Culto na Câmara dos Deputados com
a presença de Eduardo Cunha
O artigo abaixo foi publicado no
site do DCM — Diário do Centro do Mundo — por seu editor adjunto, Kiko
Nogueira. O artigo é da autoria do bispo da tradição episcopal Hermes Fernandes,
que expôs a mentira e as falácias de Marco Feliciano acerca do continente
africano.
O
que esperar de um governo fruto de um golpe, sustentado por porta vozes de
Deus?
Kiko Nogueira
Hermes Carvalho Fernandes é
teólogo com doutorado em Ciências da Religião, presidente da REINA (Rede
Internacional de Amigos) e bispo sagrado na tradição episcopal. Recentemente,
ficou conhecido com um vídeo em que expõe a ignorância de Marco Feliciano sobre
a África, ignorância admitida pelo próprio Marco Feliciano.
O vídeo poderá ser visto por meio
desse link aqui:
Ele escreveu esse texto para o
DCM, explicando a alegria da bancada evangélica com um eventual governo Temer.
É vergonhosa, para não dizer
desconcertante, a maneira como os membros da chamada bancada evangélica têm se
aproximado do protagonista de uma das mais escandalosas tentativas de golpe da
história da república. Jornais noticiaram que Michel Temer abriu espaço em sua
disputadíssima agenda para receber no Palácio do Jaburu alguns dos mais
proeminentes líderes evangélicos para abençoá-lo como faziam os profetas aos
reis no Antigo Testamento.
Dentre eles, o controverso pastor
Silas Malafaia e o deputado e também pastor Marco Feliciano. Apesar de gozarem
de uma ampla exposição por parte da mídia, ambos estão longe de serem
unanimidades entre os evangélicos, não tanto por sua postura reacionária, que,
diga-se de passagem, coincide com a da maioria dos evangélicos e católicos no
país, mas, sobretudo, por sua conduta agressiva e antiética na comercialização
da fé. Vale ressaltar que boa parte da bancada evangélica é formada por adeptos
da famigerada teologia da prosperidade. O discurso moralista serve tão somente
para angariar votos.
Sem embargo, a bancada evangélica
representa o que há de mais retrógrado no cenário político atual. Seus
componentes (com raríssimas exceções) foram eleitos para defender
exclusivamente os interesses de suas respectivas agremiações religiosas. São
bravos em lutar por concessões de rádio e TV, por privilégios para seus
líderes, isenções tributárias para as igrejas e captação de verbas para
realização de eventos. Entre estes, não há preocupação com os desassistidos,
com as minorias, com a justiça social. Então, como poderiam captar votos sem oferecer
ao povo alguma promessa concreta?
A resposta é relativamente
simples. Descobriram na moralidade cristã a melhor artimanha para enredar os
incautos e se elegerem sem muito esforço.
Elaboraram um discurso que coloca a família tradicional sob um ataque
acirrado de quem supostamente pretende aniquilá-la. Quem seria o Golias da vez
contra o qual o pequeno Davi teria que lutar? A ditadura gayzista! Soa cômico,
não fosse trágico. Como alguém em sã consciência poderia dar ouvidos a um
discurso tão raso e odioso!
A partir daí, começaram a criar
factoides, mentiras deslavadas. Espalharam que havia um projeto de lei que
obrigaria pastores a casarem homossexuais, e os que se negassem a fazê-lo
sairiam algemados de seus cultos. Depois de derrubada a PL 122, trataram de
procurar outro inimigo para continuar sua luta hercúlea pela moral e pelos bons
costumes, e assim, garantir seu capital político. A bola da vez é o que eles
apelidaram de “ideologia de gênero”, política engendrada no inferno e
disseminada pelos comunistas do Partido das Trevas em conluio com o Foro de São
Paulo. A partir daí, passaram a assustar aos fiéis afirmando que seus filhos
seriam iniciados sexualmente nas escolas. Que o estado incentivaria a prática
da pedofilia e a operação de mudança de sexo entre crianças. Que no afã de se
instaurar um processo de engenharia social visando coibir o crescimento
populacional, as escolas se transformariam em verdadeiras fábricas de
homossexuais.
Risível, não? Mas preocupante.
Muita gente simples que compõe a maior parte da comunidade evangélica no país
comprou a ideia. Seguindo a cartilha de Joseph Goebbels, ministro de propaganda
de Hitler, líderes obstinados pelo poder lançaram suas fichas na máxima de que
uma mentira contada muitas vezes acabe se tornando verdade. Quão distantes se
tornaram d’Aquele carpinteiro cuja voz ecoava pelas ruas da Galileia:
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!
Seu Messias é Bolsonaro, seu
profeta é Malafaia, seu mestre é Olavo de Carvalho e ainda por cima, considera
Cunha um gênio. O que mais esperar do mais proeminente representante da bancada
evangélica? Refiro-me a Marco Feliciano. Enquanto o Messias reacionário é
preparado para 2018, Feliciano, Malafaia e cia. ungem Michel Temer como seu
predecessor, uma espécie de João Batista.
O que podemos esperar de um
governo fruto de uma conspiração golpista apoiado por gente que se apresenta
como porta-voz de Deus, mas arrota enxofre?
