sábado, 24 de novembro de 2012

INTRODUÇÃO AO PENTATEUCO - PARTE 1




Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo 

Capítulo 4 – Introdução ao Pentateuco

O Nascimento do Povo de Deus

שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד
                    Ehad   Adonai  Eloheinu   Adonai   Israel     Shemá
              
                   Um é  O SENHOR Nosso Deus O SENHOR Israel Ouve


Deuteronômio 6:4
I. O que é o Pentateuco?

O termo πεντάτευχος  pentáteucos — Pentateuco refere-se aos primeiros cinco livros do da Bíblia. Esta palavra é uma combinação de - πέντε  pénte - cinco e τευχος — teuchos - rolos. Há evidências bíblicas que confirmam a idéia que os livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio formam juntos uma unidade literária. Quando lemos no Antigo Testamento expressões tais como:

·       Livro da lei de Moisés – ver 2 Reis 14:6. 

·       Livro da lei” - ver Josué 1:8.

elas, provavelmente, referem-se ao Pentateuco. O Novo Testamento, por sua vez, refere-se a esses livros como “Lei”, na expressão “A lei e os profetas” – ver Lucas 16:16. Portanto, não devemos, necessariamente, ver o Pentateuco como cinco livros separados e sim como um conjunto. É bem possível que o tamanho limitado dos rolos antigos tenha tornado necessária a divisão em um formato com cinco livros.

No Pentateuco nós podemos encontrar a história que vai desde o começo dos tempos — desde antes da Criação — até quando Israel conquista a terra prometida, sem incluir, porém, esse último acontecimento que está descrito no Livro de Josué. Essa terra prometida tornar-se-ia, mais tarde, a terra de Israel. Excluindo, por hora, os capítulos de Gênesis 1—11, a história é basicamente sobre uma família que cresceu e, pela graça de Deus, transformou-se em Seu povo. Deus salvou essa nação da agonia da escravidão no Egito — ver Deuteronômio 4:20 onde encontramos a expressão “fornalha de ferro do Egito” —  de modo dramático e miraculoso e assumiu um compromisso de intimidade com Seu povo. Depois de muitos anos de peregrinação pelos desertos da região — por culpa do próprio povo que sofria de uma incredulidade inacreditável, os israelitas chegaram, finalmente, à terra que Deus havia prometido a seus ancestrais. Por todos estes motivos a história que temos descrita de Gênesis a Deuteronômio constitui-se em uma narrativa que possui um começo bem estabelecido, uma trama principal complexa associada a muitas outras tramas secundárias e terciárias, e um final bem decisivo.

Os Livros de Moisés

O termo judaico para esses livros é a palavra hebraica תּוֹרָה  toráh — instrução ou ensino. Apesar de normalmente traduzirmos essa palavra como “lei”, ela tem um significado muito maior. Como se origina da palavra “ensinar” pode e deve ser melhor compreendida como “instrução”. “Torá”, portanto, é um nome apropriado para esses cinco primeiros livros da Bíblia, pois eles contêm instruções precisas acerca de como se relacionar tanto com o Deus vivo e verdadeiro bem como com os outros seres humanos. Os cinco livros de Pentateuco nos oferecem uma compreensão fundamental para todo o resto da Bíblia.

II. Do que trata o Pentateuco?

O Pentateuco narra, basicamente, a história dos descendentes de Abrão, o povo de Deus na Antiga Aliança, a nação de Israel. Ele nos explica como surgiu esta nação, como Deus a salvou da extinção e as lutas de seu relacionamento com Deus, marcadas por uma constante desobediência aos Seus Mandamentos. Mas o Pentateuco não pretende ser simplesmente uma “história” de Israel. Nele nós vamos encontrar muitos dados que são inesperados para a história de uma nação, bem como a omissão de certos detalhes que, de um modo geral, seriam considerados historicamente pertinentes. Tudo isto acaba por transformar o Pentateuco em um documento singular entre os documentos da Antiguidade.

Além do mais, para nós que somos crentes, o Pentateuco não é só um documento que tem como finalidade específica nos oferecer apenas informações importantes e verdadeiras. Ele foi também escrito com o objetivo de fortalecer a nossa fé. A principio, ele foi elaborado para encorajar os israelitas a acreditar e confiar em Deus por causa da Aliança e do relacionamento de fidelidade entre Deus e os ancestrais desse povo. Assim, sem ter a intenção de apresentar uma completa “história de Israel”, o Pentateuco acaba por colocar as ações de Deus e de Israel dentro da História. Por mais de três milênios, aqueles que creem encontraram importantes e transformadoras verdades históricas, religiosas e teológicas nesses livros. Os que não creem são sistematicamente surpreendidos com a historicidade dos mesmos, como pode ser facilmente comprovado pelas constantes descobertas arqueológicas.


