Foto Marlene Bergamo/Folhapress
O artigo abaixo foi escrito por
Luiz Felipe Pondé e publicado no site da Folha de São Paulo.
Análise - Universal
usa Velho Testamento para reviver relação do ‘povo eleito’ com Deus
Por que
os neopentecostais são apaixonados pelo que os cristãos chamam de “Velho
Testamento”?
O termo,
recusado pelos judeus, que usam “Tanach” para o cânone hebraico, ou “Bíblia
Hebraica”, no rastro do crítico literário judeu americano Harold Bloom, reúne o
conjunto de textos que vem antes do Novo Testamento. Neste, Jesus, o Messias
dos cristãos, anuncia a “nova aliança” do Deus de Israel com a humanidade,
diferente da “antiga aliança”, que seria apenas com o povo eleito, os hebreus.
Salomão foi um dos mais importantes reis hebreus.
A
diferença de terminologia para se referir a este conjunto de textos não é mero
detalhe de um obcecado por estudos bíblicos, mas encerra em si um equívoco, do
ponto de vista judaico, do que significa a chamada “eleição do povo de Israel”.
De certa forma, grande parte do cristianismo compreende a eleição de Israel de
um modo equivocado. A eleição é uma responsabilidade, um peso, não a escolha de
um caçulinha mimado fadado ao sucesso. Aqui nasce o equívoco e, ao mesmo tempo,
a paixão neopentecostal pelo Velho Testamento.
O “Templo
de Salomão” construído pela Igreja Universal do Reino de Deus, é uma peça de
fé, não uma reconstrução arqueológica, nem precisa ser, uma vez que estamos
falando de religião, instituição que nada tem a ver com as demandas de uma
ciência como a arqueologia.
O TEMPLO DE SALOMÃO
Foto de Antônio Miotto/Folhapress
O templo
original, supostamente construído pelo rei Salomão, filho do rei Davi, no
século 9º antes de Cristo, teria sido destruído por volta 586 a.C. Pesquisas
arqueológicas situam os fragmentos encontrados no Monte do Templo, que poderiam
ser da primeira sede do culto hebraico antigo, há cerca de 3.000 anos atrás, o
que coincide com a vida do personagem bíblico em questão.
Mas, de
onde vem essa paixão? Vem do fato que os neopentecostais (que se diferenciam
dos seus “antepassados” pentecostais pelo forte caráter de “espetáculo para as
massas” nos cultos) leem a relação entre o Deus de Israel e seu povo eleito
numa chave mágica. Os fatos narrados no “Tanach” (Velho Testamento) indicam uma
forte presença de Deus nos destinos do povo, alterando círculos naturais,
criando forças a favor do povo, enfim, fundando um mundo de “milagres”.
Daí que,
revivendo o Templo de Salomão, supostamente, a Igreja Universal dá um
importante passo simbólico no sentido de dizer que seus fiéis revivem a relação
de povo eleito com seu Deus, Rei do Universo (“Melech HaOlam”). A imagem é
forte, temos que reconhecer. Mas, aqui reside a chave da interpretação
equivocada que leva a paixão dos neopentecostais por todos os signos
vétero-testamentários.
O
equívoco está no fato que o mundo mágico do Velho Testamento é apenas uma
pequena parte da eleição de Israel. Mas os neopentecostais parecem crer que
essa “mágica israelita” é a base para o sucesso, a felicidade, e, finalmente,
para a teologia da prosperidade que marca o movimento neopentecostal. Dito de
forma direta: quem vive com o Deus de Israel fica rico e feliz.
Ledo
engano, basta ver a história dos judeus e os jornais atuais. A eleição do povo
de Israel, para os judeus, significa muito mais que o povo é um povo de
sacerdotes, que leva a mão de Deus sobre si, num mundo de agonias, que recusará
e odiará esse povo justamente por isso. Não é por outra razão que se chama o
massacre de judeus na Segunda Guerra de “Holocausto”. O povo é “um animal do
sacrifício”, e cada vez que Deus quiser, Ele o lança ao fogo para “falar” com o
mundo.
A eleição
de Israel é muito mais um peso do que um ticket para o sucesso. Tem mais a ver
com o conflito israelo-palestino, através do qual muitos odeiam Israel, do que
com ficar rico e feliz. Se perguntarmos a muitos judeus religiosos em Israel e
no mundo, dirão que o desespero que passa Israel hoje, o medo do ódio do mundo
e da destruição do Estado de Israel, é mais uma marca da sofrida eleição.
Por isso,
não é difícil encontrar judeus que pediriam a Deus, assim como profetas o
fizeram, que escolha outro povo para ser Seu eleito, porque Israel já cansou.
O arquivo original da Folha de
São Paulo poderá ser visto por meio do seguinte link:
OUTROS ARTIGOS SOBRE ISRAEL
Que Deus
abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
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Desde já
agradecemos a todos.
Brilhante artigo do sempre lúcido Luiz Felipe Pondé.
ResponderExcluirDiscordo dele veementemente em outros temas, como por exemplo, os direitos civis totais e irrestritos. Mas, nesse caso dos neopentecostais e Israel, ele falou com propriedade e verdade.