A palavra significava na Antigüidade, literalmente,
algo em que as pessoas precisavam ser iniciadas antes que o pudessem
compreender na sua totalidade. A palavra μυστήριον —
mistérion — mistério procede da raiz do verbo μυω — muo
— ser iniciado ou ser instruído. Por extensão,
significa também algo que estava encoberto ou escondido. Em português, entre
outros significados, a palavra “mistério” representa tudo aquilo que a
inteligência humana é incapaz de explicar ou compreender; um enigma. Mas esse
nunca é o significado da palavra no grego koiné — grego comum que foi usado
pelos autores que escreveram os livros do Novo Testamento, onde a palavra μυστήριον — mistérion – mistério, tem os seguintes significados: É usada
para descrever:
A. Alguns aspectos da doutrina ou alguns fatos que
estão encobertos ou escondidos.
B. Alguns aspectos da doutrina que ainda não foram
completamente revelados.
C. Alguns aspectos da doutrina que foram
apresentados em forma figurativa ou simbólica.
Quando qualquer aspecto da doutrina, que é
considerado “mistério” é descoberto ou revelado, ele se torna, automaticamente,
tão comum quanto qualquer outra porção existente. Essa era a condição da
doutrina que trata acerca da salvação de todos aqueles que não são judeus: era
um mistério! Biblicamente falando, a raça humana estava dividida entre judeus e
gentios. Esses últimos são descritos da seguinte maneira em —
Efésios
2:11—13
11
Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados
incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos
humanas,
12
naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e
estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.
13
Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados
pelo sangue de Cristo.
Colocado desta maneira, parecia que realmente todos
aqueles que não eram judeus estavam em uma “sinuca de bico” no que diz respeito
à salvação eterna. Mas apenas parecia! O plano de Deus para os gentios estava
encoberto ou oculto não tanto pela ação de Deus, mas principalmente pelo
orgulho cego e a arrogância preconceituosa dos judeus, que se julgavam
superiores a todos os gentios. Nos versos a seguir podemos ver qual era a
intenção de Deus, desde o princípio e como esta intenção foi rigorosamente
ignorada pelos judeus:.
Gênesis
12:1—3
Ora,
disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai
e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra.
Note especialmente a expressão “em ti
serão benditas ou abençoadas todas as famílias da terra”.
Gênesis 28:14
A tua descendência será
como o pó da terra; estender-te-ás para o Ocidente e para o Oriente, para o
Norte e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as
famílias da terra.
Note como a mesma promessa feita a Abraão foi depois repetida a Jacó.
Êxodo 19:5—6
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha
aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos;
porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.
São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.
O povo de Israel deveria ser um reino de
sacerdotes. Se todos os judeus deveriam funcionar como sacerdotes de Deus a
quem deveriam servir além do próprio Deus?
Isaías 25:1—9
Ó SENHOR, tu és o meu Deus; exaltar-te-ei a ti e louvarei o teu nome,
porque tens feito maravilhas e tens executado os teus conselhos antigos, fiéis
e verdadeiros. Porque da cidade fizeste um montão de pedras e da cidade forte,
uma ruína; a fortaleza dos estranhos já não é cidade e jamais será reedificada.
Pelo que povos fortes te glorificarão, e a cidade das nações opressoras te
temerá. Porque foste a fortaleza do pobre e a fortaleza do necessitado na sua
angústia; refúgio contra a tempestade e sombra contra o calor; porque dos
tiranos o bufo é como a tempestade contra o muro, como o calor em lugar seco.
Tu abaterás o ímpeto dos estranhos; como se abranda o calor pela sombra da
espessa nuvem, assim o hino triunfal dos tiranos será aniquilado. O SENHOR dos
Exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de coisas gordurosas,
uma festa com vinhos velhos, pratos gordurosos com tutanos e vinhos velhos bem
clarificados. Destruirá neste monte a coberta que envolve todos os povos e o
véu que está posto sobre todas as nações. Tragará a morte para sempre, e,
assim, enxugará o SENHOR Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda
a terra o opróbrio do seu povo, porque o SENHOR falou. Naquele dia, se dirá:
Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos salvará; este é o
SENHOR, a quem aguardávamos; na sua salvação exultaremos e nos alegraremos.
Este texto é certamente um dos mais preciosos de todos
os textos do Antigo Testamento que tratam das promessas de Deus para os
gentios!
Conforme falamos acima, o orgulho cego e a
arrogância preconceituosa dos judeus haviam feito com que a nação de Israel, em
vez de servir como um reino de sacerdotes entre as nações gentias se fechasse
em si mesma. Além disso, eles desejavam ansiosamente o advento do Messias que
deveria vir para quebrar o jugo dos gentios de sobre o povo escolhido. Quando o
Messias viesse, acreditavam os judeus, os gentios seriam humilhados e o povo
escolhido de Deus i.e., os judeus, seriam exaltados. Quando Jesus, que é o
verdadeiro e único Messias de Israel veio, mas não cumpriu o que os judeus
esperavam, fica fácil de entender o ódio e o desprezo com que foi tratado, ódio
este que tem se tornado mais vocal nestes últimos dias como pode ser facilmente
constatado na internet.
De
todas as expectativas que os judeus dos dias de Cristo tinham nenhuma poderia
ser mais contraditória do que a perspectiva de que o Messias de Israel se
tornasse também no Salvador dos gentios! Mas é exatamente isto que o Novo Testamento ensina! O Messias esperado
pelo povo de Israel não iria vir apenas para os judeus, mas iria vir também
para os gentios. Aliás, o apóstolo João registra estas tristes palavras em relação
aos judeus:
João
1:11
Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam.
