quarta-feira, 21 de maio de 2014

PARÁBOLAS DE JESUS - LUCAS 10:25—37 — A PARÁBOLA DO SAMARITANO — SERMÃO 027 — PARTE 001


Ilustração de Jesus respondendo a uma pergunta que lhe foi dirigida por um doutor da Lei - Museu de Artes de Montreal 

Esse artigo é parte da série "Parábolas de Jesus" e é muito recomendável que o leitor procure conhecer todos os aspectos das verdades contidas nessa série, com aplicações para os nossos dias. No final do artigo você encontrará links para os outros artigos dessa série.


Sermão 027

A PARÁBOLA DO SAMARITANO

lUCAS 10:25—37

25 E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

26 E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?

27 E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.

28 E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás.

29 Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?

30 E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

31 E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

32 E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.

33 Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.

34 E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;

35 E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.

36 Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?

37 E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira.

Introdução

A. Como nas três parábolas anteriores que podem ser vistas por meios desses links aqui:

024 — A Parábola dos Pássaros e da Raposa

025 — A Parábola do Discípulo que Desejava Sepultar Seu Pai

026 — A Parábola da Mão no Arado

essa também é parte de um diálogo teológico. E nosso estudo irá assumir — seguindo a opinião de vários estudiosos — que a mesma possui uma unidade básica e trata-se de uma parábola autêntica proferida por Jesus.[1]

B. Quando comparamos a estrutura dessa parábola notamos que, ao contrário de outras parábolas de estrutura semelhante — ver Lucas 7:36—50 e 18:18—30 — aqui o diálogo é consideravelmente curto quando comparado com a extensão da parábola. Isso, muitas vezes, causa o sério problema de levar o leitor a centra-se na parábola em si e a ignorar o diálogo ao redor da mesma. Não é incomum revistas de escola dominical tratarem o texto dessa maneira. Ao agirem assim transformam o mesmo apenas numa exortação ética, voltada para suprir apenas as necessidades de pessoas que estejam precisando de uma palavra de conforto.

C. Nosso interesse nesse estudo é entendermos a parábola no contexto do diálogo em que a mesma está inserida.

D. A parábola do Samaritano é precedida e, imediatamente, seguida por um diálogo entre Jesus e um doutor da Lei.

E. Nos dois casos existem duas perguntas e duas respostas.

F. Em cada um dos diálogos o doutor da lei apresenta uma pergunta a Jesus, que invés de responder a pergunta diretamente, responde fazendo outra pergunta para seu interlocutor.

G. Em cada um dos diálogos o doutor da Lei responde à pergunta feita por Jesus.

H. Por fim, cada um dos diálogos termina com uma resposta de Jesus.

I. Vamos começar analisando o primeiro diálogo.

I. O PRIMEIRO DIÁLOGO

A. A narrativa se inicia com o doutor da Lei se colocando em pé — uma aparente atitude de respeito — mas ele tem a intenção de colocara Jesus à prova — uma atitude que revela a maldade intrínseca de seu coração — apesar de chamar Jesus de “mestre” que é expressão geralmente usada por Lucas como equivalente do hebraico rabi.

B, O teste do doutor da Lei tem o propósito simples e direto de descobrir o entendimento que Jesus tinha de como era possível alguém herdar a vida eterna.

C. Na superfície a pergunta não faz muito sentido, porque apenas herdeiros podem herdar alguma coisa, qualquer coisa que seja. Qualquer pessoa que seja herdeiro legal de alguém poderá tomar parte da herança.

D. No Antigo Testamento a ideia de herança estava vinculada, principalmente, ao conceito do privilégio de Israel de herdar a terra prometida, que curiosamente, continuava na posse do SENHOR, o qual considerava os judeus apenas como Seus “inquilinos” — estrangeiros e peregrinos — de acordo com

Levítico 25:23 — Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos.

Ainda com relação às palavras de

Isaías 60:21

E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.

E. Já era entendimento dos rabinos que a “herança” era uma referência à participação na salvação futura, portanto não guardava nenhuma relação com a terra de Israel em si mesma.

F. Nos dias do Novo Testamento, a frase “herdarão a terra” é aplicada pelo Senhor Jesus à salvação que se estende a todo o seu povo. A ideia da terra prometida ser concedida ao povo de Israel não é repetida no Novo Testamento.

G. A herança, torna-se portanto, vida eterna. E a forma de se alcançar essa vida eterna, era no entendimento dos judeus, por meio da estrita obediência da Lei.     

H. Diante dessas realidades tanto nas mentes dos seus ouvintes e do doutor da Lei, bem como no própria mente do Senhor Jesus ele tinha dois caminhos para escolher em sua resposta à pergunta que lhe foi dirigida:

1. Jesus poderia seguir pelo caminho do argumento apresentado no Antigo Testamento e insistir que a “herança de Israel” é um dom de Deus e que não se pode fazer nada para se merecer a mesma. Essa abordagem criaria apenas uma oportunidade para uma longa e estéril discussão acerca de filigranas da Lei quanto ao que deve ou não deve ser feito para tentar “herdar” a vida eterna.

