Esse artigo é parte da série "Parábolas de Jesus" e é muito
recomendável que o leitor procure conhecer todos os aspectos das verdades
contidas nessa série, com aplicações para os nossos dias. No final do artigo
você encontrará links para os outros artigos dessa série.
A Parábola da Ovelha perdida
Mateus 18:12—14
12 Que vos parece? Se
um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos
montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou?
13 E, se porventura a
encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por causa desta do que
pelas noventa e nove que não se extraviaram.
14 Assim, pois, não é
da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos.
Lucas 15:4—7
4 Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo
cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai
em busca da que se perdeu, até encontrá-la?
5 Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de
júbilo.
6 E, indo para casa, reúne os amigos e
vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha
perdida.
7 Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no
céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não
necessitam de arrependimento.
I. O Tipo da Parábola
Tanto na versão de Mateus quanto
na de Lucas estamos lidando com o que é chamado de “parábola interrogativa”. Em
Mateus a questão introdutória — “Que vos parece” — é seguida por uma série de
circunstâncias hipotéticas, as quais são seguidas pela questão que envolve a
parábola — “não deixará ele”.
A condição que descreve o ato de
encontrar — verso 18:13 “E, se porventura a encontra” — é seguida pela
afirmação das consequências e uma explicação moral ou uma nimshal.
Já em Lucas temos uma parábola do
tipo “Qual, dentre vós?, o que literalmente significa “qual é o homem dentre
vós?”, seguido pela afirmação das consequências e pela moral da história.
Alguns intérpretes costumam classificar essas narrativas como similitudes[1],
enquanto outros defendem a ideia que se tratava, originalmente, de uma parábola
que fazia referência a algum fato real do conhecimento de todos.
Todavia, como não existe nenhuma
trama central fica difícil definirmos essa história, tecnicamente, como uma
parábola. Na melhor das hipóteses estamos diante de uma similitude implícita. É
como se Jesus estivesse querendo dizer: “minha associação com os pecadores é
semelhante à circunstância de um pastor que perdeu uma ovelha e que se alegra com
seus amigos depois de havê-la encontrado”. Entretanto, diante do interesse
maior da clareza, o melhor é rotular nosso texto com sua forma mais simples,
quer dizer, como uma parábola interrogativa.
As parábolas interrogativas não
estão muito distantes das parábolas judiciais, pois elas estabelecem uma
situação hipotética, forçam o ouvinte ou leitor a responder a uma questão e
obrigam o indivíduo a transferir a resposta dada para outra situação. No caso
das parábolas judiciais as mesmas têm ainda um elemento acusatório adicional.
II. Uma Comparação
Entre As Narrativas de Mateus e Lucas
Mateus e Lucas possuem,
relativamente, pouco em comum na narrativa dessa parábola. Além disso, as duas
narrativas nos mostram um fenômeno surpreendente na relação existente entre os
chamados “Evangelhos Sinóticos”. Como é de se esperar, uma tradição tripla de
qualquer material — Mateus, Marcos e Lucas — mantém uma relação de proximidade
muito grande. Mas numa tradição dupla — Mateus e Marcos, Marcos e Lucas ou
Mateus e Lucas —, essa proximidade é ainda maior.
A. Exemplos do que estamos
dizendo podem ser vistos nas seguintes parábolas —
1. A parábola dos dois
construtores — Mateus 7:24 e Lucas 6:47—49.
2. A parábola do Fermento —
Mateus 13;33 e Lucas 13:20—21.
3. A parábola do servo fiel e do
servo infiel — Mateus 24:45—51 e Lucas 12:41—48.
B. Por outro lado, também em
tradições duplas, as parábolas são tão distintas que devemos perguntar se
existe mesmo alguma relação entre as mesmas. Exemplos do que estamos dizendo
podem ser vistos nas seguintes parábolas —
1. A Parábola das Bodas — Mateus
22:1—15 e Lucas 14:15—24.
2. A parábola dos Talentos —
Mateus 25;14—30 e Lucas 19:11—27
As duas narrativas da Ovelha
Perdida se encaixam nessa segunda categoria mencionada. Mateus usa 65 palavras
e Lucas 89 palavras. Dessas palavras todas, apenas 14 são idênticas nas duas
narrativas. Ainda quatro outras palavras são compartilhadas, mas que são
expressadas de forma gramatical diferente. As palavras em comum envolvem os
conceitos básicos como “cem ovelhas”, “uma delas” e “noventa e nove”, mas para
todo o resto, cada evangelista usa sua própria coleção de palavras. Entre as
diferenças mais importantes, nós podemos citar as seguintes:
Mateus
|
Lucas
|
A parábola é contada para os
discípulos de acordo com Mateus 18:1. Ela é parte do discurso eclesiástico de
Mateus e seu objetivo principal são discípulos que se desviam
|
A parábola é contada por Jesus
como uma resposta contra a murmuração dos fariseus e dos escribas porque o
Senhor recebia e participava de refeições com pecadores — Lucas 15:1—2
|
A ovelha se extravia — πλανηθῇ — planethê.
|
A ovelha se perde — ἀπολέσας — apolésas.
|
A palavra para deixar é — ἀφήσει — afései.
|
A palavra para deixar é — καταλείπει —
kataleípei.
|
A palavra para deserto é — τὰ ὄρη — tà ore.
|
A palavra para deserto é — ἐν τῇ ἐρήμῳ — én tê erémo.
|
E, se porventura a encontra
|
até encontrá-la
|
A parábola é mais curta
|
A parábola é mais extensa. O
homem coloca a ovelha sobre seus ombros e se alegra. Quando chega em sua casa
ele chama os amigos para se alegrarem com ele.
|
A conclusão permanece dentro da
própria narrativa da parábola e diz que o homem se alegra mais pela ovelha
perdida que ele voltou a encontrar do que pelas outras 99 ovelhas.
|
A conclusão move-se na direção
do plano teológico e explica que haverá um maior regozijo no céu sobre um
pecador arrependido do que sobre noventa e nove justos que não precisam de
arrependimento.
|
O texto então se move em
direção ao plano teológico concluindo que é contrário à vontade de Deus que
até mesmo um desses pequeninos venha a se perder — ἀπόληται— apóletai.
|
Lucas não tem nada que possa
ser visto como paralelo a essa conclusão.
|
CONTINUA...
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038A — PARÁBOLAS DE JESUS — A PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA — LUCAS 15:8—10 —— PARTE 001
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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