Um seminário teológico REFORMADO na Alemanha nazista
Stephen Nichols
Quando a igreja luterana alemã
apoiou os nazistas em 1933, um seleto grupo de líderes dentro da igreja formou
um movimento de resistência eclesiástica, o qual veio a se chamar de Igreja
Confessante. Eles logo fundaram cinco novos seminários para treinar a próxima
geração de ministros. Aproveitaram um jovem professor de teologia da
Universidade de Berlim para dirigir o seminário recém criado em Zingst e
posteriormente em Finkenwalde.
O modelo predominante para a
educação teológica na Alemanha era amplamente acadêmico e as universidades
dominaram a educação ministerial. Desde o Iluminismo (Aufklarung em alemão) os
pastores alemães tinham digladiado pela respeitabilidade ao lado de médicos e
advogados – profissionais das disciplinas mais “respeitáveis”. Eruditos no
estudo bíblico e teólogos tinham de fazer o mesmo em contraposição aos seus
colegas na academia. Após um punhado de palestras para futuros ministros e
teólogos na Friedrich Wilhelm University, em Berlin, Dietrich Bonhoeffer sentiu
que este tipo de ethos educacional estava errado – e era, por fim, danoso –
para a igreja em geral.
Então, o novo seminário em
Finkenwalde deu a Bonhoeffer uma oportunidade para traçar um curso diferente
para a educação ministerial. Ele focaria sua escola na Escritura, oração e
confissão teológica, e como Herr Direktor, Bonhoeffer poderia sustentar estes
três pilares como achasse por bem. Mas nem todos concordaram. O altaneiro Karl
Barth, por exemplo, protestou, dentre outros líderes na Igreja Confessante.
Muitos estudantes seguiram o exemplo, contrariando as inovações de Bonhoeffer.
Formidável demais para ser demitido, ele se manteve firme, e acabou ganhando
tanto seus alunos como seus críticos.
Infelizmente, a história de
Finkenwalde não acaba com sucesso – pelo menos não como a palavra “sucesso” é
frequentemente definida, com os requisitos métricos de números e proezas. A
maioria dos alunos de Bonhoeffer nunca chegou ao ministério pastoral. Vinte e
sete foram presos. O seminário, como um todo, teve uma vida curta, fechado pela
Gestapo após dois anos apenas.
Dito isto, o que foi realizado
ali durante aqueles dois anos merece nota. Então, vamos considerar os três
pilares de Bonhoeffer para a educação no seminário: Escritura, oração e
confissão teológica.
Construa sobre a
Palavra
Depois de alguns meses em
operação, Bonhoeffer escreveu uma carta para as igrejas mantenedoras explicando
a missão do seminário:
O caráter especial de um
seminário da Igreja Confessante deriva da difícil situação na qual temos sido
colocados devido ao conflito na igreja. A Bíblia constitui o ponto focal de
nosso trabalho. Ela tem se tornado para nós uma vez mais o ponto de partida e o
centro de nosso labor teológico e de toda a nossa ação cristã.1
Que esse foco bíblico era
“especial” mostra porque a igreja luterana alemã murchou sob o governo nazista.
A igreja como um todo há muito havia se afastado de suas amarras bíblicas. Sem
um sólido fundamento bíblico, a igreja simplesmente não possuía os recursos
necessários para se envolver nas questões éticas da década de 1930, a qual, em
seguida, levou tragicamente às atrocidades na década de 1940 e da Segunda
Guerra Mundial.
As palavras de Bonhoeffer também
revelam sua convicção de que a Bíblia deve permanecer como o ponto central na
educação ministerial e na igreja. A Escritura como o ponto focal em Finkenwalde
implicava que os estudantes seriam treinados em hebraico e grego. Eles
receberiam instrução no conteúdo bíblico. “A congregação”, Bonhoeffer disse uma
vez, “é construída unicamente sobre a Palavra de Deus”2. Bonhoeffer exigia que
os alunos praticassem a lectio divina, lendo um Salmo e capítulos do Antigo e
do Novo Testamento a cada dia. Os alunos também tinham de meditar numa passagem
selecionada a cada semana. Ele tinha a intenção de ajudá-los a formar os hábitos
corretos.
