quarta-feira, 4 de maio de 2016

TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 010 — O LUGAR DO CANON NA TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO



Esse é um estudo especial que irá abordar temas de grande interesse, tais como: 1. Deus 2. Os seres humanos e o mundo criado 3. Jesus e Sua missão como o CRISTO. 4. O Espírito Santo. 5. A vida cristã. 6. A Igreja. 7. O futuro e etc. Esperamos que a mesma possa ajudar todos os nossos leitores a conhecerem melhor o que o Novo Testamento ensina acerca de tudo o que nos é importante.

INTRODUÇÃO GERAL

O LUGAR DO CANON DA TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

Nos dois estudos anteriores nós já tivemos a oportunidade de discutir alguns aspectos de canonicidade. Naquela oportunidade mencionamos que muitos estudiosos não aceitam restringir a pesquisa referente a Jesus Cristo apenas aos textos contidos no Novo Testamento, mas desejam expandir a pesquisa para incluir, em pé de igualdade, toda a literatura não canônica. Como alega um defensor dessa tese, nenhum escrito do Novo testamento foi produzido com uma etiqueta de canônico. Partindo dessa premissa, esses estudiosos alegam que qualquer pessoa que aceita apenas os livros constantes do Novo Testamento está, na verdade, se submetendo a opinião dos pais da igreja que viveram entre os séculos II até IV da Era cristã. Mas as coisas não podem ser tão simples nem tão diretas assim, Tal afirmação é, na realidade, uma representação equivocada dos fatos.

É fato que o Canon do Novo Testamento foi reconhecido e aceito por bispos e teólogos do período mencionado acima, mas esse processo não teve início com eles. Nós podemos afirmar que o conceito da Teologia do Novo Testamento exige o reconhecimento da existência duma coleção literária de modo especial e preferencial. Adolf Schlatter disse o seguinte a esse respeito: “Ao canonizar certo grupo de manuscritos, as gerações que seguiram os apóstolos expressar, com clareza, o exato lugar de onde eles encontraram a palavra por meio da qual a igreja surgiu e também de onde recebe a seiva vital para sua existência através de todas as épocas”[1]. Desse modo é apenas correto entendermos que a Teologia do Novo Testamento encontra-se firmemente alicerçada num conjunto literário aceito como inspirado.

Uma segunda questão que precisamos abordar é se a expressão um Canon dentro do Canon é correta e qual é o efeito da mesma para o estudo da Teologia do Novo Testamento? Em outras palavras, é possível um intérprete adotar somente parte do material contido no Novo Testamento ou ele está obrigado a utilizar todo o material existente nos vinte livros que compõem o Novo Testamento? A ideia do Canon dentro do Canon foi introduzida por E. Käsemann que foi forte defensor da mesma[2]. Ainda assim essa ideia não era completamente nova. Foi Martinho Lutero quem abriu essa estrada com sua argumentação que existiam livros no Novo Testamento que possuíam valor absoluto que era maior do que outros livros. Lutero considerava as epístolas aos Romanos e aos Gálatas superiores à epístola de Tiago, por exemplo. Para Lutero essa última era uma epístola de palha. Mesmo assim há estudiosos que negam que Lutero defendia a ideia de um Canon dentro Canon, como acontece com N. B. Stonehouse. Por outro lado, Rudolf Bultmann em sua Teologia do Novo Testamento[3] praticamente adota uma visão limitada do Canon ao se concentrar em Paulo e João. Já Werner Kümmel em sua Síntese Teológica do Novo Testamento[4] repete Bultmman, mas aceita o material referente aos ensinamentos de Jesus. Em todos esses casos não é difícil perceber que os limites da Teologia do Novo Testamento são estabelecidos não pelo próprio Novo Testamento, mas pelos seus intérpretes. Mas seria esse um procedimento legítimo?

Caso aceitemos uma função meramente descritiva atribuída à Teologia do Novo Testamento, essa última questão é irrelevante se algumas partes menores do Novo Testamento fossem suprimidas. Mas se existe qualquer sentido por meio do qual os processos de pensamento do Novo Testamento possam ser considerados como uma força normativas, então o intérprete não está autorizado a escolher o material que deseja utilizar e rejeitar o restante, como base para seu trabalho. Tal abordagem sempre estará sujeita a um severo escrutínio.

Outro aspecto que vale a pena ser levando nesse contexto é a ideia defendida por James D. G. Dunn[5] em seu livro acerca da unidade e da diversidade que encontramos no Novo Testamento. Para Dunn a própria igreja criou diversos Canons dentro do Canon ao adotar determinadas porções em sua atividades, especialmente aquelas que estão relacionadas a lecionários[6]. Mas devemos deixar claro que a existência de lecionários não pode ser usada como base para se determinar o escopo da Teologia do Novo Testamento. Sempre que uma denominação enfatiza mais uma parte das Escrituras do que outras é função primordial da Teologia do Novo Testamento oferecer o corretivo necessário. Nossa preocupação primária deve estar centrada em determinar que materiais escritos oferecem uma base sólida para nossos estudos e não podemos aceitar nenhuma abordagem que dependa duma abordagem seletiva dos livros do Novo Testamento.

Essa perspectiva deve também ser aplicada contra aqueles que não aceitam que Efésios, Colossenses e as Epístolas Pastorais sejam material originalmente produzido pelo apóstolo Paulo. Não é possível fazer Teologia do Novo Testamento quando tratamos o material paulino desse modo. Nenhuma Teologia do Novo Testamento terá uma base sólida se for edificada sobre a areia movediça da não aceitação do Canon. Nós aceitamos que todas as epístolas atribuídas a Paulo no Novo Testamento são da lavra do apóstolo dos gentios.

Mais adiante iremos discutir a questão pertinente à unidade do Novo Testamento. Por hora é suficiente afirmar que unidade no Novo Testamento representa a ideia do Canon. O Novo Testamento é uma coleção de livros autoritativos e, essa verdade, deve ser mantida com a maior clareza possível, para o bem tanto do estudioso como dos seus leitores. Com isso não estamos descartando a possibilidade de diversidade, pois reconhecemos que tal diversidade está bem presente no Novo Testamento. Mas essa diversidade dever ser sempre entendida como significando o seguinte: temos no Novo Testamento formas diversa por meio das quais a unidade do mesmo se manifesta. Não podemos aceitar nenhuma ideia de que o Novo testamento seja uma coleção fragmentária como defende Ernest Käsemann. Quando aceitamos ideias como essas é bem evidente que a Teologia do Novo Testamento resultante sempre será defeituosa. Dessa forma, a melhor coisa que alguém que pretende escrever ou estudar uma Teologia do Novo Testamento tenha bem sólida a ideia que todo o material que encontramos no Novo Testamento, sem exceção, é parte do Canon.

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Que Deus abençoe a todos

Alexandros Meimaridis

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[1] Schlatter, A. Neutestamentliche Theologie. Stuggart, Calwer Verlag, 1922—1923.
[2] Käsemann, E. New Testament Questions of Today. SCM Press, London, 1969.
[3] Bultmann, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. Academia Cristã, Santo Andre, 2008.
[4] Kümmel, Eernest Georg. Síntese Teológica do Novo Testamento. Co-edição da Editora Teológica e Paulus, São Paulo, 2003.
[5] Dunn, James D. G. Unity and Diversity in The New Testament – Na Inquiry Into The Character of Earliest Christianity. The Westminster Press, Philadelphia, 1980.
[6] Lecionários = Compilações de textos sagrados para leitura devocional em cultos ou cerimônias. Geralmente cobrem um período de três anos. 

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