domingo, 4 de maio de 2014

UM ESTUDO ACERCA DO PECADO – ESTUDO 4 - A QUEDA PROPRIAMENTE DITA






Essa é uma série cujo propósito é estudar, com profundidade, os ensinamentos da Bíblia acerca do pecado, com uma ênfase especial na questão do chamado “pecado para a morte”. 

UM ESTUDO ACERCA DO PECADO – ESTUDO 4

Continuação...

Verso 6: Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.

De repente, a árvore proibida possuía, da perspectiva da mulher três qualidades que a recomendavam:

A. Em primeiro lugar a árvore era fisicamente agradável, isto é, “era boa para se comer”.

B. Em segundo lugar, a árvore parecia ser esteticamente agradável, pois o texto bíblico nos diz que a árvore era: “agradável aos olhos”.

C. Em terceiro lugar, e isto é bastante estranho, a árvore parecia possuir uma qualidade que, aos olhos da mulher, a transformavam em uma árvore: “desejável para dar entendimento”. Isto parece ser resultado direto da fantasia que existia na cabeça de Eva, pois não temos nenhuma idéia de como é que alguém pode tornar-se mais sábio apenas por comer determinado fruto. Todavia, esta parece ser, das três qualidades, aquela que mais apelava à mulher em sua desvairada fantasia.

A ironia da cena está finamente estampada na trama. Ao decidir desobedecer ao mandamento de Deus, a mulher manifestava a mais absoluta falta de entendimento, que por ironia, era exatamente o que ela estava buscando alcançar mediante o ato de desobediência ao mandamento de Deus

Excitada pela idéias disseminadas pela Serpente, a mulher acredita realmente que o fruto desta árvore possui a capacidade de satisfazer não somente ao apetite e ao paladar, mas também à razão! Aliado a isto, existia a promessa da serpente de que eles poderiam “ser como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Mas tomar e comer do fruto proibido, não representava para eles também a realidade da morte, de acordo com as palavras de Deus quando disse: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Sim, e eles certamente sabiam disto. Mas como é que eles entendiam a expressão “morte”? Temos que tomar sempre muito cuidado para não trazermos para dentro dos textos bíblicos nossas idéias preconcebidas. Neste caso me refiro a lermos a expressão morte da maneira como estamos acostumados a utilizá-la, que é, como representativa dos conceitos de: cessação da vida ou da existência ou mesmo da consciência. Para o homem e sua mulher estes conceitos não estavam presentes, pois se este fosse o caso, que vantagem teriam realmente de tomar e comer do fruto? Para eles, portanto, o conceito representado pela expressão “morte” implicava sim, na separação de Deus, de Seus favores e da possibilidade de participar, em algum tempo futuro, da árvore da vida. Mas, diante da fantasia causada pelo desejo de ser algo mais, tudo isto poderia ser amplamente compensado pelo conhecimento adquirido, pela elevação alcançada e pela exaltação de ser exatamente como Deus mesmo. Aqui estamos diante de uma complexa “teia” dos mais intricados sofismas[1] e, devemos ter a humildade para nunca presumir que podemos entender exatamente tudo o que estava se passando na mente de nossos primeiros pais.

Em resumo podemos dizer que, para a mulher, não havia nenhuma outra maneira de se alcançar o conhecimento, a não ser por um ato de aberta desobediência a um mandamento direto de Deus. Por outro lado era como se não existisse nenhuma outra maneira de ser semelhante a Deus, que não fosse esta, alcançada mediante um ato voluntário de desobediência. Para a mulher, comer do fruto, em flagrante desobediência ao mandamento de Deus, era a única maneira de alcançar – sequil - entendimento. Esta última expressão significa literalmente o seguinte: “prosperar, fazer prosperar ou ter sucesso”. E é exatamente nisto mesmo que reside a essência da cobiça: um desejo veemente de possuir algo de tal maneira que parece que só poderemos alcançar a verdadeira felicidade se possuirmos o objeto desejado. O homem e sua mulher são culpados desta terrível transgressão. Quando iremos aprender que nossa verdadeira felicidade só pode ser alcançada, de forma exclusiva, mediante nosso relacionamento com Deus? E isto nas condições estabelecidas por Deus mesmo.

O primeiro relato de pecado na Bíblia está limitado ao uso de 8 palavras apenas:

וַתִּקַּח  = wattiqqah -  tomou-lhe.

מִ‍פִּרְיוֹ  = mippireyo - do fruto.

וַתֹּאכַל  = wattokal - e comeu.

וַתִּתֵּן  = wattitten - e deu.

גַּם־לְאִישָׁהּ  = gam-leîsah - também ao marido.

