Ao lado de Bibi, Angela Merkel
põe os pingos nos is — AFP
O artigo abaixo foi publicado
pelo site da revista Carta Capital.
Netanyahu,
o romancista
Enquanto a 3ª Intifada dá seus
primeiros passos, Bibi inventa um enredo impossível a respeito do Holocausto
por Gianni Carta —
O premier israelense Benjamin
Netanyahu porta-se, aparentemente, como um vencedor: reescreve a história a seu
favor. No entanto, usa a retórica distorcida de um líder desesperado diante de
mais um conflito nascente: a terceira Intifada, a ameaçar a própria existência
de Israel. Até quarta-feira 21, dez israelenses haviam sido mortos por
palestinos, a maioria deles esfaqueada.
Por sua vez, 46 palestinos foram
abatidos por armas de vigilantes israelenses e de soldados das Forças da Defesa
Israelense (IDF). Vinte e cinco dos palestinos tombados teriam atacado um
israelense, o resto morreu em conflitos contra o Exército, segundo a versão
israelense.
Nunca o comércio de armas esteve
tão próspero em Israel, informa a rede de televisão France 24. Por sua vez, em
entrevista telefônica a CartaCapital, o professor de Ciências Políticas Magid
Shihade, da Universidade da Califórnia, diz: “Essa é a primeira Intifada
espontânea, isto é, não ligada a partidos ou a movimentos políticos”.
Mais: “Todos os palestinos estão,
pela primeira vez, unidos: aqueles da Cisjordânia, de Gaza, de Jerusalém Leste
e da Galileia (palestinos com passaporte israelense desde a formação de Israel,
em 1948)”. Em suma, por não ser liderado por uma legenda, o protesto palestino,
espontâneo, representa uma ameaça maior: os jovens não querem negociar. “Estão
cansados de agressões e expansões territoriais” por parte de Israel em
território palestino. As duas anteriores Intifadas aconteceram entre 1987-1993
e 2000-2005.
Na quinta-feira 22, John Kerry, o
secretário de Estado americano, voava para Berlim, onde conversaria com
Netanyahu sobre como “acabar com a recente onda de violência”. Mais: os EUA
ofereceriam apoio “para restaurar a calma o mais rapidamente possível”. Kerry
certamente bem representa os EUA e Obama, eleito com a ajuda do lobby judeu, e,
antes ainda de viajar para Berlim, deu um puxão de orelhas no presidente palestino
Mahmoud Abbas.
Hitler
Até apologistas do Holocausto têm
dificuldade em aderir à tese de Bibi / Tobias Schwarz/AFPW
Em conversa telefônica,
aconselhou Abbas a evitar o uso de “retórica inflamatória”. Só poderia incitar
ainda mais violência. De fato, no dia anterior, em encontro na capital alemã
com Angela Merkel, Bibi, como é conhecido Netanyahu, havia repetido: Abbas
incita a violência de jovens palestinos armados com facas.
O quadro é mais complexo do que
aquele pintado pelo premier israelense. A começar pela reconstrução da história
do Holocausto. Dias antes do encontro com Merkel, na terça-feira 20, Netanyahu
defendeu a seguinte tese no Congresso Mundial Sionista, em Jerusalém: Adolf
Hitler foi convencido a respeito da “Solução Final” pelo mufti de Jerusalém, o
haj Mohamad Amin al-Husseini. Hitler e Al-Husseini se encontraram, de fato, em
novembro de 1941.
Conforme versão romanesca de
Bibi, “Hitler não queria exterminar os judeus, queria expeli-los”. Al-Husseini
teria então dito a Hitler: “Mas, se você os expelir, eles virão para a
Palestina”. A vocação de Bibi é mesmo a ficção e seu talento imaginário alcança
o clímax quando conta que o ditador nazista pergunta ao mufti: “O que devo
fazer?” Al-Husseini: “Queime-os”. O defensor da raça ariana deu ouvidos ao
árabe, Bibi garante, impassível.