Os alunos de Finkenwalde e o
futuro biógrafo de Bonhoeffer, Eberhard Bethge, entenderam a mensagem. Anos
depois, Bethge testificou: “Porque eu sou um pregador da Palavra, não posso
expor as Escrituras a menos que as deixe falar para mim todos os dias. Usarei
indevidamente a Palavra no meu serviço se não me mantiver meditando sobre ela
em oração”.3
A oração faz um pastor
Os cursos de Bonhoeffer sobre
oração usavam a Oração do Senhor [o Pai Nosso] e o Catecismo de Lutero para
instrução. Ele também exigia que os estudantes orassem, como um tipo de dever
de casa. Os críticos o acusaram de que estava sendo legalista; alguém até mesmo
chegou a dizer a ele que o tempo era muito urgente para oração e meditação.
Bonhoeffer respondeu a estas críticas vigorosamente: “Isso ou mostra uma total
falta de compreensão por parte dos jovens teólogos de hoje, ou uma ignorância
blasfema de como a pregação e o ensino vêm à existência”.4 Como Bonhoeffer disse uma vez à sua
congregação em Londres: “Uma congregação que não ora pelo ministério do seu
pastor, não é mais uma congregação. Um pastor que não ora diariamente por sua
congregação, não é mais um pastor”.5
Confissão como
currículo
Por fim, há o terceiro pilar: a
confissão teológica. Como um luterano alemão, o padrão confessional de
Bonhoeffer era a Confissão de Augsburg (1530), contida no Livro de Concórdia
(1580). Da mesma maneira que a Escritura e a oração foram eclipsadas na igreja
luterana, assim também acontecia com a confissão. Como tantas outras denominações
no século 20, a igreja luterana alemã professava sua confissão teológica da
boca para fora, e não mais do que isso.
Não era assim no seminário de
Bonhoeffer. Bethge comenta sobre como a cópia do Livro de Concórdia de
Bonhoeffer estava sublinhada, marcada com notas nas laterais, pontos de
exclamação e interrogações. É evidente que Bonhoeffer lutou com sua confissão e
a levou a sério6. De fato, para Bonhoeffer, a confissão era o currículo da
teologia.
Mas ele não estava apenas
interessado em que seus alunos conhecessem e lutassem com a teologia, pois
também queria que eles a vivessem. A confissão moldaria suas vidas, sua ética,
sua pregação e suas igrejas. “Teologia é a submissão ao conhecimento coerente e
bem ordenado da palavra de Deus”, ele escreveu. “Ela serve à pura proclamação
da palavra na congregação e à edificação da congregação de acordo com a palavra
de Deus”.7
Seminários são para a
igreja
Então, os seminários existem pra
quê? Assim como a teologia que ensinam, eles existem para a igreja. E acerca do
que eles deveriam tratar? Assim como a igreja para quem eles existem, eles
deveriam tratar sobre a Escritura, a oração e a confissão teológica. Além do
mais, estas são as marcas de todos os cristãos em todos os tempos, pois são os
hábitos da vida cristã.
Se você deseja conhecer mais sobre a vida de Dietrich Bonhoeffer recomendamos os dois links abaixo:
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2016/04/voce-sabe-quem-foi-dietrich-bonhoeffer.html
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2016/04/voce-sabe-quem-foi-dietrich-bonhoeffer_10.html
Se você deseja conhecer mais sobre a vida de Dietrich Bonhoeffer recomendamos os dois links abaixo:
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2016/04/voce-sabe-quem-foi-dietrich-bonhoeffer.html
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2016/04/voce-sabe-quem-foi-dietrich-bonhoeffer_10.html
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a
todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook
através do seguinte link:
http://www.facebook.com/pages/O-Grande-Diálogo/193483684110775
Desde já
agradecemos a todos.
______________________________
* Texto original disponível em:
http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2013/08/08/seminary-in-nazi-germany/.
Tradução de Nelson Ávila, bacharelando em teologia pela Escola Teológica
Charles Spurgeon, em Fortaleza-CE.
1
Dietrich Bonhoeffer, "A Greeting from the Finkenwalde
Seminary," Oct. 1935, The Way to Freedom (New York: Harper & Row,
1966), 35.
2
Dietrich Bonhoeffer, "Theology and the Congregation," Dietrich
Bonhoeffer Works, Vol 16: 1940-1945 (Minneapolis: Fortress Press, 2006), 494.
3 Ibid.,
57.
4 Cited
in Eberhard Bethge, Dietrich Bonhoeffer: A Biography (Minneapolis: Fortress
Press, 2000), 465.
5
Dietrich Bonhoeffer, Oct. 22, 1933, in Dietrich Bonhoeffer Works, Vol
13: London, 1933-1935 (Minneapolis: Fortress Press, 2007), 325.
6
Bethge, Dietrich Bonhoeffer, 449.
7
Bonhoffer, DBW, Vol. 16, 494.
Nenhum comentário:
Postar um comentário