A matéria abaixo foi publicada
pela revista ÉPOCA e é de autoria de Rafael Gomide
Eleição
no Rio expõe divisão entre evangélicos
Assembleia de Deus e pastores de
outras denominações apoiam Pezão. A Universal, de Edir Macedo, fica ao lado de
Crivella
Por RAPHAEL GOMIDE
Edir Macedo, fundador da Igreja Universal. Ele apóia o sobrinho, Marcelo Crivella (PRB), na disputa pelo governo do Rio (Foto: Photo RioNews/Agência O Globo)
A eleição para o governo do Rio
de Janeiro revela uma cisão entre os evangélicos no Estado. De um lado, algumas
das principais lideranças evangélicas fluminenses apoiam o candidato à
reeleição, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Do outro lado, apresenta-se como
candidato de oposição Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja
Universal do Reino de Deus e sobrinho de seu fundador, Edir Macedo. A divisão
tem pouco a ver com visões políticas divergentes. Pesam mais a disputa por
espaço e fiéis, assim como o ressentimento de grupos religiosos em relação à
Universal, tida como isolacionista. Adversários criticam a igreja liderada por
Macedo de promover eventos sozinha, em vez de participar de grandes momentos
comunitários evangélicos, como a Marcha para Jesus. Há críticas também ao histórico
da Universal de comprar imóveis, assim como horários de TV e rádio, para
desalojar pastores de outras denominações. De acordo com o IBGE, evangélicos
representam um quarto da população fluminense.
Maior igreja evangélica do país,
com 12,3 milhões de fiéis, a Assembleia de Deus apoia Pezão. Os principais
líderes em defesa da reeleição são os influentes pastores Abner Ferreira,
presidente da Convenção Estadual das Assembleias de Deus-Madureira, e Silas
Malafaia, da Assembleia de Deus-Vitória em Cristo. Valdemiro Santiago, um
dissidente da Universal que criou a Igreja Mundial do Poder de Deus, também se
manifestou a favor de Pezão. A igreja de Santiago tinha 315 mil fiéis, segundo
o Censo de 2010 do IBGE. É vista como uma das principais responsáveis pela redução
no número de seguidores da Universal, que caiu 228 mil, para 1,87 milhão, entre
2000 e 2010. “Eles [Universal] sempre foram afastados, extremamente
exclusivistas. Nunca participaram de eventos comunitários, não trabalham em
conjunto. Só nesta época de eleição é que querem. Por favor, aí não! Se é para
caminhar juntos, vamos caminhar do começo ao fim!”, afirma o pastor Abner
Ferreira. “Eles criam essa barreira, absolutamente desnecessária. Há espaço
para todos fazerem seu trabalho”. O pastor Malafaia reforça a crítica. “Eles
são igreja evangélica na hora da eleição. Fora (desse período), são isolados.
Não participam de nada. Na hora do voto, é ‘irmão’?”, afirma. “Todas as
lideranças que conheço apoiam Pezão. Abner, Marcus Gregório [da Baixada
Fluminense], eu, Valdemiro... não conheço nenhum líder de expressão no Estado
do Rio de Janeiro que apoie Crivella”, diz Malafaia.
ÉPOCA entrou em contato com a
campanha de Crivella e enviou uma mensagem com perguntas sobre a divisão que é
tema desta reportagem. A assessoria de imprensa informou que o candidato não
responderia questões sobre religião. Em nota, a assessoria de imprensa da
Universal afirma: “deve surpreender é o fato de que, apesar de alguns poucos
líderes evangélicos estarem apoiando o outro candidato, Marcelo Crivella
desfrute de grande apoio e aceitação dos evangélicos em geral, incluindo muitos
membros das igrejas dos citados líderes. A verdade é que o povo conhece a
índole e trabalho de Crivella.” A assessoria da Universal afirmou desconhecer
“tal isolamento” da igreja no meio e citou como exemplo a recente presença de
“mais de dez mil pastores de centenas de denominações evangélicas”, em reunião
presidida pelo Bispo Macedo no Templo de Salomão. “Só do Rio de Janeiro vieram
mais de 700 líderes.”
Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus-Vitória em Cristo. Ele dá apoio ao candidato Luiz Fernando Pezão (PMDB) (Foto: Adriana Lorete / Agencia O Globo)
Voto é contra a
Universal, diz Malafaia
Questionado se o voto pregado
pelas lideranças evangélicas é mais a favor de Pezão ou contra a Universal,
Malafaia admitiu: “O voto vai ser contra o que Edir Macedo representa no meio
evangélico. É muito mais o voto contra a Universal, de várias lideranças. Não
somos trouxas! A Universal é individualista, não estende a mão uma vez. Aí
chega a eleição e eles: ‘Meu irmão, meu irmão...’”, diz o pastor. “Nós não somos
trouxas. Eles nunca nos respeitaram e agora querem o nosso voto? Não podemos
votar em alguém que representa a liderança de uma igreja que não respeita nem
seus irmãos”, afirma.
O líder religioso reclama do que
reputa como uma prática tradicional da Universal, de desalojar pastores de
outras denominações. “Um pastor pequeno aluga um cinema em uma área boa; eles
vêm e compram o cinema e põem o pastor para fora”, diz. Ele aponta também o que
considera uma contradição de Crivella. “O Crivella diz ‘irmão vota em irmão’,
mas no primeiro turno nacional, havia dois irmãos, Marina Silva e Everaldo
Pereira. E ele apoiou Dilma”, afirma. O pastor havia apoiado Crivella em duas
campanhas anteriores, inclusive na última, para o Senado.
Após ter ficado neutro no primeiro
turno no Rio, Malafaia chegou a criticar as primeiras peças de campanha
eleitoral de Pezão para o segundo turno. Em sua visão, elas atacavam a
Universal como instituição, o que poderia levantar os evangélicos contra o
candidato do PMDB. O alerta foi ouvido e o tom da campanha, modificado. Na
última semana, Malafaia gravou depoimento para Pezão em que ataca o candidato
do PRB.
Estilos distintos e
“projeto de poder”
A disputa entre os grupos
religiosos evangélicos explicita ainda estilos distintos de atuação religiosa e
política. Fundada no Brasil em 1910, a Assembleia de Deus caracteriza-se pelos
templos numerosos e despojados, espalhados pelo país, frequentemente em casas
simples em comunidades pobres e favelas. A Universal, criada em 1977, opta por
grandes e faustosos templos em áreas centrais das cidades. Exemplos disso são a
Catedral Universal da Fé, com 72 mil metros quadrados e capacidade para 14 mil
fiéis, no Rio de Janeiro, e o Templo de Salomão, recentemente inaugurado em São
Paulo, ao custo de R$ 680 milhões, com capacidade para 10 mil pessoas sentadas.
Na estrutura de poder, a
Universal tem comando centralizado, na figura de Edir Macedo. A Assembleia de
Deus é descentralizada, com grupos autônomos em cada estado. Enquanto os
políticos eleitos pela Universal respondem a um comando único, os da Assembleia
de Deus representam várias lideranças evangélicas pelo país. Abner e Malafaia
atribuem isso ao que chamam de “projeto de poder” da Universal, concentrada
também em eleger representantes para cargos majoritários. “Em 1995, Macedo me
chamou para almoçar em sua casa na Barra da Tijuca, uma conversa de três horas,
e me disse pessoalmente: ‘Quero fazer um presidente da República. Ainda não
tenho a pessoa, o homem.’ E me convidou para ser candidato a deputado federal.
Nunca quis, não vou ser candidato a nada”, disse Malafaia. Por meio de sua
assessoria de imprensa, a Universal afirma que “não tem plano de poder, e sim
plano de evangelização”. “Até entre os 12 apóstolos houve dissidência. É do
caráter humano. O importante é procurar fazer o bem sem olhar a quem —
histórico que a Universal e Crivella têm de sobra”, afirma a igreja, no texto.
Na última década, a Universal
perdeu espaço no campo político. Na legislatura 2004-2007, a igreja tinha oito
deputados estaduais na Assembleia Legislativa e cinco federais pelo Rio. Na
época, seu líder político era o ex-deputado federal Bispo Rodrigues,
considerado um articulador hábil. Ele foi expulso da igreja por envolvimento em
diferentes escândalos – foi condenado a seis anos e três meses de prisão por
envolvimento no Mensalão e cumpre prisão domiciliar desde setembro. Este ano, a
Universal elegeu dois deputados estaduais no Rio e dois federais. A Assembleia
de Deus conquistou três vagas federais e cinco estaduais no Rio.
O artigo original da Época poderá
ser visto por meio do seguinte link:
UMA PERGUNTA?
Em que, exatamente, esses tais
evangélicos são diferentes de todos os outros brasileiros? Ah! sim, são bem
mais hipócritas.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos
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Desde já agradecemos a todos.
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