Bem fez Napoleão Bonaparte ao se
recusar ser coroado pelo Papa. Todavia, a história nos ensina que o poder
sempre busca legitimação na religião. Napoleão sabia disso, e chegou a afirmar
que a religião seria um ótimo tranquilizante para pessoas comuns. O livro de
Apocalipse nos apresenta a figura de duas bestas, uma representando o poder político,
e a outra o religioso, que numa relação incestuosa ameaça a civilização. A
besta que representa o poder religioso se apresenta como tendo a aparência de
cordeiro, mas cuja voz é de dragão (Apocalipse 13:11).
O mesmo Silas que hoje faz
campanha ostensiva para derrubar um governo democraticamente eleito, não faz
muito tempo, surpreendeu seus telespectadores ao agradecer à presidente Dilma
pela sanção da Medida Provisória (MP) 668 que, não só ampliou a isenção
tributária de igrejas, incluindo as comissões pagas a pastores como ajuda de
custo, como também livrou muitas denominações de multas milionárias.
Silas Malafaia e o missionário R.
R. Soares foram dois dos principais beneficiários da MP, graças à atuação de
ninguém menos que Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Silas se livrou de uma multa de R$
1,5 milhão, enquanto o presidente da Igreja Internacional da Graça se livrou de
uma multa de R$ 220 milhões. Dentre os beneficiários, estariam Robson
Rodovalho, bispo da Sara Nossa Terra e Mário de Oliveira, presidente da Igreja
do Evangelho Quadrangular.
Se estivesse isolada, talvez a
bancada evangélica não fizesse tanto estrago. Mas ao unir-se com as bancadas
rural e armamentista, tornaram-se num poderoso bloco conhecido como BBB (boi,
bala e bíblia) capaz de impor sua agenda à nação.
Como seguidor de Cristo, devo
salientar que o Nazareno passa longe de tudo isso. Duvido muito que Ele
compactue com qualquer tentativa de golpe, e muito menos com uma agenda
comprometida com a manutenção do status quo. O Cristo que vejo emergir das
páginas do Novo Testamento é afeito à causa do excluído, do marginalizado, do
penalizado por políticas públicas cruéis, do condenado pelo moralismo cego e
hipócrita. Da primeira vez que aqui esteve, Ele frustrou a expectativa de quem
apostava de que Ele protagonizasse um golpe que destituísse Herodes,
substituindo-o por um legítimo descendente de Davi.
Aos gritos de “Hosanas!”, a
multidão que o recebeu à porta da cidade esperava que marchasse em direção ao
palácio, porém, Seus planos eram outros. Em vez de ceder à pressão popular, a
Sua decisão naquele dia era de que não teria golpe. Herodes podia respirar
tranquilo. Quem tinha o que temer eram os mercadores do templo, os exploradores
da fé. Munido de chicote, Jesus invadiu o recinto sagrado e os expulsou sem dó,
nem piedade.
Engana-se quem pensa que o reino
de Deus pregado por Jesus possa ser confundido com agendas políticas. “Meu
reino não é deste mundo”, teria dito a Pilatos. Portanto, mantenhamos cada
coisa em seu devido lugar. Que o Estado siga laico. E a religião assuma seu
papel de inspirar os homens em sua luta pelo bom, belo e justo. Que os líderes
religiosos se espelhem em Jesus. Que preguem o amor em vez de destilar o ódio.
Que desistam de sua fome pelo poder. Que apontem menos o dedo e estendam mais
as mãos. Que sejam pelos oprimidos, denunciando os poderosos e suas astúcias.
E quanto à sua aproximação dos
que conspiram pela queda do atual governo, sugiro que leiam o Salmo de número
84, do verso 2 ao verso 4: “Até quando defendereis os injustos, e tomareis
partido ao lado dos ímpios? Defendei a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos
do pobre e do oprimido. Libertai o fraco e o necessitado; tirai-o das garras
dos perversos.”
Hermes Fernandes
O artigo original poder ser visto
por meio desse link aqui:
Que Deus tenha misericórdia do
Brasil.
Alexandros Meimaridis
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Desde já agradecemos a todos.,
Irmão Alex,
ResponderExcluirConcordo ipsis litteris com o que está escrito no texto sobre os lideres evangélicos citados. E ainda está dito pouco sobre a canalhice desses inescrupulosos senhores.
Agora, dizer que esse processo promovido contra um governo que tornou a prática de crimes diversos, como a tônica para implementar seu projeto de poder de "golpe", aí é um despautério só.
Despautério, mas não incompreensível. Pois, só acredita em "golpe", alguém que continua a apoiar um governo com o histórico de crimes já comprovados desde 2005 com o mensalão, e mais recentemente com o "petrolão", cujos efeitos nefastos já estão claros com a inequívoca destruição de um dos maiores orgulhos da nação brasileira, a PETROBRAS.
Além do mais, os principais atores desse processo nominados de "golpistas" fizeram parte desse mesmo governo até poucos meses. Ficando claro que se trata de mera baldeação de governo, não obstante a comprovação de crimes que comprovam a licitude do processo de impeachment em curso.
Em tempo:
ExcluirEstou ciente de que o texto é de Hermes Carvalho Fernandes.