COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 001
Olhando
para a igreja neste início do século XXI é quase impossível não notarmos o
desleixo, a apatia, a falta de dedicação e interesse e o total descuido para
com a obra e a santidade de Deus. Notamos principalmente um notável desprezo
pela santidade de Deus. Para que ninguém diga que estamos exagerando, basta
dizer que, chegamos ao cúmulo de vermos crentes se orgulhando de seus pecados
em vez de estarem envergonhados pelos mesmos. Onde estamos querendo chegar?
Somos por acaso mais fortes do que Deus? Será que o Senhor não vê todas as
coisas? O salmista nos diz que o incrédulo se sente livre para praticar a iniquidade
porque pensa no seu coração que “não há Deus” (Salmos 53:1).
Mas
o que se passa dentro da cabeça daqueles que dizem que conhecem a Deus quando
ignoram os mandamentos do Senhor? Que desculpa é possível apresentarem para
justificarem a violação voluntária daquilo que Deus proibiu? No Antigo
Testamento Deus ordenou aos Judeus que eles deveriam amá-lo. Tal amor foi
qualificado da seguinte maneira:
Deuteronômio 10:12
Amarás, pois, o SENHOR,
teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. –
Deuteronômio 6:5”. Em outra passagem ainda no livro de Deuteronômio Moisés
deixa bem claro o que o Senhor esperava do povo da antiga aliança: “Agora,
pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu
Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu
Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma.
Não
amar a Deus não é visto apenas como falta de amor pelo Criador. Antes, é visto
como desprezo, desonra e ódio a Deus. E desprezar, desonrar e odiar a Deus
coloca o ser humano em uma condição extremamente precária diante do Todo-Poderoso. À medida que lemos o desenrolar da história
narrada no Antigo Testamento percebemos as tristes consequências sofridas pelo
povo de Israel devido à sua obstinação em desprezar a Deus e seus
mandamentos.
No
Novo Testamento o autor de Hebreus nos adverte, de maneira categórica, do
perigo que estamos correndo quando imitamos o povo de Israel em seu ódio para
com Deus. Ele diz:
Hebreus 2:1—3
Importa que nos
apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos
desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda
transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação?
O
que o autor de Hebreus está nos dizendo é que aqueles que tiveram menos
privilégios do que nós temos sofreram as consequências de sua desobediência. A
eles Deus falou de várias maneiras através de seus profetas. A nós, Deus falou
diretamente através de Seu filho amado. Se o pecado deles foi grande o nosso é
enorme. Nossa condição é bem mais precária do que a dos judeus da antiga
aliança porque a salvação que Deus nos oferece em Jesus é bem mais abrangente.
Através de Jesus nós temos recebido uma verdadeira inundação de bênçãos através
da graça de Deus. Vamos analisar de maneira mais detalhada estes três versículos.
Hebreus
3:1 — O autor de Hebreus inicia o capítulo dois com as palavras “Importa que nos
apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas”. E
por que é importante que nos apeguemos com mais firmeza? Porque a revelação que
recebemos nos foi entregue diretamente pelo próprio Filho de Deus a quem Deus “constituiu herdeiro de
todas as coisas, pelo qual também fez o universo” e
mais ainda porque Jesus —
Hebreus 1:2—3
2 nestes últimos dias,
nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual
também fez o universo.
3 Ele, que é o
resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as
coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos
pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.
Ou
seja, a revelação que recebemos através de Jesus não veio por meio de nenhum
intermediário, mas nos veio diretamente da própria pessoa de Deus. Esse é o
motivo central porque devemos nos apegar a esta revelação com mais firmeza!
Tendo sido faladas pelo próprio Deus tais palavras só poderiam mesmo ser
caracterizadas como “verdades”. E nossa obrigação para com essas verdades é
jamais nos desviarmos das mesmas. Mas talvez alguém poderia perguntar: “como
podemos nos desviar das palavras de Jesus?”. Nós nos desviamos das palavras de
Jesus quando nos tornamos indiferentes às mesmas e quando nos esquecemos delas.
É com grande pesar que constatamos que a grande maioria daqueles que se dizem
crentes estão, em relação à Palavra de Deus, exatamente como aquelas pessoas descritas na
parábola do semeador, quando o Senhor disse que: “os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a
palavra, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais
ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera — Marcos 4:18
– 19”. Aqui em Hebreus nós somos fortemente exortados a
não permitir que nada, mas nada mesmo, possa concorrer pelas nossas afeições
contra as palavras do Senhor Jesus.
Devemos nos lembrar das palavras do apóstolo Pedro quando disse: “Senhor, para quem
iremos? Tu tens as palavras da vida eterna – João 6:68”. Ou as palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: “Permanece naquilo que
aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde
a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação
pela fé em Cristo Jesus — 2 Timóteo 3:14—15. As palavras de Jesus
são conforme ele mesmo ensinou: “as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida – João 6:63”.