עִמָּהּ  = immah – esta palavra funciona literalmente como um advérbio ou uma preposição significando “com” e não é normalmente traduzida.
 
וַיֹּאכַל  = wayyokal – comeu.
Ao contrário da crença popular que diz que eles comeram uma maçã, a Bíblia não especifica qual tipo de fruto Adão e Eva comeram. A única árvore frutífera mencionada diretamente no texto é a figueira, no verso 7. A tradição, geralmente aceita de que nossos primeiros pais comeram uma maçã, provavelmente está baseada na similaridade sonora, em latim, entre malus, “mal”, e malum, “maçã”.

Devemos notar que a mulher não tenta o homem. Ela apenas estende a mão e ele toma o fruto e come. O homem não questiona nem argumenta contra. Não há diálogo registrado entre eles. O que move Adão não é o desejo de agradar sua mulher como alguns poderiam supor. O que o move é sua própria cobiça como persuadido pela sua própria consciência, de que aquela era a atitude certa a tomar. A mulher permite que sua própria mente e julgamento sejam seus guias. O homem nem aprova nem condena o que ela faz. Mas ao pecar, desobedecendo a uma ordem direta do seu Criador, Adão pecou contra a verdadeira e grande sabedoria; pecou contra incontáveis graças e misericórdias que lhe haviam sido manifestas e demonstradas; pecou, ainda mais, contra a luz mais cristalina que alguém poderia ter recebido e, contra o maior amor contra o qual uma criatura pode pecar.

De acordo com o relato da queda no pecado que encontramos no livro de Gênesis, o homem não se encontrava em liberdade para pecar. Pelo contrário ele é mostrado como estando debaixo de um mandamento divino para não pecar e tinha como grande incentivo a ameaça de Deus de que ele morreria caso desobedecesse. Adão e Eva estavam debaixo de um mandamento restritivo de Deus para não fazerem o que eles acabaram, de fato, fazendo. Liberdade, como autoridade, é composta por dois elementos: capacidade ou força, associada ao direito. Toda a autoridade que exercita a força sem o direito, constitui-se em uma perversão desta mesma autoridade, naquilo que chamamos de totalitarismo. Da mesma maneira a liberdade que faz aquilo que não tem o direito de fazer constitui-se em uma perversão desta mesma liberdade naquilo que chamamos de anarquismo.

A afirmação teológica de que Deus criou o homem livre, isto é, com uma liberdade tal que o permitia pecar – chamada tecnicamente de “posse pecare”, constitui-se em uma explicação do pecado pelo próprio pecado. Se Deus dotou o homem com este tipo de liberdade, então Deus não poderia, em justiça, permitir que a liberdade humana sofresse a escravidão que o pecado impõe sobre ela.



OUTROS ESTUDOS SOBRE O PECADO

O PECADO — ESTUDO —001 — TERMOS GREGOS E HEBRAICOS E PALAVRAS INTRODUTÓRIAS

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O PECADO — ESTUDOS 010 E 011 — O PECADO ORGINAL E A DEPRAVAÇÃO TOTAL

O PECADO — ESTUDOS 012 — PECADO E A GRAÇA DE DEUS

O PECADO — ESTUDOS 013A — PECADO E  O CASTIGO PARTE A

O PECADO — ESTUDOS 013B — PECADO E O CASTIGO PARTE B — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 001

O PECADO — ESTUDOS 013C — PECADO E O CASTIGO PARTE C — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 002

O PECADO — ESTUDOS 013D — PECADO E O CASTIGO PARTE D — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 003

O PECADO — ESTUDOS 013E — PECADO E O CASTIGO PARTE E — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 004

O PECADO — ESTUDOS 013F — PECADO E O CASTIGO PARTE F — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 005

O PECADO — ESTUDOS 014A — O PECADO PARA A MORTE — PARTE A — INTRODUÇÃO — QUESTÕES HERMENÊUTICAS

O PECADO — ESTUDOS 014B — O PECADO PARA A MORTE — PARTE B —DIFERENTES TIPOS DE PENAS E CASTIGOS PARA O PECADO IMPERDOÁVEL

O PECADO — ESTUDOS 014C — O PECADO PARA A MORTE — PARTE C —DIFERENTES TIPOS DE PESSOAS QUE PODEM COMETER O  PECADO IMPERDOÁVEL
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2015/08/um-estudo-sobre-o-pecado-parte-014_13.html

Grande Abraço e que Deus possa abençoar a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.


[1] Sofisma - Argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má-fé por parte de quem o apresenta; falácia. Por extensão corresponde a um argumento falso formulado de propósito para induzir outrem a erro.

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