2. Ou Jesus poderia adotar a opinião rabínica que a herança está, em realidade atrelada à vida eterna conforme vimos acima, e esse é o caminho que Jesus prefere seguir, até mesmo porque era parte do seu próprio ensinamento.

3. Aqui ainda precisamos mencionar que naqueles dias alguns rabinos achavam que era possível alcançar a vida eterna por meio da obediência estrita à Lei. Para esse caso ver, especialmente, a literatura pseudoepigráfica conhecida como “Salmos de Salomão” nas seguintes referências: 14:1—2; 9—10. O mesmo é ensinado no livro pseudoepigráfico do “Enoque Eslavônico” em seu nono capítulo.

I. Mas a questão realmente preponderante estava atrelada a esse último aspecto que mencionamos. A questão era: “Esse rabi — Jesus — acredita ou não acredita que a herança de Israel poderia ser alcançada pela obediência estrita da Lei. Como podemos ver aqui, a ideia de uma herança atrelada à terra já havia sido abandonada há algum tempo pelos rabinos judaicos, algo que torna apenas mais evidente a mentira propagada pelos judeus sionistas de que Deus deu a terra de Israel como possessão perpétua do povo judeu.

J. É obvio que Jesus não concordava com o entendimento dos rabinos dos seus dias e sabia bem a armadilha que lhe havia sito montada pelo doutro da Lei. Então, em vez de oferecer uma resposta que expusesse suas ideias, Jesus de modo genial, reverte a armadilha pedindo que seu interrogador dê sua opinião acerca dessas coisas.

K. A pergunta de Jesus é simples: “Que está escrito na lei? Como lês?” Na última parte da pergunta é como se Jesus dissesse: Gostaria muito de ouvir como as autoridades judaicas interpretam isso. Mas o doutor da lei, parecia muito seguro de si mesmo e oferece uma resposta a Jesus sem citar nenhuma autoridade como apoio.

L. A reposta do doutor da lei tem o seguinte teor:

Lucas 9: 27

Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.

M. Em Mateus e Marcos a combinação das palavras de Deuteronômio 6:5 — amar a Deus — com as de Levítico 19:18 — amar o próximo — são atribuídas ao próprio Senhor Jesus Cristo. É possível que o doutor da Lei estivesse apenas repetindo de volta as palavras que ele mesmo teria ouvido dos lábio de Jesus, o que lhe teriam sido mencionadas por alguém.

N. A resposta de Jesus, então não poderia ser muito diferente:

Lucas 9:28

E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás

O. Alguns pontos que devemos considerar nesse contexto:

1. De acordo com Karl Barth[2]: “Jesus louva o doutor por seu bom conhecimento e fiel recitação do texto sagrado”. De fato podemos afirmar que o doutor da Lei tinha uma teologia correta, mas a pergunta que permanece é: ele estava disposto a viver à altura daquilo que afirmava crer? Sua condição intelectual é excelente, mas sua prática continua em jogo.

2. Como já havia acontecido no caso da visita de Jesus à casa de Simão, o fariseu — ver Lucas 7:43 — Jesus consegue arrancar do próprio doutor da Lei uma resposta apropriada. Jesus não diz o que o doutor da Lei deve fazer, ele mesmo responde sua própria pergunta.

3. A pergunta do doutor da Lei estava volta para a vida eterna. Mas na resposta que Jesus força o mesmo a dar, Jesus o obriga a incluir o todo da vida e não apenas a vida eterna. É muito provável que a expressão de Jesus “viverás”, não está tão relacionada ao futuro distante, mas sim ao futuro imediato. Ou seja, Jesus está afirmando para o doutor da Lei que ele poderá começar a viver de verdade, a partir do momento em que colocar essas coisas em prática. Ver também:

João 17:3

E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

4. Já o verbo “faze” está no imperativo presente, cujo significado é: continue fazendo. Isso era muito mais do que o doutor da lei poderia esperar. Tudo o que ele deseja ouvir do Senhor Jesus era algo na linha de: uma vez tendo feito isso, você herdará o que procura. Em vez disso ele recebe um mandamento no imperativo e que vale de forma contínua e inclui um estilo de vida que requer um amor ilimitado e incondicional por Deus e pelo Seu povo!

Tanto Jesus quanto Paulo concordavam com seus contemporâneos que, se fosse possível, podia-se alcançar a salvação eterna por meio de uma estrita obediência da Lei apresentada nas Escrituras Sagradas. Mas tanto Paulo quanto Jesus sabiam também que alcançar tal objetivo era impossível porque nosso ser humano encontra-se enfermo pelo pecado o que torna, na prática, impossível alcançar aquele objetivo — ser obediente a todos os mandamentos da Lei de Deus sem vacilar um instante sequer. Esse foi a razão central porque Deus enviou Seu filho ao mundo. Jesus viveu uma vida ser cometer nenhum pecado e assim: 1) enquanto por um lado ele assume sobre si mesmo todos os nossos pecados e recebe o justo castigo que os mesmo merecem da parte de um Deus absolutamente santo e justo; 2) por outro lado ele nos reveste com Sua própria santidade de tal maneira que podemos comparecer diante de Deus como se nunca tivéssemos cometido um único pecado durante todas nossas vidas.