De fato Deus colocou a todos, judeus e gentios,
debaixo da mesma situação com o advento de Jesus para assim poder usar de
misericórdia com todos – ver, por exemplo:
Romanos
3:9
Que se
conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos
demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado.
Romanos11:32
Porque
Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com
todos.
Gálatas
3:22
Mas a
Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo,
fosse a promessa concedida aos que creem.
O grande mistério que estava oculto por séculos e
de muitas gerações e que constitui o coração do evangelho, ou seja, das Boas
Novas de Deus, é este: os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo
e co-participantes das promessas em Cristo Jesus por meio do evangelho — ver Efésios 3:6. Este plano de Deus, apesar de
revelado no Antigo Testamento, não foi completamente desvendado ou descoberto
até que Deus resolveu fazê-lo através de algumas pessoas especialmente
designadas para este fim — ver Efésios 3:5. E esta revelação é válida para
todos os filhos de Deus — ver Colossenses 1:26. Assim temos que o mistério
oculto de gerações passadas pode ser, agora, perfeitamente compreendido por
todos os crentes! A parte que realmente constitua o grande mistério é
o fato de que os gentios seriam aceitos no meio do povo de Deus, com todos os
privilégios concedidos aos judeus, sem estarem obrigados a se submeterem à
circuncisão e sem nenhuma necessidade de participarem em nenhum dos rituais e cerimônias
judaicas – ver Efésios 2:13—16. Mas os judeus não precisam ficar enciumados, pois as mesmas
prerrogativas concedidas aos gentios são estendidas a eles também!
Para o apóstolo Paulo, neste contexto, a expressão μυστήριον - mistérion – mistério, descreve verdades que outrora eram
desconhecidas, e que não podem ser descobertas de forma natural, via pesquisa,
pelos seres humanos. Verdades que pertencem à categoria de “mistério” precisam
ser reveladas por Deus para se tornarem conhecidas. Através da revelação bíblica, todavia, estas
verdades ficam disponibilizadas para todos os crentes e não é necessário nenhum
intérprete especial para explicá-las. São verdades que pertencem a todo povo de
Deus. Não é necessário ir
muito longe para perceber as implicações destas palavras. A revelação de Deus
não é escrava de nenhuma igreja nem de nenhum corpo de homens que pretensamente
possui autoridade para determinar Seu significado. Pelo contrário a Palavra de
Deus é soberana sobre o povo de Deus e está aberta e disponível para todos.
Qualquer tentativa de subjugar a palavra de Deus por parte de denominações
cristãs ou grupos humanos representados em concílios precisa ser firmemente
rejeitada por todos os cristãos. Está mais do que provado que denominações
erram e que concílios fracassam miseravelmente quando querem se impor sobre a
Palavra de Deus. Este foi o sábio motivo e a santa motivação da Reforma
Protestante: Sola Scrptura revelada por Deus.
Ao dizer que Deus nos “desvendou o mistério da sua
vontade” o apóstolo Paulo estabelece um contraste com os “mistérios”
representados pelas assim chamadas “religiões de mistérios” que existiam
naqueles dias no mundo dominado pela cultura grega. Entre estes contrastes nós
podemos alistar os seguintes:
1. Nas religiões de mistérios antigas existia uma
clara distinção entre os iniciados e os não iniciados.
2. Alguns dos adoradores recebiam certas porções da
“revelação” que tratavam de certos aspectos dos “santos segredos” acerca dos
quais outros adoradores eram excluídos.
3. Era comum a existência de “mistérios maiores” e
“mistérios menores”, como por exemplo, na religião chamada de Mistérios de
Elêusis — Festas em honra da deusa da agricultura Deméter — Ceres para os
romanos — que se realizavam em Elêusis na Grécia antiga — nas quais diferentes
pessoas eram iniciadas, umas nos mistérios maiores e outras nos mistérios
menores.
4. Em um vigoroso contraste com estas religiões de mistérios, o “grande
mistério” do Cristianismo estava disponível a todas as pessoas. Não estava
escondido de nenhuma pessoa e nem existia nenhum tipo de distinção entre as
pessoas que podiam ser “iniciadas” nele.
5. Nenhuma parte da verdade revelada por Deus era
mantida em secreto de nenhuma pessoa. Todos participavam de toda verdade
revelada. A Palavra de Deus em forma impressa, que seguramos em nossas mãos nos
dias de hoje, representa uma adesão moderna a este princípio: toda a Palavra de
Deus, a todas as pessoas, indistintamente.
6. O Cristianismo não possui verdades escondidas ou
ocultas que estão disponíveis somente para um seleto grupo de pessoas.
7. O Cristianismo não possui “doutrinas secretas ou
reservadas”.
8. O Cristianismo não possui nenhuma verdade que
esteja consagrada ao uso exclusivo de uma casta sacerdotal.
9. As doutrinas cristãs devem ser publicadas e
feitas disponíveis para todas as pessoas. Todo seguidor do Senhor Jesus deve
ser feito participantes de todas as verdades que nos foram trazidas pelo Senhor
Jesus que era a personificação da própria verdade —
João 14:6
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém
vem ao Pai senão por mim.
10. Por todos estes motivos, o apóstolo Paulo faz
questão de destacar que a oferta de salvação completa e gratuita deixou de ser
um segredo ou mistério e tornou-se algo notoriamente sabido por todas as
pessoas. Desta maneira, Paulo tinha plena consciência de que ele possuía uma
mensagem de valor incalculável para toda a humanidade e, por esse motivo, ele
desejava ardentemente proclamá-la a todo o mundo.
Que Deus Abençoe a Todos
Alexandros Meimaridis
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