segunda-feira, 9 de março de 2015

COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 001




COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 001

Olhando para a igreja neste início do século XXI é quase impossível não notarmos o desleixo, a apatia, a falta de dedicação e interesse e o total descuido para com a obra e a santidade de Deus. Notamos principalmente um notável desprezo pela santidade de Deus. Para que ninguém diga que estamos exagerando, basta dizer que, chegamos ao cúmulo de vermos crentes se orgulhando de seus pecados em vez de estarem envergonhados pelos mesmos. Onde estamos querendo chegar? Somos por acaso mais fortes do que Deus? Será que o Senhor não vê todas as coisas? O salmista nos diz que o incrédulo se sente livre para praticar a iniquidade porque pensa no seu coração que “não há Deus” (Salmos 53:1).

Mas o que se passa dentro da cabeça daqueles que dizem que conhecem a Deus quando ignoram os mandamentos do Senhor? Que desculpa é possível apresentarem para justificarem a violação voluntária daquilo que Deus proibiu? No Antigo Testamento Deus ordenou aos Judeus que eles deveriam amá-lo. Tal amor foi qualificado da seguinte maneira:

Deuteronômio 10:12

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. – Deuteronômio 6:5”. Em outra passagem ainda no livro de Deuteronômio Moisés deixa bem claro o que o Senhor esperava do povo da antiga aliança: “Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma.

Não amar a Deus não é visto apenas como falta de amor pelo Criador. Antes, é visto como desprezo, desonra e ódio a Deus. E desprezar, desonrar e odiar a Deus coloca o ser humano em uma condição extremamente precária diante do Todo-Poderoso.  À medida que lemos o desenrolar da história narrada no Antigo Testamento percebemos as tristes consequências sofridas pelo povo de Israel devido à sua obstinação em desprezar a Deus e seus mandamentos. 

No Novo Testamento o autor de Hebreus nos adverte, de maneira categórica, do perigo que estamos correndo quando imitamos o povo de Israel em seu ódio para com Deus. Ele diz:

Hebreus 2:1—3

Importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?

O que o autor de Hebreus está nos dizendo é que aqueles que tiveram menos privilégios do que nós temos sofreram as consequências de sua desobediência. A eles Deus falou de várias maneiras através de seus profetas. A nós, Deus falou diretamente através de Seu filho amado. Se o pecado deles foi grande o nosso é enorme. Nossa condição é bem mais precária do que a dos judeus da antiga aliança porque a salvação que Deus nos oferece em Jesus é bem mais abrangente. Através de Jesus nós temos recebido uma verdadeira inundação de bênçãos através da graça de Deus. Vamos analisar de maneira mais detalhada estes três versículos.

Hebreus 3:1 — O autor de Hebreus inicia o capítulo dois com as palavras “Importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas”. E por que é importante que nos apeguemos com mais firmeza? Porque a revelação que recebemos nos foi entregue diretamente pelo próprio Filho de Deus a quem Deus “constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” e mais ainda porque Jesus —

Hebreus 1:2—3

2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.

3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.

Ou seja, a revelação que recebemos através de Jesus não veio por meio de nenhum intermediário, mas nos veio diretamente da própria pessoa de Deus. Esse é o motivo central porque devemos nos apegar a esta revelação com mais firmeza! Tendo sido faladas pelo próprio Deus tais palavras só poderiam mesmo ser caracterizadas como “verdades”. E nossa obrigação para com essas verdades é jamais nos desviarmos das mesmas. Mas talvez alguém poderia perguntar: “como podemos nos desviar das palavras de Jesus?”. Nós nos desviamos das palavras de Jesus quando nos tornamos indiferentes às mesmas e quando nos esquecemos delas. É com grande pesar que constatamos que a grande maioria daqueles que se dizem crentes estão, em relação à Palavra de Deus, exatamente como aquelas pessoas descritas na parábola do semeador, quando o Senhor disse que: “os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera — Marcos 4:18 – 19”. Aqui em Hebreus nós somos fortemente exortados a não permitir que nada, mas nada mesmo, possa concorrer pelas nossas afeições contra as palavras do Senhor Jesus.  Devemos nos lembrar das palavras do apóstolo Pedro quando disse: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna – João 6:68”.  Ou as palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: “Permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus — 2 Timóteo 3:14—15. As palavras de Jesus são conforme ele mesmo ensinou: “as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida – João 6:63”. Diante de todas essas afirmações é realmente uma grande tolice não nos apegarmos com mais firmeza às verdades que nos vem diretamente do Senhor Jesus, seja pela própria boca do Senhor Jesus, seja pelos seus apóstolos. Em todo o tempo, em todos os lugares bem como em todas as situações das nossas vidas, nós precisamos entender que as palavras do Senhor são o que possuímos de mais precioso. Foi o próprio Deus quem ordenou o seguinte a Josué e nós faremos muito bem em prestar muita atenção e obediência a este mandamento:

Josué 1:7—9

Tão-somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares.

O objetivo maior de nos apegarmos com tanta firmeza às palavras do Senhor é para que “delas jamais nos desviemos”. A palavra grega traduzida por “nos desviemos” na versão Almeida Revista e Atualizada — doravante chamada de ARA —, é παραρυῶμεν pararuômen — e a mesma é derivada do verbo παραρρεω pararreo — e literalmente quer dizer “correr para fora”. Devemos destacar que essa é a única vez em que essa palavra ocorre em todo o Novo Testamento grego, e isto tem causado imensas discussões acerca do seu significado preciso entre os tradutores. Como curiosidade podemos mencionar que mesmo na Septuaginta — a Septuaginta, comumente identificada pelo símbolo LXX, é a tradução das escrituras hebraicas do Antigo Testamento e outros livros religiosos para o grego realizada no Egito sob o patrocínio do Ptolomeu II Filadelfo que viveu entre 285–246 a.C —, o verbo grego παραρρεω pararreo — ocorre também somente uma vez em Provérbios 3:21 onde lemos: “Filho meu, não se apartem estas coisas dos teus olhos; guarda a verdadeira sabedoria e o bom siso” – ARA. Neste contexto de Provérbios nós entendemos que o sábio escritor está incentivando seu filho a não ignorar nem desprezar o mandamento do Senhor e sim a mantê-lo em permanente evidência diante “dos olhos”. Quando passamos para o Novo Testamento, com relação à ocorrência em Hebreus 2:1, ficamos surpresos com as possibilidades aventadas pelos filólogos. Entre estas possibilidades podemos mencionar: correr, transbordar, passar — no sentido casual —, cair, passar — no sentido de ir embora —, escapar ou fugir — da mente —, esquecer e passar despercebido — como um ladrão —. As versões antigas do Novo Testamento como a Siríaca e a Arábica traduzem o termos grego παραρυῶμεν pararuômen — como “para que não venhamos a cair”.

Qual teria sido realmente a intenção do autor de Hebreus ao utilizar o termo grego παραρυῶμεν pararuômen —? Se unirmos o conceito manifestado no Antigo Testamento “não se apartar” — manter de maneira constante diante dos olhos — e procurarmos comprimir as possibilidades aventadas pelos estudiosos do Novo Testamento em passar — no sentido de deixar ir embora ou despercebido — e esquecer — que é o mesmo que deixar escapar ou fugir da mente — nós poderíamos concluir que a intenção do autor de Hebreus era nos incentivar a: “sermos extremamente cautelosos para que as verdades faladas pelo Senhor e pelos Seus apóstolos não passem por nós — como um rio que corre — sem que lhes dediquemos a atenção que merecem e sem que recebamos todos e cada um dos benefícios que as mesmas nos oferecem. Isto é, nós devemos no empenhar para nos apropriar destas verdades a ponto de podermos chama-las “nossas” - (Barnes)”.

Existe, portanto, um grande perigo acerca do qual o autor de Hebreus está nos advertido. Este perigo é que apesar de termos recebido a revelação do Deus único e verdadeiro por intermédio de Jesus Cristo e de Seus apóstolos nós acabemos, por nossa própria negligência, não nos beneficiando de todos os privilégios que tal revelação nos proporciona. Devemos estar bastante atentos às fontes desse grande perigo e nos guardarmos com atenção redobrada para não sermos vitimados pelas mesmas.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

Bibliografia

Barnes, Albert. The Complete Works of Albert Barnes. Grand Rapids, William B. Eerdmans Publishing Company, 1980.

Rienecker, Fritz e Rogers, Cleon. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego. São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1985.

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