A história dos começos

A história se inicia com um livro sobre “os começos”. “Gênesis” vem de uma palavra grega e significa “origens”. Os primeiros onze capítulos de Gênesis descrevem o começo do universo, da humanidade, do pecado e do castigo. Esses capítulos de abertura são cruciais para a compreensão do restante da Bíblia porque revelam a natureza de Deus, o papel do universo que ele criou e o posicionamento da humanidade dentro desse universo.

Acima de tudo, Gênesis 1—11 apresenta um problema. Deus criou o universo que foi avaliado como sendo “bom” — aceitável a Deus — em cada fase de sua criação. Mas a humanidade arruinou o que ele havia criado. Depois que Adão e Eva trouxeram o pecado para o mundo — ver Gênesis 3 — suas consequências tornaram-se óbvias de imediato. Os efeitos do pecado ficaram evidentes em todos os aspectos da criação de Deus e tornaram-se progressivamente piores. Depois que a humanidade resistiu a outras tentativas de eliminar a onda de maldade, Deus escolheu um único homem e sua família como solução para a terrível situação então existente. Este homem foi Noé.

Gênesis 12—50 conta a história de Abraão e sua família em sua jornada de fé. Sua história trata de valores perenes, pois eles responderam a Deus com fidelidade. O texto apresenta cada personagem de forma honesta, sem tentar esconder suas falhas. Gênesis 12—50 nos mostra que essas pessoas criam em Deus e ele usou a fé dessas pessoas como solução para o problema do pecado no mundo, ou melhor, como o começo da solução. Assim, o primeiro livro da Bíblia nos fala dos primórdios do mundo e do povo de Deus. Gênesis descreve o começo de tudo, exceto de Deus.

Na conclusão de Gênesis, Deus livrou seu povo da fome de forma miraculosa e eles estão vivendo pacificamente no Egito. Mas muitos anos depois, os egípcios oprimiram toda a população israelita e os forçaram à escravidão. Da mesma forma que Gênesis, o livro de Êxodo começa com um problema. O povo de Deus está sofrendo sob o domínio egípcio e seu plano de usar esse povo como solução para o problema do pecado parece impossível. Mas assim como antes, Deus escolheu lidar com o problema chamando uns poucos indivíduos que eram fiéis para servi-lo incondicionalmente.

 
Israel no Egito

Êxodo relata a preparação e o chamado de Moisés, bem como seu papel de liderança na saída do povo do Egito — a expressão grega para “Êxodo” significa “saída ou partida”. Esse livramento miraculoso do povo de Deus é um acontecimento formativo na história de Israel e o melhor exemplo do poder e da graça de Deus. Assim sendo, o êxodo é no Antigo Testamento o equivalente à cruz no Novo Testamento. O livro também descreve o novo relacionamento de comprometimento entre Deus e o seu povo — uma aliança — capítulos 19—40.

O Sacerdócio Levítico

O terceiro livro do Pentateuco é Levítico. Esse livro parece interromper o fluxo do pensamento histórico e dá a muitos leitores modernos a impressão de ser estranho. Mas Levítico — relacionado aos filhos de “Levi”, ou sacerdotes e levitas — é indispensável para a mensagem geral do Pentateuco. Ele conclama o povo de Deus à pureza ritual e moral. Em Êxodo, Deus libertou Israel do cativeiro e estabeleceu um relacionamento singular com o povo. O foco de Levítico está em como o povo pode manter esse relacionamento. Ele instrui os sacerdotes em como oferecer a Deus os sacrifícios apropriados e a forma apropriada de fazê-los. Assim, esse livro dedica-se a preservar o caráter moral e sagrado de Israel, servindo de auxílio à adoração e ao gozo no Senhor e em suas bênçãos.

O livro de Números dá continuidade à história da jornada de Israel à terra prometida. O livro começa com os complicados preparativos — incluindo o censo do povo — daí o nome “Números” — para deixar o Monte Sinai, onde havia sido feita a aliança com Deus. Mas então, o livro descreve acontecimentos nos quais o povo escolhe desobedecer a Deus. A desobediência de Israel lhes custa caro, tendo em vista que Deus não permite que eles entrem imediatamente na terra prometida. O livro de Números relata como o povo de Deus vagou, tragicamente, pelo deserto durante quarenta anos, incapaz de conseguir alcançar o que estava reservado para eles.

