-se sobre como se inserir melhor, enquanto ser humano, nas leis espirituais constitutivas de Deus em meio à vida prática – e justamente não por meio de palestras professorais, mas de modo dinâmico, no estilo de pergunta e resposta. É ali que oram, batizam e profetizam uns aos outros. É ali que podem deixar cair à máscara e até confessar pecados, porque conquistam uma nova identidade coletiva pelo fato de se amarem mutuamente, apesar de se conhecerem e constantemente tornarem a se perdoar e se aceitar.

5. Primeiro a igreja tem de encolher, antes que possa crescer

A maioria das igrejas cristãs simplesmente é grande demais para realmente proporcionar espaço para a comunhão. Foi assim que se tornaram “comunidade sem comunhão”. As comunidades eclesiais do Novo Testamento eram, invariavelmente, grupos pequenos, com cerca de 15 a 20 pessoas. O crescimento não acontecia pelo inchaço aditivo, formando comunidades eclesiásticas grandes, estacionárias e que lotavam catedrais com 20 a 300 pessoas, mas pelo crescimento multiplicativo da amplitude, apresentando características de um movimento. As igrejas nos lares se subdividiam quando tinham atingido o limite orgânico de cerca de 15 a 20 pessoas. Esse crescimento multiplicativo pela base possibilitou aos cristãos que também se congregassem para reuniões celebrativas que abrangiam a cidade toda, como, p.ex., nos salões do Templo de Jerusalém.

Em comparação com isso, a congregação cristã típica de hoje é um triste meio-termo: estatisticamente ela não é mais uma igreja no lar, mas tampouco é um evento celebrativo. Dessa maneira, ela perde duas dinâmicas imaginadas pelo seu Inventor: a atmosfera familiar dinâmica e relacional e o mega-evento eletrizante, com efeito de sucção.

6. Do sistema de um pastor único para a estrutura de equipe

Igrejas nos lares não são conduzidas por um “pastor”, mas acompanhas por um presbítero e por um dono de casa sábio e atento à realidade.

As igrejas nos lares são interligadas em rede, formando movimentos, pela conexão orgânica dos presbíteros com o assim chamado ministério quíntuplo (apóstolos, profetas, pastores, evangelistas e mestre), que circula “de casa em casa” pelas igrejas, como um saudável sistema de circulação sanguínea. Nessa atividade as pessoas com dons apostólicos e proféticos (Efésios 4:11—12; 2:20) desempenham um papel fundamental.

Sem dúvida os pastores são uma parte importante de toda a equipe, porém não podem ser mais que um fragmento dela, “para capacitar os santos para serviço”. Seu ministério precisa ser complementado pelos outros quatros ministérios, do contrário as igrejas não apenas sofrem de enfermidades de carência espiritual, devido à dieta unilateral, mas igualmente os próprios pastores não conseguem mover nada, ficando impedidos de se realizar em sua vocação.

7. As peças certas – montadas erroneamente

Num quebra-cabeça é essencial que as peças sejam montadas de acordo com o modelo certo, do contrário não apenas fica incorreto o quadro inteiro, mas também as diversas peças que não fazem sentido. No cristianismo temos todas as peças à disposição, mas por tradição, lógica de poder e zelo religioso quase sempre as montamos erroneamente. Assim como existe H²O nos três estados de agregação (gelo, água e vapor) também os dons de serviço (Efésios 4:11—12), como, p. ex., o do pastor, ocorrem de três formas, porém muitas vezes na forma errada no lugar errado. Eles congelaram como pedras por meio do clericalismo eclesiástico, correm como água límpida ou ainda evaporam na falta de compromisso.

Assim como a melhor coisa é regar flores com água, também os cinco ministérios que fomentam a igreja (apóstolos, profetas, pastores, evangelistas e mestres) têm de reencontrar formas novas – e muito antigas – na igreja, para que o sistema todo comece a florescer e cada pessoa encontre um lugar apropriado no todo. Por isso a igreja não pode nem deve voltar atrás na história, porém precisa retornar à matriz original.

8. Das mãos dos burocratas eclesiásticos ao sacerdócio de todos os que creem

As igrejas do Novo Testamento nunca foram dirigidas por um “homem santo” ou “senhor pastor”, que se encontra numa ligação especial com Deus em substituição a outros e que regularmente alimenta consumidores relativamente passivos na fé, como se fosse um Moisés do Novo Testamento. O cristianismo assumiu das religiões gentílicas – ou, na melhor das hipóteses, do judaísmo – a categoria dos sacerdotes como um espaço amortecedor de mediação entre Deus e o ser humano.

Desde os dias de Constantino Magno a rigorosa profissionalização da igreja já pesou tempo suficiente como maldição sobre a igreja, subdividindo artificialmente o povo de Deus em leigos infantilizados e clero profissional. Conforme o Novo Testamento há “um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus” (1 Timóteo 2:5).

Deus retém sua bênção quando profissionais da religião se imiscuem entre ele e o povo. O véu do Templo foi rasgado e Deus possibilita a todas as pessoas a terem acesso a ele diretamente por meio de Jesus Cristo, o único Caminho e Advogado. Já não precisam manter contato com ele de forma mediada e indireta através do representante de uma casta religiosa. A fim de transportar para a prática o “sacerdócio de todos os que creem”, que entrementes já foi impetrado há 500 anos pela primeira Reforma, o atual sistema de uma igreja profissionalizada e burocratizada terá de ser transformado radicalmente – ou afundará na irrelevância religiosa.

A burocracia é a mais diabólica de todas as formas de administração, porque no fundo levanta apenas duas perguntas: sim ou não. Nela dificilmente há espaço para a espontaneidade, a humanidade e a vida genuína cheia de variações. Essa forma estrutural pode ser adequada a empreendimentos políticos ou econômicos, porém não ao cristianismo. Deus parece estar em vias de libertar seu povo do cativeiro babilônico de burocratas eclesiásticos e de pessoas no exercício do poder religioso, bem como tornar a igreja novamente um bem comum. Faz isso ao colocá-la nas mãos de pessoas simples, chamadas por Deus para algo extraordinário e que, como nos dias de outrora, talvez ainda estejam cheirando a peixe, perfume ou revolução.

Você também está convidado a aderir a esse mover aberto, e dar a sua própria contribuição. Dessa maneira provavelmente também a sua casa há de ser uma casa que transforma o mundo.

FIM DA PRIMEIRA PARTE. CONTINUA...

(Texto publicado em português no livro “Casas que transforma o mundo — Igreja nos lares”, de Wolfgang Simson — Editora Evangélica Esperança)

O artigo original em Inglês acesse:


Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.


[1] Membro de seita religiosa protestante inglesa (a Sociedade dos Amigos), fundada no século XVII [Prega a existência da luz interior, rejeita os sacramentos e os representantes eclesiásticos, não presta nenhum juramento e opõe-se à guerra.]

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