Diante de todas essas afirmações é realmente uma grande tolice não nos
apegarmos com mais firmeza às verdades que nos vem diretamente do Senhor Jesus,
seja pela própria boca do Senhor Jesus, seja pelos seus apóstolos. Em todo o
tempo, em todos os lugares bem como em todas as situações das nossas vidas, nós
precisamos entender que as palavras do Senhor são o que possuímos de mais
precioso. Foi o próprio Deus quem ordenou o seguinte a Josué e nós faremos
muito bem em prestar muita atenção e obediência a este mandamento:
Josué 1:7—9
Tão-somente sê forte e
mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo
Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda,
para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar
deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de
fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu
caminho e serás bem-sucedido. Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas,
nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que
andares.
O
objetivo maior de nos apegarmos com tanta firmeza às palavras do Senhor é para
que “delas
jamais nos desviemos”. A palavra grega traduzida por “nos desviemos” na
versão Almeida Revista e Atualizada — doravante chamada de ARA —, é παραρυῶμεν — pararuômen — e
a mesma é derivada do verbo παραρρεω — pararreo — e
literalmente quer dizer “correr para fora”. Devemos destacar que essa é a única
vez em que essa palavra ocorre em todo o Novo Testamento grego, e isto tem
causado imensas discussões acerca do seu significado preciso entre os
tradutores. Como curiosidade podemos mencionar que mesmo na Septuaginta — a
Septuaginta, comumente identificada pelo símbolo LXX, é a tradução das
escrituras hebraicas do Antigo Testamento e outros livros religiosos para o
grego realizada no Egito sob o patrocínio do Ptolomeu II Filadelfo que viveu
entre 285–246 a.C —, o verbo grego παραρρεω — pararreo —
ocorre também somente uma vez em Provérbios 3:21 onde lemos: “Filho meu, não se apartem estas coisas dos teus
olhos; guarda a verdadeira sabedoria e o bom siso” –
ARA. Neste contexto de Provérbios nós entendemos que o sábio escritor está
incentivando seu filho a não ignorar nem desprezar o mandamento do Senhor e sim
a mantê-lo em permanente evidência diante “dos olhos”. Quando passamos para o
Novo Testamento, com relação à ocorrência em Hebreus 2:1, ficamos surpresos com
as possibilidades aventadas pelos filólogos. Entre estas possibilidades podemos
mencionar: correr, transbordar, passar — no sentido casual —, cair, passar — no
sentido de ir embora —, escapar ou fugir — da mente —, esquecer e passar
despercebido — como um ladrão —. As versões antigas do Novo Testamento como a
Siríaca e a Arábica traduzem o termos grego παραρυῶμεν — pararuômen — como “para que não venhamos a cair”.
Qual
teria sido realmente a intenção do autor de Hebreus ao utilizar o termo grego παραρυῶμεν — pararuômen —?
Se unirmos o conceito manifestado no Antigo Testamento “não se apartar” — manter
de maneira constante diante dos olhos — e procurarmos comprimir as
possibilidades aventadas pelos estudiosos do Novo Testamento em passar — no
sentido de deixar ir embora ou despercebido — e esquecer — que é o mesmo que
deixar escapar ou fugir da mente — nós poderíamos concluir que a intenção do
autor de Hebreus era nos incentivar a: “sermos extremamente cautelosos para que
as verdades faladas pelo Senhor e pelos Seus apóstolos não passem por nós — como
um rio que corre — sem que lhes dediquemos a atenção que merecem e sem que
recebamos todos e cada um dos benefícios que as mesmas nos oferecem. Isto é,
nós devemos no empenhar para nos apropriar destas verdades a ponto de podermos
chama-las “nossas” - (Barnes)”.
Existe,
portanto, um grande perigo acerca do qual o autor de Hebreus está nos
advertido. Este perigo é que apesar de termos recebido a revelação do Deus
único e verdadeiro por intermédio de Jesus Cristo e de Seus apóstolos nós
acabemos, por nossa própria negligência, não nos beneficiando de todos os
privilégios que tal revelação nos proporciona. Devemos estar bastante atentos
às fontes desse grande perigo e nos guardarmos com atenção redobrada para não
sermos vitimados pelas mesmas.
CONTINUA...
Que Deus abençoe a todos.
OUTROS ESTUDOS NESSA
SÉRIE
COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 001
COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 002
COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 003
COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 004
COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 005
COMO ESCAPAREMOS NÓS? — PARTE 006
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS.
Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no
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Desde
já agradecemos a todos.
Bibliografia
Barnes, Albert. The Complete Works of Albert Barnes. Grand Rapids, William B.
Eerdmans Publishing Company, 1980.
Rienecker,
Fritz e Rogers, Cleon. Chave Lingüística
do Novo Testamento Grego. São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,
1985.
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