Até apologistas do Holocausto têm
dificuldade em aderir à tese de Bibi. De saída, a chamada “Solução Final” já
havia começado na Lituânia, em julho de 1941. Dois meses mais tarde, 33 mil
judeus foram mortos, em 48 horas, pelos nazistas. A carnificina na Ucrânia
deu-se nos subúrbios de Kiev. O encontro entre Hitler e Al-Husseini não teve
impacto algum no Holocausto. Sim, o mufti era antissemita e não queria perder
seu território. Mas a “Solução Final” foi uma estratégia pensada e implementada
por Hitler.
A ficção de Netanyahu não
convenceu sequer importantes figuras de Israel. O presidente Reuven Rivlin foi
categórico: “Foi Hitler quem causou um sofrimento infinito em nossa nação”. Já
o líder da oposição, Isaac Herzog, escreveu na sua página do Facebook: “Esta é
uma distorção histórica perigosa, e exijo de Netanyahu que a corrija
imediatamente, pois minimiza o Holocausto, o nazismo, e o papel de Hitler no
terrível desastre de nosso povo”.
Ademais, acrescentou, Netanyahu,
filho de historiador, não pode derrapar de tal forma. Mas Herzog não explicitou
os dois objetivos de Bibi. Primeiro: criar novos amigos, os alemães, aliviados,
nos sonhos do premier, por não terem sido os únicos responsáveis pelo
Holocausto. Segundo objetivo: fomentar a islamofobia na Europa.
Netanyahu perde sua destreza
política. Em uma coletiva à imprensa ao lado de Bibi, Merkel disse em Berlim,
na terça: “Somos responsáveis pelo Holocausto”. O porta-voz de Merkel havia
dito antes, em outra coletiva: “Falo em nome do governo alemão, e posso dizer
que todos nós, alemães, conhecemos precisamente a história do fanatismo racista
e assassino dos nacional-socialistas, que levou à ruptura com a civilização e à
Shoah”.
Seria o caso de especular se os israelenses
não estariam em busca de uma narrativa islamofóbica, como aquela antijudaica na
Segunda Guerra Mundial. Faria sentido após os ataques de 11 de setembro de
2001.
O próprio presidente de Israel diz: o vilão monstruoso é mesmo Hitler / Michal Cizek/AFP
A guerra entre Israel e a Palestina desenrola-se também nas redes sociais. O ministério israelense do Exterior postou um vídeo de 24 segundos intitulado: “O que o Terror Palestino e o Estado Islâmico têm em comum?” No vídeo, exibem-se somente as atrocidades cometidas pelos palestinos.
Magid Shihade retruca: “A propaganda israelense quer enquadrar a questão palestina em um conflito religioso, e não como o resultado de um regime baseado em um colonialismo político que não permite a coexistência igualitária entre árabes e israelenses”.
Em uma coluna do diário israelense Haaretz, Amira Hass concorda com Shihade. A mídia e as redes sociais criaram, em Israel, um inimigo: o “terrorista árabe”. Todos terroristas. A repórter da France 24 diz: “Israelenses não confiam em árabes, e vice-versa”.
Vigilantes israelenses armados com armas de fogo contra palestinos com facas. Os palestinos precisam ser “neutralizados”. Mas quais são as provas de que o palestino morto era um terrorista? E como comparar um “terrorista palestino” a um
jihadista do Estado Islâmico?
jihadista do Estado Islâmico?
O professor Shihade explica: “Na verdade, quem apoia o EI é Israel”. O motivo? Entre outros, o EI luta contra o Hezbollah, o movimento libanês xiita a apoiar o presidente sírio Bashar el-Assad (com o apoio do Irã).
Sem contar outros movimentos radicais perigosos para Tel-Aviv. Viva a hipocrisia, diz Shihade: “O título do vídeo do ministério israelence deveria ser: ‘O que o EI e Israel têm em comum?” Shihade conclui: “A terceira Intifada já começou”.
O artigo original poderá ser lido por meio desse link aqui:
http://www.cartacapital.com.br/revista/873/netanyahu-o-romancista-1840.html
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Alexandros Meimaridis
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