Conclusão da Primeira Parte    
Com isso está finalizada a primeira parte do diálogo entre Jesus e o doutor da Lei. Mas o doutor da Lei é persistente e não se dá por vencido. Ele não está disposto a abrir mão da possibilidade de alcançar a salvação eterna, por meio de seus próprios esforços. A lei de Deus foi citada e agora é necessário que se faça um comentário sobre a mesma. E ele espera que Jesus faça esse comentário. O Deus mencionado ele presume conhecer, mas quem é esse “próximo” a quem ele precisa amara como a si mesmo? Ele precisa, urgentemente, de uma definição. De uma lista talvez. Se a tal lista não for muito longa ele talvez possa tentar guardar suas ordenanças. É isso que o motiva a dar início à segunda parte da nossa parábola.

O doutor da Lei pergunta a Jesus:

Lucas 10:29

Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?    

Em resposta Jesus irá então, contar a Parábola do Samaritano, mas isso será assunto do nosso próximo estudo.



OUTRAS PARÁBOLAS DE JESUS PODEM SER ENCONTRADAS NOS LINKS ABAIXO:

001 – O Sal

002 – Os Dois Fundamentos

003 – O Semeador

004 – O Joio e o Trigo =

005 – O Credor Incompassivo

006 — O Grão de Mostarda e o Fermento

007 — Os Meninos Brincando na Praça

008 — A Semente Germinando Secretamente

009 e 010 — O Tesouro Escondido e a Pérola de Grande Valor

011 — A Eterna Fornalha de Fogo

012 — A Parábola dos Trabalhadores na Vinha

013 — A Parábola dos Dois Irmãos

014 — A Parábola dos Lavradores Maus — Parte 1

014A — A Parábola dos Lavradores Maus — Parte 2

015 — A Parábola das Bodas —

016 — A Parábola da Figueira

017 — A Parábola do Servo Vigilante

018 — A Parábola do Ladrão

019 — A Parábola do Servo Fiel e Prudente

020 — A Parábola das Dez Virgens

021 — A Parábola dos Talentos

022 — A Parábola das Ovelhas e dos Cabritos

023 — A Parábola dos Dois Devedores

024 — A Parábola dos Pássaros e da Raposa

025 — A Parábola do Discípulo que Desejava Sepultar Seu Pai

026 — A Parábola da Mão no Arado

027 — A Parábola do Bom Samaritano — Completo

027A — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 1

027B — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 2 — Os Ladrões e o Sacerdote

027C — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 3 — O Levita

027D — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 4 — O Samaritano

027E — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 5 — O Socorro

027F — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 6 — O transporte até a hospedaria

027G — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 7 — O pagamento final

027H — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 8 — O diálogo final entre Jesus e o doutor da Lei

028 — A Parábola do Rico Tolo —

029 — A Parábola do Amigo Importuno —

030 — A Parábola Acerca de Pilatos e da Torre de Siloé

031 — A Parábola da Figueira Estéril

032 — A Parábola Acerca dos Primeiros Lugares

033 — A Parábola do Grande Banquete

034 — A Parábola do Construtor da Torre e do Grande Guerreiro

035 — Introdução a Lucas 15 — Parábolas Acerca da Condição Perdida da Raça Humana — Parte 001

036 — Introdução a Lucas 15 — Parábolas Acerca da Condição Perdida da Raça Humana — Parte 002

037A — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 001

037B — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 002

037C — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 003

037D — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 004 — A Influência do Antigo Testamento

037E — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 005 — Características Cristológicas da Parábola da Ovelha Perdida

037F — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 006 — A importância das pessoas perdidas.

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no facebook através do seguinte link:


Desde já agradecemos a todos. 


[1]  Ver os livros de Joachim Jeremias nas Parábolas de Jesus, de T. W. Manson intitulado The Sayings of Jesus que tratam das parábolas de Jesus e o comentário de I. Howard Marshall no livro de Lucas escrito para a série: The New International Greek Testament Commentary.
[2]  Barth, Karl. The Doctrine of the Word of God, Volume I, Parte II, em Church Dogmatics. Hendrickson Publishers, Marketing, LLC, Peabody, 2010.

Um comentário:

  1. Meu caro irmão Alexandros, eu dou muito graças a Deus por sua vida e por esses estudos, pois eles são verdadeiro alimento para a alma, pão espiritual para aqueles que amam o Senhor e Sua Palavra genuína. Que o Senhor continue a te usar assim, como servo para abençoar a vida de outros servos Dele. Paz, - Osvair

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