A segunda Lei

Deuteronômio, o último livro do Pentateuco, é uma série de discurso de despedida feitos por Moisés. Nas planícies de Moabe, separado da terra prometida apenas pelo rio Jordão, Moisés fala ao povo de Deus preparando-o para o futuro. Ele reafirma a lei da aliança — “Deuteronômio” significa “segunda lei” — e os adverte sobre os perigos e as consequências de se afastarem de Deus para adorar outras divindades. O livro tem por objetivo restabelecer a aliança entre Deus e o seu povo.

Podemos traçar um sumário do Pentateuco como segue:

·       Gênesis é o livro das origens. Ele descreve os começos do universo e as origens do povo de Deus. 

·       Êxodo fala da salvação desse povo, que não pode salvar a si mesmo. 

·       Levítico é um chamado a santidade como único modo de vida natural para os israelitas e a única resposta possível à graça de Deus. 

·       Números é o livro em que o povo está vagando, sofrendo as consequências de sua incredulidade. 

·       Mas a história termina em um tom positivo, quando Deuteronômio apresenta o caminho para a renovação.

Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento

A. O Texto do Antigo Testamento

001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM

004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano

005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo

006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX

007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia

B. A Geografia do Antigo Testamento

001 – INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA

002 – O EGITO

003 – A SÍRIA—PALESTINA

C. A História do Antigo Testamento

001 — OS PATRIARCAS DA NAÇÃO DE ISRAEL

002 — NASCE A NAÇÃO DE ISRAEL

003 — A NAÇÃO DE ISRAEL: O REINO UNIDO

004 — O REINO DIVIDIDO E O CATIVEIRO BABILÔNICO

D. A Introdução ao Pentateuco

001 — O PENTATEUCO — O QUE É E DO QUE TRATA O PENTATEUCO

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

O material contido neste estudo foi, em parte, adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:

Bibliografia


Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.

Archer, Gleason L. Jr. A Survey of the Old Testament. The Zondervan Corporation, Grand Rapids, 1980.

Champlin, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia, e Filosofia. Editora Hagnos, São Paulo, 6ª Edição, 2002.

Francisco, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª Edição, 2003.

Harrison, Roland Kenneth. Introduction to the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, 1979.

The Fundamentals. Edição Eletrônica disponível na Internet, 2006.

Walton, John H. Chronological Charts of The Old Testament. The Zondervan Corporation, Grand Rapids, 1978.

Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Reprinted, 1992.

Enciclopédias e Softwares

__________Biblioteca Digital da Bíblia. Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, 2006.

__________The Lion Handbook to the Bible. Lion Publishing, Herts, 1978.

__________The New Encyclopaedia Brtannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.

2 comentários:

  1. Vocês podem nos ajudar mostrando o texto original de Gênesis 5:02 e tirando dúvidas palavra por palavra. Desculpe o incômodo. Meu celular é 11991962929 (Edvaldo)

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    1. Caro Edivaldo,

      Não tem incômodo nenhum. Mas é necessário ter paciência.

      Segue uma breve exegese de Gênesis 5:1—2

      1 Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez;

      2 homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados.

      A genealogia de Adão é apresentada como sendo o documento acerca dos descendentes de Adão. Devemos tomar cuidado com a expressão livro — seper em hebraico — pois a mesma não reflete nosso entendimento moderno do verbete livro. Seper indica apenas algo que está escrito independentemente da forma externa que o material tenha. Um simples tablete de barro com caracteres era chamado de seper.

      Já a expressão Adam é utilizada de duas forma bem distintas nesses dois versículos. Os dois significados são:

      1. Um termo genérico para se referir à humanidade criada — macho e fêmea — conforma Gênesis 1.

      2. Nome próprio do personagem descrito em Gênesis 2 a 4.
      A palavra Adam significa literalmente vermelho, o que é um indicativo da cor do barro do qual ele foi formado originalmente.

      Os versos iniciais de Gênesis 5 nos conduzem de volta para Gênesis 1:26—28. Ali Deus abençoa a raça humana — representada em Adão — e lhe concede o incrível poder de reproduzir seres conforme sua própria imagem e semelhança. A humanidade não foi apenas criada por Deus, mas foi também abençoada pelo Criador como essa surpreendente capacidade de reprodução. A reprodução de Adão por meio de Sete e sucessivas descendência provam que a bênção de Deus tornou-se efetiva e eficiente.

      Por fim os versos iniciais de Gênesis 5 nos apresentam um contraste entre a Criação divina e a capacidade criativa concedida por Deus para a humanidade. Em certo sentido, Adão e seus descendentes repetem o ato do Criador. Ele é o Criador e eles são os procriadores.

      Se precisar de outra explicação adicional, por favor, me diga.

      Grande abraço fraterno,

      Irmão Alex

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